BÁSICO EM LOGOTERAPIA
A Logoterapia surgiu no contexto turbulento do século XX, como uma resposta existencial aos dilemas humanos diante do sofrimento, do vazio interior e da busca por sentido na vida. Criada por Viktor Emil Frankl, médico neurologista e psiquiatra austríaco, a Logoterapia é considerada a "terceira escola vienense de psicoterapia", sucedendo a psicanálise de Sigmund Freud e a psicologia individual de Alfred Adler. Ao contrário das abordagens anteriores, centradas respectivamente no instinto sexual e na vontade de poder, a Logoterapia propõe a vontade de sentido como a motivação fundamental da existência humana.
A formação de Viktor Frankl foi profundamente marcada por influências filosóficas e científicas, assim como pelas experiências dramáticas vividas durante a Segunda Guerra Mundial. Frankl sobreviveu aos campos de concentração nazistas, onde perdeu sua esposa, pais e irmãos. Essa vivência extrema levou-o a constatar, de forma prática e visceral, que mesmo nas condições mais adversas, o ser humano pode encontrar razões para continuar vivendo — desde que consiga atribuir algum sentido à sua existência.
O contexto histórico da criação da Logoterapia não pode ser dissociado das crises de valores e paradigmas enfrentadas pelo mundo ocidental no século XX. A Primeira Guerra Mundial, a ascensão dos regimes totalitários, o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial mergulharam a humanidade em profunda angústia e descrença nos modelos tradicionais de orientação existencial. A ciência, que durante séculos foi tida como fonte de progresso e libertação, mostrou-se também capaz de alimentar destruição em massa. Nesse cenário, o ser humano viu-se confrontado com o absurdo, o vazio existencial e a perda de referenciais éticos e espirituais.
É nesse ambiente de colapso de certezas que a Logoterapia emerge como uma proposta de reconstrução do sentido da vida. Influenciada pela tradição fenomenológica e existencial, especialmente por pensadores como Edmund Husserl, Martin Heidegger e Max Scheler, a Logoterapia adota uma visão antropológica integral do ser humano, compreendido em suas três dimensões: física, psíquica e espiritual. Essa última dimensão, chamada por Frankl de “noética”, é o que distingue o ser humano de outros seres vivos e lhe confere a capacidade de transcender a si mesmo, realizar valores e encontrar sentido mesmo diante do sofrimento inevitável.
A noção de sentido na
Logoterapia não é entendida como algo abstrato ou metafísico no sentido tradicional, mas como algo concreto, pessoal e situado no tempo. Frankl sustenta que o sentido da vida não é dado universalmente, mas deve ser descoberto por cada indivíduo, em cada situação particular. Essa concepção se opõe ao niilismo e ao relativismo, e propõe uma ética existencial baseada na responsabilidade individual. Ao invés de perguntar "o que espero da vida?", o ser humano é convocado a se perguntar: "o que a vida espera de mim?".
A Logoterapia também dialoga com correntes filosóficas como o existencialismo, embora mantenha distinções importantes. Enquanto filósofos como Jean-Paul Sartre defendem a liberdade absoluta e a ausência de sentido prévio na existência, Frankl sustenta que a liberdade humana está sempre associada a uma responsabilidade e que, ainda que o sentido da vida não seja pré-definido, ele pode e deve ser descoberto. Para Frankl, o ser humano é livre, mas essa liberdade encontra seus limites éticos no compromisso com um sentido maior do que o próprio ego.
O papel da espiritualidade na Logoterapia é notável.
Contudo, ela não está vinculada a uma doutrina religiosa específica, sendo
compreendida de forma ampla como a capacidade humana de buscar valores,
transcender o sofrimento e conectar-se com algo maior que si mesmo — seja esse
algo
Deus, a humanidade, a arte, a natureza ou uma causa pessoal significativa. Assim, a Logoterapia não se propõe a substituir a religião, mas a oferecer uma base existencial e filosófica para que cada pessoa possa encontrar seu próprio caminho de sentido.
