Portal IDEA

Introdução à Radiologia Industrial

 

 INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA INDUSTRIAL

 

 Interpretação e Avaliação de Imagens

 

Tipos de Descontinuidades

 

 

No contexto da radiologia industrial, descontinuidades são interrupções na uniformidade do material que podem comprometer sua integridade estrutural, funcionalidade ou segurança. Essas falhas podem surgir durante a fabricação, soldagem, fundição, conformação mecânica ou uso do componente. Nem todas as descontinuidades são consideradas defeitos; a classificação depende da gravidade, localização, dimensões e dos critérios estabelecidos por normas técnicas ou códigos de projeto.

A seguir, são descritas algumas das descontinuidades mais comuns identificadas por técnicas radiográficas.

Trincas

Origem

As trincas são rupturas lineares que se formam por tensões mecânicas ou térmicas, muitas vezes durante o processo de soldagem ou resfriamento do metal. Elas também podem surgir por fadiga, sobrecarga, esforços cíclicos ou corrosão sob tensão em serviço.

Características

       Apresentam-se como linhas finas e alongadas na imagem radiográfica.

       Podem ter bordas afiadas e geralmente seguem uma direção preferencial.

       Sua detecção por radiografia depende da orientação em relação ao feixe de radiação: trincas perpendiculares ao feixe são mais visíveis.

Implicações

Trincas são críticas por representarem pontos de concentração de tensões, com alto risco de propagação e falha catastrófica do componente.

Inclusões

Origem

São corpos estranhos não metálicos (óxidos, escórias, areia) ou metálicos (fragmentos de eletrodo) que ficam aprisionados dentro do metal durante os processos de fundição ou soldagem.

Características

       Formato irregular ou arredondado.

       Densidade diferente da matriz metálica, o que permite a visualização na radiografia.

       Podem estar isoladas ou distribuídas em regiões específicas da junta ou peça.

Implicações

As inclusões reduzem a resistência mecânica local, favorecem a formação de trincas e prejudicam o desempenho do componente, especialmente sob solicitação cíclica.

 

Porosidades

Origem

São cavidades formadas pelo aprisionamento de gases durante a solidificação do metal. Os gases podem ser provenientes de reações químicas, contaminações ou má prática de soldagem.

Características

       Forma esférica ou oval, variando de milímetros a milésimos de milímetro.

       Podem ocorrer isoladamente (porosidade pontual) ou agrupadas (porosidade aglomerada).

       Aparecem como manchas arredondadas escuras na imagem radiográfica.

Implicações

Porosidades reduzem a densidade local do material, podendo comprometer a estanqueidade, resistência à fadiga e à tração. Pequenas porosidades isoladas podem ser toleradas conforme normas específicas.

Falta de Fusão

Origem

Ocorre quando não há aderência entre camadas de metal fundido ou entre o metal base e o metal de adição durante a soldagem. As causas incluem temperatura inadequada, técnica incorreta ou contaminações superficiais.

Características

       Apresenta-se como um vazio linear paralelo à junta.

       Frequentemente localizada entre passes de solda ou na raiz da solda.

       Pode ser difícil de detectar, especialmente se estiver orientada paralelamente ao feixe radiográfico.

Implicações

A falta de fusão compromete severamente a resistência mecânica da solda, sendo geralmente considerada um defeito inaceitável em aplicações críticas.

 

Conclusão

A correta identificação e interpretação das descontinuidades são fundamentais para a tomada de decisões técnicas, como a aceitação, retrabalho ou rejeição de componentes. A radiografia industrial, quando bem executada, permite não apenas a detecção dessas falhas, mas também a análise qualitativa e, em alguns casos, quantitativa, de sua extensão e criticidade.

 

Referências Bibliográficas

       Moura, A. G. et al. Ensaios Não Destrutivos: Fundamentos e Aplicações. São Paulo: Editora Blucher, 2016.

       Hellier, C. Handbook of Nondestructive Evaluation. 2nd ed. New York: McGraw-Hill Education, 2013.

       IAEA – International Atomic Energy Agency. Industrial Radiography Manual. Vienna: IAEA, 1992.

       ASME – American Society of Mechanical Engineers. Boiler and Pressure Vessel Code - Section V: Nondestructive Examination. New York: ASME, 2021.

       AWS – American Welding Society. AWS D1.1: Structural Welding Code – Steel. Miami: AWS, 2020.

