MÓDULO 3 — Boas práticas no dia a dia: padronização, pragas, resíduos e atitude profissional
Aula
7 —
Rotina de boas práticas: o que todo iniciante precisa dominar
Quando
a gente começa a trabalhar com alimentos, é comum achar que o mais importante é
“saber cozinhar”. E saber cozinhar é importante, claro. Mas, na prática, o que
mantém uma cozinha segura de verdade não é só talento ou receita boa — é
rotina. É o jeito como o trabalho acontece todos os dias, inclusive quando está
corrido, quando falta gente, quando chega um pedido em cima da hora. Boas
práticas não são um enfeite do serviço: elas são o trilho que impede a cozinha
de descarrilar. E, para quem está começando, dominar esse trilho é o que faz
você crescer rápido com segurança.
A rotina existe porque a cozinha é um ambiente cheio de distrações e “atalhos tentadores”. Se você depende apenas da memória e da boa vontade do momento, cedo ou tarde vai esquecer alguma etapa: vai montar um lanche sem lavar a mão depois de pegar dinheiro, vai usar um utensílio sem higienizar, vai deixar um alimento esperando em temperatura inadequada ou vai guardar um pote sem etiqueta achando que vai lembrar depois. Boas práticas são justamente o contrário disso: um jeito organizado de trabalhar que reduz a chance do erro acontecer, mesmo quando você está cansado ou com pressa.
Uma boa rotina começa antes do
primeiro alimento ser manipulado. Existe uma diferença grande entre “abrir a
cozinha” e “deixar a cozinha pronta para trabalhar com segurança”. Abrir é
levantar a porta e ligar as luzes. Preparar com boas práticas é conferir se a
pia está livre, se tem sabonete e papel para secar as mãos, se as lixeiras
estão limpas e com saco, se os utensílios estão higienizados e no lugar, se as
bancadas estão limpas e sanitizadas, se a geladeira está organizada e se os
alimentos estão identificados. Pode parecer muita coisa, mas, quando vira
checklist, leva poucos minutos e evita horas de problema depois.
No meio do turno, a rotina também faz diferença. É ali que a maioria das falhas aparece, porque o ritmo acelera e a cozinha vira um vai e vem. É nesse momento que a “boa prática” precisa ser simples o suficiente para caber na vida real. Não dá para parar tudo a cada cinco minutos, mas dá para criar pontos de controle: limpar e sanitizar rapidamente uma área antes de começar uma etapa nova, trocar panos quando necessário,
manter utensílios separados para cru e pronto, observar se a
lixeira está enchendo (e trocar antes de transbordar), evitar que embalagens e
itens de rua fiquem em cima da bancada de preparo. São pequenos cuidados que
funcionam como “manutenção preventiva” do ambiente.
Outra peça-chave da rotina é o
armazenamento durante o serviço. Muitas cozinhas produzem e deixam ingredientes
abertos, potes sem tampa, utensílios largados, e isso vai acumulando risco ao
longo do turno. Uma rotina de boas práticas valoriza o básico: recipientes
tampados, alimentos protegidos, identificação mínima quando algo foi preparado
e guardado, e uma organização que permita encontrar as coisas sem revirar a
geladeira. Quando você não perde tempo procurando, você também não sente tanta
tentação de improvisar.
E existe um ponto que poucos
iniciantes percebem: boas práticas também são uma forma de melhorar o clima do
trabalho. Quando cada um sabe o “jeito padrão” de fazer as coisas, diminui a
discussão e aumenta a colaboração. Ninguém precisa adivinhar onde guardar, como
higienizar ou o que fazer quando algo cai no chão.
O padrão deixa
tudo mais leve. Por isso, checklists e rotinas não são “coisa burocrática”: são
ferramentas de organização que protegem a saúde e o time.
O fechamento do turno é o momento em
que a rotina mostra o seu valor com ainda mais força. É comum a equipe já estar
cansada e querer terminar logo. Mas é justamente aí que a cozinha define como
será o próximo dia. Se você guarda alimentos sem identificar, deixa utensílio
mal higienizado, não tira lixo corretamente ou “deixa para amanhã” a limpeza de
um ponto crítico, você está empurrando risco para a frente. Uma rotina boa de
fechamento organiza: o que vai ser aproveitado com segurança é porcionado, identificado
e armazenado do jeito certo; o que não serve é descartado; bancadas, utensílios
e áreas de contato passam por limpeza e sanitização; lixeiras e piso são
cuidados; e a cozinha fica pronta para recomeçar com menos improviso.
