MÓDULO
2 — Progressões que contam história: cadências, dominante e o truque do V7
Aula 4 — Cadências: os “pontos” da harmonia
Se a harmonia funcional fosse uma
conversa, as cadências seriam a pontuação. Sabe quando alguém fala e
você percebe claramente que a frase terminou? Ou quando a pessoa faz uma pausa
que parece dizer “ainda não acabou”? Ou ainda quando ela começa a frase de um
jeito e, de repente, termina de outro, te pegando de surpresa? Na música tonal
acontece a mesma coisa. Cadência é exatamente isso: o jeito como a harmonia
organiza os finais e as transições, criando sensação de conclusão,
continuidade ou surpresa.
Muita gente, no começo, estuda
cadência como se fosse uma lista para decorar: “autêntica é isso, plagal é
aquilo…”. Só que o coração do assunto não está na definição. Está na sensação.
Cadência é uma ferramenta para você perceber (e controlar) o que o ouvinte
sente: “chegou”, “vai continuar”, “mudou de assunto”, “foi enganado”. Quando
você entende isso, começa a tocar de outro jeito: a música deixa de ser uma
sequência de acordes e vira um discurso com intenção.
Vamos trabalhar tudo aqui com o tom
de Dó maior (C), porque é mais direto. Mas a ideia vale para qualquer
tom. A primeira cadência — e provavelmente a mais importante da harmonia tonal
— é a cadência autêntica, que acontece quando você vai de V para I.
Em Dó maior, isso é G → C (ou, mais forte ainda, G7 → C).
Essa
é a sensação clássica de fechamento: o acorde dominante cria uma tensão clara e
a tônica “resolve” essa tensão. É como terminar uma frase com ponto final.
Quando você toca V–I, o ouvido pensa: “ok, concluímos”.
Agora, um detalhe muito útil na
prática: nem todo V–I tem a mesma força. Às vezes ele soa como um final
definitivo; às vezes como uma conclusão mais leve. Isso depende de vários
fatores (ritmo, melodia, inversões), mas para iniciantes há um caminho simples:
V7 costuma fechar com mais clareza do que V. Então, se você quer um fim
bem-marcado, experimente usar G7 antes do C. Você vai ouvir um
“encaixe” mais evidente.
A segunda cadência que vale ouro para quem acompanha música popular e música religiosa é a cadência plagal, que vai de IV para I. Em Dó maior: F → C. Ela também dá sensação de chegada, mas é uma chegada diferente: menos tensa, mais “macia”, como se você pousasse em vez de frear. Por isso ela é tão
associada ao clima do “amém”
em hinos e músicas litúrgicas. Enquanto o V–I parece dizer “resolvido!”, o IV–I
parece dizer “descansou…”. É um tipo de final que não precisa de tanta tensão
para funcionar.
E tem uma cadência que é quase o oposto do fechamento: a que termina deixando a música “pendurada”. Essa é a meia cadência, que acontece quando a progressão termina no V (dominante). Em Dó maior, um exemplo simples é C → G. O efeito é imediato: você sente que falta alguma coisa. Parece que a frase parou no meio e ficou no ar. Essa cadência é muito usada no final de uma primeira parte (um “A”), antes de repetir ou antes de entrar numa segunda parte, porque ela cria expectativa sem resolver. É como terminar uma frase com reticências: “e aí…”
Para perceber isso no corpo,
experimente uma coisa bem direta no instrumento: toque C → G e segure no
G por um tempo. Depois, toque C. A diferença de sensação é enorme. O G,
sozinho, tem cara de “pergunta”; o C tem cara de “resposta”. E isso é
extremamente útil quando você está construindo arranjos ou acompanhamentos: se
você quer preparar um refrão, por exemplo, terminar a parte anterior numa meia
cadência é um jeito clássico de levantar o ouvinte da cadeira e dizer “vem aí”.
Agora vem uma das cadências mais
gostosas do ponto de vista emocional, porque ela faz um pequeno truque de
roteiro: a cadência deceptiva (ou “enganosa”). Em vez de ir do V para o
I, você vai do V para o vi. Em Dó maior: G → Am (ou G7 → Am).
