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Básico em Logoterapia

 BÁSICO EM  LOGOTERAPIA

 

 

 

Sentido no Trabalho e nas Relações Interpessoais

 

A busca por sentido é uma necessidade existencial profunda do ser humano. Conforme desenvolveu Viktor Emil Frankl, criador da Logoterapia, essa busca constitui a motivação central da vida. Não se trata de uma aspiração filosófica abstrata, mas de um anseio concreto que se manifesta nas situações cotidianas, especialmente nas esferas do trabalho e das relações interpessoais. Ambos os domínios oferecem ao indivíduo oportunidades genuínas de autorrealização e engajamento com valores que conferem significado à existência.

O trabalho como via de sentido

Na Logoterapia, o trabalho é compreendido como uma das principais formas de realização do sentido da vida. Frankl afirma que o ser humano se realiza, em grande parte, por meio do que cria, constrói, oferece ou transforma. Não se trata apenas da atividade profissional no sentido tradicional, mas de toda ação orientada por um propósito e por valores que extrapolam o simples cumprimento de tarefas.

O trabalho, quando conectado a um valor maior, se transforma em uma experiência de autotranscendência, ou seja, um movimento em que o indivíduo deixa de agir exclusivamente em função de si mesmo e passa a se vincular ao mundo de maneira mais ampla. É nesse processo que o sujeito descobre um “para quê” que justifica seus esforços e atribui dignidade à sua atividade. Mesmo em profissões consideradas simples ou repetitivas, é possível encontrar sentido quando há consciência de que aquela função beneficia alguém, atende a uma necessidade ou contribui para o bem comum.

Contudo, o trabalho também pode ser fonte de frustração existencial quando é percebido como mecânico, desprovido de propósito ou incoerente com os valores pessoais. Nesses casos, a Logoterapia convida o sujeito a reexaminar sua atitude frente ao trabalho. Em muitos contextos, não é possível mudar imediatamente de função ou de emprego, mas é possível mudar o modo de se relacionar com a atividade, resgatando o valor que ela pode ter para si ou para os outros. A liberdade interior, conceito-chave da Logoterapia, permite essa ressignificação.

Frankl afirma que a realização no trabalho está menos associada ao sucesso externo e mais vinculada à conexão com o sentido interno da tarefa. A pessoa encontra satisfação não apenas no que recebe como retorno, mas no que entrega como contribuição. Assim, o trabalho deixa de ser apenas uma fonte de sustento e passa a ser vivenciado

como retorno, mas no que entrega como contribuição. Assim, o trabalho deixa de ser apenas uma fonte de sustento e passa a ser vivenciado como expressão de uma missão.

Relações interpessoais e sentido da existência

Outro pilar essencial da Logoterapia é a realização do sentido por meio das relações humanas. Frankl considera o amor como uma das vias mais elevadas de acesso ao sentido da vida. Ao amar verdadeiramente, o indivíduo reconhece o outro como um ser único, digno de atenção e cuidado. O amor autêntico não se limita ao afeto romântico, mas se estende à empatia, ao respeito, à solidariedade e à capacidade de estar presente na vida do outro.

Nas relações interpessoais, o ser humano tem a oportunidade de transcender os próprios interesses e se engajar em vínculos que favorecem o crescimento mútuo. Cada relação significativa — seja com familiares, amigos, colegas de trabalho ou até mesmo com desconhecidos — representa uma ocasião de encontro existencial. Nesse encontro, a escuta, a compreensão, o diálogo e o acolhimento tornam-se formas concretas de realizar valores de vivência.

A Logoterapia também destaca que a forma como o indivíduo se comporta nas relações revela sua postura existencial. Situações de conflito, perda ou frustração não eliminam o potencial de sentido, mas podem, ao contrário, ser momentos-chave para o exercício dos valores de atitude, isto é, a escolha consciente de reagir com ética, compaixão ou dignidade frente a situações difíceis. Mesmo nas experiências mais dolorosas, como um rompimento ou o luto, pode haver crescimento e ressignificação.

Frankl nos lembra que, ao sermos reconhecidos por alguém ou ao reconhecermos o valor de outra pessoa, atualizamos nossa condição humana mais autêntica: a de sermos seres relacionais, que se constroem no diálogo com o mundo e com o outro. Nesse sentido, o amor e a amizade são experiências de sentido não porque anulam o sofrimento, mas porque o iluminam com presença, cuidado e reciprocidade.