Um detalhe importante: boas práticas não significam rigidez sem sentido. Elas precisam ser proporcionais à realidade. Em um ambiente pequeno, às vezes não dá para ter tudo duplicado, mas dá para ter método: sequência correta, higienização bem feita entre etapas, separação do que é cru e do que é pronto, e cuidados constantes com mãos e superfícies. Em uma cozinha maior, dá para trabalhar com setores e responsabilidades mais claras. O que não
muda é o princípio: a rotina tem que
ajudar, e não atrapalhar.
Ao longo desta aula, a ideia é que você comece a enxergar boas práticas como uma espécie de “modo profissional” de cozinhar e servir. Não é apenas fazer comida, é produzir alimento seguro de maneira repetível. Quando você aprende isso, você ganha confiança, reduz retrabalho, evita desperdício e diminui o risco de incidentes que podem afetar pessoas e comprometer o negócio. E o mais interessante é que, depois que vira hábito, você quase não percebe que está fazendo — você só percebe que tudo fica mais organizado e que os problemas diminuem.
No fim, rotina de boas práticas é sobre cuidar do que é simples, porque é o simples que sustenta o grande. Quem domina o básico — mãos, superfícies, organização, armazenamento, limpeza, sequência e disciplina — consegue trabalhar com mais tranquilidade e entregar um alimento que dá orgulho, não preocupação. É isso que todo iniciante precisa dominar: um jeito seguro e consistente de fazer o trabalho acontecer, dia após dia.
Referências
bibliográficas
BRASIL. Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução RDC nº 216, de 15 de
setembro de 2004. Dispõe sobre regulamento técnico de boas práticas para
serviços de alimentação.
BRASIL. Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Cartilha sobre Boas Práticas para
Serviços de Alimentação. Brasília: ANVISA.
BRASIL. Ministério
da Saúde. Manual Integrado de Vigilância, Prevenção e Controle de Doenças
Transmitidas por Alimentos. Brasília: Ministério da Saúde.
ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Five Keys to Safer Food Manual. Genebra: World
Health Organization.
CODEX ALIMENTARIUS
COMMISSION. General Principles of Food Hygiene CXC 1-1969. Rome:
FAO/WHO.
Aula 8 — Resíduos,
lixeiras e pragas: quando o “cheiro ruim” vira contaminação
Quase todo iniciante associa lixo e
pragas a uma coisa mais “estética” do que realmente é. O raciocínio costuma
ser: “se não está fedendo e não tem bicho aparecendo, então está tudo bem”. Só
que, em segurança alimentar, resíduos são mais do que sujeira: eles são
convite. Convite para insetos, roedores e microrganismos. E o problema é que,
quando o convite é aceito, a contaminação pode acontecer sem alarde. Às vezes a
cozinha parece normal, mas o risco está montado nos cantos, nos ralos, na
lixeira que fica aberta “só um minuto”, na caixa de papelão encostada perto da
área de preparo.
Resíduos têm uma característica
traiçoeira: eles acumulam rápido, especialmente em dias corridos, e começam a
influenciar o ambiente. Uma lixeira cheia atrai moscas, aumenta odores e vira
um ponto de contato contaminado. Um saco de lixo vazando deixa rastro no chão,
e esse rastro vira trânsito de contaminação pelo sapato, pelo rodinho, pelo
pano e, sem perceber, pela cozinha inteira. E quando o lixo fica perto da área
de preparo, a chance de “cruzar” caminho com alimento pronto aumenta muito. Por
isso, o tema central desta aula é simples: lixo e alimento não podem ser
vizinhos, e a lixeira não pode ser um “buraco negro” esquecido durante o turno.
A primeira mudança de mentalidade é
entender que a lixeira é um utensílio de trabalho. Ela precisa estar em
bom estado, com tampa, bem posicionada e com um uso inteligente. Quando a
lixeira não tem tampa, tudo fica mais exposto: o conteúdo, o cheiro, as moscas
e até respingos. Quando a tampa exige mão, a pessoa toca na tampa e volta ao alimento,
e aí a lixeira vira um “ponto de contaminação de mão” praticamente garantido. O
ideal é que a lixeira seja de abertura sem contato direto (pedal, por exemplo),
esteja forrada com saco resistente e seja esvaziada antes de transbordar.
