INTRODUÇÃO EM PATOLOGIA BUCAL
Sinais de alerta e quando suspeitar de patologia bucal
A cavidade oral é uma região sensível e complexa, sujeita a
uma variedade de alterações clínicas que podem refletir não apenas distúrbios
locais, mas também doenças sistêmicas, autoimunes, infecciosas ou neoplásicas.
Nesse contexto, o reconhecimento precoce de sinais de alerta é essencial para a identificação de patologias
bucais potencialmente graves. Esses sinais clínicos funcionam como indicadores
que exigem atenção redobrada do profissional da saúde bucal e, em muitos casos,
o encaminhamento para avaliação especializada, exames complementares ou
biópsia.
É fundamental compreender que nem toda lesão ou alteração
na mucosa bucal representa uma condição séria. Muitas manifestações são
transitórias, reativas ou benignas, como as aftas simples, os traumas mecânicos
leves, as lesões por mordedura ou prótese mal adaptada. No entanto, quando
essas alterações persistem por tempo
prolongado, apresentam aspecto atípico ou não respondem ao tratamento
convencional, devem ser investigadas com maior rigor. A atenção aos
detalhes clínicos e ao histórico do paciente é crucial para essa diferenciação.
Entre os principais
sinais de alerta para suspeita de patologia bucal estão:
• Lesões que não cicatrizam em até 15 dias,
mesmo com medidas terapêuticas ou ausência de traumas identificáveis. A
persistência é um dos fatores mais importantes a ser considerado na detecção de
processos malignos ou condições crônicas de difícil resolução.
• Úlceras com bordas elevadas, endurecidas ou
infiltradas, especialmente quando indolores. Embora a dor esteja comumente
associada a processos inflamatórios agudos, a ausência de dor em lesões de
aspecto infiltrativo pode ser indicativo de carcinoma espinocelular, o tipo
mais comum de câncer bucal.
• Áreas de leucoplasia (manchas brancas) ou
eritroplasia (manchas vermelhas) que não se removem com raspagem. Essas
lesões são consideradas potencialmente malignas e devem ser monitoradas de
perto. A eritroplasia, embora menos comum, tem maior taxa de transformação
maligna do que a leucoplasia.
• Crescimento anormal de tecido, como
massas, nódulos ou aumento de volume localizado. Lesões volumosas, com
crescimento progressivo e assimétrico, devem ser avaliadas quanto à
possibilidade de neoplasias benignas ou malignas.
• Sangramentos espontâneos ou frequentes, sem causa aparente, podem indicar distúrbios
vasculares, doenças hematológicas
ou inflamações severas dos tecidos periodontais.
• Mobilidade dentária sem causa periodontal
evidente, podendo ser sinal de lesão óssea subjacente, tumor ou patologia
infiltrativa que comprometa a sustentação dentária.
• Alterações na coloração da mucosa, como
pigmentações escuras, arroxeadas, azuladas ou enegrecidas, que não estão
associadas a traumatismos ou restaurações metálicas, merecem atenção, pois
podem representar desde depósitos de melanina até melanoma oral.
• Parestesia, dormência ou dor neuropática
localizada, especialmente quando unilateral e de início súbito. Alterações
sensoriais na região oral ou facial podem indicar comprometimento neural por
processos infecciosos, tumorais ou inflamatórios.
• Dificuldades para mastigar, engolir ou
movimentar estruturas como a língua e a mandíbula, que podem estar
associadas a processos expansivos, inflamatórios profundos ou neoplasias em
fase avançada.
• Presença de linfonodos cervicais
aumentados, fixos ou dolorosos, principalmente quando associados a lesões
orais. A linfadenopatia regional persistente pode ser sinal de infecção
crônica, tuberculose, doenças autoimunes ou disseminação de neoplasias.
O profissional da saúde bucal, especialmente o
cirurgião-dentista, é muitas vezes o primeiro a identificar essas alterações
durante o exame clínico de rotina. Por isso, é fundamental que o atendimento
odontológico vá além dos procedimentos mecânicos e inclua a avaliação sistemática da mucosa oral,
gengiva, língua, palato, soalho da boca e linfonodos cervicais. A inspeção
visual e a palpação cuidadosa são etapas obrigatórias de qualquer consulta.
Ao reconhecer um ou mais sinais de alerta, é necessário
adotar uma conduta clínica baseada na
prudência, que pode incluir:
• Acompanhamento
e registro fotográfico da lesão;
• Realização
de exames complementares (citologia, exames laboratoriais, biópsia incisional
ou excisional);
• Encaminhamento
ao estomatologista, bucomaxilofacial, oncologista ou outro especialista;
• Orientação
clara ao paciente sobre a natureza da suspeita e a importância do seguimento
diagnóstico.
