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Básico em Logoterapia

 BÁSICO EM LOGOTERAPIA

 

 

Liberdade da Vontade

 

A noção de liberdade da vontade é um dos pilares fundamentais da Logoterapia, abordagem psicoterapêutica desenvolvida por Viktor Emil Frankl. Em contraste com visões deterministas da psicologia e da filosofia que tendem a reduzir o comportamento humano a instintos, traumas ou condições sociais, a Logoterapia afirma que o ser humano é essencialmente livre. Essa liberdade não é absoluta, mas refere-se à capacidade do indivíduo de escolher sua atitude diante das circunstâncias, inclusive diante da dor, do sofrimento e da própria finitude.

A “liberdade da vontade”, para Frankl, é inseparável da dimensão espiritual do ser humano, também chamada de dimensão noética. Trata-se da esfera da consciência, da responsabilidade e da tomada de decisão, por meio da qual o indivíduo pode se posicionar diante das situações da vida de forma consciente, ética e orientada por valores. Essa concepção rompe com as limitações impostas por modelos que explicam o comportamento exclusivamente por fatores biológicos ou inconscientes.

Ao contrário da liberdade concebida como mera ausência de restrições, Frankl propõe uma liberdade interior, profundamente conectada à autonomia moral e existencial. Mesmo que a pessoa esteja submetida a restrições físicas, doenças, traumas ou pressões sociais, ela continua sendo livre no sentido mais essencial: ela pode escolher como responder a essas condições. Essa liberdade de resposta é o que Frankl considera a verdadeira expressão da vontade humana.

Essa perspectiva tornou-se especialmente evidente nas reflexões de Frankl sobre suas experiências nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Em Em busca de sentido, ele narra como alguns prisioneiros, mesmo em situações extremas de sofrimento, conseguiam manter sua dignidade por meio de pequenas atitudes, gestos de solidariedade e escolhas conscientes. A liberdade da vontade, nesse contexto, não é negada pelo sofrimento, mas revelada por ele. O ser humano, mesmo privado de tudo, ainda detém a última das liberdades: a liberdade de escolher sua atitude frente ao destino.

Essa concepção de liberdade desafia interpretações reducionistas do comportamento humano. Para Frankl, o homem não está completamente condicionado nem por seus instintos, como supunha Freud, nem por sua busca de poder, como defendia Adler. Ele é, sobretudo, um ser orientado ao sentido, capaz de transcender as circunstâncias e se autodeterminar. Essa

autodeterminação é justamente a expressão da liberdade da vontade: uma liberdade situada, concreta, vinculada à realidade, mas sempre presente.

Na prática clínica, a Logoterapia parte dessa premissa para estimular o paciente a assumir responsabilidade por suas escolhas. Em vez de vitimizar o indivíduo diante de seus condicionamentos, ela o convida a reconhecer sua capacidade de decisão e a exercer sua liberdade de forma construtiva. Esse processo é essencial para restaurar o senso de dignidade e promover a recuperação do sentido perdido. A Logoterapia não nega os condicionamentos, mas insiste que, entre o estímulo e a resposta, há sempre um espaço de liberdade – um espaço onde reside a essência do ser humano.

A liberdade da vontade também se articula com o conceito de responsabilidade. Para Frankl, ser livre não significa agir sem limites, mas sim estar à altura das escolhas que se faz. Liberdade e responsabilidade são duas faces da mesma moeda. É por isso que ele propôs, simbolicamente, que houvesse uma “Estátua da Responsabilidade” na costa oeste dos Estados Unidos, como contraponto à Estátua da Liberdade na costa leste. A verdadeira liberdade, para ele, é sempre uma liberdade para algo – para assumir um sentido, para responder a um chamado, para realizar valores.

Outro aspecto relevante da liberdade da vontade é que ela não exige condições ideais para ser exercida. Muitas vezes, as pessoas acreditam que só serão livres quando superarem suas limitações, traumas ou obstáculos. No entanto, a Logoterapia ensina que a liberdade já está presente, aqui e agora, na forma como escolhemos pensar, reagir e agir diante das circunstâncias que não escolhemos. Assim, a liberdade não é um privilégio, mas uma possibilidade ontológica de todo ser humano.

