MÓDULO
3 — Metas, Indicadores e Gestão de Resultados
Aula
7 — Metas e desdobramento: do número para a ação
Quando
a gente fala em meta, muita gente já sente um aperto no peito. Meta lembra
cobrança, pressão, reunião séria, planilha, “tem que bater”. Só que meta,
quando é bem conduzida, não precisa ser um monstro. Ela pode ser, na verdade,
um mapa. Um jeito de transformar um objetivo grande (que parece distante) em
passos menores que a equipe consegue enxergar e executar. O problema não é ter
meta. O problema é ter meta sem caminho.
Um erro comum no varejo é tratar meta como um número jogado em cima do time: “Esse mês precisamos vender tanto.” E pronto. Só que a equipe não trabalha em “mês”. Ela trabalha em hora, em turno, em cliente, em atendimento. Se a meta fica lá no alto, abstrata, ela vira ansiedade ou indiferença. Ansiedade para quem se sente responsável por tudo. Indiferença para quem sente que não adianta se esforçar. Desdobrar a meta é o que traz o número para a realidade do dia.
Desdobrar
meta é, basicamente, fazer uma pergunta simples: o que esse número significa
na prática? Se a meta do mês é 300 mil, o que isso vira por semana? E por
dia? E por turno? E por pessoa? Quando o gerente faz esse “quebra-cabeça” e
mostra para a equipe, a meta deixa de ser um peso invisível e vira uma tarefa
possível. O time não olha mais para o topo da montanha e começa a olhar para o
próximo passo.
Só que
existe um detalhe importante: desdobrar não é apenas dividir por 30 e pronto.
Loja tem fluxo diferente por dia, por horário, por época do mês. Alguns dias
vendem mais, outros menos. Às vezes o domingo é forte, às vezes é fraco. Às
vezes o pico é à noite, às vezes é no almoço. Um desdobramento inteligente
respeita a realidade: distribui a meta conforme o movimento e conforme a equipe
disponível. Isso evita duas armadilhas: cobrar demais quando o fluxo não ajuda
e relaxar justamente quando o fluxo está favorável.
Também
é importante lembrar que meta não é só “meta de dinheiro”. O dinheiro é o resultado,
mas ele nasce de comportamentos. Por isso, o gerente precisa traduzir a meta
financeira em metas de ação. Por exemplo: se a loja precisa aumentar
faturamento, talvez o caminho seja aumentar a conversão, ou aumentar ticket
médio, ou aumentar itens por venda. E cada um desses indicadores pede ações
diferentes.
Se a conversão está baixa, o foco pode ser abordagem e
presença no salão. Se o ticket médio está baixo, o foco pode ser recomendação de complemento, argumentação de valor, mix melhor. Se itens por venda estão baixos, talvez falte sugestão ou o cliente não esteja vendo opções. Quando o gerente só fala “precisamos vender mais”, ele não está gerenciando. Ele está torcendo. Gerenciar é escolher a alavanca certa e orientar o time para ela.
Um
jeito bem didático de pensar nisso é: meta é o “o quê”; desdobramento é o
“quanto por dia”; e plano de ação é o “como”. Sem o “como”, a equipe se
perde. Sem o “quanto por dia”, a equipe se desorganiza. E sem o “o quê”, todo
esforço fica sem direção. Esses três elementos juntos formam uma gestão que faz
sentido.
Outra
parte delicada do tema é a divisão da meta por pessoa. Muita loja erra por dois
extremos: ou divide de forma injusta (“todo mundo igual”, mesmo com turnos e
funções diferentes), ou divide de forma opaca (ninguém sabe como foi definido e
começa a suspeitar de favoritismo). O gerente precisa ser transparente e justo,
considerando horário, função, experiência e fluxo. E, principalmente, lembrar
que nem todo papel na loja é “vendedor puro”. Às vezes alguém cobre caixa,
provador, estoque. Essa pessoa também influencia venda, mas de outro jeito. O
gerente precisa reconhecer isso e ajustar expectativas para não criar
desmotivação.
Além
disso, existe um fator humano: metas precisam ser comunicadas com equilíbrio. A
equipe não pode viver em clima de ameaça. Meta em excesso, cobrada com dureza,
vira medo e desgaste. Meta bem comunicada vira foco. Em vez de “se não bater,
vai dar problema”, a mensagem pode ser: “Esse é o alvo, esse é o plano, eu vou
estar com vocês no chão, e a gente vai ajustando juntos.” A diferença de clima
é enorme. E clima impacta venda mais do que muita gente imagina.