Integração entre trabalho e relações

Embora distintos, trabalho e relações interpessoais estão profundamente interligados. Muitas vezes, o trabalho é o espaço onde se estabelecem relações significativas, e as relações são moldadas pelas responsabilidades, expectativas e interações presentes no ambiente de trabalho. A qualidade dessas conexões pode influenciar diretamente o modo como o indivíduo percebe seu papel no mundo e sua experiência de sentido.

A Logoterapia propõe que tanto no trabalho quanto

nas relações, o mais importante não é o contexto em si, mas a atitude do sujeito diante dele. Frankl enfatiza que a vida está constantemente interrogando o ser humano, e cabe a cada um oferecer uma resposta singular, por meio de suas escolhas e posturas. Assim, sentido não é algo que se espera ou se recebe, mas algo que se realiza a cada momento, em ações conscientes e responsáveis.

Portanto, ao viver o trabalho como vocação e as relações como encontro, o indivíduo amplia sua capacidade de autotranscendência e fortalece sua conexão com valores existenciais duradouros. A vida, então, deixa de ser um mero sobreviver e se transforma em um contínuo responder, com liberdade e autenticidade, ao chamado de ser humano em sua plenitude.

Referências Bibliográficas

       Frankl, V. E. (2008). Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.

       Frankl, V. E. (2016). Teoria e terapia das neuroses. Petrópolis: Vozes.

       Fabry, J. B. (1988). A psicoterapia do sentido da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo: Paulinas.

       Pattakos, A. (2010). Em busca de sentido no trabalho: Os ensinamentos de Viktor Frankl para encontrar propósito no dia a dia.

São Paulo: Évora.

       Längle, A. (2003). A logoterapia de Viktor Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.

       Batthyány, A. (2016). Logotherapy and Existential Analysis: Proceedings of the Viktor Frankl Institute Vienna. Springer.

 

 

Enfrentamento de Crises Existenciais

 

As crises existenciais são momentos de ruptura interior que desafiam profundamente o sentido que a pessoa atribui à própria vida. Caracterizamse por dúvidas sobre o propósito da existência, sentimento de vazio, desorientação diante das escolhas e um forte questionamento sobre os próprios valores, identidade e futuro. São experiências universais, que podem ser desencadeadas por eventos marcantes como perdas, doenças, mudanças drásticas, fracassos, envelhecimento ou mesmo por uma sensação de estagnação e falta de propósito. Embora sejam vividas com sofrimento, as crises existenciais também podem se tornar oportunidades valiosas de crescimento e transformação.

A Logoterapia, abordagem psicoterapêutica criada por Viktor Frankl, oferece uma perspectiva singular e profundamente humanista sobre as crises existenciais. Para Frankl, o sofrimento não elimina o sentido da vida. Pelo contrário, muitas vezes é justamente nas situações-limite que o

ser humano é convocado a encontrar um sentido mais profundo para sua existência. A crise, nesse contexto, não é sinal de patologia, mas de humanidade. Ela indica que o indivíduo está confrontando questões essenciais, buscando coerência e autenticidade.

Um dos pontos centrais da Logoterapia é a afirmação de que a vida tem sentido em todas as circunstâncias, mesmo nas mais difíceis. Durante sua permanência em campos de concentração nazistas, Frankl observou que algumas pessoas conseguiam preservar sua dignidade interior e até encontrar significado em meio à dor, enquanto outras sucumbiam ao desespero. Essa constatação deu origem à sua tese de que o ser humano pode resistir à adversidade quando está conectado a um “para quê” – uma razão pela qual continuar vivendo. Em suas palavras, “quem tem um porquê enfrenta qualquer como”.

Nas crises existenciais, é comum o surgimento do chamado vazio existencial, termo cunhado por Frankl para descrever a sensação de falta de sentido e de orientação na vida. Essa condição não é sinônimo de doença, mas pode gerar sofrimento psicológico intenso, como apatia, ansiedade, angústia, e até levar a comportamentos destrutivos. Muitas vezes, o vazio não está ligado à ausência de conforto material ou de relacionamentos, mas à desconexão com valores e metas pessoais que deem sentido à vida.