Esse conceito também tem profundas implicações éticas e educacionais. Ao reconhecer a liberdade da vontade, a Logoterapia rejeita visões deterministas que isentam o indivíduo de responsabilidade por seus atos. Ao mesmo tempo, ela oferece uma visão esperançosa e afirmativa da condição humana: mesmo em meio ao sofrimento, o homem pode crescer, amadurecer e encontrar significado. A liberdade, nesse contexto, é o fundamento da dignidade humana.

Em suma, a liberdade da vontade é um elemento central da antropologia logoterapêutica. Ela garante ao ser humano a capacidade de não apenas reagir ao mundo, mas de responder conscientemente a ele, imprimindo sentido à sua existência. Ao afirmar essa liberdade, Frankl resgata a

grandeza do ser humano e propõe uma psicoterapia que não apenas cura sintomas, mas convida à realização existencial por meio da responsabilidade, do compromisso e da escolha consciente.

Referências Bibliográficas

       Frankl, V. E. (2008). Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.

       Frankl, V. E. (2016). Teoria e terapia das neuroses. Petrópolis: Vozes.

       Fabry, J. B. (1988). A psicoterapia do sentido da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo: Paulinas.

       Längle, A. (2003). A logoterapia de Viktor Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.

       Pattakos, A. (2010). Em busca de sentido no trabalho: Os ensinamentos de Viktor Frankl para encontrar propósito no dia a dia. São Paulo: Évora.

       Batthyány, A. (2016). Logotherapy and Existential Analysis: Proceedings of the Viktor Frankl Institute Vienna. Springer.


Vontade de Sentido

 

A vontade de sentido é um dos conceitos centrais da Logoterapia, a abordagem psicoterapêutica desenvolvida por Viktor Emil Frankl. Trata-se da afirmação de que a motivação mais profunda do ser humano não é a busca pelo prazer (como propunha Freud), nem a ânsia por poder (como afirmava Adler), mas sim a necessidade fundamental de encontrar um propósito para a vida. Para Frankl, o homem é essencialmente um ser em busca de sentido, e é a realização desse sentido que lhe proporciona plenitude, saúde mental e dignidade.

A vontade de sentido é, segundo Frankl, uma característica ontológica da existência humana. Ela não é aprendida, adquirida ou condicionada socialmente, mas constitui uma inclinação existencial presente em todas as pessoas. Mesmo que, em certos contextos, ela possa estar obscurecida ou reprimida, a busca por sentido sempre ressurge como um impulso vital. A crise existencial, tão comum nas sociedades contemporâneas, não representa a ausência desse impulso, mas o seu fracasso momentâneo em encontrar um direcionamento concreto.

A diferença entre a vontade de sentido e outras motivações está no seu caráter transcendente. Enquanto o prazer e o poder tendem a ser autocentrados, o sentido é sempre encontrado fora de si mesmo — seja em um trabalho significativo, em um relacionamento afetivo, em um valor cultivado ou até mesmo em uma postura diante do sofrimento. A realização do sentido implica, portanto, em um movimento de autotranscendência, ou seja, a capacidade de sair de si e comprometer-se com

algo que ultrapasse os próprios desejos imediatos.

Na prática terapêutica, Frankl observou que muitos quadros de sofrimento psíquico estavam ligados não a patologias clínicas no sentido tradicional, mas a um vazio existencial decorrente da frustração da vontade de sentido. Esse estado, denominado por ele como neurose noogênica, manifesta-se por meio de sintomas como apatia, tédio, depressão, sensação de inutilidade e desorientação moral. Ao invés de tratar apenas os sintomas, a Logoterapia propõe que o indivíduo seja auxiliado a reencontrar sentido em sua vida, mesmo em meio às adversidades.

Frankl rejeita a ideia de que o sentido da vida seja algo uniforme ou preestabelecido. Pelo contrário, ele sustenta que o sentido é pessoal e situacional, ou seja, ele depende da singularidade de cada pessoa e do contexto específico em que ela está inserida. O que confere sentido à vida de alguém pode não ter valor algum para outra pessoa. Além disso, o sentido da vida não é algo estático: ele muda ao longo do tempo, de acordo com as circunstâncias, fases da vida e desafios enfrentados.