No dia
a dia, o acompanhamento da meta deve ser simples. Não precisa transformar a
loja numa sala de controle. Pode ser algo visual e rápido: um quadro, uma
planilha simples, um painel na sala, um número atualizado em momentos
estratégicos. O importante é não deixar a meta virar um susto no fim do mês. A
meta precisa ser acompanhada como se acompanha uma viagem: olhando o caminho e
ajustando rota cedo. Se você só olha o GPS quando está perdido, já é tarde.
E quando a meta está atrasada? Essa é a hora em que muitos gerentes se desesperam e começam a pedir tudo ao mesmo tempo: “Vamos vender mais, abordar mais, arrumar mais, sorrir
mais, abordar mais,
arrumar mais, sorrir mais, oferecer mais…” Isso confunde. A melhor saída é
voltar ao básico: olhar o que mudou, escolher uma ou duas alavancas principais
e agir com consistência por alguns dias. Pequenas correções sustentadas
funcionam melhor do que grandes cobranças desorganizadas.
No
final, a grande lição desta aula é que meta não é inimiga. O inimigo é a meta
sem método. Desdobrar é trazer a meta para o chão da loja, de um jeito que a
equipe entenda e consiga agir. E quando a equipe entende o caminho, o número
deixa de ser uma ameaça e vira desafio possível.
Se você quer crescer como gerente, treine esta habilidade: pegar um número grande e transformá-lo em rotina prática. É isso que separa quem “cobra meta” de quem realmente faz gestão.
Referências Bibliográficas
DRUCKER, Peter F. Administração: Tarefas,
Responsabilidades, Práticas. São Paulo: Pioneira Thomson Learning.
KAPLAN, Robert S.; NORTON, David P. A Estratégia em
Ação: Balanced Scorecard. Rio de Janeiro: Campus.
KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração
de Marketing. São Paulo: Pearson.
LAS CASAS, Alexandre Luzzi. Administração de Vendas.
São Paulo: Atlas.
LEVY, Michael; WEITZ, Barton A. Administração de
Varejo. São Paulo: McGraw-Hill.
MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à
Administração. São Paulo: Atlas.
Aula 8 — Indicadores do
gerente: quando os números viram conversa (e não só cobrança)
Em
loja, todo mundo sente quando o dia foi bom ou ruim. Às vezes a equipe “sabe”
que vendeu bem só pelo movimento no caixa. Outras vezes o salão ficou cheio,
mas a venda não acompanhou. O problema é que sensação engana. E é aí que entram
os indicadores: eles não existem para “perseguir” ninguém, mas para tirar a
gestão do achismo e transformar o que acontece na loja em algo que dá para
entender, comparar e melhorar.
O
ponto principal desta aula é simples: indicador é um tipo de pergunta. Ele
serve para você perguntar para a operação: o que está acontecendo de
verdade? Quando o gerente usa indicador apenas para cobrar (“olha como está
ruim”), a equipe passa a ter medo dos números. Quando usa indicador para
entender e orientar (“o que esse número está nos dizendo?”), os números viram
aliados e a equipe aprende a enxergar o próprio trabalho com mais clareza.
Um erro comum de gerente iniciante é tentar acompanhar indicador demais. A loja vira um painel confuso e ninguém sabe o que olhar primeiro. Melhor do que ter
vinte números é ter poucos números bem escolhidos, que realmente guiem decisões. Em geral, cinco a sete indicadores básicos já sustentam uma gestão sólida — desde que o gerente saiba o que significa cada um e o que fazer quando ele cai.
Comecemos
pelos indicadores de venda mais conhecidos. Faturamento é o total
vendido. Ele é importante, mas sozinho não explica nada. Se o faturamento caiu,
por quê? Foi menos gente na loja? Foi menos conversão? Foi ticket médio menor?
Foi falta de produto? Sem desdobrar, o faturamento vira apenas motivo para
ansiedade. É como olhar o resultado de um jogo sem saber como o time jogou.
Por
isso, o gerente precisa andar junto com a conversão, que é a taxa de
pessoas que entram e de fato compram. Conversão é um indicador muito “honesto”,
porque ele mostra se o atendimento e a condução do cliente estão funcionando.
Quando a loja está cheia e a conversão está baixa, quase sempre existe algum problema
de experiência: falta de abordagem, pouca gente no salão, equipe desorganizada
no pico, atendimento sem escuta, ou até cliente indo embora por fila e demora.