A Logoterapia atua, nesse cenário, como uma psicoterapia centrada no sentido, cujo objetivo não é eliminar o sofrimento, mas ajudar o indivíduo a encontrar um novo significado para suas experiências. O terapeuta, nesse modelo, não oferece respostas prontas, mas estimula o paciente a assumir uma postura ativa diante da vida, reconhecendo sua liberdade de escolha e sua responsabilidade existencial. A tarefa central é despertar a consciência para o fato de que, mesmo em momentos de crise, ainda é possível dar uma resposta significativa à realidade vivida.

Para Frankl, há três caminhos principais para a realização do sentido da vida, mesmo durante uma crise: os valores de criação, os valores de vivência e os valores de atitude. No contexto de uma crise existencial, os valores de atitude ganham especial importância, pois dizem respeito à forma como a pessoa se posiciona diante de situações que não pode mudar. Mesmo quando se perde o trabalho, a saúde ou uma pessoa querida, ainda resta a liberdade interior de escolher como reagir, com que postura se enfrentará o sofrimento, e como se construirá algo a partir dele.

Outra contribuição importante da

Logoterapia para o enfrentamento das crises é a ideia de que o sofrimento pode ser transformado em missão. A dor não é negada ou minimizada, mas ressignificada. Isso implica olhar para a crise não como um fim, mas como uma travessia – um momento em que antigas certezas se desfazem para que novos significados possam emergir. Esse processo exige coragem, reflexão e abertura para revisar crenças, redescobrir valores e estabelecer novos compromissos com a vida.

As crises existenciais também podem revelar potenciais adormecidos. Ao confrontar-se com o limite, o ser humano é instigado a realizar sua autotranscendência, ou seja, a ultrapassar-se em direção a algo maior que ele mesmo – seja uma causa, um projeto, uma relação ou um valor espiritual. Essa capacidade de sair de si, de doar-se, de encontrar um sentido fora do próprio sofrimento, é uma das mais poderosas ferramentas para superar a crise.

No plano prático, a Logoterapia convida o indivíduo em crise a se perguntar: “O que a vida espera de mim agora?” ou “Que sentido posso dar ao que estou vivendo?”. Essas perguntas não ignoram a dor, mas a iluminam com uma perspectiva de responsabilidade e possibilidade. A crise, então, deixa de ser apenas uma ameaça e passa a ser uma oportunidade de reconstrução.

Em um mundo marcado pela aceleração, pela hiperexposição e pela perda de referenciais éticos e espirituais, as crises existenciais tendem a se tornar mais frequentes. Frente a essa realidade, a Logoterapia propõe uma resposta que valoriza a liberdade, a dignidade e a capacidade do ser humano de fazer escolhas mesmo nas circunstâncias mais adversas. Não se trata de negar o sofrimento, mas de responder a ele com consciência, coragem e compromisso com o sentido da vida.

Referências Bibliográficas

       Frankl, V. E. (2008). Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.

       Frankl, V. E. (2016). Teoria e terapia das neuroses. Petrópolis: Vozes.

       Fabry, J. B. (1988). A psicoterapia do sentido da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo: Paulinas.

       Längle, A. (2003). A logoterapia de Viktor Frankl: Fundamentos e

desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.

       Batthyány, A. (2016). Logotherapy and Existential Analysis: Proceedings of the Viktor Frankl Institute Vienna. Springer.

       Pattakos, A. (2010). Em busca de sentido no trabalho: Os ensinamentos de Viktor Frankl para encontrar propósito no dia a dia. São Paulo:

Évora.

 

A Logoterapia como Recurso em Momentos de Dor

 

A dor, seja ela física, emocional ou existencial, é uma experiência inevitável da condição humana. Ao longo da vida, todos enfrentam perdas, frustrações, rupturas e sofrimentos que, em muitos casos, não podem ser evitados nem totalmente compreendidos. Diante dessas situações, o ser humano se vê desafiado a dar uma resposta, a continuar vivendo mesmo quando tudo parece ruir. É nesse contexto que a Logoterapia, abordagem psicoterapêutica criada por Viktor Emil Frankl, apresenta uma proposta única: ajudar a pessoa a encontrar sentido, mesmo em meio à dor.

Diferente de outras correntes terapêuticas que buscam eliminar ou reprimir o sofrimento, a Logoterapia parte do princípio de que o sofrimento pode ser uma via legítima de realização existencial, desde que seja inevitável. Frankl não propõe que a dor deva ser buscada ou celebrada, mas sim que, quando ela aparece e não pode ser afastada, o ser humano ainda pode exercer sua liberdade e dignidade escolhendo como vai enfrentá-la. A capacidade de dar sentido à dor transforma a experiência de sofrimento em uma oportunidade de crescimento interior.

