INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA INDUSTRIAL
Técnicas Radiográficas
A formação da imagem
radiográfica baseia-se na capacidade da radiação ionizante (raios X ou
gama) de penetrar materiais e interagir com sua estrutura interna. Quando um
feixe de radiação atravessa um objeto, parte dele é atenuado (absorvido ou
espalhado) em função da espessura, densidade e composição do material, enquanto
o restante atinge um detector
posicionado do lado oposto.
Essa diferença de atenuação gera uma
imagem com contrastes
proporcionais às variações internas da peça. Regiões mais
densas ou espessas absorvem mais radiação e aparecem mais claras na imagem,
enquanto regiões menos densas permitem maior passagem da radiação e resultam em
áreas mais escuras. Essa variação de tons é a base da radiografia industrial, permitindo a detecção de descontinuidades
como trincas, inclusões, bolhas de gás e falhas de solda.
A nitidez e a qualidade dessa imagem dependem de diversos
fatores, que devem ser controlados cuidadosamente durante o processo de
exposição.
A qualidade da imagem radiográfica é fundamental para a
correta detecção e interpretação de defeitos. Os principais fatores que
influenciam essa qualidade incluem:
É a diferença de densidade óptica entre áreas adjacentes na
imagem. Um bom contraste facilita a visualização de descontinuidades. Ele é
influenciado por:
• Tipo
e energia da radiação utilizada
• Espessura
da peça
• Sensibilidade
do detector
Refere-se à capacidade de distinguir detalhes finos na
imagem. A nitidez pode ser afetada por:
• Distância
entre fonte e peça (quanto maior, melhor a definição)
• Movimento
da peça ou do equipamento durante a exposição
• Tamanho
focal da fonte (fontes menores produzem imagens mais nítidas)
Ruído é qualquer variação indesejada na imagem que
dificulte a visualização de detalhes. Pode ser causado por variações na
sensibilidade do detector, processamento inadequado ou interferências no
equipamento.
A relação entre a fonte de radiação, a peça e o detector devem ser cuidadosamente planejados. Uma má geometria pode causar ampliação, distorção ou superposição de estruturas.
A dose de radiação recebida pelo
detector deve ser
suficiente para formar uma imagem clara, mas não excessiva a ponto de saturar
ou prejudicar o contraste. Esses parâmetros são definidos conforme tabelas de
exposição específicas.
Os detectores
radiográficos são os dispositivos responsáveis por registrar a imagem
formada pela radiação após atravessar a peça. Atualmente, existem três
categorias principais utilizados na prática industrial:
São folhas fotossensíveis compostas por uma base de
poliéster e camadas de emulsão com cristais de haleto de prata. Quando expostas
à radiação e reveladas quimicamente, essas camadas registram a imagem da peça.
Vantagens:
•
Alta resolução e nitidez
•
Custo inicial relativamente baixo Desvantagens:
•
Requer processamento químico
•
Maior tempo de espera para análise
•
Armazenamento físico e descarte de resíduos
Nesse sistema, a imagem é capturada por uma placa de fósforo fotossensível (PSP) e
posteriormente lida por um scanner a laser. A imagem é convertida em formato
digital e analisada em computador.
Vantagens:
• Redução
no uso de químicos
• Facilidade
de arquivamento digital
• Processamento
mais rápido que o filme convencional
Desvantagens:
• Menor
resolução que o filme
• Investimento
inicial maior em equipamentos
Utiliza detectores digitais planos (como CMOS ou TFT) que
convertem diretamente a radiação recebida em sinais elétricos. A imagem é
gerada em tempo real e exibida instantaneamente em um monitor.
Vantagens:
• Imagem
imediata
• Alta
produtividade e eficiência
• Integração
com software de análise e arquivamento
Desvantagens:
• Custo
elevado dos sistemas
• Necessidade
de treinamento técnico
A escolha entre esses sistemas depende da complexidade da inspeção, custo, mobilidade necessária e nível de detalhamento exigido.
• Hellier,
C. Handbook of Nondestructive Evaluation.
2nd ed. New York: McGraw-Hill Education, 2013.
• Moura,
A. G. et al. Ensaios Não Destrutivos:
Fundamentos e Aplicações. São Paulo: Editora Blucher, 2016.
• IAEA – International Atomic Energy Agency. Training Guidelines in Non-Destructive Testing
Techniques: Radiographic Testing.
Vienna:
IAEA, 2002.
• Bushong,
S. C. Radiologic Science for
Technologists: Physics, Biology, and Protection. 11th ed. St. Louis:
Elsevier, 2016.