Às vezes a equipe diz “ninguém quer comprar”, mas a conversão mostra que o
problema pode ser outro: o cliente até quer, só não está sendo conduzido.
Outro
indicador essencial é o ticket médio, que é o valor médio por compra.
Ele não serve para fazer o vendedor “empurrar” produto. Ele serve para entender
se a loja está conseguindo agregar valor e fazer o cliente sair com uma solução
mais completa. Quando o ticket médio está baixo, pode ser falta de recomendação
de complementos, falta de mix exposto, pouca variedade disponível, ou uma
abordagem que não aprofunda a necessidade do cliente. A diferença entre vender
um item e vender uma solução geralmente está na qualidade da conversa.
Junto
do ticket, vem um indicador irmão: itens por venda. Ele mostra se o
cliente está levando mais de um item por compra. E aqui entra uma sacada bem
prática: itens por venda costuma melhorar quando a loja está bem exposta e
quando o vendedor tem o hábito de sugerir algo que combine. Não precisa virar
insistência. Às vezes é só lembrar:
“Você vai usar
com o quê?” ou “Quer ver uma opção que combina bem com isso?”. É o tipo de
pergunta que ajuda o cliente e melhora resultado sem forçar.
Até aqui falamos de venda. Mas uma loja não vende bem por muito tempo se a operação está quebrada. E por isso o gerente precisa olhar indicadores operacionais,
começando por um dos mais dolorosos: ruptura, que é quando falta
produto, especialmente o produto que mais gira. Ruptura derruba venda e ainda
desgasta o time, porque o vendedor se sente impotente: ele até atende bem, mas
não tem o que vender. Cliente frustrado também volta menos. Às vezes o gerente
cobra atendimento, mas o verdadeiro “vilão” é a falta do item-chave. Ruptura é
um indicador que parece de estoque, mas é de venda e de experiência.
Um
indicador que também merece atenção é devolução e troca. Troca faz parte
do varejo, mas um volume alto pode indicar problema: promessa errada na venda,
tamanho mal orientado, expectativa criada e não cumprida, ou qualidade do
produto. Quando o gerente acompanha isso, ele consegue ajustar discurso e
orientar melhor a equipe. E há um detalhe: troca malconduzida vira reclamação;
troca bem conduzida pode virar fidelização. O indicador chama atenção para onde
olhar.
E existe um tema que pouca gente gosta de encarar, mas que faz parte da saúde da loja: perdas. Perda não é só furto. Pode ser avaria, vencimento (quando aplica), erro de registro, falha de recebimento, organização ruim que leva a dano, e sim, eventualmente furto. Quando perdas sobem, o gerente precisa investigar processo e comportamento com equilíbrio. Não dá para tratar como paranoia, mas também não dá para ignorar. Perda alta “come” margem em silêncio.
Agora,
indicadores não são só números de venda e estoque. O gerente também precisa
olhar indicadores de gente. Absenteísmo (faltas e atrasos) é um
termômetro de clima e organização. Às vezes a pessoa falta por motivo legítimo,
claro. Mas quando faltas viram padrão na equipe, isso aponta para problemas de
escala, desmotivação, cultura frouxa ou liderança que não sustenta combinados.
E a consequência é direta: faltou gente, o atendimento piora, a conversão cai,
o resto da equipe se irrita e o ciclo se repete.
Outro
indicador humano importante é a aderência ao padrão, que é menos um
número e mais uma observação consistente: a equipe está abordando? Está
seguindo o roteiro básico? Está oferecendo complemento com naturalidade? Está
conduzindo o fechamento? Esse “indicador” pode ser acompanhado com checklist de
observação simples, porque nem tudo aparece na planilha. Uma loja pode até
vender bem num dia por causa de fluxo, mas se o padrão caiu, isso cobra a conta
depois.
O grande aprendizado desta aula é que indicador serve para tomar decisão, não para
fazer sermão. Sempre que um indicador cai, o gerente pode fazer três
perguntas muito práticas: o que mudou? por que mudou? o que vamos testar
agora? Isso muda o clima da gestão. A equipe percebe que o líder não está
ali apenas para apontar problema, mas para conduzir solução.
Uma dica que ajuda muito é transformar indicador em rotina leve, sem “terror”. Em vez de falar de números toda hora, o gerente pode escolher momentos: na abertura, um alinhamento rápido; no meio do dia, um check-in curto; e no fechamento, um resumo e um ajuste para amanhã. Um time consegue lidar melhor com meta quando entende o placar e sabe o que fazer com ele. Ninguém gosta de ser cobrado por algo que não entende.