A educação do paciente também é parte essencial do
processo. Explicar que nem toda alteração bucal é grave, mas que certas
características exigem cuidado especial, ajuda a reduzir o medo, combater a
automedicação e promover o diagnóstico precoce.
Vale destacar que o câncer bucal,
frequentemente associado ao tabagismo, ao consumo excessivo de
álcool e à exposição solar sem proteção, é um dos principais agravos que podem
se beneficiar da vigilância sobre os sinais de alerta. Quando diagnosticado
precocemente, as chances de cura aumentam significativamente. Já o diagnóstico
tardio está ligado a tratamentos mutilantes e baixa sobrevida.
Em síntese, saber quando
suspeitar de uma patologia bucal é uma competência clínica indispensável
para qualquer profissional que atue na saúde bucal. O reconhecimento de sinais
de alerta e a adoção de uma abordagem cuidadosa e sistemática permitem não
apenas melhorar o prognóstico das condições graves, mas também consolidar a
prática odontológica como parte essencial do cuidado integral em saúde.
NEVILLE, B. W.; DAMM, D. D.; ALLEN, C. M.; BOUQUOT, J. E.
Patologia Oral e
Maxilofacial. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
PIRES, F. R.; SERPA, R. O. Patologia Bucal na Prática Clínica. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2015.
CARRARD, V. C.; HAAS, A. N. Manual de Diagnóstico em Patologia Bucal. Porto Alegre: Artmed,
2014.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica: Saúde Bucal. Brasília: MS, 2006.
SILVA, A. L. P.; MENDES, R. M. P.; FREITAS, A. C. Lesões Bucais: Diagnóstico e Condutas
Clínicas. São Paulo: Santos, 2016.
Limites de atuação de não especialistas na saúde bucal
No contexto da saúde bucal, a atuação profissional é
regulada por normas éticas, técnicas e legais que visam garantir a segurança
dos pacientes, a qualidade dos serviços prestados e o respeito às atribuições
específicas de cada categoria profissional. A compreensão dos limites de atuação dos não especialistas,
especialmente de profissionais da Odontologia que não possuem especialização
formal ou de agentes de saúde que atuam em ambientes coletivos, é essencial
para evitar condutas indevidas, práticas ilegais e riscos à integridade física
e psicológica das pessoas atendidas.
No Brasil, a atuação profissional na área odontológica é regulamentada pela Lei nº 5.081, de 24 de agosto de 1966, que dispõe sobre o exercício da Odontologia, bem como pelas resoluções do Conselho Federal de Odontologia (CFO). Essa legislação estabelece que apenas cirurgiõesdentistas, técnicos em saúde bucal, auxiliares de saúde bucal e outros profissionais com formação reconhecida pelo Ministério da Educação e registro no respectivo conselho regional podem exercer atos clínicos no âmbito da
odontologia.
Os não especialistas,
nesse contexto, referem-se principalmente aos cirurgiões-dentistas generalistas
— que possuem graduação, mas não título de especialista —, bem como a
profissionais de saúde de outras áreas, como enfermeiros, fisioterapeutas,
fonoaudiólogos, agentes comunitários de saúde e cuidadores. Embora todos esses
atores possam contribuir de forma complementar para a promoção da saúde bucal,
é importante que suas ações respeitem os limites legais e éticos da atuação
profissional.
Para os cirurgiões-dentistas
sem especialização, a atuação clínica é plenamente autorizada em todo o
território nacional, desde que estejam devidamente inscritos no conselho
regional. Esses profissionais podem diagnosticar, tratar, prescrever, realizar
procedimentos preventivos, restauradores e cirúrgicos, desde que estejam dentro
da sua competência técnica e sejam realizados com respaldo científico. No
entanto, em casos mais complexos, como suspeitas de neoplasias, doenças
autoimunes, infecções recorrentes de difícil controle ou anomalias
craniofaciais, recomenda-se o encaminhamento
para especialistas, como estomatologistas, cirurgiões bucomaxilofaciais,
periodontistas ou patologistas orais.
O limite ético da atuação do dentista generalista não está
na proibição legal de realizar determinados procedimentos, mas na responsabilidade técnica de reconhecer os
próprios limites. O Código de Ética Odontológica, aprovado pela Resolução
CFO nº 118/2012, orienta que o profissional deve atuar com competência,
prudência e dentro de suas capacidades, buscando atualização constante e
encaminhando o paciente quando necessário. A omissão no encaminhamento ou a
insistência em conduzir casos para os quais não se tem preparo adequado pode
configurar infração ética e até negligência.
