RACISMO
Racismo na Sociedade Contemporânea
O racismo estrutural é uma forma de compreensão do racismo
que o reconhece como elemento constitutivo das sociedades modernas,
especialmente em países marcados por processos coloniais e escravocratas, como
o Brasil. Ele não se limita a ações individuais de preconceito ou
discriminação, mas se manifesta nas instituições, nas leis, nas práticas
sociais e nos valores culturais, reproduzindo desigualdades ao longo do tempo.
Ao analisar o racismo como estrutural, é possível entender por que, mesmo com avanços legislativos e políticas públicas, as desigualdades raciais permanecem persistentes. Trata-se de um fenômeno sistêmico, que atravessa diferentes esferas sociais e interage com outros eixos de desigualdade, como gênero e classe.
Segundo Silvio Almeida (2018), o racismo estrutural é
aquele que organiza as estruturas sociais e políticas, estando presente na
própria formação do Estado, das instituições e das normas que regem a vida
coletiva. Diferente do racismo individual, que se expressa em atitudes e
comportamentos de pessoas, o estrutural se manifesta independentemente da
intenção consciente dos indivíduos.
Exemplos práticos no contexto brasileiro:
• Sistema de justiça: maior probabilidade
de pessoas negras serem abordadas, presas e condenadas, mesmo diante de crimes
semelhantes aos cometidos por pessoas brancas (IPEA, 2020).
• Mercado de trabalho: concentração de
trabalhadores negros em funções de baixa remuneração e alta informalidade, com
barreiras no acesso a cargos de liderança (Dieese, 2021).
• Habitação e urbanismo: segregação
espacial que concentra populações negras em áreas periféricas com menor
infraestrutura urbana, transporte precário e serviços públicos insuficientes.
• Mídia e representatividade:
sub-representação de pessoas negras em papéis de destaque e excesso de
representações estereotipadas.
Esses exemplos mostram que, mesmo sem ações
discriminatórias explícitas, a forma como a sociedade está organizada perpetua
desigualdades raciais.
3. Desigualdade Social e Acesso à Educação, Saúde e Mercado de Trabalho
O racismo estrutural afeta diretamente o acesso e a
qualidade de direitos fundamentais.
Educação:
Dados do IBGE (2022) mostram que jovens negros têm menores taxas de conclusão do ensino médio e de ingresso no ensino superior, reflexo de condições socioeconômicas desfavoráveis e
da precariedade das escolas públicas
em regiões de maior vulnerabilidade. Ainda que as políticas de cotas tenham
aumentado a presença de estudantes negros nas universidades, desigualdades
persistem na permanência e na conclusão dos cursos.
Saúde:
Estudos apontam que mulheres negras apresentam maior taxa
de mortalidade materna e menor acesso a pré-natal adequado. Além disso,
populações negras sofrem mais com doenças crônicas relacionadas a condições de
vida precárias, como hipertensão e diabetes (Fiocruz, 2021). O racismo
institucional no atendimento em saúde também é evidenciado por relatos de
negligência e estereótipos raciais que influenciam diagnósticos.
Mercado de
Trabalho:
O Dieese (2021) indica que trabalhadores negros recebem, em
média, 40% menos que trabalhadores brancos em funções equivalentes. A presença
reduzida de pessoas negras em posições de liderança e em setores de alta
tecnologia revela barreiras de acesso que não podem ser explicadas apenas por
fatores individuais, mas pela reprodução de padrões históricos de exclusão.
A interseccionalidade, conceito desenvolvido por Kimberlé
Crenshaw (1989), propõe que a análise das desigualdades considere a
sobreposição e interação de múltiplos eixos de opressão, como raça, gênero e
classe social. No Brasil, a compreensão do racismo estrutural exige esse olhar
interseccional, pois as experiências de discriminação e exclusão variam de
acordo com essas combinações.
Por exemplo:
• Mulheres
negras enfrentam barreiras simultâneas no mercado de trabalho por serem
mulheres (machismo), negras (racismo) e, frequentemente, de classes populares
(classismo).
• Homens
negros jovens são mais expostos à violência policial, reflexo de estereótipos
raciais associados à criminalidade e do perfil socioeconômico que os coloca em
maior vulnerabilidade.
• Mulheres
indígenas lidam não apenas com o racismo e o machismo, mas também com a
desvalorização cultural e a ameaça à preservação de seus territórios e modos de
vida.