A Logoterapia apresenta três formas principais pelas quais o sentido pode ser realizado: valores de criação, valores de vivência e valores de atitude. Os valores de criação dizem respeito àquilo que o indivíduo produz, constrói ou contribui para o mundo. Os valores de vivência estão relacionados às experiências afetivas, culturais ou espirituais que o indivíduo é capaz de viver intensamente. Já os valores de atitude referem-se à postura adotada diante de situações inevitáveis, como sofrimento, perda ou morte. Frankl destaca que, mesmo quando não é mais possível mudar uma situação, ainda é possível mudar a si mesmo — e é nessa mudança interior que reside um sentido profundo e inalienável.

Um dos pontos mais marcantes da proposta frankliana é a convicção de que todo sofrimento pode ser transformado em sentido, desde que o indivíduo compreenda sua liberdade interior de escolher uma atitude diante da dor. Essa afirmação, longe de romantizar o sofrimento, reconhece sua inevitabilidade e propõe uma resposta ética e consciente diante dele. Assim, a vontade de sentido não se expressa apenas em momentos de plenitude, mas também — e talvez principalmente — nas horas mais difíceis da existência.

A vontade de sentido é também o fundamento da liberdade humana. Para Frankl, a liberdade não é apenas a possibilidade de escolha, mas a capacidade de se comprometer com algo significativo. O homem é

livre, mas essa liberdade exige responsabilidade. A vontade de sentido, nesse sentido, funciona como bússola moral, orientando as escolhas e ações humanas para direções que transcendam o hedonismo e o egoísmo.

Em um mundo cada vez mais marcado pelo materialismo, pela aceleração do tempo e pela desintegração de vínculos simbólicos, a proposta da Logoterapia permanece atual. Ao colocar o sentido da vida no centro da experiência humana, Frankl oferece uma resposta profunda ao vazio existencial que atinge muitas pessoas. A vontade de sentido, quando reconhecida e cultivada, torna-se uma força vital que permite ao ser humano enfrentar os desafios da existência com coragem, lucidez e dignidade.

Referências Bibliográficas

       Frankl, V. E. (2008). Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.

       Frankl, V. E. (2016). Teoria e terapia das neuroses. Petrópolis: Vozes.

       Fabry, J. B. (1988). A psicoterapia do sentido da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo: Paulinas.

       Pattakos, A. (2010). Em busca de sentido no trabalho: Os ensinamentos de Viktor Frankl para encontrar propósito no dia a dia. São Paulo: Évora.

       Längle, A. (2003). A logoterapia de Viktor Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.

       Batthyány, A. (2016). Logotherapy and Existential Analysis: Proceedings of the Viktor Frankl Institute Vienna. Springer.

 

Sentido da Vida

 

O sentido da vida é uma das questões mais antigas, profundas e universais da existência humana. Desde os primórdios da civilização, filósofos, teólogos, artistas e pensadores têm buscado compreender por que vivemos, para que vivemos e qual é o valor da nossa existência. No campo da psicologia, poucos autores trataram desse tema com tanta profundidade quanto Viktor Emil Frankl, criador da Logoterapia. Para ele, o sentido da vida não é apenas uma questão filosófica abstrata, mas uma necessidade psicológica concreta, cuja realização está intimamente ligada à saúde mental, ao bem-estar e à dignidade humana.

A Logoterapia parte da premissa de que o ser humano é essencialmente um ser em busca de sentido. Essa busca não é secundária, nem opcional. Ela constitui a motivação fundamental da existência. Quando a pessoa não encontra um sentido para sua vida, ela tende a desenvolver o que Frankl chama de “vazio existencial”, um estado marcado por apatia, desorientação, angústia e, em muitos casos, depressão. Essa

ausência de sentido é frequentemente percebida em sociedades modernas, onde o materialismo, o individualismo e a perda de valores coletivos têm fragilizado os referenciais que tradicionalmente sustentavam a vida humana.

Para Viktor Frankl, o sentido da vida não é algo genérico, fixo ou universal. Cada ser humano possui um sentido único, que está vinculado à sua individualidade, à sua situação concreta e às suas circunstâncias existenciais. Dessa forma, o sentido da vida não é inventado, mas descoberto — e essa descoberta exige sensibilidade, escuta interior e uma postura de abertura ao mundo. É por isso que Frankl diz que a vida questiona o ser humano a todo momento, e não o contrário. Cabe a cada pessoa responder às exigências da existência com liberdade, responsabilidade e autenticidade.