No caso de profissionais
não pertencentes à Odontologia, como agentes comunitários, técnicos de
enfermagem ou profissionais da atenção primária, a atuação na área da saúde
bucal deve ser educativa, preventiva e
de apoio, nunca substitutiva da ação clínica odontológica. Esses
profissionais podem colaborar em ações como:
• Promoção
de hábitos de higiene bucal em escolas e comunidades;
• Apoio
em campanhas de escovação supervisionada;
• Identificação
de sinais de alerta para encaminhamento ao cirurgiãodentista;
• Educação
em saúde e aconselhamento em temas como alimentação saudável, prevenção de
cáries e doenças periodontais;
• Apoio na
adesão ao tratamento odontológico, especialmente em populações vulneráveis.
Tais atividades são extremamente importantes e contribuem
para a ampliação do acesso à saúde bucal. No entanto, não é permitido que esses profissionais realizem diagnósticos,
prescrevam medicamentos, realizem procedimentos invasivos ou intervenções
clínicas, sob pena de caracterização de exercício ilegal da profissão,
conforme previsto no Código Penal Brasileiro (Art. 282).
Também é importante destacar que profissionais de estética, terapeutas alternativos e outros
prestadores de serviços não regulamentados pela Odontologia não podem, sob
nenhuma circunstância, realizar qualquer procedimento que envolva a cavidade
oral, prescrição de produtos odontológicos ou manipulação direta dos dentes e
gengivas. A fiscalização dessas práticas cabe aos Conselhos Regionais de
Odontologia e aos órgãos de vigilância sanitária.
A atuação em equipe multiprofissional é fundamental para o
sucesso das políticas públicas de saúde, como a Estratégia Saúde da Família e
os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). Contudo, essa atuação só é
eficaz e ética quando cada profissional atua dentro dos limites legais da sua formação e habilitação. A
integração entre odontologia, medicina, enfermagem, nutrição, psicologia e
demais áreas deve ocorrer por meio do diálogo técnico, do respeito à autonomia
profissional e da centralidade do cuidado no paciente.
Em suma, os limites
de atuação de não especialistas na saúde bucal são definidos por um
conjunto de normas legais, éticas e técnicas que visam proteger o paciente e
garantir a qualidade do cuidado. O respeito a esses limites não significa
redução da importância dos profissionais generalistas ou das equipes de apoio,
mas sim o reconhecimento de que o cuidado em saúde é uma construção coletiva,
que exige responsabilidade, formação adequada e comprometimento com a
integridade do ser humano.
BRASIL. Lei nº 5.081, de 24 de agosto de 1966. Dispõe sobre
o exercício da Odontologia. Diário Oficial da União, Brasília, 1966.
CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA. Resolução CFO nº 118, de
11 de maio de 2012. Aprova o Código de Ética Odontológica.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica: Saúde Bucal. Brasília: MS, 2006.
PIRES, F. R.; SERPA, R. O. Patologia Bucal na Prática Clínica. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2015.
SILVA, A. L. P.; MENDES, R. M. P.; FREITAS, A. C. Lesões Bucais: Diagnóstico e Condutas
Clínicas. São Paulo: Santos, 2016.
Importância do encaminhamento ao cirurgiãodentista
A promoção da saúde bucal é uma tarefa que envolve diversos
profissionais e níveis de atenção, especialmente no contexto da atenção
primária e das ações coletivas de saúde. Contudo, há situações clínicas em que
o encaminhamento ao cirurgião-dentista torna-se uma conduta essencial, não
apenas como recurso complementar, mas como uma medida de proteção à saúde e à
vida do paciente. O reconhecimento da importância desse encaminhamento por
parte de outros profissionais da saúde, agentes comunitários, educadores e
cuidadores é indispensável para garantir um cuidado adequado, ético e
resolutivo.
O cirurgião-dentista é o profissional habilitado, conforme
a Lei nº 5.081, de 24 de agosto de 1966, a diagnosticar, tratar, prescrever e
realizar procedimentos que envolvam a cavidade oral, os dentes, a gengiva, o
periodonto, a articulação temporomandibular e estruturas anexas. A sua formação
permite não apenas a execução técnica de intervenções odontológicas, mas também
a atuação em diagnóstico precoce, prevenção de agravos, manejo de lesões
complexas e detecção de manifestações orais de doenças sistêmicas.