O nome “enganosa” faz sentido: o ouvido está esperando resolver em C, porque é
isso que a dominante normalmente promete. Mas, em vez de chegar em casa, você
entra num lugar que parece “próximo de casa”, só que não é a casa principal. O
vi (Am) compartilha notas e tem uma sensação de repouso relativa, então o
impacto não é um susto agressivo; é mais um “ah… então não era agora”.
Essa cadência é muito usada para
prolongar a música sem perder coerência. É como se você dissesse: “eu ia
terminar aqui…, mas ainda tenho algo a contar”. Em música pop, ela aparece
muito quando o compositor quer esticar a tensão por mais um compasso antes do
refrão, ou quando quer criar um verso que parece que vai finalizar, mas decide
continuar.
O mais bonito das cadências é perceber que elas são, na prática, ferramentas de direção. Você escolhe a cadência de acordo com o que quer comunicar. Quer um final forte? Use autêntica (V–I), especialmente com V7. Quer um final mais suave
especialmente com V7. Quer um final mais suave e acolhedor? Use plagal
(IV–I). Quer segurar a respiração e preparar a próxima seção? Use meia
cadência (…–V). Quer surpreender sem sair do tom? Use deceptiva (V–vi).
E, para não ficar só na teoria, aqui
vai um modo bem musical de estudar: pegue uma progressão simples de quatro
acordes, como C – Am – F – G. Toque e sinta que ela está “andando” e
criando energia. Agora, no final, faça quatro finais diferentes, só mudando a
cadência:
1. Final
forte (autêntica): … G7 – C
2. Final
suave (plagal): … F – C
3. Final
pendente (meia cadência): … C – G
4. Final
que continua (deceptiva): … G – Am
O exercício é simples, mas ele te
ensina uma coisa enorme: a harmonia não é só “qual acorde vem depois”. É quando
e como você fecha uma frase. E isso vale tanto para quem toca sozinho
quanto para quem acompanha cantores ou toca em grupo. Muitas vezes, o que faz
uma banda soar madura não é ter acordes complexos, e sim saber fechar as frases
com clareza, juntos, no mesmo “ponto final”.
Para encerrar esta aula, guarde uma ideia: cadências são como sinais de trânsito emocionais. Elas dizem ao ouvinte se a música está chegando, continuando, respirando ou desviando. Quando você domina isso, você ganha controle do discurso musical. E, aos poucos, começa a ouvir músicas do dia a dia e reconhecer: “aqui fechou com V–I”, “aqui deixou no V”, “aqui enganou indo para o vi”. Esse tipo de escuta é o começo de uma autonomia real — porque você não está mais apenas repetindo músicas, está entendendo a linguagem por trás delas.
Referências
bibliográficas
Aula 5 do Módulo 2 — Dominante com
propósito: como criar tensão e “abrir caminho” para o refrão
Quando a gente começa a entender cadências, acontece uma virada interessante: você passa a perceber que a harmonia não é só um fundo para a melodia. Ela é quase um narrador invisível dizendo ao ouvinte o que sentir: “agora relaxa”,
“agora relaxa”, “agora se prepara”, “agora
segura a respiração”. E, dentro dessa narrativa, a dominante é uma das
ferramentas mais fortes que existem — especialmente quando você quer fazer a
música andar com mais firmeza, preparar uma entrada importante, ou dar aquela
sensação gostosa de “agora chegou”. Nesta aula, a proposta é aprender a usar a
dominante de um jeito menos automático e mais consciente: dominante com
propósito.
Vamos partir do básico: em um tom
maior, o acorde do V grau tem uma característica muito específica. Ele
cria uma tensão que não é solta; é uma tensão que aponta para algum lugar. Em Dó
maior, o V é Sol (G). Se você toca G e depois volta para C,
seu ouvido normalmente aceita isso com naturalidade. Parece que “fez sentido”.
Agora, quando você transforma esse V em V7 (no caso, G7), a coisa
fica ainda mais clara: o acorde não só tensiona, ele praticamente pede
para resolver. E essa sensação de pedido é uma das chaves da música tonal.
O motivo é simples e elegante: o V7
coloca no ar notas que “querem” se mover por um passo curto, por semitom, até
um lugar estável. Em Dó maior, o G7 tem as notas G–B–D–F. Duas
delas são decisivas. O B (Si) costuma querer subir para C (Dó), e
o F (Fá) costuma querer descer para E (Mi). Esse movimento
minúsculo é poderoso porque o ouvido percebe como uma solução inevitável.