A realização do sentido se dá, segundo a Logoterapia, por meio de três vias principais: valores de criação, valores de vivência e valores de atitude. Os valores de criação se manifestam quando o indivíduo realiza obras, cumpre tarefas ou contribui com algo significativo para o mundo. Os valores de vivência estão ligados à experiência do amor, da beleza, da arte e da natureza.

Já os valores de atitude dizem respeito à postura adotada diante de situações intransponíveis, como o sofrimento inevitável, a doença ou a morte. Mesmo quando não é possível mudar as circunstâncias externas, o ser humano ainda pode escolher a forma como se posiciona diante delas — e essa escolha pode ser carregada de sentido.

Essa dimensão ética do sentido da vida é um aspecto distintivo da Logoterapia. Frankl rejeita qualquer concepção reducionista do ser humano. Para ele, não somos meramente determinados por instintos, traumas ou pressões sociais. Somos livres e responsáveis. E é justamente essa liberdade interior que nos permite dar sentido ao sofrimento, transformar a dor em crescimento e fazer da própria vida uma resposta significativa aos desafios que enfrentamos. O sentido, portanto, não é sinônimo de felicidade ou sucesso, mas de realização existencial — ou seja, de viver de forma coerente com os valores mais profundos que nos habitam.

O sentido da vida, na visão frankliana, não exclui a espiritualidade, mas também não depende dela em termos religiosos. Embora a dimensão espiritual seja essencial para a Logoterapia, ela é compreendida como uma capacidade humana de transcendência, de abertura ao outro, à alteridade e à totalidade da existência. O sentido pode estar presente tanto em um

compromisso religioso quanto em uma causa social, em um gesto de amor, em uma escolha ética ou em uma entrega silenciosa a algo que se considera maior que si mesmo.

É importante destacar que o sentido da vida não é encontrado apenas nos grandes feitos, mas também nas pequenas ações cotidianas. Um gesto de cuidado, uma palavra amiga, uma atitude honesta, uma decisão difícil tomada com coragem — tudo isso pode ser expressão de um sentido profundo. O que torna uma vida significativa não é sua grandiosidade, mas a maneira como ela é vivida. Nesse sentido, o sentido da vida está sempre ao alcance de quem se dispõe a viver com consciência e responsabilidade.

Frankl enfatiza que ninguém pode ser substituído no cumprimento do seu próprio sentido. Cada pessoa é insubstituível, e cada momento da vida representa uma oportunidade única de realização. Isso implica um chamado contínuo à autenticidade e ao comprometimento com a própria existência. A vida, segundo Frankl, nunca deixa de ter sentido — mesmo diante da dor, da perda ou da morte. Cabe ao ser humano manter a postura de quem busca, de quem responde e de quem se responsabiliza por sua própria trajetória.

Em tempos de crise, desorientação e perda de referenciais éticos, a proposta da Logoterapia ressurge como uma luz que aponta para a possibilidade de reconstrução de sentido. Ela não oferece respostas prontas, mas propõe um caminho de descoberta, compromisso e reflexão. O sentido da vida não é um luxo, mas uma urgência existencial. E sua realização é o que permite ao ser humano viver com dignidade, coragem e esperança, mesmo em meio às incertezas da condição humana.

Referências Bibliográficas

       Frankl, V. E. (2008). Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.

       Frankl, V. E. (2016). Teoria e terapia das neuroses. Petrópolis: Vozes.

       Fabry, J. B. (1988). A psicoterapia do sentido da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo: Paulinas.

       Längle, A. (2003). A logoterapia de Viktor Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.

       Pattakos, A. (2010). Em busca de sentido no trabalho: Os ensinamentos de Viktor Frankl para encontrar propósito no dia a dia. São Paulo: Évora.

       Batthyány, A. (2016). Logotherapy and Existential Analysis: Proceedings of the Viktor Frankl Institute Vienna. Springer.

 

 Valores de Criação, Vivência e Atitude

 

A Logoterapia, abordagem psicoterapêutica criada por

Viktor Emil Frankl, é estruturada sobre a convicção de que a busca pelo sentido da vida é a motivação mais profunda do ser humano. Para Frankl, a existência humana só se realiza de forma plena quando a pessoa se engaja em algo que vá além de si mesma, transcendendo seus desejos imediatos e conectando-se com valores que dão sentido à sua experiência. Esses valores são as vias pelas quais o ser humano encontra e realiza o sentido de sua vida. Frankl propõe três categorias fundamentais para essa realização: os valores de criação, os valores de vivência e os valores de atitude.

