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Noções de Apicultura

 NOÇÕES DE APICULTURA

 

Introdução à Apicultura 

História e Importância da Apicultura 

 

1. Origem e Evolução da Apicultura

A prática da apicultura, ou criação de abelhas com fins produtivos, remonta à Antiguidade. Registros arqueológicos apontam que a coleta de mel de colmeias naturais já era realizada por povos pré-históricos, como demonstram pinturas rupestres encontradas na Cueva de la Araña, na Espanha, datadas de cerca de 8.000 anos atrás. Esses registros mostram a importância do mel como fonte de energia e substância valorizada por suas propriedades medicinais e simbólicas.

No Egito Antigo, por volta de 2.400 a.C., já se utilizavam colmeias artificiais feitas de barro e palha, e o mel era usado tanto na alimentação quanto em cerimônias religiosas e rituais de mumificação. Civilizações como os gregos, romanos e mesopotâmicos também desenvolveram técnicas de manejo rudimentar das colmeias, reconhecendo o valor nutritivo, terapêutico e comercial do mel e da cera de abelha.

Durante a Idade Média, a apicultura teve papel relevante nos mosteiros europeus, onde monges preservaram o conhecimento sobre as abelhas e seu manejo. Com o advento da modernidade, especialmente a partir do século XVIII, os estudos científicos sobre a biologia das abelhas ganharam destaque, culminando na invenção da colmeia de quadros móveis por Lorenzo Langstroth em 1851, nos Estados Unidos.

Essa inovação revolucionou a apicultura, permitindo a extração de mel sem destruir o ninho e favorecendo o manejo racional.

Hoje, a apicultura é uma atividade agropecuária consolidada, presente em todos os continentes habitados, sendo fundamental para a produção de alimentos, conservação ambiental e geração de renda.

2. Importância Ecológica e Econômica das Abelhas

As abelhas, especialmente as do gênero Apis, desempenham funções cruciais tanto nos ecossistemas naturais quanto nas atividades humanas. Do ponto de vista ecológico, são agentes essenciais na polinização, processo pelo qual o pólen é transferido entre as flores, permitindo a reprodução sexual das plantas. Isso assegura a variabilidade genética, a produção de sementes e frutos e a manutenção da biodiversidade.

Cerca de 80% das plantas com flores dependem de insetos polinizadores, sendo as abelhas os principais representantes deste grupo. Em ecossistemas nativos, como florestas e savanas, a atividade polinizadora das abelhas garante o equilíbrio ambiental, promovendo a regeneração de espécies vegetais e sustentando

cadeias alimentares.

Além disso, a apicultura oferece benefícios econômicos significativos. O setor movimenta bilhões de dólares anualmente, por meio da produção de mel, cera, própolis, pólen, geleia real e até veneno de abelha, utilizado na apiterapia. O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores mundiais de mel orgânico, com destaque para a produção nos biomas Caatinga e Cerrado.

A apicultura também é uma atividade de baixo impacto ambiental, de fácil integração com outros sistemas produtivos, como agricultura familiar, agroecologia e extrativismo sustentável.

Ela pode ser praticada com baixos investimentos iniciais e requer pouca terra, o que a torna acessível a pequenos produtores.

3. Papel das Abelhas na Polinização e na Agricultura

A relação entre abelhas e agricultura é uma das mais importantes para a segurança alimentar mundial. Estima-se que cerca de 70% das culturas alimentares dependem, em maior ou menor grau, da polinização por insetos. Isso inclui frutas, legumes, oleaginosas e sementes. Sem a ação das abelhas, a produtividade dessas culturas seria drasticamente reduzida.

Cultivos como maçã, café, amêndoa, melão, morango, maracujá e soja têm ganhos significativos de produção e qualidade dos frutos graças à presença de abelhas nos campos. A polinização cruzada melhora o tamanho, formato, sabor e valor comercial dos produtos agrícolas.

Em contrapartida, o uso indiscriminado de agrotóxicos, a perda de habitat, as mudanças climáticas e doenças estão ameaçando diversas espécies de abelhas, o que acende o alerta sobre a necessidade de práticas agrícolas sustentáveis. A implantação de corredores ecológicos, áreas de refúgio e manejo adequado de defensivos são medidas urgentes para garantir a sobrevivência dos polinizadores.