No final, indicadores são uma forma de cuidar da loja com maturidade. Eles mostram onde a energia está vazando, onde a operação está travando e onde a equipe precisa de apoio. Quando o gerente aprende a ler esses sinais e traduzir em ações simples, ele deixa de “correr atrás do prejuízo” e passa a conduzir o resultado com mais consistência — e com menos desgaste.
Referências Bibliográficas
KAPLAN, Robert S.; NORTON, David P. A Estratégia em
Ação: Balanced Scorecard. Rio de Janeiro: Campus.
DRUCKER, Peter F. O gestor eficaz. Rio de
Janeiro: LTC.
KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração
de Marketing. São Paulo: Pearson.
LAS CASAS, Alexandre Luzzi. Administração de Vendas.
São Paulo: Atlas.
LEVY, Michael; WEITZ, Barton A. Administração de
Varejo. São Paulo: McGraw-Hill.
BOWERSOX, Donald J.; CLOSS, David J.; COOPER, M.
Bixby. Gestão Logística da Cadeia de Suprimentos. Porto Alegre: Bookman.
Aula 9 — Reunião de
performance e plano de ação: como ajustar rota sem pesar o clima
Tem
gerente que foge de reunião de performance porque acha que vai virar sermão. E
tem equipe que detesta porque já espera bronca, cobrança e um monte de metas
jogadas no ar. Só que reunião de performance, quando é bem-feita, não é castigo
— é uma conversa rápida e inteligente para a loja funcionar melhor. Ela existe
para responder a uma pergunta bem prática: o que está acontecendo e o que
vamos fazer agora?
No varejo, esperar o fim do mês para “ver se bateu” é como dirigir olhando só pelo retrovisor. Quando você percebe que está fora do caminho, já perdeu tempo demais. A reunião de performance é o contrário disso: é um hábito curto, frequente e objetivo que permite ajustar o que precisa ser ajustado antes que vire problema grande. E,
melhor ainda, reduz o desgaste. Porque uma equipe que
ajusta todo dia sofre menos do que uma equipe que recebe uma cobrança enorme no
último dia do mês.
A
primeira ideia importante é que reunião de performance não precisa ser longa.
Em loja, tempo é precioso. Uma boa reunião pode durar 15 a 20 minutos, e
ainda assim ser muito eficaz. O segredo não é falar muito, é falar do que
importa. O gerente não precisa fazer discurso motivacional grande. Precisa
trazer clareza: onde estamos, o que mudou, o que vamos testar e quem faz o quê.
Um
erro comum é transformar a reunião em uma “aula de números”. O gerente abre a
planilha, começa a ler indicador por indicador e o time desconecta. Números sem
significado cansam. O que prende a atenção da equipe é quando o número vira
história: “A conversão caiu ontem. Isso significa que entrou gente, mas menos
gente comprou. Onde a gente travou?” Quando o gerente traduz o indicador em
linguagem do chão de loja, todo mundo entende e consegue contribuir.
Uma
estrutura simples ajuda muito. Você pode pensar na reunião como três blocos: placar,
causa e ação. Primeiro, o placar: o que foi o resultado do dia ou do turno?
Aqui, o gerente escolhe poucos números, os mais relevantes: faturamento,
conversão, ticket médio, itens por venda, ruptura do item-chave. Depois, a
causa: o que pode explicar esse resultado? E aqui entra um ponto importante:
causa não é desculpa, é diagnóstico. Por fim, ação: o que vamos fazer agora, de
forma concreta, para melhorar?
Diagnóstico
é a parte que diferencia um gerente que “cobra” de um gerente que “gerencia”.
Cobrança sem diagnóstico é só pressão. Diagnóstico sem ação é só conversa. A
combinação dos dois vira gestão. E para diagnosticar, o gerente precisa fazer
perguntas boas e ouvir o time. A equipe está no contato direto com o cliente,
então ela tem informação valiosa: “Hoje o cliente reclamou da fila”, “Hoje
faltou o produto X”, “Hoje o provador ficou cheio e travou o salão”, “Hoje a
equipe estava sem cobertura no pico”. Essas pistas aparecem mais rápido na boca
do time do que na planilha.