A importância do encaminhamento
oportuno ao cirurgião-dentista está diretamente relacionada à identificação
de sinais clínicos que demandam avaliação especializada. Lesões bucais
persistentes, dor intensa, sangramentos espontâneos, mobilidade dentária sem
causa aparente, halitose resistente a medidas de higiene, inflamações
frequentes ou suspeitas de infecção fúngica ou viral são apenas alguns exemplos
de situações que exigem atenção imediata. Nesses casos, a demora no atendimento
pode resultar em agravamento do quadro clínico, infecções generalizadas, perda
dentária e, em situações extremas, risco à vida do paciente.
O encaminhamento também é fundamental em contextos de diagnóstico diferencial. Muitas doenças
sistêmicas, como diabetes, leucemias, HIV/AIDS, doenças autoimunes e
deficiências nutricionais, apresentam manifestações iniciais na cavidade oral.
Manchas, úlceras, sangramentos, alterações de coloração e alterações da mucosa
podem ser os primeiros sinais dessas condições. O cirurgião-dentista, ao
realizar o exame clínico detalhado da boca, pode levantar hipóteses
diagnósticas e solicitar exames complementares que contribuem para o
diagnóstico precoce e o encaminhamento adequado para outros profissionais de
saúde.
Além disso, o encaminhamento ao
dentista é essencial para
garantir o acesso a procedimentos técnicos específicos que não podem ser
realizados por outros profissionais. Extrações dentárias, restaurações,
raspagens periodontais, ajustes de próteses, tratamento de canal, entre outros,
são procedimentos clínicos que exigem conhecimento técnico e respaldo legal
para sua realização. A tentativa de resolver essas questões por meio de medidas
paliativas ou orientações genéricas, sem a devida intervenção odontológica,
pode agravar o quadro do paciente.
Outro aspecto relevante é o papel do cirurgião-dentista na atenção a grupos especiais, como
gestantes, idosos, crianças, pessoas com deficiência e pacientes com doenças
crônicas. Nesses grupos, a vulnerabilidade bucal é maior, e os riscos de
complicações locais e sistêmicas são aumentados. A avaliação odontológica
periódica, o controle de infecções bucais, o acompanhamento de lesões orais e a
orientação quanto à higiene e à alimentação adequada são essenciais para a
manutenção da saúde geral desses indivíduos.
No âmbito da saúde pública, o encaminhamento ao
cirurgião-dentista também está previsto nas diretrizes da Política Nacional de
Saúde Bucal, implementada pelo Ministério da Saúde. Essa política reconhece o
cuidado odontológico como parte integrante do Sistema Único de Saúde (SUS),
prevendo a atuação do dentista em todos os níveis de atenção, desde a prevenção
até a reabilitação oral. A atuação articulada entre equipes da Estratégia Saúde
da Família, Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) e os Centros de Especialidades
Odontológicas (CEOs) é baseada na lógica do acolhimento, do vínculo e da
referência e contrarreferência. Nesse sistema, o encaminhamento é parte
estratégica do cuidado longitudinal e integral.
É importante também ressaltar a responsabilidade ética dos
profissionais não odontológicos quanto ao reconhecimento de seus próprios
limites de atuação. O Código de Ética de diversas profissões da saúde determina
que os profissionais devem encaminhar o paciente sempre que o seu quadro exigir
conhecimento técnico que extrapole suas competências. A negligência nesse
sentido pode resultar em falhas de cuidado, agravamento de quadros clínicos e
responsabilização profissional.
Do ponto de vista do paciente, o encaminhamento ao cirurgião-dentista deve ser compreendido como um direito ao cuidado especializado, e não como uma transferência de responsabilidade. O profissional que identifica a necessidade de avaliação
odontológica está exercendo uma função preventiva e protetiva, assegurando que
o paciente receba atenção compatível com suas necessidades e respeitando os
princípios da ética e da resolutividade em saúde.
Em conclusão, o encaminhamento ao cirurgião-dentista é uma
prática indispensável no cuidado à saúde bucal e geral da população. Reconhecer
os sinais de alerta, respeitar os limites técnicos e legais da atuação
profissional e garantir o acesso ao cuidado especializado são atitudes que
reforçam o compromisso com a saúde pública, com a qualidade da assistência e
com a valorização do trabalho interdisciplinar em benefício da pessoa atendida.
BRASIL. Lei nº 5.081, de 24 de agosto de 1966. Dispõe sobre
o exercício da Odontologia. Diário Oficial da União, Brasília, 1966.
CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA. Resolução CFO nº 118, de
11 de maio de 2012. Aprova o Código de Ética Odontológica.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica: Saúde Bucal. Brasília: MS, 2006.
PIRES, F. R.; SERPA, R. O. Patologia Bucal na Prática Clínica. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2015.