Em resumo, a Logoterapia nasceu do encontro entre a ciência médica, a filosofia existencial e a experiência radical do sofrimento humano. Sua proposta humanista continua atual, especialmente diante dos desafios contemporâneos marcados pela ansiedade, pelo vazio existencial e pela fragilidade dos laços sociais. Em vez de oferecer respostas prontas, a Logoterapia convida à reflexão, à responsabilidade e à busca contínua por significados, resgatando a dignidade do ser humano enquanto agente livre e responsável diante da própria existência.
• Frankl,
V. E. (2008). Em busca de sentido: Um
psicólogo no campo de concentração. Vozes.
• Frankl,
V. E. (2016). Teoria e terapia das
neuroses. Vozes.
• Pattakos,
A. (2010). Em busca de sentido no
trabalho: Os ensinamentos de Viktor Frankl para encontrar propósito no dia a
dia. Évora.
•
Fabry,
J. B. (1988). A psicoterapia do sentido
da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. Paulinas.
• Längle,
A. (2003). A logoterapia de Viktor
Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.
Viktor Emil Frankl, nascido em Viena no dia 26 de março de 1905, foi um médico psiquiatra, neurologista, professor e filósofo austríaco, internacionalmente reconhecido como o fundador da Logoterapia, a chamada terceira escola vienense de psicoterapia. Ao longo de sua vida, Frankl desenvolveu uma abordagem humanista e existencial da psicologia, centrada na busca de sentido como a principal força motivadora do ser humano. Sua trajetória pessoal e intelectual está profundamente marcada por experiências intensas e trágicas, particularmente aquelas vividas durante os anos em que esteve prisioneiro em campos de concentração nazistas.
Desde jovem, Frankl mostrou grande interesse pela psique humana. Durante sua adolescência, manteve correspondência com Sigmund Freud, que chegou a publicar um de seus ensaios. Mais tarde, Frankl se aproximou das ideias de Alfred Adler, porém, também rompeu com esta corrente ao desenvolver sua própria visão antropológica e psicoterapêutica. Ao ingressar na Universidade de Viena para estudar medicina, Frankl aprofundou-se nas áreas de neurologia e psiquiatria, com foco especial em depressão e suicídio. Ainda durante os anos universitários, criou um programa de apoio a jovens estudantes que enfrentavam crises existenciais e pensamentos suicidas, obtendo resultados notáveis na prevenção de mortes.
A maturação de suas ideias foi interrompida abruptamente com a ascensão do regime nazista. Judeu, Frankl foi deportado com sua família para campos de concentração. Passou por Theresienstadt, Auschwitz e Dachau, entre outros. Nessas circunstâncias extremas, presenciou e viveu o sofrimento humano em sua forma mais radical. Perdeu sua esposa, seus pais e seu irmão, restando apenas ele e sua irmã como sobreviventes da tragédia familiar. No entanto, foi nesse ambiente de horror que Frankl percebeu que mesmo diante da dor, da perda e da humilhação, o ser humano ainda é capaz de manter sua dignidade quando encontra um sentido pelo qual viver.
A experiência nos campos de concentração foi decisiva para a consolidação de sua teoria. Em 1946, pouco após o fim da guerra, publicou sua obra mais conhecida, “Em busca de sentido”, um relato autobiográfico que também serve como
introdução à Logoterapia. O livro, traduzido para dezenas de idiomas e com milhões de cópias vendidas, tornou-se uma das obras psicológicas mais influentes do século XX. Nele, Frankl expõe a convicção de que a principal motivação do ser humano é a busca por sentido e que, mesmo em situações limites, é possível encontrar razões para continuar vivendo.
A Logoterapia, nome derivado da palavra grega “logos” (que significa “sentido” ou “significado”), propõe que o sofrimento humano só se torna insuportável quando perde o seu sentido. Ao invés de focar exclusivamente nos traumas, desejos reprimidos ou conflitos de poder, como as abordagens psicanalíticas anteriores, a Logoterapia se fundamenta na capacidade do indivíduo de transcender a si mesmo e assumir responsabilidade diante da própria existência. O terapeuta, nesse modelo, auxilia o paciente a descobrir sentidos possíveis em sua vida, mesmo em contextos de dor, doença ou perda.