O investimento em apicultura também tem contribuído para a polinização em áreas cultivadas, por meio da transumância de colmeias e do serviço de aluguel de abelhas. Essa prática, comum em países como os EUA e a China, já começa a ser adotada em algumas regiões do Brasil, especialmente no cultivo de melão, maçã e café.

Conclusão

A apicultura, desde os tempos antigos até os dias atuais, representa uma atividade de grande relevância para a humanidade. Além de fornecer produtos nobres e saudáveis, contribui decisivamente para a manutenção da biodiversidade e o sucesso de sistemas agrícolas produtivos. Combinando conhecimento tradicional e inovação tecnológica, a apicultura moderna promove não apenas renda e

alimento, mas também consciência ecológica e sustentabilidade.

Referências Bibliográficas

  • ALMEIDA, L. C.; MARCHINI, L. C. Apicultura: manejo e produtos das abelhas. Jaboticabal: Funep, 2008.
  • CRANE, Eva. The World History of Beekeeping and Honey Hunting. London: Routledge, 1999.
  • FREITAS, B. M.; IMPERATRIZ-FONSECA, V. L. Polinizadores e Polinização: fundamentos para a produção agrícola sustentável. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2005.
  • HEPBURN, H. R.; RADLOFF, S. E. Honeybees of Asia. Berlin: Springer, 2011.
  • VELTHUIS, H. H. W.; DOORNBOSCH, R. Valor Econômico da Polinização. Paris: OECD, 2009.

 

Espécies de Abelhas e Suas Características

 

1. Abelhas Sociais e Solitárias

As abelhas pertencem à ordem Hymenoptera e à superfamília Apoidea. Existem mais de 20 mil espécies conhecidas no mundo, com ampla variedade de comportamentos sociais, morfologia e habitat. Dentre essas, destaca-se uma classificação fundamental: abelhas sociais e abelhas solitárias.

As abelhas sociais vivem em colônias organizadas, com divisão de trabalho entre as castas: rainha (fêmea reprodutora), operárias (fêmeas estéreis que realizam as atividades do dia a dia da colmeia) e zangões (machos, com função reprodutiva). Essas abelhas dependem da cooperação para sobreviver, construir ninhos, criar a prole e coletar alimento. A Apis mellifera (abelha europeia) é o principal exemplo de abelha social utilizada na apicultura comercial.

Em contraste, as abelhas solitárias não formam colônias. Cada fêmea constrói e provisiona seu próprio ninho, sem ajuda de outras abelhas. Não há rainhas ou operárias; todas as fêmeas são férteis. Apesar de menos conhecidas, essas abelhas são extremamente importantes para a polinização, muitas vezes mais eficientes que as sociais em certas culturas. Exemplo notável é a abelha Centris spp., polinizadora de plantas nativas do Cerrado.

No Brasil, estima-se a existência de mais de 3.000 espécies de abelhas nativas, entre sociais e solitárias, muitas delas ainda pouco estudadas e ameaçadas por perda de habitat e uso indiscriminado de agrotóxicos.

2. Principais Espécies Utilizadas na Apicultura: Apis mellifera

A espécie mais amplamente criada na apicultura mundial é a Apis mellifera, conhecida como abelha-europeia. Originária do Velho Mundo, essa abelha foi introduzida em diversos continentes por sua docilidade (em algumas subespécies), alta produtividade de mel e capacidade de adaptação a

diferentes ambientes.

As subespécies de Apis mellifera utilizadas na apicultura incluem:

  • Apis mellifera ligustica: originária da Itália, é dócil, produtiva e prolífica.
  • Apis mellifera carnica: da região dos Bálcãs, é resistente ao frio e menos agressiva.
  • Apis mellifera caucasica: do Cáucaso, apresenta boa produção de própolis.
  • Apis mellifera iberiensis: da Península Ibérica, tem resistência natural a doenças.

No Brasil, a história da apicultura foi significativamente modificada a partir da década de 1950, quando abelhas africanas (Apis mellifera scutellata) foram introduzidas e, acidentalmente, se hibridizaram com abelhas europeias, originando as chamadas abelhas africanizadas. Essas abelhas possuem alto vigor, resistência a doenças, boa produção de mel, mas comportamento defensivo acentuado, exigindo técnicas de manejo mais cuidadosas.