A base dessa visão está na vivência pessoal de Viktor Frankl nos campos de concentração nazistas. Preso durante a Segunda Guerra Mundial, Frankl perdeu quase toda a sua família, passou fome, foi submetido à tortura e presenciou atrocidades inimagináveis. Mesmo nesse ambiente de desumanização extrema, ele observou que algumas pessoas conseguiam manter sua integridade interior e encontrar razões para continuar vivendo. Essa experiência deu origem à convicção central da Logoterapia: a vida tem sentido em todas as circunstâncias, inclusive na dor.

A Logoterapia oferece três caminhos principais para a realização do sentido: os valores de criação, os valores de vivência e os valores de atitude. Em momentos de dor, os valores de atitude são particularmente importantes, pois dizem respeito à postura interior diante do que não se pode mudar. Mesmo quando se perde algo valioso — a saúde, um ente querido, um emprego ou um projeto de vida —, ainda é possível escolher a forma de reagir. Essa escolha constitui um ato de liberdade espiritual e pode ser profundamente significativa.

Segundo Frankl, entre o estímulo (a dor) e a resposta (a atitude), existe um espaço, e nesse espaço reside a liberdade humana. A Logoterapia trabalha justamente nesse intervalo, ajudando o paciente a tomar consciência de sua capacidade de

resposta. Em vez de se ver como vítima passiva do sofrimento, a pessoa é convidada a assumir uma atitude ativa e responsável, reconhecendo que, mesmo quando tudo é tirado, resta a liberdade de escolher como agir.

Essa abordagem é especialmente eficaz em contextos como luto, doenças crônicas, depressão existencial, traumas e fases de transição da vida. A Logoterapia não oferece soluções mágicas, mas propõe uma mudança de perspectiva: em vez de perguntar "por que isso está acontecendo comigo?", o indivíduo é estimulado a perguntar "o que posso fazer com isso?" ou "que sentido posso dar a essa experiência?". Essas perguntas mobilizam recursos internos, promovem resiliência e abrem espaço para uma reconstrução do sentido perdido.

É importante destacar que a Logoterapia não nega a dor nem a minimiza. Ao contrário, ela reconhece sua gravidade, mas afirma que o ser humano não está condenado a sucumbir diante dela. A atitude tomada frente ao sofrimento pode não apenas mitigar a dor, mas também transformá-la em testemunho de coragem, amor e transcendência. Muitas pessoas, após viverem experiências difíceis, descobrem novas vocações, desenvolvem empatia e se tornam fontes de inspiração para outras.

Além disso, a Logoterapia também considera a dimensão espiritual do ser humano — não no sentido religioso tradicional, mas como a capacidade de se conectar com valores, propósitos e experiências que transcendem a realidade imediata. Essa dimensão permite que o indivíduo encontre sentido mesmo quando todas as demais instâncias — biológica, psicológica e social — estão fragilizadas. É nessa espiritualidade concreta que a Logoterapia fundamenta sua ação diante da dor.

No processo terapêutico, o papel do logoterapeuta é o de facilitador de sentido. Ele não oferece respostas prontas nem interpreta o sofrimento em termos mecânicos. Em vez disso, convida o paciente à reflexão, ao reencontro com seus valores e à redescoberta de sua capacidade de escolher, apesar das circunstâncias. Essa relação terapêutica é construída sobre respeito, empatia e confiança na força interior de cada pessoa.

Em tempos de incerteza, crise e sofrimento coletivo, como em situações de pandemia, guerras ou colapsos pessoais, a Logoterapia se mostra especialmente relevante. Sua proposta de resposta ativa ao sofrimento e de reafirmação da liberdade humana como caminho de sentido oferece não apenas alívio, mas também um horizonte de esperança. A dor não é negada, mas é acolhida como parte da existência

e de reafirmação da liberdade humana como caminho de sentido oferece não apenas alívio, mas também um horizonte de esperança. A dor não é negada, mas é acolhida como parte da existência e transformada em caminho de realização pessoal e existencial.

Referências Bibliográficas

       Frankl, V. E. (2008). Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.

       Frankl, V. E. (2016). Teoria e terapia das neuroses. Petrópolis: Vozes.

       Fabry, J. B. (1988). A psicoterapia do sentido da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo: Paulinas.