Após a guerra, Frankl retomou sua carreira acadêmica e profissional com vigor. Concluiu seu doutorado em filosofia e foi professor na Universidade de Viena por mais de duas décadas. Também lecionou em diversas universidades dos Estados Unidos, como Harvard e Stanford. Recebeu mais de trinta títulos de doutor honoris causa e realizou centenas de conferências ao redor do mundo. Publicou mais de trinta livros, entre os quais se destacam “A presença ignorada de Deus”, “Teoria e terapia das neuroses”, “Psicoterapia e sentido da vida” e “O homem em busca de sentido último”.
Apesar de ser profundamente enraizada em uma visão espiritual do ser humano, a Logoterapia não se vincula a nenhuma religião específica. Frankl sempre defendeu uma postura científica e filosófica rigorosa, buscando integrar o conhecimento psicológico às questões existenciais de forma respeitosa e aberta. Sua contribuição foi pioneira ao introduzir a dimensão espiritual no campo da psicoterapia sem recorrer a dogmas ou proselitismos religiosos.
Viktor Frankl faleceu em Viena no dia 2 de setembro de 1997, aos 92 anos, deixando um legado notável para a psicologia, a filosofia e a humanidade. Sua vida, marcada por sofrimento e superação, tornou-se um testemunho vivo daquilo que ele ensinava: que a existência humana pode ser trágica, mas jamais está destituída de sentido. Até o fim, Frankl manteve sua crença inabalável na dignidade do ser humano e em sua capacidade de encontrar um propósito, mesmo em meio à escuridão.
• Frankl, V. E.
(2008). Em busca de sentido: Um
psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.
• Frankl,
V. E. (2016). Teoria e terapia das
neuroses. Petrópolis: Vozes.
• Fabry,
J. B. (1988). A psicoterapia do sentido
da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo:
Paulinas.
• Pattakos,
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trabalho: Os ensinamentos de Viktor Frankl para encontrar propósito no dia a
dia. São Paulo: Évora.
• Längle,
A. (2003). A logoterapia de Viktor
Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.
• Batthyány,
A. (2009). Viktor Frankl: A biography.
The Viktor Frankl Institute Vienna.
A psicoterapia moderna constitui um campo plural, abrigando diversas escolas, métodos e concepções sobre a natureza humana, suas motivações e caminhos para o equilíbrio emocional. Nesse panorama multifacetado, a Logoterapia, desenvolvida por Viktor Emil Frankl, destaca-se por sua ênfase singular na busca de sentido como núcleo existencial da vida humana. Para compreendê-la plenamente, é essencial situá-la em relação às principais abordagens psicoterapêuticas, especialmente àquelas com as quais compartilha raízes históricas: a Psicanálise, de Sigmund Freud, e a Psicologia Individual, de Alfred Adler.
A Psicanálise, inaugurada por Freud no final do século XIX, parte do pressuposto de que a dinâmica psíquica é regida predominantemente por impulsos inconscientes, sobretudo de natureza sexual (libido). Os conflitos entre esses impulsos e as normas sociais internalizadas (superego) geram angústia e sintomas neuróticos. A cura se daria, portanto, pela conscientização desses conteúdos inconscientes por meio da associação livre, da interpretação dos sonhos e da transferência. Freud via o ser humano como um ser impulsivo, cujas ações são, em grande medida, determinadas por forças psíquicas inconscientes.
Já a Psicologia Individual, proposta por Alfred Adler, desloca o foco da libido para a vontade de poder e para o sentimento de inferioridade, entendido como motor do desenvolvimento humano. Para Adler, o comportamento humano é fortemente influenciado por metas de superioridade, estilo de vida e pela busca por pertencimento social. A ênfase recai sobre a importância dos relacionamentos, da cooperação e da responsabilidade social. Sua abordagem é menos determinista que a de Freud, mas ainda mantém uma visão centrada em motivações
psicossociais e na adaptação ao meio.