Valores de Criação

Os valores de criação dizem respeito àquilo que o indivíduo produz, constrói ou contribui para o mundo. Eles estão relacionados à atividade, à produtividade e à realização de algo significativo, seja no âmbito profissional, artístico, científico, social ou familiar. Quando uma pessoa realiza uma obra, inicia um projeto, educa um filho, ajuda alguém ou transforma uma ideia em ação concreta, ela está manifestando valores de criação.

Esses valores ressaltam a capacidade do ser humano de deixar uma marca no mundo. Não se trata apenas de trabalho remunerado, mas de toda forma de expressão criativa ou contributiva. Frankl destaca que a realização de sentido por meio dos valores de criação fortalece a autoestima, pois permite que a pessoa perceba sua própria utilidade e impacto sobre o meio. Mesmo tarefas simples e cotidianas, quando feitas com dedicação e propósito, podem ser fontes de sentido.

Entretanto, Frankl alerta que o sentido da vida não pode ser reduzido apenas ao fazer. Há situações em que a pessoa não consegue mais produzir — por doença, velhice ou limitações diversas — e, mesmo assim, sua vida continua tendo valor. É por isso que os valores de criação representam apenas uma das formas possíveis de realização do sentido, não sendo exclusivas ou superiores às demais.

Valores de Vivência

Os valores de vivência estão ligados à capacidade de experienciar profundamente o mundo, o outro e a si mesmo. Eles se realizam quando a pessoa se abre para vivenciar o amor, a beleza, a natureza, a arte, a cultura, a amizade e a espiritualidade. Ao contemplar um pôr do sol, escutar uma música com sensibilidade ou compartilhar um momento afetivo genuíno, o ser humano toca dimensões que enriquecem sua existência e revelam aspectos essenciais de seu mundo interior.

Para Frankl, a experiência do amor é a mais elevada forma de realização dos valores de vivência. Através do

amor, o indivíduo não apenas reconhece o valor do outro, mas também o ajuda a se desenvolver. O amor permite ver além da aparência, alcançar a essência da pessoa amada e encontrar sentido no simples fato de existir em relação. Diferente do prazer momentâneo, os valores de vivência estão enraizados na presença, na escuta e na sensibilidade.

Esses valores também são fundamentais em situações em que a ação é limitada. Uma pessoa acamada, por exemplo, ainda pode viver o sentido da vida ao ser tocada pelo afeto de quem cuida dela, ao se emocionar com um poema ou ao recordar com ternura um momento passado. A vivência significativa não depende de grandes acontecimentos, mas da qualidade da atenção e da profundidade da experiência.

Valores de Atitude

Os valores de atitude constituem, segundo Frankl, a forma mais elevada de realização do sentido da vida, pois dizem respeito à postura interior que o indivíduo adota diante de situações que não pode modificar. Em contextos de sofrimento inevitável, perdas irreparáveis ou limitações impostas pela existência, a única liberdade que resta é a de escolher a atitude com a qual se enfrenta a realidade. Essa escolha é profundamente significativa.

Frankl observou, nos campos de concentração onde esteve preso, que alguns prisioneiros, mesmo em meio à degradação e à dor, conseguiam preservar a dignidade, a esperança e a solidariedade. Esses exemplos revelam o poder da atitude frente ao destino. A maneira como se sofre, como se suporta, como se perdoa ou como se resiste é, muitas vezes, a única forma que resta ao ser humano de realizar sentido — e ela é profundamente transformadora.

Os valores de atitude são especialmente relevantes em situações extremas, como doenças terminais, luto, fracassos ou injustiças. Mesmo nessas circunstâncias, a Logoterapia afirma que a vida não perde o seu sentido, pois sempre há espaço para uma resposta livre e responsável. Essa resposta não apaga a dor, mas a ressignifica, conferindo-lhe um lugar na trajetória existencial do sujeito.

Frankl destaca que é justamente essa dimensão da atitude que fundamenta a dignidade humana. O ser humano não é apenas o produto do que lhe acontece; ele é também aquilo que escolhe ser, mesmo diante do incontrolável. O sofrimento, portanto, não é um obstáculo absoluto à realização do sentido, mas pode tornar-se um caminho legítimo de crescimento e de testemunho da liberdade interior.