É
como quando você vê uma bola bem na beirada da mesa: você sabe que ela vai
cair, e quando cai, parece que a “história” se completou. Com o V7 acontece
algo parecido: a harmonia cria uma expectativa e a tônica entrega o descanso.
Só que aqui está o ponto didático
mais importante: dominante não serve apenas para terminar. Ela serve
para organizar energia. Às vezes, você usa dominante para fechar uma frase com
firmeza. Às vezes, você usa dominante para preparar uma mudança (como entrar no
refrão). Às vezes, você usa dominante para aumentar a intensidade emocional,
mesmo sem encerrar nada. Ou seja, dominante não é só “o acorde que vem antes do
I”. Dominante é uma ferramenta de direção, como uma seta apontando para um
destino.
E como isso aparece no mundo real? Pense numa situação comum: você está tocando um verso que termina “sem graça”, e o refrão entra meio sem impacto. Muitas vezes, o problema não é o ritmo, nem o timbre, nem a melodia. É que faltou um momento harmônico de preparação. Um jeito clássico de resolver isso é colocar, no fim do verso, uma sequência que conduza naturalmente ao
refrão. E a sequência mais simples e eficiente para
isso é Subdominante → Dominante → Tônica. Em Dó maior, isso costuma
virar Dm → G7 → C ou F → G7 → C.
Repare como isso funciona como dramaturgia. O Dm (ou o F) tira a música do repouso e cria movimento. O G7 aumenta a tensão e aponta com clareza. E o C resolve e abre espaço para a melodia do refrão “assentar” com força. É por isso que, em tantos estilos, você encontra finais de frase com essa lógica. Mesmo quando o arranjo é simples, essa estrutura dá sustentação e clareza.
Agora, uma coisa que ajuda muito
iniciantes é aprender a reconhecer quando a dominante está “fraca”. Às vezes a
música usa o V sem sétima e a resolução fica ok, mas não fica marcante. Outras
vezes, a banda chega no V e, por causa do jeito que toca, a tensão não se
constrói. Um truque muito simples para dar força é: coloque a sétima.
Transforme G em G7. Transforme D em D7 (se estiver
em G). Transforme A em A7 (se estiver em D). É uma mudança
pequena, mas que quase sempre dá mais clareza de direção — principalmente para
quem está começando a ouvir funções.
Outra aplicação bem prática: a
dominante é excelente para criar a sensação de “segurar” antes de cair no
refrão. Você pode, por exemplo, manter o G7 por um compasso a mais, ou
repetir o acorde, ou até fazer uma pequena pausa rítmica em cima dele. Mesmo
sem mudar a harmonia, só o fato de sustentar a dominante por mais tempo já
aumenta a expectativa do ouvinte. É como prolongar o silêncio antes da última
palavra de uma frase importante. O impacto não vem só da palavra final; vem
também da preparação.
É aqui que entra uma dica que vale
ouro para tocar em grupo: dominante é um lugar onde todo mundo precisa
“concordar”. Se o violão está fazendo G7, mas o teclado está pensando em G
simples, ou se o baixo está tocando uma nota que não conversa com a função
dominante, a tensão pode ficar confusa. Por isso, quando você estiver ensaiando
e perceber que a música não “resolve”, vale parar e checar: estamos fazendo
a dominante do mesmo jeito? Às vezes é só isso: alinhar o V7 e a chegada no
I.
Para estudar de um jeito musical, sem ficar mecânico, faça um exercício com duas versões do mesmo trecho. Escolha um tom fácil (C ou G) e toque uma progressão de quatro acordes. Por exemplo, em C: C – Am – F – G. Toque e sinta. Agora faça duas “finalizações” diferentes:
Depois,
faça uma variação que prepara ainda melhor a dominante, inserindo o ii:
O objetivo aqui é treinar a pergunta:
“o que mudou na sensação?”. Em geral, a versão com G7 dá mais
fechamento, e a versão com Dm–G7 dá mais narrativa, como se você tivesse
construído uma escadinha até a resolução.