CARRARD, V. C.; HAAS, A. N. Manual de Diagnóstico em Patologia Bucal. Porto Alegre: Artmed,
2014.
Hábitos saudáveis e higiene oral adequada
A saúde bucal é parte essencial da saúde geral e do bem-estar
do ser humano, influenciando diretamente a qualidade de vida, a alimentação, a
comunicação e a autoestima. No entanto, apesar dos avanços em políticas
públicas e no acesso aos serviços odontológicos, doenças bucais como cárie
dentária, gengivite, periodontite e infecções da mucosa oral continuam sendo
altamente prevalentes em diversas populações. Nesse cenário, a adoção de hábitos saudáveis e a manutenção
de uma higiene oral adequada são estratégias fundamentais e acessíveis para
a promoção da saúde bucal e a prevenção de agravos.
O conceito de higiene oral vai além da simples escovação
dos dentes. Ele abrange um conjunto de práticas diárias que visam remover
resíduos alimentares, controlar a formação do biofilme dental (placa
bacteriana), manter a integridade dos tecidos orais e preservar o equilíbrio da
microbiota bucal. Entre os principais hábitos
de higiene recomendados, destacam-se:
• Uso regular do fio dental, preferencialmente uma vez ao dia, para a remoção da placa bacteriana entre os
dentes e abaixo da linha gengival;
• Limpeza da língua, utilizando escova ou
raspador específico, para reduzir a carga microbiana e combater o mau hálito;
• Enxágue bucal com soluções antissépticas,
quando indicado por um profissional, especialmente em casos de gengivite,
cirurgia ou condições específicas de saúde.
A escovação adequada deve durar entre dois e três minutos e
alcançar todas as superfícies dos dentes: vestibular, lingual e oclusal. A
escolha do creme dental deve considerar a concentração de flúor, que auxilia na
prevenção da cárie por sua ação remineralizante e antibacteriana. Já o uso do
fio dental complementa a escovação ao alcançar regiões onde as cerdas não
conseguem penetrar, prevenindo lesões interproximais e inflamações gengivais.
Além das práticas de higiene, a adoção de hábitos saudáveis de vida contribui de forma decisiva
para a saúde da cavidade bucal. A alimentação
equilibrada é um dos pilares centrais desse processo. Dietas ricas em
açúcares refinados, especialmente os consumidos entre as refeições ou na forma
líquida, favorecem a proliferação de bactérias cariogênicas, como o Streptococcus mutans, e o
desenvolvimento da cárie. Por outro lado, alimentos fibrosos, frutas, legumes e
produtos ricos em cálcio e vitaminas auxiliam na limpeza natural dos dentes e
fortalecem o tecido dentário e gengival.
O consumo adequado
de água também é essencial, pois estimula a produção de saliva, que possui
propriedades antimicrobianas, neutraliza o pH da boca e atua como agente de
limpeza natural. A saliva desempenha um papel importante na digestão, na
proteção do esmalte dentário e na manutenção da microbiota bucal saudável.
Outros hábitos saudáveis que impactam diretamente a saúde
oral incluem a evitação do tabagismo e
do consumo excessivo de álcool, ambos fortemente associados a doenças
periodontais, pigmentações dentárias, halitose e, sobretudo, ao câncer bucal. O
tabaco, em qualquer forma de uso, compromete a vascularização dos tecidos
orais, diminui a resposta imune e dificulta a cicatrização, além de estar
relacionado a lesões potencialmente malignas. O álcool, por sua vez, causa
ressecamento da mucosa, alterações na flora bucal e potencializa os efeitos
carcinogênicos do tabaco quando combinados.
A manutenção de consultas odontológicas regulares é outro hábito que deve ser incentivado como parte da rotina de autocuidado. A visita ao cirurgião-dentista não deve ocorrer apenas diante de dor ou
desconforto, mas de forma preventiva, para avaliação
clínica, orientação personalizada, aplicação de flúor, realização de limpezas
profissionais e detecção precoce de alterações bucais. Essa abordagem
preventiva tem impacto significativo na redução da incidência de doenças e na
melhoria do prognóstico em caso de tratamento necessário.
A educação em saúde
bucal é um componente fundamental para a construção de hábitos saudáveis
desde a infância. Crianças que crescem em ambientes onde os cuidados com a boca
são valorizados tendem a manter essas práticas ao longo da vida. Escolas,
unidades de saúde e comunidades têm papel ativo nesse processo, por meio de
ações educativas, distribuição de kits de higiene, campanhas informativas e
envolvimento das famílias.