       Pattakos, A. (2010). Em busca de sentido no trabalho: Os ensinamentos de Viktor Frankl para encontrar propósito no dia a dia. São Paulo: Évora.

       Längle, A. (2003). A logoterapia de Viktor Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.

       Batthyány, A. (2016). Logotherapy and Existential Analysis: Proceedings of the Viktor Frankl Institute Vienna. Springer.

 

Exercícios de Reflexão sobre o Próprio Sentido

 

A busca por sentido é, segundo Viktor Frankl, uma das forças motivacionais mais profundas do ser humano. Na perspectiva da Logoterapia, a vida nunca deixa de ter sentido, mesmo diante do sofrimento, da dúvida ou da crise. No entanto, muitas vezes, esse sentido não é imediatamente evidente e exige esforço consciente para ser descoberto. É nesse processo de descoberta que os exercícios de reflexão existencial ganham importância, funcionando como ferramentas que ajudam o indivíduo a se reconectar com sua liberdade interior, seus valores e seu propósito de vida.

Frankl não via a Logoterapia apenas como um método psicoterapêutico, mas também como uma filosofia prática de vida. Para ele, refletir sobre o próprio sentido não é algo reservado a momentos de crise ou sofrimento, mas um hábito saudável e necessário, que fortalece a resiliência e o equilíbrio emocional. A reflexão existencial, portanto, pode ser exercitada de modo intencional, por meio de perguntas, atitudes e práticas que estimulem o autoconhecimento e a responsabilidade pessoal.

Um dos exercícios mais conhecidos e valiosos na Logoterapia consiste em inverter a pergunta existencial. Em vez de perguntar “o que espero da vida?”, o sujeito é convidado a refletir: “o que a vida espera de mim?”. Essa mudança de perspectiva retira o indivíduo de uma postura passiva e o coloca em uma posição ativa diante da existência. A vida é compreendida como um chamado

constante, que exige respostas pessoais, éticas e comprometidas. Refletir sobre o que se espera de si em cada situação, em cada etapa da vida, é um primeiro passo essencial para o reencontro com o próprio sentido.

Outro exercício importante consiste em pensar sobre os momentos mais significativos já vividos. Relembrar experiências em que se sentiu útil, conectado, apaixonado, inspirado ou verdadeiramente vivo pode revelar quais valores são centrais para a própria identidade. Ao identificar padrões nessas memórias — como a presença do cuidado com os outros, o compromisso com a justiça, a expressão criativa ou o contato com a natureza —, o indivíduo começa a construir uma narrativa coerente sobre seu percurso existencial.

A Logoterapia também propõe que o sentido da vida se realiza em três dimensões: valores de criação, valores de vivência e valores de atitude. Refletir sobre essas categorias pode orientar a busca por sentido. Perguntas como “O que posso criar ou oferecer ao mundo com meus dons e talentos?”, “Que experiências me permitem vivenciar beleza, amor ou transcendência?” e “Como posso manter minha dignidade e liberdade interior mesmo diante do sofrimento?” são guias poderosos para aprofundar a compreensão do próprio papel no mundo.

Além disso, Frankl valorizava a prática da autotranscendência, ou seja, a capacidade de sair de si mesmo em direção a algo maior. Exercitar essa dimensão significa refletir sobre causas, pessoas ou valores pelos quais se está disposto a viver e até mesmo a sofrer. Perguntar-se “por quem ou pelo que eu seria capaz de abrir mão do meu conforto?” é uma forma de revelar motivações autênticas e profundas. O sentido não está apenas no que se deseja, mas no que se está disposto a entregar e a construir.

A reflexão sobre o sentido também pode ser feita diante da finitude. Frankl frequentemente sugeria um exercício em que a pessoa se imagine no fim da vida, olhando para trás: “O que eu gostaria de ter feito com o tempo que tive?”. Esse tipo de questionamento ajuda a clarear prioridades, ilumina o presente com um senso de urgência e coloca as escolhas cotidianas em perspectiva. A consciência da mortalidade, longe de ser paralisante, pode se tornar um catalisador para uma vida mais significativa e autêntica.

Esses exercícios não requerem técnicas complexas, mas sim uma postura de abertura, silêncio interior e compromisso com a verdade pessoal. Eles podem ser feitos por escrito, em diálogo com alguém de confiança, em momentos

de abertura, silêncio interior e compromisso com a verdade pessoal. Eles podem ser feitos por escrito, em diálogo com alguém de confiança, em momentos de meditação ou simplesmente ao longo do cotidiano, com atenção plena às situações que a vida apresenta. O importante é cultivar uma escuta ativa diante de si mesmo e da existência, reconhecendo que o sentido não é inventado, mas descoberto — e que essa descoberta exige envolvimento contínuo com o mundo e com os próprios valores.