Para encerrar esta aula, deixe a dominante como uma aliada consciente. Sempre que você quiser que a música caminhe com mais clareza, que a frase feche com firmeza, ou que o refrão chegue com impacto, pergunte: minha dominante está bem construída? Às vezes, a resposta é simplesmente colocar a sétima. Às vezes, é preparar a dominante com um acorde subdominante antes. E, aos poucos, você vai perceber que harmonia funcional não é decorar progressões: é aprender a guiar o ouvido do ouvinte com intenção, como quem conta uma história e sabe exatamente onde quer que a emoção chegue.
Referências
bibliográficas
Aula 6 do Módulo 2 — Progressões clássicas: quando a harmonia vira “frase pronta” (ii–V–I e I–vi–IV–V)
Tem um momento muito gostoso no
estudo de harmonia: quando você começa a perceber que várias músicas diferentes
“falam” com estruturas parecidas. Você ouve um refrão e pensa: “eu conheço esse
caminho”. A sensação não é de repetição sem criatividade; é de linguagem. Assim
como a gente tem frases comuns no dia a dia (“tudo bem?”, “vamos lá”, “era uma
vez”), a música tonal também tem progressões clássicas que aparecem em
estilos e épocas diferentes. Nesta aula, vamos conhecer duas das mais
importantes — e, principalmente, entender por que elas funcionam tão bem: ii–V–I
e I–vi–IV–V.
Antes de entrar nelas, vale uma ideia simples: progressão não é só “lista de acordes”. Progressão é um movimento de funções. É a harmonia se organizando em repouso, preparo, tensão e resolução. Quando você entende isso, memorizar progressões fica
muito mais
fácil, porque você não decora por cifra: você reconhece pelo papel. E as duas
progressões desta aula são famosas justamente porque oferecem um caminho muito
eficiente para o ouvido.
Vamos começar pela rainha da condução
harmônica: ii–V–I. Em Dó maior, isso fica Dm – G7 – C. Essa
sequência aparece em MPB, jazz, bossa nova, samba, gospel, trilhas, e até em
pop quando alguém quer um sabor mais “harmônico”. O motivo de ela ser tão
universal é que ela organiza as funções de um jeito muito claro: o ii (Dm)
costuma funcionar como subdominante, o V (G7) é a dominante,
e o I (C) é a tônica. Ou seja, ela faz exatamente o caminho que o
ouvido adora: prepara → tensiona → resolve.
Se você tocar Dm e segurar, você já
sente que ele tem um ar de movimento, de passagem. Ele não é desconfortável
como a dominante, mas também não é tão “casa” quanto a tônica. Ele dá um
empurrão suave, como quem diz: “estou te levando para algum lugar”. Quando vem
o G7, a tensão aumenta e fica mais direcionada. E quando chega no C, tudo
assenta. É uma pequena história completa em três acordes. Por isso, o ii–V–I é
tão útil: ele é uma ferramenta pronta para encerrar frases, preparar mudanças e
criar sensação de maturidade harmônica, mesmo com acordes simples.
Um jeito bem humano de estudar o
ii–V–I é não tratar como exercício frio, mas como um “gesto musical” que você
pode colocar em qualquer lugar. Pegue uma música que você já toca em Dó maior e
observe onde você costuma “voltar” para o C. Em vez de ir direto para o C,
experimente fazer a escadinha: Dm – G7 – C. Muitas vezes, isso já dá uma
sensação de arranjo mais bem resolvido, como se a música tivesse ganhado
pontuação e respiração. E, conforme você treina, você começa a enxergar ii–V–I
escondido dentro de progressões maiores, como uma peça de encaixe.
Agora vamos para a segunda progressão, que tem um sabor diferente, mais ligado a canções populares, baladas e música de rádio: I–vi–IV–V. Em Dó maior, isso fica C – Am – F – G (e, se quiser reforçar, C – Am – F – G7). Essa sequência é famosa porque ela “gira” de um jeito muito cantável. O I te coloca em casa. O vi (Am) é um parente da tônica, então você ainda sente estabilidade, só que com uma cor mais emotiva. O IV (F) abre o espaço, criando uma sensação de movimento e preparo. E o V (G ou G7) cria a tensão que pode voltar para o I com facilidade. É como um ciclo que dá vontade de repetir, e por isso ela aparece tanto em versos e
refrões.