• CNEN
– Comissão Nacional de Energia Nuclear. Normas
para Radiografia Industrial. CNEN-NE-3.01, 2014.
A qualidade de uma imagem radiográfica depende diretamente
dos parâmetros físicos que regulam a quantidade e a intensidade da radiação
utilizada durante a exposição. Esses parâmetros devem ser cuidadosamente
ajustados para garantir que a imagem apresente contraste adequado, boa
definição e sensibilidade suficiente para revelar descontinuidades internas na
peça examinada.
Na radiografia industrial com raios X, três variáveis
principais determinam a intensidade e a penetração do feixe de radiação:
É o período durante o qual o feixe de radiação incide sobre
a peça e o detector. Quanto maior o tempo de exposição, maior será a dose total de radiação recebida pelo detector,
aumentando assim a densidade da imagem. Entretanto, tempos excessivos podem
provocar superexposição ou
deterioração do contraste.
A tensão aplicada ao tubo de raios X determina a energia dos fótons produzidos. Tensões
mais altas geram fótons com maior poder de penetração. O valor de kV deve ser
ajustado conforme a espessura e
densidade da peça:
• Baixos
kV (60–150) são usados para peças finas e materiais de baixa densidade.
• Altos
kV (200–450 ou mais) são necessários para materiais espessos ou mais densos.
A tensão influencia diretamente o contraste radiográfico. Tensões mais altas reduzem o contraste,
pois atenuações diferenciais tornam-se menos pronunciadas.
A corrente elétrica controla a quantidade de elétrons emitidos pelo cátodo e, consequentemente, a intensidade do feixe de radiação. Um
aumento na corrente resulta em maior quantidade de fótons, o que também eleva a
densidade da imagem, sem afetar significativamente a qualidade do contraste.
O produto da corrente (mA) pelo tempo (s) é conhecido como mAs, uma medida total da carga
aplicada, diretamente proporcional à quantidade de radiação gerada.
A geometria do sistema radiográfico é outro fator essencial
para a formação de imagens de boa qualidade. As três distâncias envolvidas são:
Determina o grau de penetração e o tamanho
de
penetração e o tamanho da sombra projetada sobre o detector. Distâncias
menores geram imagens com maior ampliação e menor nitidez (penumbra
radiográfica). Aumentar essa distância reduz a penumbra, melhorando a nitidez, mas exige maior tempo de exposição devido à
redução da intensidade do feixe pela lei do inverso do quadrado da distância. 2. Distância Peça-Filme (DPF)
A distância entre a peça e o detector deve ser a menor
possível para reduzir a ampliação
geométrica e manter a nitidez da imagem. Qualquer separação excessiva
provoca perda de definição.
É a soma das duas anteriores. Quanto maior essa distância
total, melhor será a qualidade geométrica da imagem, porém isso exige ajustes
nos demais parâmetros (kV, mA e tempo) para compensar a atenuação do feixe.
As curvas
sensitométricas representam graficamente a relação entre a densidade óptica do filme radiográfico e a quantidade
de exposição recebida (logarítmica). São usadas para avaliar e prever o
comportamento dos filmes diante de diferentes doses de radiação.
Uma típica curva sensitométrica apresenta
três regiões:
• Região de base: baixa exposição, pouca
ou nenhuma imagem formada (subexposição).
• Região linear: onde a densidade cresce
proporcionalmente ao log da exposição — é a faixa ideal de operação.
• Região de saturação: excesso de
exposição, onde a imagem perde contraste (superexposição).
Essas curvas permitem ajustar os parâmetros de exposição
para obter imagens com densidade adequada e contraste ideal, conforme o tipo de
filme e processo de revelação utilizados. Também são importantes para controle de qualidade e para
padronização de resultados.
• Moura,
A. G. et al. Ensaios Não Destrutivos:
Fundamentos e Aplicações. São Paulo: Editora Blucher, 2016.
• IAEA
– International Atomic Energy Agency. Radiographic
Testing Training Manual. Vienna: IAEA, 2002.
• Hellier,
C. Handbook of Nondestructive Evaluation.
2nd ed. New York: McGraw-Hill Education, 2013.
• Bushong,
S. C. Radiologic Science for
Technologists: Physics, Biology, and Protection. 11th ed. St. Louis:
Elsevier, 2016.
• CNEN
– Comissão Nacional de Energia Nuclear. Normas
de Radioproteção Aplicadas à Radiografia Industrial. CNEN-NN-3.01, 2014.