Apesar disso, as abelhas africanizadas dominam a apicultura brasileira e latino-americana, sendo bem adaptadas a climas tropicais e menos dependentes de alimentação artificial, o que as torna vantajosas em sistemas de baixa tecnologia.

Além da Apis mellifera, o Brasil destaca-se na criação de abelhas nativas sem ferrão, chamadas meliponíneos, como Melipona quadrifasciata (mandaçaia), Scaptotrigona postica (tubi), e Tetragonisca angustula (jataí), voltadas à produção de mel medicinal e à conservação ambiental.

3. Diferença entre Abelha, Vespa e Zangão

Apesar de frequentemente confundidas, abelhas, vespas e zangões pertencem a diferentes grupos dentro da ordem Hymenoptera e apresentam características distintas em morfologia, comportamento e função ecológica.

As abelhas são insetos herbívoros que se alimentam principalmente de néctar (fonte de energia) e pólen (fonte de proteínas). Possuem corpos robustos e pilosos, adaptados à coleta e transporte de pólen. A maioria das abelhas é pacífica e só pica quando se sente ameaçada. São excelentes polinizadoras e desempenham papel essencial na agricultura e nos ecossistemas.

As vespas, por outro lado, são geralmente predadoras ou parasitas. Alimentam-se de outros insetos ou substâncias açucaradas, como frutas maduras. Seu corpo é mais esguio, com cintura fina e menos pelos. Algumas espécies constroem ninhos de papel ou barro, e podem ser agressivas, como as vespas sociais (Polistes, Vespula, Mischocyttarus). Em termos de polinização, contribuem de forma secundária.

O zangão, por fim, é o macho da espécie Apis mellifera.

Sua função é exclusivamente reprodutiva: acasalar-se com a rainha durante o voo nupcial. Não possui ferrão, não coleta alimento, nem ajuda na defesa ou construção da colmeia. Sua vida é curta, sendo eliminado pelas operárias após o período de acasalamento ou em tempos de escassez.

A distinção entre esses três grupos é importante tanto para o manejo apícola quanto para a educação ambiental, pois o medo indiscriminado de "abelhas" muitas vezes resulta na destruição de colônias essenciais para a biodiversidade e a agricultura.

Conclusão

A diversidade das abelhas e suas distintas características sociais e biológicas revelam a complexidade e importância desses insetos na natureza e na vida humana. A compreensão das diferenças entre espécies sociais e solitárias, das variedades utilizadas na apicultura e das distinções em relação a outros insetos, como as vespas, é fundamental para promover uma apicultura sustentável, a conservação dos polinizadores e o equilíbrio dos ecossistemas.

Referências Bibliográficas

  • ALMEIDA, L. C.; MARCHINI, L. C. Apicultura: manejo e produtos das abelhas. Jaboticabal: Funep, 2008.
  • IMPERATRIZ-FONSECA, V. L.; NOGUEIRA-NETO, P. A Criação de Abelhas Sem Ferrão. São Paulo: Nogueirapis, 2012.
  • CRANE, Eva. Bees and Beekeeping: Science, Practice and World Resources. Heinemann Newnes, 1990.
  • MICHENER, C. D. The Bees of the World. 2. ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2007.
  • FREITAS, B. M.; IMPERATRIZ-FONSECA, V. L. Polinizadores: conservação e uso sustentável para a agricultura. Brasília: MMA, 2005.


Produtos da Colmeia: Benefícios Nutricionais e Medicinais

 

1. Introdução

As abelhas, além de sua importância ecológica como polinizadoras, são também produtoras de substâncias naturais de alto valor nutricional, terapêutico e econômico. Os produtos da colmeia — mel, própolis, cera, geleia real e pólen — têm sido utilizados pela humanidade desde a Antiguidade, não apenas como alimentos, mas também como remédios naturais, objetos de culto e matérias-primas industriais. No contexto da apicultura moderna, esses produtos representam importantes fontes de renda e diversificação produtiva, além de reforçarem a relação entre natureza, saúde e sustentabilidade.

2. Mel

O mel é o principal produto da colmeia, sendo produzido pelas abelhas a partir do néctar das flores. Após coletado, o néctar passa por transformações físicas e químicas dentro do organismo das abelhas e é

depositado nas células dos favos, onde ocorre a maturação.