Integração dos Valores

Os três tipos de valores propostos por Frankl —

criação, vivência e atitude — não são excludentes. Pelo contrário, eles se complementam e se integram ao longo da vida. Em diferentes momentos e contextos, o sentido poderá ser encontrado mais intensamente por meio de uma ou outra via, dependendo das possibilidades, das escolhas e das circunstâncias de cada pessoa. A tarefa existencial consiste em reconhecer qual valor é possível realizar no presente e responder a esse chamado com liberdade e responsabilidade.

Essa estrutura valorativa rompe com visões utilitaristas da existência, que reduzem o valor da vida ao desempenho, à produtividade ou ao sucesso material. Ao incluir os valores de vivência e atitude, a Logoterapia amplia a compreensão do sentido, mostrando que a vida humana é valiosa em si mesma, independentemente das condições externas. A existência é sempre uma oportunidade de realização, desde que vivida com consciência e propósito.

Referências Bibliográficas

       Frankl, V. E. (2008). Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.

       Frankl, V. E. (2016). Teoria e terapia das neuroses. Petrópolis: Vozes.

       Fabry, J. B. (1988). A psicoterapia do sentido da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo: Paulinas.

       Längle, A. (2003). A logoterapia de Viktor Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.

       Batthyány, A. (2016). Logotherapy and Existential Analysis: Proceedings of the Viktor Frankl Institute Vienna. Springer.

       Pattakos, A. (2010). Em busca de sentido no trabalho: Os ensinamentos de Viktor Frankl para encontrar propósito no dia a dia. São Paulo: Évora.

 

 

Sofrimento e Superação como Fontes de Sentido

 

O sofrimento, ao longo da história da humanidade, sempre foi percebido como uma experiência dolorosa, indesejada e, muitas vezes, incompreensível. Diversas tradições filosóficas e religiosas buscaram dar sentido à dor, tentando compreendê-la, evitá-la ou transcendê-la. No campo da psicologia, Viktor Emil Frankl, criador da Logoterapia, propôs uma abordagem inovadora e profundamente humana ao sofrimento: para ele, o sofrimento, quando inevitável, pode tornar-se uma fonte legítima e poderosa de sentido.

Essa concepção não busca glorificar ou romantizar a dor, tampouco a transforma em um objetivo em si. Ao contrário, Frankl reconhece a dor como uma das dimensões mais difíceis da existência humana. No entanto, ele também afirma que o ser humano possui a liberdade e a

responsabilidade de escolher sua atitude frente ao sofrimento. E é precisamente essa atitude que pode transformar a dor em algo significativo, dando à experiência um valor existencial profundo.

Frankl desenvolveu essa visão a partir de suas próprias vivências em campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Testemunhou e experimentou privações extremas, perda de entes queridos e desumanização. Ainda assim, observou que algumas pessoas, mesmo em meio ao sofrimento absoluto, mantinham sua dignidade, demonstravam solidariedade e encontravam razões interiores para continuar vivendo. Esse testemunho tornou-se a base empírica e existencial da Logoterapia.

Na obra Em busca de sentido, Frankl argumenta que a vida tem sentido sob quaisquer circunstâncias, inclusive nas mais dolorosas. A condição para que o sofrimento se torne uma fonte de sentido é que ele seja inevitável. Quando o sofrimento pode ser evitado ou superado, a tarefa do ser humano é mudar sua condição. Mas, diante daquilo que não pode ser mudado — uma doença terminal, a morte de um ente querido, uma limitação física irreversível — resta ao indivíduo apenas a liberdade de decidir como reagir. Essa reação, essa escolha de atitude, é onde reside o poder de ressignificação.

A Logoterapia compreende que a superação do sofrimento não se dá apenas pela eliminação da dor, mas também — e muitas vezes principalmente — pela atribuição de significado a ela. Uma pessoa que sofre pode se perguntar: “Para que estou passando por isso? O que posso aprender? O que posso oferecer aos outros a partir dessa experiência?”. Essas perguntas não negam a dor, mas abrem a possibilidade de que ela se inscreva em uma narrativa existencial mais ampla e significativa.

Frankl identifica nessa capacidade de ressignificar a dor o que ele chama de valores de atitude. Esses valores se expressam justamente na postura assumida diante de circunstâncias inevitáveis. Uma pessoa que enfrenta a dor com coragem, que se recusa a se tornar amarga ou ressentida, que escolhe perdoar ou permanecer íntegra diante do sofrimento, está realizando sentido. E essa realização não depende de conquistas externas, mas de uma decisão interior profundamente humana.