Em grupos vulneráveis, como idosos, pessoas com
deficiência, gestantes e pacientes com doenças crônicas, o reforço de práticas
de higiene oral deve ser adaptado às necessidades individuais, considerando
limitações físicas, cognitivas ou socioeconômicas. A capacitação de cuidadores,
familiares e profissionais de saúde é estratégica para garantir o cuidado
contínuo e a prevenção de complicações como infecções orais, perda dentária,
disfagia, dor crônica e desnutrição.
Em resumo, os hábitos
saudáveis e a higiene oral adequada são pilares acessíveis e eficazes da
promoção da saúde bucal. Eles exigem disciplina, conhecimento e apoio
institucional, mas trazem benefícios amplos que vão desde a estética e
funcionalidade até a prevenção de doenças graves. O papel do profissional da
saúde bucal, nesse cenário, é não apenas técnico, mas educativo, motivador e
comprometido com a transformação dos comportamentos individuais e coletivos em
prol de uma vida mais saudável.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica: Saúde Bucal. Brasília: MS, 2006.
NEVILLE, B. W.; DAMM, D. D.; ALLEN, C. M.; BOUQUOT, J. E.
Patologia Oral e
Maxilofacial. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
CARRARD, V. C.; HAAS, A. N. Manual de Diagnóstico em Patologia Bucal. Porto Alegre: Artmed,
2014.
PIRES, F. R.; SERPA, R. O. Patologia Bucal na Prática Clínica. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2015.
SILVA, A. L. P.; MENDES, R. M. P.; FREITAS, A. C. Lesões Bucais:
Diagnóstico e Condutas Clínicas. São Paulo: Santos, 2016.
Papel das campanhas de saúde e educação preventiva na
promoção da saúde bucal
A saúde bucal, embora essencial à qualidade de vida e ao bem-estar integral do
saúde bucal, embora essencial à qualidade de vida e ao
bem-estar integral do indivíduo, historicamente ocupou um lugar secundário nas
políticas públicas e nas práticas de cuidado. No entanto, nas últimas décadas,
a ampliação do acesso à informação e o fortalecimento das estratégias de
promoção da saúde contribuíram para transformar essa realidade. Nesse contexto,
as campanhas de saúde e educação
preventiva têm desempenhado um papel decisivo na mudança de comportamento
da população, no controle de doenças bucais e na valorização do cuidado
cotidiano com a cavidade oral.
As campanhas de saúde voltadas à odontologia têm como
principal objetivo informar,
conscientizar e mobilizar a população sobre a importância da higiene bucal,
da alimentação saudável, da prevenção de doenças e da busca por atendimento
profissional regular. Elas funcionam como instrumentos de difusão de
conhecimento, mas também como estratégias de aproximação entre os serviços de
saúde e a comunidade. Ao serem realizadas em espaços como escolas, postos de
saúde, centros comunitários e locais públicos, tais campanhas ampliam o alcance
das informações e contribuem para a formação de hábitos saudáveis desde a
infância.
Entre os temas mais frequentemente abordados nessas ações
educativas estão: a prevenção da cárie
dentária, das doenças periodontais,
da halitose, das lesões potencialmente malignas, bem
como os riscos do tabagismo, do uso excessivo de álcool e da automedicação. Outras campanhas visam
estimular o autocuidado diário,
promover o uso racional de açúcar,
incentivar o consumo de água fluorada
e desmistificar procedimentos odontológicos, ainda vistos com receio por parte
da população.
Uma das campanhas mais emblemáticas no Brasil é a Semana Nacional de Saúde Bucal,
realizada anualmente, com ações integradas de orientação, triagem, escovação
supervisionada, distribuição de kits de higiene, aplicação tópica de flúor e
encaminhamento para tratamento odontológico. Nessas ocasiões, profissionais e
estudantes da odontologia atuam de forma voluntária ou vinculados a
instituições públicas e privadas, reforçando o compromisso social da profissão
com a educação em saúde.
O papel dessas campanhas vai além da transmissão de informações técnicas. Elas têm potencial para transformar atitudes e promover o empoderamento da população na gestão da própria saúde. A educação preventiva, quando bem estruturada, permite que as pessoas compreendam a lógica da doença, identifiquem
precocemente sinais
de alerta, saibam quando e onde buscar atendimento, além de desenvolverem senso
crítico sobre seus próprios hábitos.
Além disso, campanhas de saúde bucal voltadas a grupos vulneráveis têm papel
estratégico na redução das desigualdades. Populações como crianças em idade
escolar, idosos, gestantes, pessoas em situação de rua, comunidades ribeirinhas
e população carcerária enfrentam maiores barreiras no acesso ao cuidado
odontológico. Nesses contextos, ações educativas associadas a práticas
preventivas – como escovação assistida, aplicação de verniz fluoretado e
instruções de higiene – ajudam a romper o ciclo da negligência e da exclusão no
cuidado bucal.