Rico em açúcares naturais como frutose e glicose, o mel é uma importante fonte de energia rápida. Além disso, contém enzimas, aminoácidos, vitaminas (como as do complexo B e vitamina C), minerais (potássio, cálcio, fósforo) e antioxidantes.

Seus benefícios medicinais são amplamente reconhecidos:

  • Ação antimicrobiana e cicatrizante, útil em feridas e queimaduras leves;
  • Efeito expectorante e calmante da garganta;
  • Contribuição à saúde intestinal, por conter enzimas digestivas e prebióticos;
  • Potencial anti-inflamatório e imunomodulador.

Estudos apontam que o mel também possui compostos fenólicos e flavonoides que combatem os radicais livres, contribuindo para a prevenção de doenças crônicas (FERREIRA et al., 2009).

3. Própolis

A própolis é uma substância resinosa que as abelhas produzem a partir de exsudatos vegetais coletados de brotos, cascas e feridas de plantas, que elas misturam com cera e enzimas. Seu nome deriva do grego pro (defesa) e polis (cidade), referindo-se à sua função de proteção da colmeia contra microrganismos e invasores.

Quimicamente complexa, a própolis contém flavonoides, ácidos fenólicos, terpenos, ésteres e outros compostos bioativos. Sua composição varia conforme a flora local, o que dá origem a diferentes tipos de própolis — como a própolis verde brasileira (rica em artepelin C) e a própolis vermelha (rica em flavonoides).

Entre seus efeitos terapêuticos, destacam-se:

  • Ação antibacteriana, antifúngica e antiviral;
  • Estímulo ao sistema imunológico;
  • Atividade anti-inflamatória;
  • Potencial antitumoral e antioxidante.

É amplamente utilizada na fitoterapia, cosmética e como conservante natural em alimentos (MARCUCCI, 1995).

4. Cera de Abelha

A cera é secretada por glândulas localizadas no abdômen das abelhas operárias jovens e utilizada na construção dos favos, onde são depositados mel, pólen e crias. É composta por uma mistura de ésteres, ácidos graxos, hidrocarbonetos e álcoois de cadeia longa.

Embora seu valor nutricional seja limitado para humanos, a cera de abelha tem ampla aplicação industrial e medicinal:

  • Na fabricação de cosméticos, como cremes, batons e pomadas;
  • Em velas artesanais e religiosas;
  • Na indústria farmacêutica, como veículo para medicamentos;
  • Como revestimento natural de alimentos e frutas.

Na medicina popular, a cera é usada em emplastros e unguentos por sua ação

emoliente e cicatrizante (PEREIRA; BASTOS, 2007).

5. Geleia Real

A geleia real é uma substância esbranquiçada, viscosa e altamente nutritiva, secretada pelas glândulas hipofaríngeas das abelhas operárias. É o alimento exclusivo da abelha-rainha durante toda a sua vida e das larvas nos primeiros dias.

Sua composição inclui proteínas (principalmente as MRJPs – major royal jelly proteins), lipídeos, vitaminas do complexo B, minerais e ácidos orgânicos.

A geleia real é associada a diversos efeitos benéficos à saúde:

  • Ação revitalizante e tônica, útil no combate ao cansaço e estresse;
  • Estímulo ao metabolismo e à regeneração celular;
  • Potencial afrodisíaco e regulador hormonal;
  • Efeito neuroprotetor e antioxidante.

Embora seus efeitos sejam objeto de estudo contínuo, é valorizada em terapias naturais e na indústria de suplementos alimentares (NAKAMURA et al., 2009).

6. Pólen Apícola

O pólen é coletado pelas abelhas diretamente das flores e transportado até a colmeia, onde é armazenado e misturado com néctar e enzimas, tornando-se a principal fonte de proteínas para a colônia.

Do ponto de vista nutricional, o pólen apícola é considerado um superalimento:

  • Contém cerca de 20% a 35% de proteínas, com todos os aminoácidos essenciais;
  • É rico em vitaminas A, C, D, E e do complexo B;
  • Apresenta minerais como ferro, cálcio, zinco e selênio;
  • Possui enzimas, flavonoides e carotenoides.

Seus benefícios à saúde incluem:

  • Reforço do sistema imunológico;
  • Aumento da resistência física e mental;
  • Prevenção de deficiências nutricionais;
  • Ação antioxidante e anti-inflamatória.