A superação, nesse contexto, não significa esquecer ou apagar o sofrimento, mas integrá-lo à própria história de vida como um momento de aprendizado, amadurecimento e transformação. Muitas vezes, são as experiências mais difíceis que revelam a força interior das pessoas, que

apagar o sofrimento, mas integrá-lo à própria história de vida como um momento de aprendizado, amadurecimento e transformação. Muitas vezes, são as experiências mais difíceis que revelam a força interior das pessoas, que despertam valores adormecidos e que motivam ações altruístas. A dor, quando enfrentada com responsabilidade e liberdade, pode tornar-se um impulso para o crescimento humano.

Além disso, a experiência do sofrimento vivido com sentido pode gerar empatia, solidariedade e compromisso com causas maiores. Quantas pessoas, após enfrentarem doenças, traumas ou perdas, decidem dedicar-se a ajudar outros que vivem dores semelhantes? Esse movimento de transcendência é, segundo Frankl, a expressão mais elevada da espiritualidade humana: o autotranscender-se, ou seja, sair de si em direção ao outro, ao mundo, a um valor maior.

A abordagem frankliana, portanto, oferece uma visão realista e esperançosa da dor. Ela reconhece o sofrimento como parte inerente da existência humana, mas também como um solo fértil onde o sentido pode florescer. A

Logoterapia não promete eliminar o sofrimento, mas convida cada pessoa a

descobrir o significado que pode surgir dele. E essa descoberta é o que torna o sofrimento, paradoxalmente, uma via legítima de realização existencial.

Em tempos em que o sofrimento é frequentemente medicalizado, negado ou evitado a qualquer custo, a proposta de Frankl resgata a dimensão ética, espiritual e transformadora da dor. Ela nos lembra que a vida não precisa ser perfeita para ter valor, e que a dignidade humana se revela, com mais clareza, justamente nos momentos em que tudo parece perdido. O sofrimento, longe de ser o fim do sentido, pode ser sua origem mais profunda.

Referências Bibliográficas

       Frankl, V. E. (2008). Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.

       Frankl, V. E. (2016). Teoria e terapia das neuroses. Petrópolis: Vozes.

       Fabry, J. B. (1988). A psicoterapia do sentido da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo: Paulinas.

       Längle, A. (2003). A logoterapia de Viktor Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.

       Pattakos, A. (2010). Em busca de sentido no trabalho: Os ensinamentos de Viktor Frankl para encontrar propósito no dia a dia. São Paulo: Évora.

       Batthyány, A. (2016). Logotherapy and Existential Analysis: Proceedings of the Viktor Frankl Institute Vienna. Springer.

 

O Papel do

Autotranscender-se

 

Um dos conceitos mais originais e centrais da Logoterapia, abordagem psicoterapêutica desenvolvida por Viktor Emil Frankl, é o de autotranscendência. Para Frankl, o ser humano só se realiza plenamente na medida em que é capaz de sair de si mesmo em direção a algo maior: uma causa, uma missão, um valor ou outra pessoa. Esse movimento, chamado de autotranscender-se, é a expressão mais genuína da dimensão espiritual da existência humana e uma via essencial para a descoberta e realização do sentido da vida.

A autotranscendência se manifesta como uma tendência natural da consciência humana de se orientar para fora de si. Ao contrário de correntes psicológicas que colocam o eu no centro da experiência, a Logoterapia propõe que o verdadeiro sentido da vida não é encontrado na introspecção narcisista, mas na abertura ao mundo e ao outro. O ser humano não se realiza ao buscar a própria felicidade diretamente, mas ao comprometer-se com algo que transcenda seus interesses imediatos.

Frankl sustenta que o ser humano é um ser cuja essência está em seu direcionamento. Ele não é um fim em si mesmo, mas um ser que “se ultrapassa” constantemente, e é justamente nessa ultrapassagem que encontra sua dignidade e sua razão de ser. A felicidade, segundo ele, não pode ser perseguida diretamente; ela emerge como subproduto de uma vida orientada ao sentido, de um engajamento genuíno com algo que vá além do próprio ego. Da mesma forma, o autoconhecimento profundo não se atinge por meio da autorreferência constante, mas por meio do envolvimento com o mundo.