Assim, políticas públicas eficazes no combate ao racismo estrutural precisam considerar essa sobreposição de desigualdades, evitando soluções que tratem a questão racial de forma isolada.
O racismo estrutural não é fruto de ações individuais isoladas, mas um fenômeno sistêmico enraizado nas estruturas sociais, econômicas
estrutural não é fruto de ações individuais
isoladas, mas um fenômeno sistêmico enraizado nas estruturas sociais,
econômicas e políticas. Ele se manifesta nas desigualdades de acesso e de
qualidade em direitos como educação, saúde e trabalho, e só pode ser combatido
com políticas integradas que enfrentem suas causas históricas e estruturais.
A perspectiva interseccional é fundamental para compreender as diferentes formas como o racismo afeta grupos específicos, considerando as múltiplas dimensões da opressão. A superação do racismo estrutural demanda não apenas mudanças legais, mas também transformações culturais profundas que questionem privilégios e promovam equidade real.
• Almeida,
S. (2018). Racismo Estrutural. São
Paulo: Pólen.
• Crenshaw,
K. (1989). Demarginalizing the
Intersection of Race and Sex. University of Chicago Legal Forum, 1989(1),
139–167.
• Dieese.
(2021). Desigualdades de raça e gênero no
mercado de trabalho. São Paulo: Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos.
• Fiocruz.
(2021). Saúde da população negra no
Brasil: Desafios e perspectivas. Fundação Oswaldo Cruz.
• IBGE.
(2022). Síntese de indicadores sociais:
Uma análise das condições de vida da população brasileira. Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística.
• IPEA. (2020). Atlas da violência 2020. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
O racismo institucional é uma manifestação específica do
racismo estrutural, caracterizada pela presença de práticas, políticas e
procedimentos que, mesmo sem intenção explícita, resultam na exclusão ou na
desvantagem sistemática de grupos racializados. Trata-se de um fenômeno que
atua no interior das instituições — públicas ou privadas —, influenciando o
acesso, a permanência e o tratamento de indivíduos em diferentes setores da
vida social.
No Brasil, o racismo institucional está presente em áreas essenciais como o sistema de justiça, a segurança pública, a saúde, a educação e o mercado de trabalho. Sua identificação e combate são fundamentais para a construção de uma sociedade mais igualitária.
As barreiras institucionais não são necessariamente explícitas ou documentadas como políticas formais, mas se manifestam em normas internas, práticas administrativas e culturas organizacionais que desfavorecem certos grupos raciais. Essas barreiras podem
barreiras institucionais não são necessariamente
explícitas ou documentadas como políticas formais, mas se manifestam em normas
internas, práticas administrativas e culturas organizacionais que desfavorecem
certos grupos raciais. Essas barreiras podem incluir:
• Critérios
de seleção e promoção que favorecem determinados perfis raciais, mesmo que
indiretamente.
• Ausência
de representatividade racial em cargos de liderança e tomada de decisão.
• Falta
de treinamento e sensibilização sobre diversidade e antirracismo para gestores
e colaboradores.
A discriminação velada é um aspecto central do racismo
institucional. Ela se caracteriza por atitudes e condutas sutis que dificultam
a comprovação legal da discriminação, mas que impactam significativamente a
trajetória das pessoas. Pode se expressar por meio de exclusão de redes de
contato, sobrecarga de trabalho sem reconhecimento, avaliação mais rigorosa de
desempenhos ou direcionamento de tarefas menos valorizadas a pessoas negras e
indígenas.
Essas práticas, por serem naturalizadas, acabam sendo vistas como parte da rotina institucional, o que dificulta seu enfrentamento sem um olhar crítico e políticas específicas.
O racismo institucional apresenta
particularidades em diferentes setores.
Sistema de
Justiça:
Estudos apontam que réus negros têm maior probabilidade de
receber penas mais severas que réus brancos em situações equivalentes. Além
disso, a baixa representatividade de magistrados e promotores negros influencia
a sensibilidade e a abordagem de casos envolvendo discriminação racial (Jesus,
2017).
Segurança
Pública:
Dados do Atlas da Violência (IPEA, 2022) mostram que a
maioria das vítimas de homicídios no Brasil é composta por jovens negros,
evidenciando uma seletividade racial na letalidade policial.