A prática regular da reflexão sobre o próprio sentido pode promover benefícios concretos: aumento da clareza existencial, fortalecimento da resiliência frente a desafios, maior alinhamento entre ações e valores, e uma vida mais coerente e satisfatória. Ao integrar esses exercícios à vida diária, o indivíduo passa a viver de modo mais consciente, menos movido por automatismos ou pressões externas, e mais guiado por aquilo que realmente considera importante.

A Logoterapia, portanto, oferece não apenas uma abordagem terapêutica para situações de sofrimento, mas também um modo de viver baseado no diálogo com o sentido. Refletir continuamente sobre o que a vida nos pede, sobre como respondemos a ela e sobre quem estamos nos tornando a partir dessas respostas é uma das mais nobres tarefas da existência humana. E é justamente nesse exercício diário de consciência e responsabilidade que a liberdade interior se realiza.

Referências Bibliográficas

       Frankl, V. E. (2008). Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.

       Frankl, V. E. (2016). Teoria e terapia das neuroses. Petrópolis: Vozes.

       Fabry, J. B. (1988). A psicoterapia do sentido da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo: Paulinas.

       Längle, A. (2003). A logoterapia de Viktor Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.

       Pattakos, A. (2010). Em busca de sentido no trabalho: Os ensinamentos de Viktor Frankl para encontrar propósito no dia a dia. São Paulo: Évora.

       Batthyány, A. (2016). Logotherapy and Existential Analysis: Proceedings of the Viktor Frankl Institute Vienna. Springer.

 

A Importância do Propósito na Saúde Mental

 

A saúde mental, entendida como o estado de bem-estar emocional, psicológico e social, tem sido amplamente estudada pelas ciências humanas e da saúde. Mais do que a ausência de transtornos, a saúde mental envolve a capacidade de lidar com os desafios da vida, manter relacionamentos

emocional, psicológico e social, tem sido amplamente estudada pelas ciências humanas e da saúde. Mais do que a ausência de transtornos, a saúde mental envolve a capacidade de lidar com os desafios da vida, manter relacionamentos significativos, tomar decisões conscientes e encontrar satisfação na própria existência. Nesse contexto, um elemento cada vez mais reconhecido como central para o equilíbrio emocional é o propósito de vida, ou seja, o sentimento de que a existência possui um significado que orienta as escolhas, os comportamentos e a relação do indivíduo com o mundo. 

A abordagem da Logoterapia, desenvolvida pelo psiquiatra austríaco Viktor Emil Frankl, oferece uma compreensão profunda e pioneira sobre essa relação entre propósito e saúde mental. Para Frankl, o ser humano não é movido primariamente pela busca do prazer (como propunha Freud) ou do poder (como sustentava Adler), mas sim pela vontade de sentido. Ele defende que o vazio existencial, caracterizado por sentimentos de apatia, tédio e desesperança, é um dos grandes males da contemporaneidade, e decorre da perda ou ausência de propósito na vida.

A ausência de propósito é um fator que contribui diretamente para o adoecimento psíquico. Diversas pesquisas apontam que pessoas que não conseguem encontrar um sentido para suas vidas estão mais vulneráveis a estados depressivos, ansiedade, ideação suicida e comportamentos autodestrutivos. Isso ocorre porque o ser humano precisa se sentir pertencente, útil e conectado a algo maior que ele mesmo. O propósito funciona como um eixo organizador da vida psíquica, conferindo direção, estabilidade e motivação.

Por outro lado, quando o indivíduo identifica um propósito, mesmo que ele seja simples ou pessoal, sua capacidade de enfrentamento das dificuldades aumenta consideravelmente. A dor, a perda e as frustrações deixam de ser experiências vazias e passam a ser interpretadas como parte de um processo maior, dotado de significado. Frankl, que sobreviveu aos horrores dos campos de concentração nazistas, constatou que aqueles que conseguiam manter viva a consciência de um propósito — como reencontrar alguém querido, concluir uma tarefa ou testemunhar um valor — tinham mais chances de resistir psicologicamente às condições extremas.

