INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA
Definição de Farmacologia e sua Importância nas
Ciências da Saúde
A farmacologia é a ciência que estuda as substâncias
químicas capazes de interagir com os sistemas biológicos, com o objetivo de
compreender seus efeitos, mecanismos de ação, formas de administração,
metabolismo e eliminação. Trata-se de uma disciplina essencial para diversas
áreas das ciências da saúde, como medicina, enfermagem, odontologia, farmácia,
biomedicina e fisioterapia. Seu escopo abrange tanto o uso terapêutico dos
medicamentos quanto os efeitos adversos e tóxicos que podem surgir em diferentes
contextos clínicos.
A palavra "farmacologia" deriva do grego pharmakon, que pode significar tanto
"remédio" quanto "veneno", e logos, que significa "estudo" ou "discurso".
Essa etimologia já aponta para a complexidade da área, pois os fármacos podem
exercer ações benéficas ou deletérias, dependendo de fatores como dose, via de
administração, estado de saúde do paciente e presença de outras substâncias.
Assim, a farmacologia visa compreender não apenas como um medicamento cura ou
alivia sintomas, mas também como pode causar efeitos indesejáveis ou interagir
com outros compostos.
O campo da farmacologia é tradicionalmente dividido em dois
ramos principais: a farmacodinâmica e a farmacocinética. A farmacodinâmica
estuda os efeitos biológicos dos fármacos e seus mecanismos de ação no
organismo, incluindo a interação com receptores celulares, enzimas ou canais
iônicos. Já a farmacocinética investiga o caminho que o fármaco percorre dentro
do corpo, desde sua absorção, distribuição nos tecidos, metabolismo
(principalmente hepático) e excreção, geralmente pelos rins. Compreender essas
duas vertentes é essencial para que o uso de medicamentos seja seguro e eficaz,
respeitando o princípio do uso racional dos fármacos.
Além dessas áreas centrais, a farmacologia também se
expande para campos como a toxicologia, que analisa os efeitos nocivos das
substâncias químicas; a farmacogenética, que estuda a influência da
variabilidade genética nas respostas aos medicamentos; e a farmacovigilância,
que acompanha a segurança dos medicamentos após sua comercialização. Tais
subáreas têm ganhado relevância crescente em função dos avanços científicos e
da complexidade dos tratamentos modernos.
No contexto das ciências da saúde, a farmacologia é uma disciplina fundamental tanto na formação quanto na prática profissional. Médicos precisam compreender os
princípios farmacológicos para prescrever de
forma adequada; enfermeiros devem conhecer as interações medicamentosas e os
efeitos colaterais para monitorar pacientes; farmacêuticos atuam diretamente na
orientação do uso seguro de medicamentos; e demais profissionais da área devem
ser capazes de integrar esse conhecimento à sua prática diária. A compreensão
dos princípios farmacológicos permite uma abordagem mais segura,
individualizada e eficaz no cuidado ao paciente.
A importância da farmacologia também se evidencia no
enfrentamento de problemas de saúde pública, como a automedicação, o uso
indiscriminado de antibióticos e a polifarmácia entre idosos. O conhecimento
científico sobre os medicamentos é essencial para o combate à resistência
bacteriana, para a promoção do uso racional de fármacos e para a redução de
eventos adversos evitáveis. Nesse sentido, a educação em farmacologia torna-se
uma ferramenta indispensável para profissionais e também para a sociedade em
geral.
Outro aspecto crucial da farmacologia nas ciências da saúde
é seu papel na pesquisa e no desenvolvimento de novos medicamentos. A partir do
entendimento detalhado de processos fisiológicos e patológicos, os
farmacologistas colaboram com a indústria farmacêutica e com centros de
pesquisa para a criação de terapias mais eficazes e menos tóxicas. Com o avanço
da biotecnologia e da farmacologia molecular, surgem perspectivas promissoras,
como a medicina personalizada e os tratamentos baseados em terapia gênica, os
quais reforçam a necessidade de uma formação sólida nessa área.