No cotidiano, o autotranscender-se se concretiza em diferentes formas: ao cuidar de um filho, ao dedicar-se a uma profissão significativa, ao lutar por uma causa, ao amar alguém profundamente, ao consolar um amigo, ao ajudar um desconhecido, ao contemplar a beleza ou ao manter uma postura ética diante da adversidade. Todas essas ações são manifestações do impulso humano de ir além de si, e de encontrar, nesse movimento, um sentido maior para a existência.

Frankl também associa o autotranscender-se ao conceito de responsabilidade existencial. Como seres livres, os seres humanos são chamados a responder à vida, a agir diante dos desafios e a assumir o dever de realizar o sentido que lhes é proposto em cada situação. Essa responsabilidade não é imposta de fora, mas brota da própria estrutura do ser. Ao transcender-se, o indivíduo responde ao chamado do mundo, torna-se responsável por aquilo que faz com

sua liberdade e participa ativamente da construção do próprio destino.

A capacidade de autotranscendência é, ainda, aquilo que possibilita ao ser humano suportar o sofrimento com dignidade. Em situações de dor, perda ou limitação, a pessoa é convidada a olhar para além do próprio sofrimento e a encontrar um porquê que justifique o como. Esse movimento de ultrapassagem da dor em direção ao sentido é, segundo Frankl, uma das mais elevadas expressões da espiritualidade humana. A atitude frente ao sofrimento, quando orientada pelo autotranscender-se, transforma a dor em experiência significativa.

No campo terapêutico, a Logoterapia tem como uma de suas principais finalidades a ativação da capacidade de autotranscendência no paciente. Em vez de focar unicamente nos sintomas ou nos conflitos internos, a abordagem frankliana estimula o indivíduo a voltar-se para o sentido, a sair do confinamento do ego e a abrir-se para os valores, os outros e a vida. O terapeuta não busca apenas resolver problemas, mas ajudar o paciente a descobrir para que vale a pena viver, mesmo em meio às dificuldades.

O autotranscender-se também tem implicações éticas e sociais. Em uma cultura marcada pelo individualismo, pelo consumismo e pelo culto ao desempenho, a proposta de Frankl oferece um contraponto humanizador. Ao lembrar que a realização pessoal está intrinsecamente ligada à entrega, ao compromisso e ao serviço, a Logoterapia convida à construção de uma sociedade mais empática, solidária e orientada por valores.

A educação, a espiritualidade, o trabalho e os relacionamentos interpessoais são esferas privilegiadas para o exercício da autotranscendência. O professor que se dedica à formação de seus alunos, o profissional que atua com excelência e ética, o voluntário que se compromete com causas sociais, o cuidador que oferece conforto ao doente — todos eles são exemplos concretos de vidas orientadas pelo movimento de superação de si em favor de algo maior.

É importante destacar que o autotranscender-se não anula o eu, nem exige o sacrifício da individualidade. Ao contrário, ao sair de si, o ser humano encontra a si mesmo de maneira mais autêntica. Frankl afirma que quanto mais o indivíduo se esquece de si mesmo ao se doar, mais humano ele se torna, pois realiza sua essência como ser de sentido. Nessa perspectiva, a autotranscendência é simultaneamente um ato de amor, de responsabilidade e de fidelidade à própria vocação existencial.

Assim, o papel do autotranscender-se na

Logoterapia é essencial. Ele é o caminho pelo qual o ser humano descobre seu lugar no mundo, realiza sua liberdade e vive com propósito. Por meio da autotranscendência, a existência deixa de ser um simples sobreviver e passa a ser uma resposta viva, consciente e comprometida ao chamado da vida.

Referências Bibliográficas

       Frankl, V. E. (2008). Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.

       Frankl, V. E. (2016). Teoria e terapia das neuroses. Petrópolis: Vozes.

       Fabry, J. B. (1988). A psicoterapia do sentido da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo: Paulinas.

       Längle, A. (2003). A logoterapia de Viktor Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.

       Pattakos, A. (2010). Em busca de sentido no trabalho: Os ensinamentos de Viktor Frankl para encontrar propósito no dia a dia. São Paulo: Évora.

       Batthyány, A. (2016). Logotherapy and Existential Analysis: Proceedings of the Viktor Frankl Institute Vienna. Springer.

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