Parece simples — e é. Só que é justamente o simples que, quando ignorado, dá
problema.
Também vale olhar para o lixo com
mais estratégia. Não é só “jogar fora”: é como e quando. Em
cozinha, lixo orgânico deve sair com frequência, principalmente em dias
quentes. Se ele fica guardado por muito tempo, a cozinha vira um ambiente mais
atrativo para pragas. E praga não é só barata e rato. Moscas, formigas e outros
insetos são igualmente perigosos, porque pousam no lixo e podem pousar em
alimento, utensílio, bancada, embalagens e até no rosto do manipulador. É o
tipo de risco que não pede permissão: ele acontece.
A segunda mudança importante é perceber que pragas quase sempre aparecem por três motivos: alimento disponível, água disponível e abrigo disponível. Se a cozinha dá esses três elementos, as pragas encontram caminho. Alimento disponível pode ser migalha, resto de gordura, saco aberto, farinha derramada, lixo exposto. Água disponível pode ser ralo com acúmulo, pano úmido largado, goteira, pia com água parada, balde com água ao canto. Abrigo disponível pode ser fresta na parede, buraco no rodapé, caixa de papelão acumulada, depósito bagunçado, canto escuro com entulho. Repare como nada disso é “um grande desastre”. É um conjunto de pequenas
permissões diárias.
Por isso, controlar pragas é muito mais sobre prevenção e organização do que sobre “passar veneno quando aparece bicho”. Aliás, esse é um ponto delicado: usar inseticida dentro ou perto de área de preparo é um risco de contaminação química e pode ser mais perigoso do que a praga em si, dependendo de como é feito. O caminho correto é evitar atrativos, vedar pontos de entrada e manter rotina de limpeza adequada. Se houver necessidade de controle químico, isso deve ser feito com orientação profissional e com cuidado para não contaminar alimentos, utensílios e superfícies de preparo.
Os ralos merecem um parágrafo à
parte. Eles são, ao mesmo tempo, necessários e perigosos. Ralo acumula
resíduos, umidade e pode servir como rota de entrada de insetos. Quando o ralo
está com cheiro forte, ele está avisando que existe acúmulo. Só que não dá para
esperar o cheiro aparecer para cuidar. O ideal é incluir ralos na rotina de
limpeza e garantir que eles estejam sempre em condição adequada, sem restos de
alimento, sem gordura acumulada e, quando possível, com proteção que reduza a
entrada de insetos. A mesma lógica vale para sifões, áreas atrás de geladeira e
fogão, e cantos “invisíveis” que a gente só lembra quando muda algo de lugar.
Outro vilão comum — e subestimado —
são as caixas de papelão. Elas chegam com mercadorias, ficam empilhadas e
parecem inofensivas. Mas papelão é abrigo e transporte de sujeira e insetos.
Quando essas caixas entram na área de produção, aumentam o risco. A prática
mais segura é retirar o produto, organizar e descartar a caixa o quanto antes,
mantendo a área de preparo livre desse tipo de material. Isso ajuda também a
manter o ambiente mais limpo e a circulação mais fácil.
Agora, a parte humana: em cozinha
real, a equipe vive pressão. E é justamente na pressão que o lixo vira “depois
eu vejo”, o pano vira “quebra galho”, a lixeira vira “deixa aberta só um
pouco”. Então, em vez de esperar perfeição, boas práticas pedem um plano que
funcione no mundo real. Uma solução simples é estabelecer pontos de rotina: “a
cada X tempo, alguém confere lixeiras e troca sacos”; “no meio do turno,
fazemos uma limpeza rápida do chão em pontos críticos”; “ao final, ralos e
lixeiras entram na lista obrigatória”. Quando isso vira hábito de equipe, não
depende de um herói que lembra de tudo. Depende do processo.
No final das contas, resíduos e pragas têm um impacto que vai além da
segurança. Eles afetam a confiança do
cliente, o bem-estar da equipe e a qualidade do ambiente de trabalho. Ninguém
trabalha bem em um lugar com mau cheiro, mosca rondando ou medo de praga. E
ninguém confia em uma cozinha que passa essa sensação. Por isso, cuidar de
resíduos é cuidar do alimento, mas também é cuidar da dignidade do trabalho.