Portanto, a farmacologia não se limita a uma área técnica
de conhecimento, mas se configura como uma ciência aplicada que integra
conhecimentos básicos e clínicos em prol da saúde humana. Seu domínio é
indispensável para a prática clínica segura, a prevenção de riscos e a melhoria
contínua na qualidade da atenção à saúde. Ao compreender os fundamentos da
farmacologia, os profissionais da saúde tornam-se mais aptos a promover
intervenções terapêuticas eficazes, embasadas em evidências científicas e centradas
no bem-estar do paciente.
BRUNTON, L. L.; HILAL-DANDAN, R.; KNOLLAMANN, B. C. As bases farmacológicas da terapêutica de
Goodman & Gilman. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019.
RANG, H. P.; DALE, M. M.; RITTER, J. M.; FLOWER, R. J.
Farmacologia. 8.
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2020.
OLIVEIRA, R. A.; NEVES, R. S. Farmacologia básica para cursos da área da saúde. São
São Paulo:
Manole, 2018.
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Uso racional de medicamentos: temas para
debate. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.
No cotidiano, é comum que os termos “fármaco”, “droga”,
“medicamento” e “remédio” sejam utilizados como sinônimos. No entanto, sob uma
perspectiva técnico-científica, especialmente no âmbito da farmacologia e das
ciências da saúde, essas palavras têm significados distintos e específicos.
Compreender tais diferenças é fundamental para o uso apropriado da
terminologia, bem como para o entendimento correto das práticas terapêuticas,
farmacêuticas e clínicas.
O fármaco é a substância química ativa que, ao interagir
com o organismo, provoca uma alteração funcional, podendo ser benéfica ou não.
Ele é o princípio ativo responsável pela ação terapêutica desejada. Por
exemplo, o paracetamol é o fármaco que atua como analgésico e antipirético. Os
fármacos podem ser obtidos de diversas fontes: naturais, como plantas e
animais; sintéticas, produzidas em laboratório; ou biotecnológicas, por meio de
técnicas avançadas de engenharia genética. O estudo da ação dos fármacos no
organismo é central na farmacologia, que busca entender os mecanismos pelos
quais essas substâncias exercem seus efeitos.
O termo droga é, por vezes, confundido com fármaco, mas possui um significado mais amplo. Droga refere-se a qualquer substância que, introduzida no organismo, modifica seu funcionamento fisiológico ou psicológico. Assim, tanto um fármaco terapêutico quanto uma substância psicoativa de uso recreativo podem ser considerados drogas. Na farmacognosia, ciência que estuda as drogas de origem natural, o termo também se refere às partes de plantas, animais ou minerais utilizadas para obtenção de fármacos. Entretanto, no senso comum, “droga” costuma ser associado a substâncias ilegais ou de abuso, como a cocaína, a maconha e a heroína. Essa conotação social e jurídica do termo pode gerar confusões, razão pela qual é importante diferenciá-lo do uso técnico.
Já o medicamento é o produto farmacêutico acabado, que contém um ou mais fármacos em sua formulação, associado a excipientes e substâncias auxiliares, preparado em formas farmacêuticas específicas (como comprimidos, xaropes, cápsulas ou injetáveis) e destinado à prevenção, diagnóstico, alívio ou tratamento de doenças. O medicamento é, portanto, o resultado da aplicação tecnológica sobre o fármaco,
como
comprimidos, xaropes, cápsulas ou injetáveis) e destinado à prevenção,
diagnóstico, alívio ou tratamento de doenças. O medicamento é, portanto, o
resultado da aplicação tecnológica sobre o fármaco, com objetivo terapêutico
claro e reconhecido por órgãos reguladores, como a Anvisa no Brasil. Ele é
padronizado, testado em estudos clínicos e regulamentado quanto à segurança,
eficácia e qualidade. O medicamento é prescrito por profissionais habilitados,
como médicos e dentistas, e deve ser utilizado com orientação e
responsabilidade.