A Logoterapia, por sua vez, propõe uma terceira via ao conceber o ser humano como um ente dotado de liberdade e responsabilidade, cuja motivação mais profunda não é o prazer (como para Freud) nem o poder (como para Adler), mas sim a vontade de sentido. Para Viktor Frankl, a principal fonte de sofrimento na modernidade não está nos conflitos instintivos ou na inferioridade social, mas no vazio existencial — uma sensação de falta de propósito que se manifesta com frequência em sociedades materialistas, onde os valores tradicionais se encontram enfraquecidos.
Diferente das abordagens anteriores, que tendem a reduzir o ser humano a componentes biológicos, psíquicos ou sociais, a Logoterapia aposta numa antropologia tridimensional: corpo (biológico), psique (psicológico) e espírito (noético). Esta dimensão espiritual não é compreendida em termos religiosos, mas como a instância da consciência, da liberdade de escolha e da capacidade de transcender a si mesmo. Nesse sentido, a Logoterapia não busca interpretar sintomas apenas à luz do passado, mas instiga o indivíduo a olhar para o futuro, para as possibilidades de realizar valores e descobrir significados, mesmo em contextos adversos.
Outra distinção marcante da Logoterapia está na maneira como o terapeuta se posiciona frente ao paciente. Enquanto na Psicanálise o analista assume uma postura mais neutra e interpreta os conteúdos inconscientes, na Logoterapia o terapeuta atua como um provocador de sentido, alguém que ajuda o paciente a ampliar sua percepção existencial e encontrar significados possíveis para o sofrimento. Trata-se de uma psicoterapia centrada em valores e escolhas, que reconhece a capacidade humana de assumir uma atitude consciente diante das circunstâncias da vida.
Além disso, a Logoterapia é a única abordagem
psicoterapêutica clássica que acolhe
abertamente a espiritualidade como componente legítimo da experiência
humana. Embora não esteja vinculada a nenhuma tradição religiosa específica,
reconhece que muitas vezes a realização de sentido passa por dimensões
existenciais e espirituais que transcendem o material e o imediato. Essa
característica a torna especialmente eficaz em contextos clínicos e
existenciais relacionados à finitude, à dor, ao luto e à busca de propósito.
No campo prático, a Logoterapia também difere em suas técnicas. Ao invés de buscar apenas reinterpretações de eventos passados, ela utiliza recursos como a intenção paradoxal
(inversão de atitudes para neutralizar fobias), a descrença desafiadora (refutação de crenças autolimitantes) e a modificação da atitude frente ao sofrimento inevitável. Essas técnicas são voltadas para fortalecer a autonomia do indivíduo e sua capacidade de resposta ao destino.
É importante ressaltar que a Logoterapia não se opõe às demais correntes, mas se propõe a complementá-las, oferecendo uma abordagem mais abrangente e integrada do ser humano. Sua contribuição reside em devolver à psicoterapia uma dimensão frequentemente negligenciada: o compromisso com a construção de sentido como fator central da saúde psíquica e existencial.
• Frankl,
V. E. (2008). Em busca de sentido: Um
psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.
• Frankl,
V. E. (2016). Teoria e terapia das
neuroses. Petrópolis: Vozes.
• Fabry,
J. B. (1988). A psicoterapia do sentido
da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo:
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Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.
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R. (1998). A descoberta do ser:
Psicoterapia existencial. São Paulo: Cultrix.
• Yalom,
I. D. (1980). Existential Psychotherapy.
New York: Basic Books.
A noção de que o ser humano está constantemente em busca de sentido para sua existência é a premissa central da Logoterapia, abordagem psicoterapêutica criada por Viktor Emil Frankl. Essa concepção se opõe aos modelos tradicionais que identificam as motivações humanas primordiais com o prazer ou com o poder. Para Frankl, o que realmente move o ser humano é a necessidade profunda de encontrar um propósito que justifique sua vida, seus esforços e até mesmo seu sofrimento. Essa vontade de sentido, segundo ele, é a mais básica e genuína das motivações existenciais.