Perceba uma coisa importante aqui:
enquanto o ii–V–I é curto e direto, o I–vi–IV–V é mais “caminhante”, mais
circular. Ele tem cara de canção, de acompanhamento que sustenta melodia por
mais tempo. E ele também é um ótimo treino de funções, porque você consegue
sentir claramente a passagem por regiões diferentes sem sair do tom. Em termos
funcionais, você pode pensar assim: I (Tônica) → vi (Tônica relativa
/ repouso com cor) → IV (Subdominante) → V (Dominante). De
novo, a lógica está ali: repouso, movimento, tensão e retorno.
Uma dúvida comum de iniciante é: “se
eu aprender essas progressões, não vou acabar tocando tudo igual?”. E a
resposta é: não necessariamente. Na verdade, essas progressões são como
alfabetos. Saber o alfabeto não faz você escrever sempre o mesmo texto; faz
você ter ferramentas para criar frases. O segredo está em como você usa: ritmo,
melodia, inversões, dinâmica, duração de cada acorde, e pequenas variações
funcionais mudam tudo. Você pode usar I–vi–IV–V num sertanejo, numa balada pop
ou numa canção infantil, e o resultado emocional pode ser completamente
diferente.
Agora vem um ponto bem prático: essas duas progressões conversam entre si. Uma coisa que músicos fazem o tempo todo é pegar uma progressão “de canção”, como I–vi–IV–V, e em algum momento inserir um ii–V–I para fechar melhor uma frase. Por exemplo, em C: C – Am – F – G. Se você quiser preparar uma chegada mais elegante de volta no C, você pode fazer: C – Am – F – Dm – G7 – C. Repare que você basicamente encaixou o ii–V–I no final. É como trocar um “ponto final fraco” por um “ponto final forte”. E isso funciona muito bem para transições de verso para refrão, ou para encerrar uma seção com mais certeza.
Para estudar de um jeito musical,
faça o seguinte: toque as duas progressões em C e depois em G, mas não só
“tocando”. Cante uma melodia simples por cima (mesmo que seja inventada e bem
básica). O objetivo é sentir como a progressão “carrega” a melodia. Você vai
notar que o ii–V–I é como uma seta: ele conduz e resolve rápido. Já o I–vi–IV–V
é como um caminho em volta de um quarteirão: ele dá voltas gostosas e cria
aquela sensação de continuidade. E, quando você sentir isso no corpo, você não
precisa mais decorar como fórmula; seu ouvido começa a reconhecer.
Um exercício final que ajuda muito a consolidar a aula é criar uma miniestrutura de 8 compassos, como se fosse um verso e uma resposta. Nos primeiros 4
compassos, como se fosse um
verso e uma resposta. Nos primeiros 4 compassos, use I–vi–IV–V. Nos 4
seguintes, responda com um fechamento em ii–V–I. Em C, por exemplo:
C – Am – F – G | Dm – G7 – C – C.
Isso treina uma habilidade essencial: construir uma parte que “anda” e depois
construir uma parte que “fecha”.
No fim das contas, dominar progressões clássicas é ganhar vocabulário. Não para virar um músico que repete fórmulas, mas para ser alguém que entende o idioma da música tonal e sabe escolher caminhos com intenção. Quando você reconhece ii–V–I e I–vi–IV–V, você começa a enxergar a harmonia como estrutura — e isso te dá segurança para tocar, para acompanhar, para compor e para analisar músicas sem depender sempre de alguém dizendo o que vem depois.
Referências
bibliográficas
Estudo de caso do Módulo 2
“O
refrão não explode: quando a música anda, mas não chega”
A Ana era cantora e compositora
iniciante. Ela tinha uma letra forte, um refrão fácil de cantar e uma banda
disposta a ensaiar. O problema aparecia sempre no mesmo lugar: o refrão
entrava, mas não emocionava. Ninguém errava nota, ninguém se perdia no
tempo, mas a sensação era de que a música estava sempre “quase lá”. Faltava
impacto. Faltava aquele momento em que todo mundo sente que algo importante
aconteceu.
Esse estudo de caso acompanha o processo da banda ao longo de alguns ensaios, mostrando erros muito comuns ligados às cadências, à dominante e às progressões clássicas — exatamente os temas do Módulo 2 — e como pequenos ajustes de função harmônica mudaram completamente o resultado.