Por fim, o remédio é o termo mais abrangente e, ao mesmo
tempo, o mais impreciso do ponto de vista técnico. Remédio refere-se a qualquer
recurso utilizado com o intuito de aliviar ou curar um mal, o que pode incluir
não apenas medicamentos, mas também práticas não farmacológicas, como repouso,
alimentação adequada, terapias naturais, carinho ou até medidas religiosas ou
espirituais. Em outras palavras, todo medicamento é um remédio, mas nem todo
remédio é um medicamento. O uso popular da palavra remédio engloba tanto produtos
farmacêuticos quanto soluções caseiras ou simbólicas que as pessoas acreditam
ter efeitos terapêuticos.
No contexto das ciências da saúde, é essencial distinguir
esses termos para evitar equívocos na comunicação entre profissionais e
pacientes. O uso incorreto da terminologia pode gerar confusões quanto ao
objetivo de uma intervenção terapêutica, à responsabilidade técnica sobre a
prescrição e à segurança do uso de substâncias. Por exemplo, tratar o termo
“droga” como sinônimo de “medicamento” pode induzir o paciente a desconfianças
ou estigmas desnecessários. Da mesma forma, entender que um “remédio caseiro”
não substitui um medicamento prescrito é essencial para prevenir complicações
de saúde.
A distinção entre esses conceitos também é fundamental no
âmbito jurídico e regulatório. A legislação brasileira, por exemplo, define com
precisão o que é um medicamento, estabelece critérios para sua aprovação e
comercialização, e diferencia substâncias controladas, de uso restrito ou
proibido. Isso influencia diretamente nas políticas públicas de saúde, no
acesso racional aos tratamentos e na fiscalização do mercado farmacêutico.
Portanto, compreender as diferenças entre fármaco, droga, medicamento e remédio é mais do que um exercício semântico. Trata-se de um conhecimento essencial para o exercício ético e seguro das profissões da saúde, para a promoção do uso racional de medicamentos e
para o exercício ético e seguro das profissões da saúde,
para a promoção do uso racional de medicamentos e para o
empoderamento do paciente no cuidado com a própria saúde.
BRUNTON, L. L.; HILAL-DANDAN, R.; KNOLLAMANN, B. C. As bases farmacológicas da terapêutica de
Goodman & Gilman. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019.
RANG, H. P.; DALE, M. M.; RITTER, J. M.; FLOWER, R. J.
Farmacologia. 8.
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2020.
OLIVEIRA, R. A.; NEVES, R. S. Farmacologia básica para cursos da área da saúde. São Paulo:
Manole, 2018.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Glossário de termos técnicos e populares em
vigilância sanitária. Brasília: Anvisa, 2009.
Principais Áreas da Farmacologia: Farmacocinética, Farmacodinâmica e Toxicologia
A farmacologia, enquanto ciência dedicada ao estudo das interações entre substâncias químicas e os sistemas biológicos, divide-se em áreas específicas que permitem uma compreensão aprofundada dos efeitos terapêuticos, adversos e toxicológicos dos fármacos. Três dessas áreas são particularmente fundamentais para as ciências da saúde: a farmacocinética, a farmacodinâmica e a toxicologia. Juntas, elas fornecem a base teórica para a prescrição racional de medicamentos, o desenvolvimento de novos fármacos e a vigilância sobre seu uso seguro e eficaz.
A farmacocinética é a área da farmacologia que estuda o
destino dos fármacos no organismo, ou seja, os processos de absorção,
distribuição, metabolismo e excreção. Seu foco está em compreender como o
organismo age sobre o fármaco, desde sua entrada até sua eliminação,
influenciando diretamente a concentração da substância ativa no local de ação
e, por conseguinte, sua eficácia e segurança terapêutica.
O primeiro processo, a absorção, refere-se à passagem do
fármaco do local de administração até a corrente sanguínea. Diversas vias de
administração – como oral, intramuscular, intravenosa ou tópica – influenciam a
velocidade e a extensão dessa absorção. Uma vez na circulação, o fármaco é
distribuído pelos tecidos e órgãos, podendo se acumular em determinadas áreas
dependendo de características como lipossolubilidade, ligação a proteínas
plasmáticas e fluxo sanguíneo.
O metabolismo, que ocorre predominantemente no fígado, transforma o fármaco em compostos mais facilmente elimináveis. Essa biotransformação pode gerar metabólitos inativos, ativos ou até
mesmo tóxicos.