Na visão logoterapêutica, a vida humana não pode ser compreendida apenas por fatores biológicos, psicológicos ou sociais. Ela exige a inclusão de uma dimensão espiritual, ou noética, que diz respeito à consciência, à liberdade e à responsabilidade do indivíduo. É nessa esfera que se manifesta a busca por sentido. Essa motivação, mais do que uma aspiração filosófica ou religiosa, é uma necessidade existencial inata e universal. Todo ser humano, em algum momento, se questiona sobre o “porquê” e o “para quê” de sua existência.
Frankl destaca que o sentido da vida não é algo fixo
ou geral. Pelo contrário, ele é singular, mutável e está sempre vinculado a uma situação concreta. Não se trata de um conceito abstrato, mas de algo que precisa ser descoberto por cada pessoa em sua realidade particular. Por isso, ele afirma que o ser humano não inventa o sentido de sua vida; ele o encontra. E essa descoberta depende de sua abertura interior, de sua capacidade de escuta existencial e de sua disposição para responder às exigências do momento com responsabilidade.
Um dos pilares da Logoterapia é a ideia de que a realização pessoal e a saúde mental estão diretamente ligadas à percepção de um sentido existencial. Quando o indivíduo não consegue encontrar um significado para o que vive, ele pode experimentar um estado de vazio existencial, marcado por apatia, tédio, desorientação e desesperança. Frankl identificou esse quadro como uma das neuroses mais comuns da modernidade, especialmente em contextos onde há excesso de liberdade, mas carência de orientação ética e valores sólidos.
A busca de sentido é, portanto, um impulso que transcende a simples autorrealização. Ela remete à necessidade de conectar-se com algo maior, seja uma causa, uma missão, um valor, um outro ser humano ou uma responsabilidade assumida. Essa orientação para o outro ou para o mundo é o que Frankl chama de autotranscendência: a capacidade de sair de si mesmo para servir a algo ou alguém que nos confere significado. Esse movimento não elimina o sofrimento, mas o torna mais suportável, porque o insere dentro de um contexto existencial.
É nesse ponto que a Logoterapia revela sua originalidade e profundidade. Ao contrário de outras abordagens que procuram eliminar o sofrimento a todo custo, Frankl reconhece que a dor faz parte da condição humana. O que ele propõe é que o sofrimento inevitável pode ser ressignificado, desde que o indivíduo consiga encontrar um “porquê” suficientemente forte. A célebre frase de Nietzsche, amplamente citada por Frankl, resume essa ideia: “Quem tem um porquê para viver, suporta quase qualquer como.”
A prática logoterapêutica não oferece respostas prontas sobre o sentido da vida. Ela estimula o paciente a realizar uma busca ativa, ajudando-o a identificar valores, compromissos e possibilidades de realização. Essa busca pode acontecer por meio de três vias principais: valores de criação, quando o sentido é encontrado naquilo que se produz ou realiza; valores de vivência, quando se vive plenamente uma experiência, um encontro ou uma relação; e
valores de atitude, quando se adota uma postura digna e consciente frente a situações adversas.
Portanto, a busca de sentido não é um luxo filosófico
reservado a momentos de calma ou prosperidade. Pelo contrário, é uma exigência
existencial urgente, especialmente nos momentos de crise, sofrimento ou perda.
A pessoa que compreende a sua vida como dotada de propósito é mais resiliente,
mais capaz de suportar a dor e mais apta a se adaptar às transformações da
existência.
Em tempos marcados por desorientação moral, hiperconsumo e relativismo, a proposta da Logoterapia reacende uma dimensão esquecida da psique humana: a vocação para o sentido. Ela convida o indivíduo a olhar para além de si mesmo, assumir a responsabilidade por sua liberdade e viver de forma autêntica, não apenas reagindo ao mundo, mas respondendo ativamente ao chamado da vida.
• Frankl,
V. E. (2008). Em busca de sentido: Um
psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.
• Frankl,
V. E. (2016). Teoria e terapia das
neuroses. Petrópolis: Vozes.
• Fabry,
J. B. (1988). A psicoterapia do sentido
da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo:
Paulinas.