Na prática clínica e terapêutica, promover a conexão do paciente com um propósito é uma estratégia eficaz para fortalecer sua saúde mental. Isso não significa oferecer respostas prontas ou impor um sentido externo, mas

facilitar a redescoberta dos próprios valores, metas e motivações. Muitas vezes, o propósito está adormecido sob camadas de dor, conformismo ou medo, e o trabalho terapêutico consiste em ajudá-lo a emergir como força vital.

Além disso, o propósito contribui para a autotranscendência, um conceito fundamental na Logoterapia que se refere à capacidade de sair de si mesmo em direção a algo ou alguém. Quando a pessoa vive em função de um propósito — seja ele um projeto, uma causa, um valor ou um outro ser humano — ela experimenta um tipo de realização que vai além da mera satisfação pessoal. Essa orientação para fora de si ajuda a combater o isolamento, o egocentrismo e o niilismo, que são fatores associados ao sofrimento psíquico.

A presença de um propósito também está associada à resiliência, isto é, à capacidade de se recuperar emocionalmente diante de adversidades. Em diversas situações de luto, doença ou crise existencial, a descoberta (ou redescoberta) de um propósito tem sido fator determinante na reconfiguração da autoestima e na retomada do sentido de vida. Não se trata de negar a dor, mas de integrá-la a uma narrativa existencial mais ampla, que confere valor ao sofrimento e permite o crescimento interior.

Do ponto de vista social, o propósito de vida também favorece comportamentos mais cooperativos, éticos e comprometidos. Indivíduos que vivem com propósito tendem a se engajar mais em relações saudáveis, em atividades voluntárias e em projetos profissionais significativos. Eles cultivam um senso de responsabilidade que os conecta com a comunidade e com o mundo, o que repercute positivamente em sua saúde mental e bemestar.

Na atualidade, marcada por pressões externas, culto ao desempenho e crises de identidade, o tema do propósito emerge como um antídoto contra o vazio existencial. Em vez de viver à deriva, movido por expectativas alheias ou impulsos imediatistas, a pessoa que vive com propósito encontra um ponto de orientação interna que estrutura sua vida com coerência e autenticidade.

Portanto, compreender e valorizar a importância do propósito na saúde mental é reconhecer que o bem-estar não depende apenas de fatores externos ou da ausência de dor, mas da maneira como o indivíduo se posiciona frente à vida. Ter um propósito é saber por que vale a pena levantar da cama todos os dias. É encontrar uma razão para continuar, mesmo quando tudo parece difícil. É descobrir que, apesar das perdas e limitações, ainda é possível dizer sim à vida — e

fazer disso um ato de liberdade e dignidade.

Referências Bibliográficas

       Frankl, V. E. (2008). Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.

       Frankl, V. E. (2016). Teoria e terapia das neuroses. Petrópolis: Vozes.

       Fabry, J. B. (1988). A psicoterapia do sentido da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo: Paulinas.

       Längle, A. (2003). A logoterapia de Viktor Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.

       Batthyány, A. (2016). Logotherapy and Existential Analysis: Proceedings of the Viktor Frankl Institute Vienna. Springer.

       Wong, P. T. P. (2012). The human quest for meaning: Theories, research, and applications. New York: Routledge.

 

Limites da Abordagem Logoterapêutica

 

A Logoterapia, desenvolvida pelo psiquiatra austríaco Viktor Emil Frankl, é uma abordagem psicoterapêutica centrada na busca de sentido como motivação essencial da existência humana. Fundada sobre uma visão antropológica que integra corpo, psique e espírito, a Logoterapia tem como objetivo ajudar o indivíduo a encontrar um propósito para sua vida, mesmo diante do sofrimento, da perda ou da crise. Embora sua contribuição seja significativa no campo da psicoterapia existencial, é importante reconhecer que, como qualquer abordagem, ela possui limites conceituais, metodológicos e práticos.

Um dos primeiros limites a considerar está relacionado ao alcance clínico da Logoterapia. A proposta de Frankl é particularmente eficaz em situações que envolvem crises existenciais, luto, doenças terminais, vazio existencial ou busca de sentido. No entanto, a Logoterapia não se propõe como tratamento exclusivo ou suficiente para transtornos mentais graves, como esquizofrenia, transtornos psicóticos, transtornos de personalidade severos ou quadros depressivos com prejuízos cognitivos significativos. Nesses casos, é necessário um tratamento multidisciplinar que envolva medicamentos, psicoterapia comportamental, intervenções psiquiátricas e suporte psicossocial.