 


Interpretação Radiográfica

 

A interpretação radiográfica é uma etapa essencial do processo de ensaio por radiografia industrial. Após a obtenção da imagem radiográfica, seja por meio de filmes ou sistemas digitais, é necessário analisá-la cuidadosamente para identificar, classificar e avaliar descontinuidades internas nos materiais inspecionados. Essa interpretação requer conhecimento técnico, experiência e o uso de normas específicas para garantir a confiabilidade e a rastreabilidade dos resultados.

Leitura e

Análise de Filmes

A leitura de filmes radiográficos é feita em ambientes controlados, com iluminação adequada e uso de visualizadores de alta intensidade luminosa. O inspetor radiográfico deve estar capacitado para perceber variações sutis de densidade óptica, forma, tamanho e localização das descontinuidades.

Procedimentos básicos para leitura:

       Verificação da qualidade da imagem: contraste, nitidez, presença de indicadores de qualidade e identificação correta.

       Avaliação da densidade óptica: conferência se está dentro dos valores recomendados pelas normas.

       Identificação de anomalias: análise da variação tonal para detectar áreas com diferença de absorção que possam indicar defeitos internos.

A imagem deve ser interpretada considerando o tipo de material, a técnica de exposição utilizada e os critérios normativos adotados. A habilidade do inspetor em distinguir entre descontinuidades reais, artefatos do processo e variações normais do material é determinante para a validade do ensaio.

Identificação de Defeitos

A interpretação correta exige que o profissional conheça as características visuais típicas de cada tipo de descontinuidade e saiba correlacioná-las ao processo de fabricação. Abaixo estão alguns exemplos comuns:

       Trincas: aparecem como linhas finas e contínuas, geralmente com direção uniforme. São mais evidentes quando estão perpendiculares ao feixe.

       Porosidades: manchas escuras arredondadas ou irregulares, isoladas ou agrupadas. Densidade menor do que a do material ao redor.

       Inclusões: regiões de forma irregular e densidade diferenciada, muitas vezes localizadas próximas à linha de fusão.

       Falta de fusão: falhas lineares que acompanham o perfil da solda, geralmente visíveis como sombras paralelas à junta.

       Lack of penetration (falta de penetração): linha escura central na raiz da solda, indicando ausência de ligação entre as partes.

Além de identificar o tipo de descontinuidade, o inspetor deve estimar sua localização, tamanho, extensão e orientação, pois essas informações são essenciais para avaliar se o defeito é aceitável de acordo com o código ou norma aplicável.

Exemplos Práticos

Na prática industrial, a interpretação radiográfica é aplicada em diferentes contextos. Alguns exemplos incluem:

       Inspeção de soldas em dutos de petróleo: filmes são analisados para verificar a presença de porosidades, trincas e falta de fusão. Dependendo da severidade

são analisados para verificar a presença de porosidades, trincas e falta de fusão. Dependendo da severidade do defeito, a solda pode ser aprovada, retrabalhada ou rejeitada.

       Controle de qualidade em fundições: peças fundidas são radiografadas para detectar inclusões de escória ou bolhas de gás. As imagens revelam a uniformidade interna e permitem decidir se a peça atende às especificações.

       Manutenção preditiva em equipamentos industriais: radiografias são usadas para avaliar a integridade de componentes críticos, como vasos de pressão ou turbinas. Trincas incipientes podem ser detectadas antes de causarem falhas graves.

Cada aplicação requer que o profissional interprete a imagem à luz de normas

como a ASME Section V, API 1104, EN ISO 17636 ou AWS D1.1, dependendo da indústria e do tipo de componente.

A prática constante, aliada ao conhecimento normativo e ao uso de exemplos padronizados, é essencial para desenvolver a acuidade visual e o julgamento técnico necessários à correta interpretação radiográfica.

 

Referências Bibliográficas

       Hellier, C. Handbook of Nondestructive Evaluation. 2nd ed. New York: McGraw-Hill Education, 2013.

       Moura, A. G. et al. Ensaios Não Destrutivos: Fundamentos e Aplicações. São Paulo: Editora Blucher, 2016.

       IAEA – International Atomic Energy Agency. Industrial Radiography Manual. Vienna: IAEA, 1992.

       ASME – American Society of Mechanical Engineers. Boiler and Pressure Vessel Code - Section V: Nondestructive Examination. New York: ASME, 2021.

       AWS – American Welding Society. AWS D1.1: Structural Welding Code – Steel. Miami: AWS, 2020.

       ISO – International Organization for Standardization. ISO 17636-1: Non-destructive testing of welds – Radiographic testing. Geneva: ISO, 2013.