Operações policiais em territórios majoritariamente negros
e periféricos tendem a ser mais letais e repressivas, reforçando a percepção e
o tratamento desigual com base na raça.
Empresas:
No ambiente corporativo, o racismo institucional se expressa na subrepresentação de pessoas negras em cargos de liderança, nas diferenças salariais e no acesso restrito a oportunidades de desenvolvimento profissional. Muitas vezes, as políticas de
diversidade são mais voltadas ao marketing institucional do que a mudanças efetivas na estrutura interna (Souza, 2019).
O enfrentamento do racismo institucional requer ações
planejadas e contínuas, integrando mudanças estruturais e culturais. Algumas
estratégias fundamentais incluem:
1. Diagnóstico e Monitoramento:
Realização de pesquisas internas para identificar
desigualdades raciais no acesso, progressão e remuneração. Estabelecimento de
indicadores para monitorar avanços.
2. Formação e
Sensibilização:
Capacitação contínua de colaboradores, gestores e
dirigentes sobre diversidade racial, racismo estrutural e práticas
antidiscriminatórias.
3. Revisão de
Políticas e Procedimentos:
Avaliação crítica de critérios de contratação, promoção e
avaliação de desempenho, visando eliminar barreiras indiretas que favoreçam
determinados grupos raciais.
4. Ações Afirmativas:
Implantação de programas de inclusão e desenvolvimento de
talentos negros e indígenas, com metas claras e acompanhamento de resultados.
5. Representatividade e Liderança Diversa:
Garantia de participação efetiva de pessoas negras e
indígenas em posições de liderança e decisão.
6. Canal de
Denúncia e Proteção:
Criação de mecanismos seguros e eficientes para denunciar
discriminação racial, com procedimentos de apuração e medidas corretivas
efetivas.
O sucesso dessas estratégias depende do comprometimento da alta gestão e da integração do combate ao racismo como parte central da missão institucional.
O racismo institucional é uma das faces mais persistentes e
complexas da desigualdade racial, pois se manifesta de forma difusa e
silenciosa, sustentando privilégios e exclusões sem necessidade de atos
discriminatórios abertos. Ele afeta o acesso à justiça, à segurança, ao
trabalho e a outros direitos fundamentais, comprometendo a construção de uma
sociedade democrática.
Superá-lo exige que instituições públicas e privadas
reconheçam sua existência e atuem de forma proativa, implementando políticas
estruturais, ações afirmativas e processos de monitoramento contínuos. A
mudança cultural e a valorização da diversidade racial não podem ser tratadas
como iniciativas pontuais, mas como compromissos permanentes.
• Almeida,
S. (2018). Racismo Estrutural. São
Paulo: Pólen.
• IPEA.
(2022). Atlas da Violência 2022.
Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
• Jesus,
M. G. (2017). Racismo Institucional e
Sistema de Justiça Criminal. Curitiba: Juruá Editora.
• Souza,
C. (2019). Diversidade nas Organizações:
Desafios e Estratégias para Inclusão. São Paulo: Atlas.
• Werneck, J. (2016). Racismo Institucional: Uma abordagem conceitual. In: Cruz, M. V. & Werneck, J. (Orgs.). Saúde da População Negra. Brasília: Ministério da Saúde.
O racismo não se manifesta apenas de forma explícita ou violenta. Muitas vezes, ele se apresenta de maneira sutil, disfarçada e aparentemente inofensiva, por meio de comentários, gestos ou atitudes que reforçam estereótipos e desigualdades raciais. Essas manifestações, conhecidas como racismo cotidiano ou microagressões, são frequentes e, por serem normalizadas, podem passar despercebidas tanto por quem as pratica quanto por quem as observa. No entanto, seus efeitos cumulativos têm impacto significativo na vida das pessoas racializadas, influenciando desde a autoestima até oportunidades sociais e profissionais.
As formas sutis de discriminação são aquelas que não se
apresentam como ataques diretos ou insultos explícitos, mas que transmitem
mensagens depreciativas, reforçam hierarquias raciais ou invalidam experiências
de discriminação. Essas manifestações podem ocorrer de três formas principais,
segundo Sue et al. (2007):
1. Micro insultos: Comentários ou
comportamentos que transmitem desrespeito ou insensibilidade, como elogiar uma
pessoa negra por “falar bem” ou “ser muito inteligente para o seu grupo”.