Outro limite da Logoterapia diz respeito à sua ênfase na liberdade e responsabilidade do indivíduo, que embora seja um pilar de sua força filosófica, pode não ser plenamente compreendido ou acessado por todos os pacientes. Em situações de sofrimento psíquico intenso, muitas pessoas não se sentem em condições de tomar decisões ou refletir sobre valores e propósitos. Nesses casos, o risco é que a abordagem seja

percebida como excessivamente exigente, levando a sentimentos de culpa ou inadequação por parte do paciente que não consegue, naquele momento, encontrar sentido em sua experiência.

Além disso, a Logoterapia se baseia em uma concepção espiritual do ser humano, entendida não como religiosidade, mas como uma dimensão capaz de buscar significados, transcender e se responsabilizar. Embora essa concepção amplie a compreensão da existência, ela pode entrar em conflito com visões mais materialistas, deterministas ou neurobiológicas da psicologia, especialmente em contextos acadêmicos ou clínicos onde se privilegiam abordagens empíricas e quantitativas. A subjetividade do conceito de “sentido” também dificulta sua mensuração e avaliação sistemática, o que limita sua aceitação em modelos de saúde baseados em evidências rigorosas.

Outro ponto crítico é que a Logoterapia não oferece instrumentos técnicos padronizados tão amplamente reconhecidos quanto outras abordagens psicoterapêuticas, como a terapia cognitivo-comportamental, por exemplo. Embora conte com métodos como a intenção paradoxal, a modificação de atitudes e a dessensibilização existencial, esses recursos não têm o mesmo corpo de validação científica que outras intervenções psicoterapêuticas. Isso não significa que sejam ineficazes, mas que a abordagem ainda carece de maior sistematização e investigação empírica no campo da psicologia clínica contemporânea.

Além dos aspectos técnicos, há também limites culturais e contextuais. A Logoterapia é fundamentada em pressupostos de liberdade individual, responsabilidade pessoal e autotranscendência, que refletem valores de sociedades ocidentais, democráticas e relativamente individualistas. Em contextos culturais onde prevalecem valores comunitários, hierárquicos ou religiosos muito rígidos, a proposta logoterapêutica pode encontrar resistência ou ter menor aplicabilidade. Nesses casos, a adaptação cultural da abordagem é necessária para que os conceitos de sentido, liberdade e valor sejam compatíveis com a realidade do paciente.

A prática da Logoterapia também exige do terapeuta uma postura ética, empática e profundamente respeitosa, já que o processo de descoberta de sentido é singular e não pode ser imposto. No entanto, esse mesmo processo depende da maturidade do profissional e da sua capacidade de não projetar seus próprios valores ou sentidos sobre o paciente, o que pode ser um desafio, especialmente em situações delicadas como doenças terminais, traumas

severos ou conflitos morais.

Por fim, é importante observar que a Logoterapia não substitui outras formas de intervenção psicológica, mas pode ser integrada a elas de forma complementar. Seu potencial está em ampliar a compreensão do sofrimento humano e oferecer ao paciente uma alternativa existencial diante das crises. No entanto, sua eficácia depende de uma avaliação cuidadosa do perfil do paciente, do momento terapêutico e do contexto clínico em que é aplicada.

Reconhecer os limites da Logoterapia não diminui seu valor, mas permite que sua aplicação seja feita de maneira mais ética, crítica e eficaz. Em uma era marcada por angústias existenciais, mudanças rápidas e perda de referenciais, a proposta de resgatar o sentido da vida se mostra cada vez mais relevante. Contudo, ela deve ser acompanhada de um olhar realista e interdisciplinar, capaz de integrar diferentes saberes em prol do cuidado integral do ser humano.

Referências Bibliográficas

       Frankl, V. E. (2008). Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.

       Frankl, V. E. (2016). Teoria e terapia das neuroses. Petrópolis: Vozes.

       Fabry, J. B. (1988). A psicoterapia do sentido da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo: Paulinas.

       Längle, A. (2003). A logoterapia de Viktor Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.

       Batthyány, A. (2016). Logotherapy and Existential Analysis: Proceedings of the Viktor Frankl Institute Vienna. Springer.

       Wong, P. T. P. (2014). Meaning therapy: Assessments and interventions. In A. Batthyány (Ed.), Logotherapy and Existential Analysis. Springer.

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