• Pattakos,
A. (2010). Em busca de sentido no
trabalho: Os ensinamentos de Viktor Frankl para encontrar propósito no dia a
dia. São Paulo: Évora.
• Längle,
A. (2003). A logoterapia de Viktor
Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.
• Batthyány,
A. (2016). Logotherapy and Existential
Analysis: Proceedings of the Viktor Frankl Institute Vienna. Springer.
A Logoterapia, como abordagem psicoterapêutica existencial desenvolvida por Viktor Frankl, propõe uma visão integral do ser humano, que contempla não apenas os aspectos biológicos e psicológicos, mas também uma terceira dimensão: a dimensão espiritual, também chamada por Frankl de noética. Essa concepção se traduz na ideia de que a essência humana não se limita ao corpo e à mente, mas abrange uma instância superior que permite ao indivíduo transcender a si mesmo, tomar decisões conscientes e buscar sentido em sua existência.
A noogênese é o termo utilizado por Frankl para designar o desenvolvimento da dimensão espiritual no ser humano. Derivado do grego noos (espírito ou mente), esse conceito representa a emergência de uma consciência que é capaz de se posicionar diante da vida com liberdade, responsabilidade e
intencionalidade. A noogênese, portanto, não se refere a um processo místico ou sobrenatural, mas sim ao amadurecimento da condição humana em sua plenitude, por meio do reconhecimento e ativação dessa instância existencial mais profunda.
A distinção entre o espiritual e o religioso é fundamental para entender a proposta da Logoterapia. Embora Frankl tenha valorizado o papel da religiosidade na vida de muitos indivíduos, ele jamais reduziu a dimensão espiritual à pertença a uma tradição religiosa específica. A espiritualidade, na concepção logoterapêutica, é uma característica universal da existência humana, presente em todas as pessoas, independentemente de suas crenças ou convicções. Trata-se da capacidade de se posicionar criticamente frente aos instintos, de buscar valores, de fazer escolhas conscientes e de manter a dignidade mesmo diante do sofrimento.
A noogênese, nesse contexto, ocorre na medida em que o indivíduo se distancia das respostas automáticas e reativas determinadas por seus impulsos biológicos ou por condicionamentos psicológicos e sociais, assumindo o controle de sua vida por meio de escolhas éticas e comprometidas com o sentido. Essa emergência da consciência espiritual é o que permite ao ser humano dizer “sim” à vida, mesmo quando confrontado com a dor, a culpa, a perda ou a finitude.
Essa concepção se opõe aos modelos reducionistas das ciências humanas, que muitas vezes restringem o entendimento do comportamento humano a fatores genéticos, ambientais ou psicanalíticos. Para Frankl, qualquer abordagem que ignore a dimensão espiritual está fadada a compreender apenas fragmentos do ser humano. Por isso, ele insistia que o homem não é apenas um ser que "tem" corpo e psique, mas alguém que "é" espírito, e que essa condição espiritual é o que lhe permite ser livre, responsável e orientado ao sentido.
No plano clínico, a Logoterapia entende que muitos sofrimentos psíquicos têm origem não em traumas ou conflitos inconscientes, mas em crises existenciais — que Frankl chamou de neuroses noogênicas. Essas manifestações, como o vazio existencial, a sensação de falta de propósito ou a perda de sentido na vida, não podem ser tratadas apenas com técnicas tradicionais de psicoterapia. Elas exigem uma abordagem que convoque a instância espiritual do paciente e o ajude a reencontrar o significado em sua trajetória. A tarefa do logoterapeuta, nesse caso, é facilitar o processo de noogênese, estimulando o cliente a assumir uma postura ativa diante da
Essas manifestações, como o vazio existencial, a sensação de falta de propósito ou a perda de sentido na vida, não podem ser tratadas apenas com técnicas tradicionais de psicoterapia. Elas exigem uma abordagem que convoque a instância espiritual do paciente e o ajude a reencontrar o significado em sua trajetória. A tarefa do logoterapeuta, nesse caso, é facilitar o processo de noogênese, estimulando o cliente a assumir uma postura ativa diante da própria existência.