A eficácia dessas campanhas depende diretamente da participação ativa da comunidade, da intersetorialidade entre saúde,
educação e assistência social, e do comprometimento
dos profissionais de saúde. Quando realizadas de forma pontual e
desarticulada, sem continuidade ou avaliação, as campanhas perdem força e se
limitam a ações isoladas. Por isso, é fundamental que sejam integradas a
políticas públicas mais amplas, como a Política Nacional de Saúde Bucal (Brasil
Sorridente), e articuladas com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS),
que preconiza a universalidade, a integralidade e a equidade do atendimento.
No campo da educação em saúde, o uso de metodologias participativas, linguagem
acessível e materiais adaptados ao público-alvo são fatores que potencializam o
impacto das campanhas. Dinâmicas lúdicas com crianças, rodas de conversa com
adolescentes, oficinas com gestantes e atividades de sensibilização em
ambientes de trabalho são exemplos de abordagens que favorecem a adesão e o
engajamento dos participantes.
Além disso, a inserção das tecnologias de informação e comunicação (TICs), como redes sociais,
vídeos educativos, podcasts e aplicativos de monitoramento da higiene oral, tem
ampliado o alcance e a eficiência das campanhas, especialmente entre jovens e
adultos conectados digitalmente. Essas ferramentas permitem disseminar conteúdo
de qualidade, combater desinformações e promover a autoconsciência sobre
práticas de saúde.
Por fim, é importante ressaltar que as campanhas de educação preventiva em saúde bucal não devem ser vistas como substitutas do atendimento clínico, mas sim como complementares e integradas à atenção odontológica contínua. Elas cumprem o papel de despertar o interesse, ampliar o conhecimento e modificar comportamentos, mas o
acompanhamento periódico com o cirurgião-dentista é indispensável para a
manutenção da saúde bucal ao longo da vida.
Em síntese, as campanhas de saúde e educação preventiva são
instrumentos poderosos na promoção da saúde bucal, ao aliarem informação,
mobilização social e ação comunitária. Seu impacto positivo é amplificado
quando articuladas a políticas públicas, conduzidas com metodologias eficazes e
comprometidas com a inclusão, a escuta e o respeito às realidades locais.
Investir nessas campanhas é investir na construção de uma sociedade mais
consciente, saudável e participativa.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica: Saúde Bucal. Brasília: MS, 2006.
BRASIL. Ministério da
Saúde. Política Nacional de Saúde Bucal:
Brasil Sorridente. Brasília: MS, 2015.
CAMPOS, G. W. S.; GUIMARÃES JUNIOR, M. H. Atenção primária e promoção da saúde no SUS.
São Paulo: Hucitec, 2018.
PIRES, F. R.; SERPA, R. O. Patologia Bucal na Prática Clínica. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2015.
FREIRE, M. C. M.; AQUINO, E. C.; CASTRO, R. D. Promoção da saúde bucal: práticas e
reflexões. São Paulo: Santos, 2014.
Condutas éticas no atendimento ao paciente com lesão
bucal
A ética profissional é um dos pilares fundamentais no
exercício da Odontologia e está diretamente relacionada à qualidade do cuidado,
ao respeito à dignidade humana e à responsabilidade técnica e moral do
profissional diante do paciente. No contexto do atendimento a pacientes com
lesões bucais, as condutas éticas
ganham relevância especial, considerando o potencial impacto físico,
psicológico e social que essas alterações podem provocar, bem como a
necessidade de um olhar sensível, técnico e respeitoso diante de situações que,
muitas vezes, causam dor, medo ou constrangimento.
Lesões bucais podem ter diversas origens: infecciosas,
inflamatórias, traumáticas, autoimunes, neoplásicas, ou ainda serem
manifestações de doenças sistêmicas. Em todos os casos, a abordagem ética no atendimento deve começar com o acolhimento
humanizado, pautado na escuta ativa, no respeito à individualidade do
paciente e na comunicação clara, sem julgamentos ou estigmas. O profissional
deve criar um ambiente de confiança, no qual o paciente se sinta seguro para
relatar seus sintomas, hábitos de vida e possíveis fatores desencadeantes da
lesão.
A confidencialidade das informações é outro princípio ético essencial. Dados clínicos, fotos, exames e relatos obtidos
durante a consulta devem ser mantidos em sigilo, salvo
quando o paciente autorizar expressamente sua divulgação, ou em casos previstos
por lei. O uso de imagens de lesões para fins didáticos, científicos ou
publicitários exige consentimento formal do paciente, conforme determina o
Código de Ética Odontológica.