Ao terminar esta aula, o que eu quero que você leve é um olhar mais atento: lixo não é detalhe. Ralo não é detalhe. Migalha no canto não é detalhe. Cada pequeno descuido vira uma porta aberta. E, quando você aprende a fechar essas portas com rotinas simples, o ambiente fica mais seguro, mais organizado e mais profissional — do jeito que uma cozinha precisa ser para servir pessoas com responsabilidade.
Referências
bibliográficas
BRASIL. Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução RDC nº 216, de 15 de
setembro de 2004. Dispõe sobre regulamento técnico de boas práticas para
serviços de alimentação.
BRASIL. Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Cartilha sobre Boas Práticas para
Serviços de Alimentação. Brasília: ANVISA.
BRASIL. Ministério
da Saúde. Manual Integrado de Vigilância, Prevenção e Controle de Doenças
Transmitidas por Alimentos. Brasília: Ministério da Saúde.
CODEX ALIMENTARIUS
COMMISSION. General Principles of Food Hygiene CXC 1-1969. Rome:
FAO/WHO.
ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Five Keys to Safer Food Manual. Genebra: World
Health Organization.
Aula 9 — Cultura de
segurança: comunicar, corrigir e treinar sem briga
No começo, muita gente acha que
segurança alimentar é um conjunto de regras: lavar as mãos, separar cru e
pronto, controlar temperatura, higienizar bancada. E é mesmo. Só que existe um
ponto que costuma separar uma cozinha “que tenta” de uma cozinha “que realmente
consegue”: a cultura. Cultura é o jeito como as pessoas agem quando ninguém
está olhando, é o que a equipe considera normal, é a forma como os erros são
tratados. E, na prática, uma cozinha pode ter os melhores equipamentos do mundo
e ainda assim falhar se a cultura for de improviso, pressa e “depois a gente
vê”. Por outro lado, uma cozinha simples pode ser muito segura quando existe um
padrão compartilhado de cuidado.
Cultura de segurança começa com uma pergunta bem humana: como a equipe conversa? Em muitos ambientes, corrigir alguém vira motivo de vergonha, bronca ou conflito. A pessoa se sente atacada, responde atravessado, e a correção vira um clima ruim.
de segurança começa com uma
pergunta bem humana: como a equipe conversa? Em muitos ambientes, corrigir
alguém vira motivo de vergonha, bronca ou conflito. A pessoa se sente atacada,
responde atravessado, e a correção vira um clima ruim. Resultado: na próxima
vez, ninguém fala nada. E quando ninguém fala nada, os erros viram rotina. Por
isso, o objetivo desta aula não é ensinar só o que fazer, mas também como falar
sobre isso sem ferir ninguém e sem deixar a segurança de lado.
Um bom caminho é entender que corrigir é uma forma de proteção, não de superioridade. Numa cozinha, todo mundo erra em algum momento — principalmente sob pressão. A diferença é o que a equipe faz com o erro. Uma cultura segura trata o erro como informação: “isso aconteceu, então precisamos ajustar o processo para não acontecer de novo”. Em vez de procurar culpados, procura causas. Em vez de humilhar, orienta. E, principalmente, dá ferramentas para o certo ser mais fácil do que o errado.
A comunicação do dia a dia pode ser
simples e respeitosa. Frases curtas, sem ironia, e com foco no risco ajudam
muito. Em vez de “Você não sabe fazer isso?”, você pode dizer “Vamos trocar
essa tábua para evitar contaminação cruzada?” Em vez de “Nossa, de novo sem
lavar a mão?”, você pode usar “Bora lavar a mão rapidinho antes de voltar pra
montagem?” Esse tipo de fala não diminui a seriedade do cuidado. Pelo
contrário: ela mantém o cuidado funcionando, porque não cria resistência. A
pessoa entende que aquilo é parte do padrão e não um ataque pessoal.