Outro ponto essencial da noogênese é a capacidade de autotranscendência. Para Frankl, o ser humano só se realiza na medida em que ultrapassa a si mesmo, voltando-se para algo maior: uma causa, uma missão, um outro ser humano. O paradoxo da condição humana, segundo essa perspectiva, é que o homem só encontra a si mesmo quando se esquece de si mesmo em favor de algo que o transcende. Essa capacidade de se orientar para fora de si é uma característica da dimensão espiritual e constitui o eixo da busca de sentido.
A noogênese também se manifesta na postura frente ao sofrimento. Para Frankl, a liberdade humana não consiste apenas na escolha entre prazeres, mas na forma como o indivíduo decide encarar aquilo que não pode ser mudado. Mesmo nas situações mais adversas, o ser humano mantém intacta sua liberdade espiritual — a liberdade de escolher sua atitude. Essa liberdade, enraizada na dimensão noética, é inalienável e constitui a essência da dignidade humana.
A proposta da Logoterapia é, portanto, uma convocação à maturidade existencial. Ao reconhecer a dimensão espiritual, ela não nega o corpo ou a psique, mas afirma que o ser humano é mais do que seus impulsos, suas emoções ou seus condicionamentos. Ele é um ser capaz de dar sentido à própria vida, de assumir sua história com responsabilidade e de se posicionar eticamente diante do mundo. A noogênese é, nesse sentido, a expressão do florescimento pleno da consciência humana.
• Frankl,
V. E. (2008). Em busca de sentido: Um
psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.
• Frankl,
V. E. (2016). Teoria e terapia das
neuroses. Petrópolis: Vozes.
• Fabry,
J. B. (1988). A psicoterapia do sentido
da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo:
Paulinas.
• Längle,
A. (2003). A logoterapia de Viktor
Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.
• Batthyány, A. (2016). Logotherapy and Existential Analysis: Proceedings of the Viktor Frankl
Institute Vienna. Springer.
• Pattakos,
A. (2010). Em busca de sentido no
trabalho: Os ensinamentos de Viktor Frankl para encontrar propósito no dia a
dia. São Paulo: Évora.
A Logoterapia, abordagem psicoterapêutica desenvolvida por Viktor Emil Frankl, propõe uma compreensão profunda da liberdade humana, não como um fim em si mesmo, mas como um meio para a realização do sentido da vida. Para Frankl, a liberdade não é absoluta nem descompromissada; ela está sempre acompanhada de uma exigência ética: a responsabilidade pessoal. Essa concepção contrasta com visões contemporâneas que exaltam a liberdade como autonomia ilimitada, frequentemente desvinculada de obrigações morais ou compromissos existenciais.
Frankl compreende a liberdade como uma característica fundamental da condição humana, mas que só se concretiza de forma plena quando orientada à realização de valores. A liberdade, nesse sentido, não é a capacidade de fazer qualquer coisa a qualquer momento, mas a capacidade de escolher uma atitude diante das circunstâncias — inclusive e especialmente diante da dor, do sofrimento e da finitude. Tal escolha exige maturidade, consciência e senso de responsabilidade. Assim, o ser humano não é apenas livre para escolher, mas é também responsável por aquilo que escolhe.
A responsabilidade pessoal, na perspectiva da Logoterapia, nasce da compreensão de que a vida interpela constantemente o indivíduo. Em vez de perguntar "o que posso esperar da vida?", o homem é convidado a refletir "o que a vida espera de mim?". Essa mudança de perspectiva é central na obra de Frankl, pois desloca o foco da satisfação pessoal para o compromisso com um sentido que transcende o ego. A existência se torna autêntica quando o indivíduo assume a tarefa de responder, com liberdade e consciência, aos desafios e possibilidades que lhe são apresentados.