Por sua riqueza nutricional, é utilizado por atletas, idosos e pessoas em recuperação nutricional, sendo vendido na forma de grânulos, cápsulas ou adicionado a alimentos (BOGO et al., 2010).

Conclusão

Os produtos da colmeia representam uma dádiva da natureza, resultado da complexa organização social e da biologia singular das abelhas. Além de seu valor comercial, esses produtos oferecem uma combinação rara de nutrição e propriedades terapêuticas, reconhecidas tanto pela ciência moderna quanto por tradições medicinais antigas. Promover a apicultura e o uso consciente dos produtos apícolas é fortalecer um modelo de produção saudável, sustentável e conectado com a biodiversidade.

Referências Bibliográficas

  • BOGO, D.; MARCHINI, L. C.; MORETI, A. C. C. C. Composição físico-química do pólen apícola coletado em
  • diferentes regiões do Brasil. Ciência Rural, v. 40, n. 10, 2010.
  • FERREIRA, J. M. A. et al. Physicochemical characteristics of honey from the semiarid region of Brazil. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 29, n. 2, 2009.
  • MARCUCCI, M. C. Propriedades biológicas e terapêuticas da própolis. Química Nova, v. 18, n. 6, p. 619–628, 1995.
  • NAKAMURA, T. et al. Royal jelly and its anti-aging effects. Journal of Nutritional Science and Vitaminology, v. 55, p. S87–S91, 2009.
  • PEREIRA, L. F.; BASTOS, D. H. M. Cera de abelha: propriedades e aplicações. Revista Brasileira de Produtos Naturais, v. 2, n. 1, 2007.


Aplicações Comerciais e Industriais dos Produtos da Colmeia

 

1. Introdução

Os produtos da colmeia, além de sua importância biológica e terapêutica, ocupam um papel relevante na economia global, com usos diversos nos setores alimentício, cosmético, farmacêutico e industrial. A versatilidade dos derivados apícolas os torna matéria-prima valiosa em produtos com alto valor agregado. O mel, a própolis, a cera de abelha, a geleia real e o pólen constituem não apenas fontes de nutrição e saúde, mas também insumos de grande demanda comercial, impulsionando cadeias produtivas locais e internacionais.

2. Mel: do alimento à gourmetização

O mel é o produto apícola com maior expressão comercial. Seu mercado é consolidado mundialmente, sendo consumido como alimento funcional, adoçante natural e ingrediente culinário.

No setor alimentício, o mel é usado:

  • Como substituto de açúcar em produtos diet e naturais;
  • Na panificação, confeitaria e laticínios;
  • Na produção de bebidas fermentadas como o hidromel;
  • Em molhos, marinadas, barrinhas energéticas e suplementos esportivos.

Além disso, com a valorização de produtos orgânicos e funcionais, cresce a gourmetização do mel, com valorização de origem floral (mel silvestre, de laranjeira, de eucalipto, de jataí), práticas sustentáveis e apicultura familiar. Essa diferenciação permite maior margem de lucro e acesso a mercados exigentes, como os da Europa, Ásia e América do Norte (FERREIRA et al., 2009).

3. Própolis: potencial farmacêutico e cosmético

A própolis é altamente valorizada pela indústria farmacêutica, sobretudo por suas propriedades antimicrobianas, anti-inflamatórias e antioxidantes. Seu uso extrapola o consumo direto, sendo aplicada como ingrediente ativo em diversos produtos industrializados.

Aplicações comerciais incluem:

  • Tônicos, sprays e xaropes para garganta e vias respiratórias;
  • Pomadas cicatrizantes e loções antissépticas;
  • Enxaguantes bucais e cremes dentais;
  • Suplementos em cápsulas ou gotas;
  • Cosméticos faciais e corporais com ação regeneradora.

A própolis brasileira é especialmente procurada no mercado internacional, em especial a verde (Baccharis dracunculifolia) e a vermelha (Dalbergia ecastophyllum), ricas em compostos bioativos. Países como Japão, Coreia do Sul e Alemanha são grandes importadores.

4. Cera de abelha: indústria cosmética, alimentícia e técnica

A cera de abelha é um produto com ampla aplicação na indústria. Embora sua produção seja menor em volume comparada ao mel, seu valor comercial por quilo é elevado devido à sua versatilidade.