Finalmente, a excreção representa a eliminação do fármaco do organismo,
principalmente pelos rins, mas também por outros meios, como bile, suor e leite
materno.
Conhecer os princípios da farmacocinética é essencial para
determinar doses adequadas, intervalos de administração, duração do tratamento
e ajuste de posologia em populações especiais, como idosos, crianças, gestantes
e pacientes com insuficiência renal ou hepática.
Enquanto a farmacocinética trata do que o organismo faz com
o fármaco, a farmacodinâmica analisa o que o fármaco faz com o organismo. Essa
área estuda os mecanismos de ação dos fármacos, sua interação com alvos
biológicos – como receptores celulares, enzimas, canais iônicos e
transportadores – e os efeitos farmacológicos resultantes.
O mecanismo de ação envolve o modo como o fármaco se liga
ao seu alvo, desencadeando ou inibindo respostas celulares específicas. Essa
ligação pode ser seletiva ou inespecífica, reversível ou irreversível, e
determina aspectos cruciais como potência, eficácia e segurança do medicamento.
A potência diz respeito à quantidade necessária de fármaco para produzir um
efeito desejado, enquanto a eficácia refere-se à capacidade máxima do fármaco
em provocar uma resposta.
Outro conceito central na farmacodinâmica é a relação
dose-resposta, que descreve como o efeito do fármaco varia com a dose
administrada. Esse estudo permite estabelecer a dose mínima eficaz, a dose
ótima e o limite de segurança, conhecido como índice terapêutico.
A compreensão da farmacodinâmica é indispensável para
selecionar o medicamento mais adequado a cada situação clínica, evitar
interações medicamentosas indesejadas e manejar efeitos colaterais, além de
permitir a individualização do tratamento com base em características
fisiológicas e patológicas do paciente.
A toxicologia é o ramo da farmacologia que se ocupa dos
efeitos adversos e tóxicos das substâncias químicas sobre os organismos vivos.
Seu escopo não se limita aos medicamentos, incluindo também produtos químicos
industriais, agrotóxicos, cosméticos, alimentos contaminados e drogas de abuso.
No entanto, no contexto da farmacologia clínica, a toxicologia é essencial para
avaliar os riscos associados ao uso de medicamentos.
Mesmo substâncias terapêuticas podem se tornar tóxicas quando utilizadas em doses inadequadas, em associações indevidas
ou por
períodos prolongados. Os efeitos tóxicos podem variar de leves a fatais,
afetando diferentes órgãos e sistemas, como o fígado, rins, sistema nervoso
central e cardiovascular.
A toxicologia clínica busca identificar, prevenir e tratar
intoxicações medicamentosas, seja por erro terapêutico, automedicação, suicídio
ou uso recreativo. Já a toxicologia experimental e regulatória estuda os
efeitos de novas substâncias em modelos laboratoriais, antes que sejam
autorizadas para uso humano, contribuindo para a segurança dos medicamentos
durante o processo de desenvolvimento.
Adicionalmente, a farmacovigilância, enquanto prática
contínua de monitoramento de efeitos adversos após a comercialização dos
medicamentos, representa uma ponte entre a toxicologia e a prática clínica. Ela
permite a identificação de riscos que não foram detectados nos ensaios
clínicos, especialmente em populações específicas ou em uso prolongado.
Farmacocinética, farmacodinâmica e toxicologia são áreas
interligadas que oferecem uma visão completa do comportamento dos fármacos no
corpo humano. Seu domínio é imprescindível para a atuação segura e eficaz dos
profissionais da saúde. A farmacocinética orienta a escolha da dose e do
intervalo de administração; a farmacodinâmica orienta a escolha do fármaco e a
previsão de efeitos terapêuticos; e a toxicologia alerta para os riscos
associados ao uso inadequado ou ao acúmulo da substância.
Compreender essas áreas permite à equipe de saúde tomar
decisões embasadas na ciência, oferecendo tratamentos mais personalizados,
prevenindo reações adversas e promovendo o uso racional de medicamentos. Em
tempos de crescente complexidade terapêutica, conhecimento sólido em
farmacologia é uma exigência ética e técnica no cuidado à saúde.