Cena
1 — O primeiro erro comum: “final de verso sem pontuação”
A
música da Ana tinha um verso longo, seguido direto pelo refrão. A harmonia do
verso era:
C
– Am – F – G
Tudo certo…, mas o problema estava no final do verso. A banda simplesmente repetia a progressão e entrava no refrão. O ouvido sentia que algo não tinha sido concluído. Era como terminar uma frase
importante sem ponto, sem vírgula,
sem pausa.
Erro
1: não usar cadência para marcar o fim da frase.
Sem uma cadência clara, o ouvido não sabe se a música está:
Como
evitar
Sempre
que uma seção termina (verso, pré-refrão, ponte), faça a pergunta:
“Eu
quero fechar, suspender ou preparar?”
No
caso do verso da Ana, a intenção era preparar o refrão. Então a melhor
escolha era uma meia cadência ou uma dominante prolongada.
Correção
prática:
No último compasso do verso, a banda segurou o G7 (dominante) antes de
entrar no refrão em C.
Resultado: o refrão passou a entrar com muito mais força, sem mudar a melodia nem o ritmo.
Cena
2 — O segundo erro comum: “dominante fraca para um momento forte”
Em
outro ensaio, a banda decidiu repetir o refrão duas vezes para aumentar a
emoção. Só que, no final da segunda repetição, a música precisava fechar com
decisão. Mesmo assim, a harmonia terminou apenas em G → C, sem
sétima, sem preparação.
Erro
2: usar dominante simples quando a música pede dominante forte.
O ouvido até aceita V → I, mas nem sempre sente impacto.
Como
evitar
Quando
o momento emocional da música é alto (final, clímax, última repetição do
refrão):
Correção
prática:
Em vez de simplesmente G → C, a banda fez:
F → G7 → C
Esse pequeno ajuste deu ao final a sensação de conclusão verdadeira, como se a música dissesse: “é aqui que a história termina”.
Cena
3 — O terceiro erro comum: “cadência errada para a intenção errada”
Num
teste de arranjo mais calmo, o tecladista sugeriu fechar o verso com F → C.
A harmonia ficou bonita, mas algo soou estranho: o refrão perdeu impacto.
Erro
3: usar cadência plagal quando a música pede tensão.
A cadência IV–I (plagal) resolve de forma suave. Ela não cria
expectativa forte.
Como
evitar
Associe
tipo de cadência à intenção musical:
Correção
prática:
A banda percebeu que o verso precisava terminar aberto, não resolvido.
Então trocou F → C por F → G7, deixando a resolução para o início
do refrão.
Cena
4 — O quarto erro comum: “progressão famosa sem consciência funcional”
Em
uma ponte da música, o guitarrista sugeriu usar I–vi–IV–V, porque
“funciona em tudo”. A sequência ficou:
C
– Am – F – G
Soava
bem, mas a ponte parecia não levar a lugar nenhum. A banda entrou num ciclo
confortável demais.
Erro
4: usar progressão clássica sem objetivo claro.
Progressões famosas não resolvem tudo sozinhas. Elas precisam de direção.
Como
evitar
Pergunte
sempre:
Correção
prática:
A banda manteve C – Am – F, mas trocou o final:
Resultado:
C – Am – F – Dm – G7
Agora a ponte tinha claramente uma saída, conduzindo de volta ao refrão com intenção.
Cena
5 — O quinto erro comum: “não combinar a harmonia em grupo”
Mesmo
depois dos ajustes, em alguns ensaios o impacto sumia de novo. Investigando,
perceberam o problema:
Erro
5: cada um pensando a dominante de um jeito.
Dominante é um ponto sensível: se o grupo não estiver alinhado, a tensão se
dilui.
Como
evitar
Nos
pontos-chave da música:
Depois desse alinhamento, o impacto voltou a ser consistente.
Resultado
Sem
mudar a melodia, a letra ou o ritmo, a música da Ana ganhou:
Tudo
isso veio de ajustes pequenos, mas conscientes, baseados nos pilares do Módulo
2:
cadências, dominante bem usada e progressões clássicas com intenção.
Checklist
prático — Erros comuns do Módulo 2 e antídotos
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