Principais usos incluem:

  • Cosméticos: batons, cremes, loções, desodorantes e máscaras hidratantes utilizam a cera como base emoliente, estabilizante e protetora da pele.
  • Farmacêuticos: é empregada como excipiente em pomadas, supositórios e cápsulas, além de facilitar a liberação controlada de princípios ativos.
  • Alimentos: usada como revestimento de queijos, frutas e doces para aumentar a conservação e conferir brilho.
  • Indústria técnica: na fabricação de velas artesanais, lubrificantes, ceras de polimento e moldes para fundição metálica (cera perdida).

O apelo por cosméticos naturais e ecológicos tem aumentado a demanda por cera pura, especialmente em nichos de mercado que rejeitam derivados de petróleo.

5. Geleia real: suplemento de nicho com valor agregado

A geleia real é consumida sobretudo como suplemento alimentar, sendo valorizada por seu potencial revitalizante e seu status de produto natural de alta performance. Comercializada em cápsulas, ampolas ou in natura, é usada como:

  • Suplemento energético e tônico imunológico;
  • Agente revitalizante em cosméticos antienvelhecimento;
  • Componente de cremes rejuvenescedores, shampoos e loções faciais.

A produção de geleia real exige técnicas específicas de manejo, como a transferência larval e a criação de realeiras, o que eleva seu custo e a torna um produto de nicho. É altamente exportada por países asiáticos, principalmente a China, maior produtora mundial, seguida de países europeus.

6. Pólen apícola: alimento funcional e insumo industrial

O pólen apícola, recolhido pelas abelhas durante a coleta floral, tem ampla aplicação na indústria de alimentos e suplementos

devido à sua alta concentração de proteínas, vitaminas e enzimas.

Suas utilizações comerciais incluem:

  • Suplementos nutricionais para atletas, idosos e pessoas em recuperação;
  • Misturas em grãos integrais, sucos, smoothies e barras proteicas;
  • Ingrediente de ração animal de alto valor biológico;
  • Base para cosméticos com função reconstituinte da pele.

Com a popularização de superalimentos, o pólen apícola ganhou destaque por sua composição completa e seu potencial antioxidante, sendo promovido como fonte natural de bem-estar.

7. Perspectivas econômicas e sustentabilidade

A apicultura, ao produzir múltiplos produtos com valor comercial, oferece uma alternativa sustentável para o meio rural. Sua prática não requer desmatamento, pode ser integrada a áreas protegidas e incentiva a conservação da flora nativa. O aproveitamento integral da colmeia permite a diversificação da renda e reduz a dependência exclusiva da produção de mel.

Os produtos da colmeia se beneficiam da tendência global por insumos naturais, orgânicos e funcionais. A certificação de origem, o controle de resíduos e a rastreabilidade são exigências crescentes para acessar mercados premium. A profissionalização da cadeia apícola e o investimento em pesquisa e inovação ampliam ainda mais o potencial industrial desses produtos.

Conclusão

Os produtos da colmeia ocupam papel estratégico em diferentes cadeias produtivas, agregando valor econômico e impulsionando segmentos como alimentação saudável, fitoterapia, cosmética natural e indústria farmacêutica. O desenvolvimento da apicultura, aliado à sustentabilidade e à inovação, representa uma oportunidade concreta de geração de renda, conservação ambiental e promoção da saúde. Com isso, os produtos apícolas se consolidam como bens multifuncionais, com crescente demanda e valorização no mercado nacional e internacional.

Referências Bibliográficas

  • FERREIRA, J. M. A. et al. Mel: composição, propriedades e aplicações comerciais. Revista Ciência Rural, v. 39, n. 3, 2009.
  • MARCUCCI, M. C. Propriedades biológicas e terapêuticas da própolis. Química Nova, v. 18, n. 6, p. 619–628, 1995.
  • PEREIRA, L. F.; BASTOS, D. H. M. Cera de abelha: aplicações e potencial comercial. Revista Brasileira de Produtos Naturais, v. 2, n. 1, 2007.
  • NAKAMURA, T. et al. Royal Jelly and its anti-aging effects. Journal of Nutritional Science and Vitaminology, v. 55, p. S87–S91, 2009.
  • BOGO, D. et al. Uso
  • comercial do pólen apícola no Brasil. Revista Brasileira de Apicultura, v. 23, n. 2, 2010.

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