Durante a anamnese e o exame clínico, o profissional deve
manter postura respeitosa, evitando exposição desnecessária, atitudes invasivas
ou linguagem técnica que possa gerar confusão ou insegurança. Explicar cada
etapa do exame, os motivos da investigação e os encaminhamentos propostos é
parte do dever ético de informar
adequadamente o paciente, garantindo sua autonomia e direito de decisão
sobre o próprio tratamento.
A autonomia do paciente também se expressa na possibilidade
de aceitar ou recusar procedimentos,
desde que esteja devidamente esclarecido sobre as consequências de sua decisão.
O cirurgião-dentista não deve impor condutas, nem omitir informações para
persuadir o paciente. A prática do consentimento informado é, portanto, uma
exigência ética e legal que deve ser respeitada em todos os atendimentos,
especialmente quando há necessidade de biópsia, prescrição de medicamentos,
cirurgias ou encaminhamentos para outras especialidades.
Outro aspecto fundamental da conduta ética é o reconhecimento dos limites profissionais.
Ao se deparar com uma lesão de natureza complexa, persistente ou que não
responde aos tratamentos convencionais, o cirurgiãodentista tem o dever ético
de encaminhar o paciente a um especialista, como o estomatologista, o cirurgião
bucomaxilofacial ou o patologista oral. A insistência em conduzir um caso sem o
devido preparo pode configurar imprudência, negligência ou imperícia — condutas
que não apenas violam o código de ética, mas também podem acarretar
responsabilização civil, administrativa e penal.
As condutas éticas no atendimento a pacientes com lesões
bucais também incluem a prevenção da
iatrogenia, ou seja, a adoção de medidas que evitem causar danos durante a
investigação e o tratamento. Isso implica cuidado na manipulação da lesão,
escolha criteriosa de terapias, prescrição responsável de medicamentos e
acompanhamento contínuo da evolução clínica.
Ética também é agir com empatia e sensibilidade, especialmente quando a lesão bucal afeta a estética facial, a comunicação, a alimentação ou a autoestima do paciente. Muitas pessoas com lesões visíveis ou dolorosas sentem vergonha, medo de
discriminação ou retraimento social. O profissional deve estar atento a esses
aspectos e, sempre que necessário, orientar ou encaminhar o paciente para
suporte psicológico ou atendimento multiprofissional, respeitando sua condição
emocional e sua integridade.
Outro princípio ético importante é o da justiça e equidade, que orienta o
profissional a tratar todos os pacientes com igualdade, sem discriminação de
origem, condição social, raça, credo, identidade de gênero ou qualquer outro
fator. No atendimento público ou privado, deve-se garantir o melhor cuidado
possível dentro das possibilidades técnicas e estruturais disponíveis, com
responsabilidade e zelo.
Por fim, a conduta ética também inclui a atualização profissional contínua,
requisito essencial para oferecer ao paciente um atendimento baseado em
evidências científicas, seguro e de qualidade. O desconhecimento técnico não
exime o profissional de suas responsabilidades éticas. Buscar formação
continuada, acompanhar avanços na literatura especializada e participar de
espaços de troca de saberes são compromissos permanentes com a ética no
exercício da Odontologia.
Em conclusão, o atendimento ao paciente com lesão bucal
exige não apenas conhecimento técnico, mas também sensibilidade,
responsabilidade e ética profissional. As condutas éticas fortalecem a relação
de confiança entre profissional e paciente, contribuem para o sucesso
terapêutico, previnem conflitos e reafirmam o compromisso da Odontologia com o
cuidado humano, integral e digno.
BRASIL. Lei nº 5.081, de 24 de agosto de 1966. Dispõe sobre
o exercício da Odontologia. Diário Oficial da União, Brasília, 1966.
CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA. Resolução CFO nº 118, de
11 de maio de 2012. Aprova o Código de Ética Odontológica.
SILVA, A. L. P.; MENDES, R. M. P.; FREITAS, A. C. Lesões Bucais: Diagnóstico e Condutas
Clínicas. São Paulo: Santos, 2016.
CARRARD, V. C.; HAAS, A. N. Manual de Diagnóstico em Patologia Bucal. Porto Alegre: Artmed,
2014.
PIRES, F. R.; SERPA, R. O. Patologia Bucal na Prática Clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
Acesse materiais, apostilas e vídeos em mais de 3000 cursos, tudo isso gratuitamente!
Matricule-se AgoraAcesse materiais, apostilas e vídeos em mais de 3000 cursos, tudo isso gratuitamente!
Matricule-se Agora