A correta execução da radiografia industrial depende não apenas da escolha dos parâmetros de
exposição, mas também do posicionamento adequado da peça, da fonte
de radiação e do detector. A geometria da exposição influencia diretamente
a nitidez, o contraste, a possibilidade de detecção de descontinuidades e a
fidelidade da imagem formada. Por isso, o conhecimento das técnicas de
posicionamento é essencial para garantir a eficiência e a qualidade da
inspeção.
Diversas configurações podem ser utilizadas dependendo do
tipo de peça, sua geometria, o local da descontinuidade esperada e as
limitações do ambiente de trabalho. Os principais tipos de posicionamento
incluem:
Utilizado para inspecionar a superfície ou a parede externa
de tubos e cilindros. A fonte de radiação é posicionada tangencialmente à curva
da superfície. Essa técnica é eficaz para detectar trincas superficiais e corrosão
em tubulações.
A fonte de radiação é colocada no centro da peça (geralmente no interior de um tubo ou vaso) e o filme envolve toda a circunferência externa. Essa configuração proporciona uma imagem completa e uniforme ao redor da peça. É muito usada em soldas circunferenciais de dutos.
Consiste em realizar duas exposições da mesma região sob
ângulos diferentes, geralmente ortogonais. É útil para a localização tridimensional de defeitos e para evitar superposição
de estruturas internas.
A radiação incide perpendicularmente à superfície da peça e
ao detector. É o método mais simples e comum, ideal para peças planas ou juntas
soldadas lineares.
Utilizado quando há necessidade de destacar determinada
região interna da peça ou quando não é possível o acesso direto. A radiação
incide em ângulo em relação ao detector, gerando ampliação seletiva da área de interesse.
A escolha do tipo de posicionamento deve considerar a eficiência da inspeção, a facilidade de execução e a interpretação da imagem formada.
Antes da realização da exposição, é necessário preparar
adequadamente a peça a ser inspecionada. Isso envolve:
• Limpeza da superfície: remoção de óleo,
graxa, tinta, ferrugem ou qualquer material que possa afetar a penetração da
radiação ou a aderência do filme à superfície.
• Identificação correta: marcação com etiquetas, símbolos ou numeração visível na imagem radiográfica, facilitando a rastreabilidade e o
arquivamento.
• Posicionamento e fixação: garantir que
a peça esteja estável durante a exposição, evitando movimentos que possam gerar
imagens borradas.
• Escolha do filme ou detector adequado:
conforme o tipo de peça, espessura e resolução desejada.
Para peças de geometrias complexas, muitas vezes é
necessário utilizar suportes ou adaptadores que permitam o posicionamento
preciso da fonte e do detector.
A avaliação da imagem obtida após a exposição é fundamental
para garantir que ela contenha informações
confiáveis e que esteja dentro dos padrões
técnicos exigidos. Os principais critérios de controle de qualidade
incluem:
A imagem deve apresentar variação de tons que permita
identificar claramente as descontinuidades, bem como contornos definidos e
ausência de borrões.
O uso de indicadores
de qualidade radiográfica (IQIs) ou marcadores
de imagem permite avaliar a sensibilidade do ensaio. Os IQIs mostram se o
ensaio é capaz de detectar descontinuidades mínimas com base em padrões
padronizados.
A densidade do filme (ou intensidade digital, no caso de
detectores eletrônicos) deve estar dentro de uma faixa que permita uma leitura
eficaz, nem muito escura (superexposição) nem muito clara (subexposição).
A imagem deve conter todos os dados identificadores da
peça, data, número do filme, posição da solda ou área inspecionada, operador
responsável e demais informações relevantes.
A imagem deve estar livre de arranhões, marcas, poeiras,
luz parasita ou quaisquer interferências que possam dificultar a leitura ou
causar interpretações equivocadas.
A aplicação de práticas sistemáticas de controle de
qualidade garante a confiabilidade dos
resultados radiográficos e é uma exigência de normas técnicas e códigos de
inspeção.
• Moura,
A. G. et al. Ensaios Não Destrutivos:
Fundamentos e Aplicações. São Paulo: Editora Blucher, 2016.
• IAEA
– International Atomic Energy Agency. Industrial
Radiography Manual. Vienna: IAEA, 1992.
• Hellier,
C. Handbook of Nondestructive Evaluation.
2nd ed. New York: McGraw-Hill Education, 2013.
• CNEN
– Comissão Nacional de Energia Nuclear. Normas
de Radioproteção Aplicadas à Radiografia Industrial. CNEN-NN-3.01, 2014.
• ASME – American Society of
Mechanical Engineers. Boiler
and Pressure Vessel Code - Section V: Nondestructive Examination. New York:
ASME, 2021.
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