Mas atenção: uma reunião de performance não pode virar uma roda de reclamação. Isso também é um erro comum. Quando o gerente deixa a conversa virar desabafo, o grupo sai mais pesado do que entrou. O papel do líder é acolher a informação e conduzir para a solução. É como dizer: “Entendi. Então nosso gargalo foi fila e falta de cobertura. O que dá para ajustar
hoje mesmo?” A reunião precisa terminar com sensação de direção, não de impotência.
A
partir do diagnóstico, entra o plano de ação. E aqui, a regra de ouro é: plano
de ação precisa ser simples o suficiente para acontecer. Um plano cheio de
itens vira papel. Um plano com poucas ações bem escolhidas vira resultado.
Normalmente, três ações já são suficientes para um ajuste do dia a dia.
E essas ações precisam ter três coisas: responsável, prazo e como medir.
Se não tiver isso, não é ação; é intenção.
Por
exemplo: se a conversão caiu porque o salão ficou sem abordagem no pico, uma
ação pode ser “redistribuir posições no pico e colocar um responsável por
acolhimento na entrada”. Responsável: fulano. Prazo: a partir de hoje. Medida:
observação do gerente + conversão do turno. Se o ticket médio está baixo, uma
ação pode ser “treinar oferta de complemento com duas perguntas prontas e
testar em 20 atendimentos”. Responsável: gerente + líder de turno. Prazo: hoje.
Medida: itens por venda e ticket médio.
Perceba
como isso fica muito mais concreto do que “vamos vender mais”. E, quando é
concreto, a equipe sente que tem como agir. Isso aumenta confiança. E confiança
influencia atendimento, que influencia venda. Tudo se conecta.
Outra peça importante é o tom. Reunião de performance não é tribunal. O gerente precisa cuidar para não expor alguém como culpado na frente do time. Se existe um problema específico com uma pessoa, isso se resolve em conversa individual. No grupo, o foco é processo e comportamento coletivo. Um gerente maduro sabe que “apontar dedo” até dá sensação de controle, mas destrói o clima e diminui a colaboração.
Também
é útil o gerente entender que existem ajustes rápidos e ajustes mais
estruturais. Ajuste rápido é aquilo que dá para mudar no mesmo dia: escala do
pico, cobertura de caixa, reposição dos campeões, reposicionamento de produtos,
reforço de abordagem. Ajuste estrutural é o que precisa de alguns dias:
treinamento, mudança de rotina, melhoria de processo, revisão de mix, parceria
com estoque. Uma boa reunião separa esses dois tipos e não tenta resolver tudo
na hora.
O ciclo que sustenta isso pode ser pensado como um “PDCA do varejo”, bem simplificado. Você planeja (define o que quer melhorar), executa (testa a ação), checa (vê se funcionou pelos indicadores e observação) e ajusta (mantém, melhora ou troca a estratégia). No varejo, isso precisa ser rápido, leve e contínuo.
É o que evita aquele sobe-e-desce emocional do time: um dia euforia,
outro dia desespero.
No
fechamento do dia, a reunião pode terminar com uma pergunta que cria
maturidade: “O que funcionou hoje e o que vamos repetir amanhã?” Muita gente só
olha para o que deu errado. Mas repetir o que deu certo é tão importante quanto
corrigir o que deu errado. Isso também fortalece o time, porque mostra que
desempenho não é só cobrança — é aprendizado.
No final, a grande lição desta aula é que performance não se gerencia com pressão, mas com ritmo. Reunião curta, números bem escolhidos, diagnóstico humano e plano de ação simples. Essa combinação faz o gerente sair do modo “apagar incêndio” e entrar no modo “conduzir a loja”. E faz a equipe sentir que não está sozinha, que existe direção e que o resultado é construído no dia a dia, não no susto do último dia do mês.
Referências Bibliográficas
DRUCKER, Peter F. O gestor eficaz. Rio de
Janeiro: LTC.
KAPLAN, Robert S.; NORTON, David P. A Estratégia em
Ação: Balanced Scorecard. Rio de Janeiro: Campus.
MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à
Administração. São Paulo: Atlas.
CHIAVENATO, Idalberto. Administração: Teoria,
Processo e Prática. São Paulo: Manole.
LAS CASAS, Alexandre Luzzi. Administração de Vendas.
São Paulo: Atlas.
LEVY, Michael; WEITZ, Barton A. Administração de
Varejo. São Paulo: McGraw-Hill.