Outro ponto importante é combinar
regras claras com acolhimento. Quando a regra é vaga, vira discussão. Quando a
regra é objetiva, vira rotina. “Quem mexeu com cru não toca no pronto sem
higienizar.” “Celular e dinheiro pedem lavagem de mãos antes de voltar ao
alimento.” “Lixeira sempre fechada e trocada antes de transbordar.” Regras
assim não precisam ser um texto enorme na parede — elas podem virar combinados
de equipe repetidos no começo do turno. O iniciante aprende mais rápido e o
experiente se lembra do padrão sem se sentir “controlado”.
Treinar também faz parte da cultura. E treinar não precisa ser um evento formal, longo e cansativo. Às vezes, o melhor treinamento é o micro treino: cinco minutos para reforçar um ponto específico, com demonstração e prática. Por exemplo, uma semana reforçando lavagem de mãos e momentos críticos; outra semana reforçando separação de utensílios; outra semana reforçando
rotulagem e armazenamento. Quando o
treinamento é pequeno, repetido e conectado com a rotina real, ele entra na
prática com mais facilidade. E o iniciante não se sente perdido tentando
decorar tudo de uma vez.
E quando algo dá errado de verdade?
Essa é a hora em que a cultura aparece com mais força. Um cliente reclama que
passou mal. Alguém encontrou um corpo estranho no alimento. A geladeira ficou
aberta e o alimento esquentou. Uma dessas situações testa a maturidade da
equipe. A reação mais comum é tentar esconder, negar ou “resolver rápido” sem
registrar. Só que esconder aumenta o risco de repetir o problema e agrava o
dano. Uma cultura de segurança prefere o caminho profissional:
interromper o
serviço do item suspeito, avaliar o que pode ter acontecido, descartar o que
não está seguro, orientar a equipe e registrar o ocorrido. Isso protege
pessoas, protege o negócio e mostra responsabilidade.
Registro, aliás, é uma palavra que
assusta alguns iniciantes porque parece burocracia. Mas, na prática, registro é
memória do processo. Um rótulo com data e horário, um caderno simples com
ocorrências, uma lista de checagem assinada no fim do turno… tudo isso evita
confusão, reduz desperdício e dá clareza. Quando alguém pergunta “isso é de
quando?”, a resposta não depende do achismo. E quando acontece um problema,
você consegue reconstruir o caminho e corrigir com base em fatos.
A cultura de segurança também se
fortalece quando a liderança dá exemplo. Não adianta exigir que a equipe lave
as mãos se a chefia não faz. Não adianta pedir para tirar adornos se quem
lidera usa anel e relógio na manipulação. Cultura não nasce de cartaz; nasce de
comportamento repetido. O que a liderança normaliza vira regra invisível. Por
isso, quem puxa o padrão precisa viver o padrão — mesmo nos dias corridos.
E existe uma parte muito humana nisso
tudo: reconhecer acertos. Uma cultura segura não é só apontar falhas. É também
reforçar o que foi feito corretamente. “Boa, você trocou a tábua antes de ir
para o pronto.” “Valeu por etiquetar, isso evita confusão.” “Ótima decisão
descartar esse item na dúvida.” Pequenos reforços constroem confiança e
aumentam a chance de a equipe repetir o comportamento certo. Segurança
alimentar não é apenas correção; é aprendizagem contínua.
No final desta aula, a ideia é que você entenda que segurança alimentar não depende de uma pessoa perfeccionista. Ela depende de uma equipe que conversa,
que você entenda que segurança alimentar não depende de uma pessoa perfeccionista. Ela depende de uma equipe que conversa, que se corrige com respeito, que treina em cima da realidade e que trata problemas com responsabilidade, não com medo. Quando a cultura é boa, o básico se mantém mesmo no caos do pico. E quando o básico se mantém, o alimento fica mais seguro — e o trabalho fica mais profissional, mais tranquilo e mais digno para todo mundo.
Referências
bibliográficas
BRASIL. Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução RDC nº 216, de 15 de
setembro de 2004. Dispõe sobre regulamento técnico de boas práticas para
serviços de alimentação.
BRASIL. Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Cartilha sobre Boas Práticas para
Serviços de Alimentação. Brasília: ANVISA.
BRASIL. Ministério
da Saúde. Manual Integrado de Vigilância, Prevenção e Controle de Doenças
Transmitidas por Alimentos. Brasília: Ministério da Saúde.
CODEX ALIMENTARIUS
COMMISSION. General Principles of Food Hygiene CXC 1-1969. Rome:
FAO/WHO.
ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Five Keys to Safer Food Manual. Genebra: World
Health Organization.
Estudo de caso do Módulo
3 — “O Delivery que Quase Perdeu a Confiança do Bairro”
A Cozinha da Praça era um
delivery que cresceu rápido. Começou com marmitas simples e, em poucos meses,
já tinha fila de pedidos no almoço. A comida era boa, o preço justo e o
atendimento simpático. Só que, conforme o volume aumentou, a cozinha virou uma
mistura de pressa com improviso. Nada “grave” acontecia… até o dia em que três
pequenos sinais apareceram ao mesmo tempo — e quase viraram uma crise grande.
Na segunda-feira, uma cliente mandou
mensagem: “Achei um fio de cabelo no meu prato.” Na terça, outra reclamação: “O
cheiro do lixo estava muito forte na porta.” Na quarta, veio a pior: um vídeo
no direct mostrando um pedacinho de esponja dentro da comida. A equipe
entrou em pânico. Alguém sugeriu negar. Outro quis culpar o entregador. A dona,
Bia, respirou fundo e fez uma escolha diferente: “A gente não vai brigar
com o cliente. A gente vai entender o que está acontecendo e fechar as
brechas.”
Ela reuniu a equipe e propôs um exercício simples: mapear o fluxo do turno — abertura, pico, fechamento. Foi aí que os erros comuns (e silenciosos) do Módulo 3 apareceram como um dominó.
Onde a cozinha
errou (e por que isso é tão comum)
1) Abertura sem
checklist: “vamos tocando”
A Cozinha da Praça abria no
modo “liga tudo e começa”. Pia às vezes sem papel para secar mãos,
lixeira do dia anterior ainda com cheiro, bancada “meio limpa”, pano já úmido
desde cedo. Nada parecia um grande problema isolado…, mas somado, virava
ambiente de risco.
Como evitar
2) Pano e esponja
viraram “coringas”
No pico, o pano
fazia tudo: secava mão, limpava bancada, pegava panela. A esponja também era
usada até “sumir”. Com o tempo, ela começou a soltar pedacinhos — e foi assim
que um fragmento foi parar num pedido.
Como evitar
3) Lixeira cheia +
fluxo cruzado com área de preparo
A lixeira
transbordava em dia corrido, e o saco ficava “para depois”. Mosquinhas
apareceram perto da pia. O cheiro incomodava. E, pior: para chegar até a área
de descarte, o funcionário passava por perto da bancada de montagem.
Como evitar
4) “Cantos
invisíveis”: ralos, frestas e caixas de papelão
As caixas do
fornecedor ficavam empilhadas num canto. O ralo do fundo acumulava resíduo. De
repente, formigas e moscas começaram a aparecer — e, com elas, o risco de
contaminação e a sensação ruim no ambiente.
Como evitar
5) Falta de
cultura de correção: “se eu falar, dá briga”
O ponto mais
delicado não era técnico — era humano. A equipe via falhas acontecendo, mas
evitava comentar para não gerar conflito. Aí o erro se repetia. E o padrão
virava “normal”.
Como evitar
o “Vamos
trocar essa tábua pra evitar contaminação?”
o “Bora lavar a mão antes de voltar pra
montagem?”
o “Esse
pano aqui é só da bancada, beleza?”
A crise que virou
aprendizado
Bia decidiu tratar
as reclamações como um “alerta de maturidade”. Ela respondeu a cada cliente com
calma, assumindo responsabilidade, oferecendo reposição e explicando que faria
ajustes. Internamente, ela fez três mudanças que transformaram a rotina em uma
semana:
1) Rotina em três
checklists (simples e curtos)
2) Padrões visuais
3) Cultura de
segurança
Ela combinou uma
regra de ouro: “Aqui, a gente corrige sem humilhar e sem fingir que não
viu.”
E completou: “Se tiver dúvida, para e pergunta. Melhor perder 30 segundos do
que perder a confiança do cliente.”
Na semana seguinte, as reclamações pararam. Mais do que isso: o time começou a trabalhar com menos estresse, porque a rotina passou a guiar o turno. O negócio continuou crescendo — mas agora com um padrão mais profissional.
Lições do caso (o
coração do Módulo 3)
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