 


Registro e Relatório Técnico

 

A elaboração de relatórios técnicos na radiologia industrial é uma etapa fundamental para garantir a rastreabilidade, padronização e credibilidade dos ensaios realizados. O relatório não apenas documenta os resultados obtidos, mas também serve como registro oficial da inspeção, permitindo que clientes, engenheiros e autoridades reguladoras avaliem a conformidade de peças e estruturas com os requisitos normativos e contratuais.

Como Preencher um Relatório Técnico

O relatório técnico deve ser preenchido com clareza, objetividade e precisão, utilizando linguagem técnica padronizada e observando os critérios estabelecidos por normas

específicas, como a ASME Section V, ISO 17636 e CNEN NN-3.01.

Informações básicas que devem constar em um relatório de radiografia industrial:

1.     Identificação da peça e do componente inspecionado:

o    Código da peça o Tipo de material o Local da solda ou região examinada

2.     Dados da exposição:

o    Tipo e número da fonte de radiação o Parâmetros de exposição (kV, mA, tempo) o Distâncias (fonte-peça-filme) o Tipo de filme ou sistema digital utilizado

o    Indicadores de qualidade radiográfica aplicados

3.     Identificação do ensaio:

o    Data da inspeção o Número do filme ou imagem digital o Número do relatório o Identificação do operador, inspetor e responsável técnico

4.     Resultados da inspeção:

o    Indicação da presença ou ausência de descontinuidades o Localização e tipo de defeito (se houver) o Referência à norma ou critério de aceitação aplicado o Conclusão: aceito, rejeitado ou retrabalho recomendado

5.     Assinaturas e carimbos: o Responsável pela execução o Responsável técnico o Cliente (quando aplicável)

O uso de sistemas digitais facilita o preenchimento automático de relatórios, o arquivamento e a emissão de certificados com maior agilidade, porém exige cuidados com a integridade dos dados e a segurança da informação.

Documentação e Rastreabilidade

A rastreabilidade garante que todas as etapas do ensaio possam ser verificadas e reproduzidas, se necessário, mesmo após meses ou anos. Isso é essencial em setores críticos como petróleo e gás, aeronáutica, nuclear e construção civil.

Boas práticas para garantir rastreabilidade:

       Utilização de identificadores únicos para cada imagem radiográfica (número do filme, código da peça).

       Arquivamento organizado dos filmes ou arquivos digitais, com correspondência aos relatórios.

       Registro de calibração dos equipamentos, validade da fonte e certificados dos profissionais envolvidos.

       Manutenção de um histórico técnico completo da inspeção.

A rastreabilidade também está ligada à conformidade com normas como a ISO 9001, que exige controle e registro de processos e produtos em todas as etapas.

Comunicação dos Resultados

A comunicação eficaz dos resultados radiográficos é crucial para tomada de decisão em ambientes industriais. O relatório deve ser acessível, tecnicamente claro e sem ambiguidades, especialmente quando os resultados envolvem rejeição de peças ou recomendação de reparos.

Formas de comunicação:

      

Relatórios formais escritos, entregues em PDF ou impresso.

       Acompanhamento com imagens anexadas, especialmente em sistemas digitais.

       Resumo executivo ou parecer técnico, quando necessário, para gestores ou engenheiros de produção.

       Discussões presenciais ou por videoconferência, em casos de dúvidas ou não conformidades críticas.

O inspetor deve estar preparado para justificar tecnicamente suas conclusões, com base em normas e em evidências documentadas. A transparência nesse processo fortalece a confiabilidade do trabalho e facilita a resolução de não conformidades.

 

Referências Bibliográficas

       ASME – American Society of Mechanical Engineers. Boiler and Pressure Vessel Code – Section V: Nondestructive Examination. New York: ASME, 2021.

       CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear. Normas de Radioproteção Aplicadas à Radiografia Industrial. CNEN-NN-3.01, 2014.

       ISO – International Organization for Standardization. ISO 17636-1: Non-destructive testing of welds – Radiographic testing. Geneva: ISO, 2013.

       Hellier, C. Handbook of Nondestructive Evaluation. 2nd ed. New York: McGraw-Hill Education, 2013.

       Moura, A. G. et al. Ensaios Não Destrutivos: Fundamentos e Aplicações. São Paulo: Editora Blucher, 2016.

 

Quer acesso gratuito a mais materiais como este?

Acesse materiais, apostilas e vídeos em mais de 3000 cursos, tudo isso gratuitamente!

Matricule-se Agora