BRUNTON, L. L.; HILAL-DANDAN, R.; KNOLLAMANN, B. C. As bases farmacológicas da terapêutica de
Goodman & Gilman. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019.
RANG, H. P.; DALE, M. M.; RITTER, J. M.; FLOWER, R. J.
Farmacologia. 8.
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KATZUNG, B. G. Farmacologia
básica e clínica. 14. ed. Porto Alegre: AMGH, 2018.
OLIVEIRA, R. A.; NEVES, R. S. Farmacologia básica para cursos da área da saúde. São Paulo:
Manole, 2018.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Guia de farmacovigilância. Brasília: Anvisa, 2021.
Vias Enterais de Administração: Oral, Sublingual e Retal
A
administração de medicamentos é uma etapa fundamental no
tratamento clínico, e a escolha da via pela qual o fármaco será introduzido no
organismo influencia diretamente sua absorção, biodisponibilidade, tempo de
ação e eficácia terapêutica. Entre as diversas rotas possíveis, destacam-se as vias enterais, que são aquelas em que o
medicamento é administrado por meio do trato gastrointestinal. As principais
formas de administração enteral são: oral,
sublingual e retal. Cada uma apresenta características próprias, com vantagens e
limitações, sendo escolhidas conforme o tipo de medicamento, o estado clínico
do paciente e o efeito desejado.
A via oral é a forma mais comum, prática e segura de
administração de medicamentos. Consiste na ingestão do fármaco, geralmente em
forma de comprimidos, cápsulas, soluções, suspensões ou pós. Uma vez deglutido,
o medicamento percorre o esôfago, chega ao estômago e, posteriormente, ao
intestino delgado, onde ocorre, na maioria dos casos, a absorção pela mucosa
intestinal.
Essa via apresenta diversas vantagens: é confortável para o
paciente, econômica, não invasiva e permite a automedicação supervisionada.
Além disso, possibilita formas farmacêuticas de liberação controlada,
prolongada ou entérica, adaptando-se a diversos perfis terapêuticos. Contudo,
há limitações importantes, como a necessidade de integridade do trato
gastrointestinal e da capacidade de deglutição, além da influência de fatores
como presença de alimentos, pH gástrico, motilidade intestinal e metabolismo
hepático de primeira passagem, que pode reduzir a concentração do fármaco antes
de alcançar a circulação sistêmica.
A via oral não é adequada para todos os pacientes.
Indivíduos com náuseas, vômitos, dificuldade de deglutição, alterações
gastrointestinais ou inconsciência não devem receber medicamentos por essa via.
Além disso, fármacos que são degradados pelo suco gástrico ou enzimas
digestivas requerem formulações especiais para manter sua eficácia.
A via sublingual consiste na administração do fármaco sob a
língua, onde é absorvido diretamente pela mucosa oral, atingindo rapidamente a
circulação sistêmica por meio dos vasos sanguíneos da região. Essa via evita a
passagem pelo trato gastrointestinal e pelo metabolismo hepático de primeira
passagem, proporcionando início de ação mais rápido e biodisponibilidade mais
alta para certos medicamentos.
A principal vantagem da via sublingual é a ação rápida, sendo
sendo indicada para
situações que exigem resposta imediata, como em casos de dor aguda, angina do
peito ou crises hipertensivas. Os fármacos utilizados por essa via geralmente
são lipossolúveis e potentes em pequenas doses, como a nitroglicerina, utilizada
no tratamento de angina.
Entretanto, nem todos os fármacos são apropriados para essa
forma de administração. A substância deve ser estável na saliva, ter boa
solubilidade e absorção pela mucosa oral, e não provocar irritação local. Além
disso, o paciente precisa cooperar, mantendo o medicamento sob a língua sem
engolir, o que pode não ser possível em crianças pequenas, idosos com demência
ou indivíduos inconscientes.
A via retal consiste na introdução do medicamento no reto,
por meio de supositórios, enemas ou soluções líquidas. Essa rota é uma
alternativa útil quando a via oral está contraindicada, como em pacientes com
vômitos intensos, dificuldades de deglutição, inconscientes ou com obstruções
gastrointestinais.