2. Micro rejeições: Ações que excluem ou
ignoram pessoas racializadas, como evitar sentar-se ao lado de um indivíduo
negro em transportes públicos ou não incluí-lo em conversas e decisões.
3. Micro invalidações: Afirmações que
negam ou minimizam a experiência de racismo, como dizer “não vejo cor” ou “no
Brasil não existe racismo”.
Essas formas sutis de racismo cotidiano contribuem para a manutenção de padrões de exclusão e desigualdade, mesmo em ambientes que se dizem inclusivos ou “neutros”.
A linguagem é um dos principais veículos de transmissão do racismo cotidiano. Muitas expressões populares, ditados e piadas têm origem em contextos históricos de escravidão, colonização e hierarquização racial, mas continuam
sendo usadas sem reflexão crítica.
Exemplos comuns:
• Usar
termos pejorativos para se referir à cor da pele, como “denegrir” no sentido de
“prejudicar” ou “manchar a reputação”.
• Empregar
expressões como “serviço de preto” ou “inveja branca”, que reforçam associações
negativas ou hierarquias raciais.
• Fazer
piadas sobre cabelos crespos, traços físicos ou sotaques de pessoas negras ou
indígenas.
O humor racista é frequentemente justificado como “brincadeira” ou “liberdade de expressão”, mas, na prática, funciona como mecanismo de perpetuação de estereótipos e naturalização da desigualdade. Essas piadas reforçam uma visão depreciativa das identidades racializadas e contribuem para a marginalização social e simbólica.
Embora possam parecer inofensivas, as microagressões e
formas sutis de discriminação acumulam efeitos prejudiciais a longo prazo.
Entre os impactos mais observados estão:
Psicológicos:
• Estresse e ansiedade: A exposição
constante a microagressões pode gerar hipervigilância e desgaste emocional,
pois a pessoa precisa estar sempre atenta a possíveis ofensas (Sue, 2010).
• Baixa autoestima e autoconfiança:
Comentários e piadas depreciativas internalizadas ao longo da vida podem
comprometer a percepção de valor pessoal.
• Transtornos emocionais: A repetição
dessas experiências pode contribuir para quadros de depressão e outros
problemas de saúde mental.
Sociais:
• Limitação de oportunidades: O racismo
cotidiano pode influenciar decisões de contratação, promoção e reconhecimento
profissional, mesmo de forma implícita.
• Isolamento social: Pessoas que sofrem
microagressões frequentemente se afastam de determinados ambientes para evitar
novas experiências de discriminação.
• Reprodução de desigualdades: A
naturalização dessas práticas perpetua hierarquias raciais e mantém padrões de
exclusão.
Esses impactos não são apenas individuais, mas coletivos,
pois afetam comunidades inteiras e dificultam avanços em equidade racial.
O racismo cotidiano e as microagressões são manifestações
sutis, mas profundamente enraizadas, de discriminação racial. Por ocorrerem de
forma frequente e, muitas vezes, imperceptível, exigem um olhar atento e
crítico para serem identificadas e combatidas.
O enfrentamento dessas práticas passa pela educação antirracista, pela revisão de padrões linguísticos e culturais, e pela criação
antirracista, pela revisão de padrões linguísticos e culturais, e pela criação de ambientes institucionais e sociais que reconheçam e validem as experiências de discriminação vividas por pessoas racializadas. Reconhecer que a sutileza não diminui o impacto é um passo fundamental para promover mudanças concretas nas relações raciais.
• Almeida,
S. (2018). Racismo Estrutural. São
Paulo: Pólen.
• Sue,
D. W. (2010). Microaggressions in
Everyday Life: Race, Gender, and Sexual Orientation. Hoboken: Wiley.
• Sue,
D. W., Capodilupo, C. M., Torino, G. C., Bucceri, J. M., Holder, A. M. B.,
Nadal, K. L., & Esquilin, M. (2007). Racial microaggressions in everyday
life: Implications for clinical practice. American
Psychologist, 62(4), 271–286.
• hooks,
b. (1995). Killing Rage: Ending Racism.
New York: Henry Holt and Company.
• Ribeiro,
D. (2019). Pequeno Manual Antirracista.
São Paulo:
Companhia das Letras.
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