Estudo de caso do Módulo
3
“A Meta Sumiu no Meio do Caminho: a semana em que a
Loja Aurora aprendeu a gerir por alavancas”
Na Loja
Aurora, o mês começou animador. Nos primeiros dias, o fluxo parecia bom, a
equipe estava motivada e o gerente, Bruno, tinha aquela sensação de que
“vai dar certo”. Só que, quando chegou a segunda semana, a realidade apareceu:
a meta do mês estava ficando para trás. E não era um atraso pequeno — era
aquele tipo de atraso que dá frio na barriga, porque você olha o calendário e
pensa: se continuar assim, não bate.
Bruno
fez o que muitos gerentes fazem quando estão apertados: aumentou o volume da
cobrança. Falou mais de meta, pediu “mais garra”, mandou o time abordar mais,
ofereceu premiação de última hora e começou a mandar mensagens no grupo o dia
inteiro com “placar parcial”. A equipe até tentou responder, mas o clima ficou
pesado. E o resultado… não melhorou como ele esperava.
A verdade é que Bruno estava tentando resolver um problema de gestão com pressão. O que faltava era método: olhar os indicadores certos,
entender a causa, escolher alavancas e montar um plano de ação simples.
O cenário (com números e sinais reais)
Meta mensal:
R$ 300.000
Meta até o dia 12: R$ 120.000
Realizado até o dia 12: R$ 104.000 (atraso de R$ 16.000)
Bruno abriu o relatório e viu:
Ou seja: tinha cliente entrando, mas menos gente comprando. E, além disso, faltava produto campeão e o atendimento estava travando no pico.
Erros comuns que aconteceram (e como evitar)
1) Erro: olhar só o faturamento e entrar em pânico
Bruno via apenas “vendeu menos” e concluía: “a equipe
está fraca”.
Só que o faturamento é o resultado. Ele não explica o porquê.
Como evitar
2) Erro: desdobrar meta de forma simplista (ou não
desdobrar)
Bruno falava “precisamos vender R$ 300 mil no mês”,
mas não traduziu isso para a rotina.
A equipe não enxergava o alvo diário e trabalhava “no escuro”.
Como evitar
3) Erro: atacar tudo ao mesmo tempo
No desespero, Bruno pediu: “abordem mais”, “ofereçam
mais”, “sejam mais rápidos”, “arrumem a loja”, “não deixem faltar produto” …
Resultado: a equipe ficou confusa e cansada.
Como evitar
4) Erro: ignorar ruptura (o time tentava vender sem
ter o que vender)
Dois produtos campeões estavam faltando há dias. A
equipe perdia vendas e ouvia “não tem?”.
A frustração aumentava e o cliente ia embora.
Como evitar
5) Erro: não ajustar cobertura do pico (fila derruba
conversão)
No horário forte, faltava gente no salão e sobrava
fila no caixa.
Cliente com pressa ia embora e a conversão caía.
Como evitar
6) Erro: usar indicador como arma (a equipe passou a
temer o número)
Bruno jogava o placar no grupo o tempo todo com tom de
cobrança.
A equipe se sentia ameaçada e começou a evitar responsabilidade (“não depende
de mim”).
Como evitar
A virada: o plano de ação em 5 dias (simples e
eficiente)
Bruno decidiu mudar o jeito de gerir e aplicou um
ciclo curto:
Dia 1 — Diagnóstico e escolha de alavancas
Escolheu duas prioridades: conversão e ruptura
dos campeões.
Dia 2 — Ajuste de cobertura no pico
Definiu posições e colocou mais gente no salão entre
18h e 20h.
Ele ficou fora do caixa, circulando e destravando atendimento.
Dia 3 — Treino rápido de abordagem e fechamento (15
minutos)
Um roteiro simples para abordar com naturalidade e
conduzir fechamento.
Dia 4 — Plano de reposição dos itens vitais
Remanejamento + prioridade no estoque + checagem
diária de campeões.
Dia 5 — Reunião de performance (15 minutos)
Placar + causa + ações do dia seguinte (sem sermão).
Resultado após 10 dias
O mais importante não foi “milagre de venda”. Foi a mudança de método: Bruno parou de gerenciar por pressão e começou a gerenciar por alavancas.
Para o aluno: desafio prático (aplicação)
1.
Se você fosse o
Bruno, quais 2 alavancas escolheriam primeiro e por quê?
2.
Monte um plano de
ação de 1 semana com 3 ações imediatas e 2 ações de acompanhamento.
3.
Escreva como seria
sua reunião de performance de 15 minutos (ordem dos assuntos).
4. Crie uma lista de 8 “itens vitais” e como você
checaria ruptura diariamente.
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