No campo existencial, a liberdade é inseparável da responsabilidade. Viktor Frankl ilustra essa ideia ao propor simbolicamente a construção de uma "Estátua da Responsabilidade" na costa oeste dos Estados Unidos, como contraponto à Estátua da Liberdade situada na costa leste. A metáfora evidencia que a liberdade sem responsabilidade degenera em arbitrariedade e vazio existencial. Ao mesmo tempo, a responsabilidade sem liberdade conduz à opressão. Para haver maturidade existencial, ambas devem caminhar juntas.
Essa compreensão é especialmente importante diante de contextos de
compreensão é especialmente importante diante de contextos de sofrimento. Em sua obra mais conhecida, Em busca de sentido, Frankl narra suas experiências como prisioneiro em campos de concentração nazistas. Nessas circunstâncias extremas, ele constatou que, ainda que todas as liberdades externas fossem retiradas, restava ao ser humano uma última liberdade: a liberdade de escolher sua atitude diante do sofrimento. Essa escolha não elimina a dor, mas a ressignifica, transformando-a em fonte de crescimento e dignidade.
A Logoterapia, nesse sentido, convida o indivíduo a se posicionar como autor de sua própria história, mesmo quando não é autor de suas circunstâncias. O ser humano não pode sempre controlar o que lhe acontece, mas pode sempre controlar como irá reagir. E essa reação, essa escolha de atitude, é o espaço privilegiado da responsabilidade pessoal. A responsabilidade, aqui, não é apenas moral ou social, mas existencial: é o compromisso com o próprio sentido de vida.
Frankl também diferencia a liberdade de uma simples reação
aos impulsos internos ou pressões externas. A verdadeira liberdade está situada
na dimensão espiritual do ser humano, onde se encontra a consciência, a
capacidade de reflexão e a orientação para os valores. Nesse nível, o
indivíduo pode resistir aos condicionamentos biológicos, psicológicos e sociais, e assumir uma postura deliberada diante da vida. A responsabilidade pessoal é, portanto, o exercício dessa liberdade espiritual, que afirma a dignidade humana e torna possível a realização do sentido.
Além disso, a responsabilidade também se estende à forma como lidamos com os outros. Em uma sociedade marcada pela fragmentação e pelo individualismo, a proposta de Frankl resgata a importância de reconhecer que a liberdade pessoal deve estar a serviço do bem comum. O sentido da vida, muitas vezes, é encontrado não em grandes realizações, mas na disponibilidade para servir, amar, cuidar e contribuir com algo maior do que si mesmo. Essa disposição só se torna possível quando a liberdade é acompanhada de responsabilidade ética.
A psicoterapia logoterapêutica, nesse aspecto, atua como um facilitador da responsabilidade pessoal. Ao invés de interpretar sintomas em termos deterministas, ela promove a conscientização do paciente sobre sua capacidade de escolha e o convida a se engajar ativamente na construção de sua existência. O terapeuta não impõe respostas, mas ajuda o indivíduo a encontrar o seu próprio caminho, por meio do
exercício responsável de sua liberdade interior.
Em suma, a Logoterapia de Viktor Frankl oferece uma compreensão profunda e equilibrada da liberdade humana, ao associá-la à responsabilidade pessoal como condição de uma vida autêntica. Em tempos de crises de valores e crescente banalização da liberdade, essa abordagem recupera a centralidade do compromisso com o sentido, mostrando que a verdadeira realização só é possível quando a liberdade é vivida com responsabilidade, coragem e consciência.
• Frankl,
V. E. (2008). Em busca de sentido: Um
psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes.
• Frankl,
V. E. (2016). Teoria e terapia das
neuroses. Petrópolis: Vozes.
• Fabry,
J. B. (1988). A psicoterapia do sentido
da vida: Uma introdução à logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo:
Paulinas.
• Längle,
A. (2003). A logoterapia de Viktor
Frankl: Fundamentos e desenvolvimento. Instituto Viktor Frankl.
• Pattakos,
A. (2010). Em busca de sentido no
trabalho: Os ensinamentos de Viktor Frankl para encontrar propósito no dia a
dia. São Paulo: Évora.
• Batthyány, A. (2016). Logotherapy and Existential Analysis: Proceedings of the Viktor Frankl Institute Vienna. Springer.
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