Os fármacos administrados por essa via podem ser absorvidos
pela mucosa retal e alcançar a circulação sistêmica. Uma característica
importante é que, dependendo da porção do reto em que ocorre a absorção, parte
do fármaco pode evitar o metabolismo hepático de primeira passagem. No entanto,
a absorção retal é geralmente irregular, variável e menos previsível do que nas
vias oral ou sublingual.
A via retal também pode ser utilizada para efeitos locais,
como no tratamento de hemorroidas, fissuras anais ou inflamações retais, com
ação restrita ao local de aplicação. Suas principais vantagens incluem a
possibilidade de uso em situações de emergência, boa aceitação em pediatria e
administração mesmo na presença de náuseas ou alterações do trato digestivo
superior.
No entanto, essa via apresenta desvantagens, como
desconforto para o paciente, aceitação cultural reduzida e potencial irritação
da mucosa. Além disso, a absorção pode ser afetada pela presença de fezes,
movimentos peristálticos ou doenças inflamatórias locais.
A seleção adequada da via de administração é essencial para
garantir a eficácia do tratamento farmacológico, respeitando as condições
clínicas do paciente e as propriedades do fármaco. As vias enterais são
amplamente utilizadas devido à sua praticidade e aplicabilidade em diversos
contextos terapêuticos, mas exigem conhecimento técnico para evitar falhas
terapêuticas e riscos desnecessários.
O profissional de saúde deve considerar fatores como a
biodisponibilidade do fármaco, o início de ação desejado, a condição clínica do
paciente e a finalidade do tratamento – local ou sistêmica – ao optar por uma
dessas vias. O domínio das características de cada uma permite maior precisão
na prescrição, maior adesão ao tratamento e menor incidência de efeitos
adversos.
BRUNTON, L. L.; HILAL-DANDAN, R.; KNOLLAMANN, B. C. As bases farmacológicas da terapêutica de
Goodman & Gilman. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019.
KATZUNG, B. G. Farmacologia
básica e clínica. 14. ed. Porto Alegre: AMGH, 2018.
RANG, H. P.; DALE, M. M.; RITTER, J. M.; FLOWER, R. J.
Farmacologia. 8.
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2020.
OLIVEIRA, R. A.; NEVES, R. S. Farmacologia básica para cursos da área da saúde. São Paulo:
Manole, 2018.
Vias
Parenterais de Administração:
Intramuscular, Intravenosa e Subcutânea
As vias parenterais de administração de medicamentos
representam rotas alternativas àquelas que envolvem o trato gastrointestinal,
sendo utilizadas quando se deseja um início de ação mais rápido, uma absorção
mais previsível ou quando a via enteral está contraindicada. Estas vias
envolvem a aplicação direta do medicamento em tecidos corporais por meio de
agulhas e seringas, exigindo técnicas assépticas rigorosas para evitar
infecções e complicações. As formas parenterais mais utilizadas na prática
clínica são as vias intramuscular (IM),
intravenosa (IV) e subcutânea (SC). Cada uma apresenta
características específicas quanto à velocidade de absorção, volume
administrável, finalidade terapêutica e riscos associados.
A administração intramuscular consiste na aplicação do
medicamento diretamente no tecido muscular, geralmente nos músculos deltoide,
vasto lateral da coxa ou glúteo. O tecido muscular é bem vascularizado, o que
permite uma absorção relativamente rápida e eficaz da substância administrada.
Essa via é indicada quando se deseja uma ação mais rápida que a via subcutânea,
mas sem a necessidade de acesso venoso imediato.
A principal vantagem da via intramuscular está na possibilidade de administração de volumes maiores de solução (até 5 ml, dependendo do local e do paciente) e de fármacos que não podem ser administrados por via oral. Além disso, permite a aplicação de medicamentos com liberação prolongada, como alguns antibióticos, hormônios e antipsicóticos de depósito. No entanto, a absorção
podem ser
administrados por via oral. Além disso, permite a aplicação de medicamentos com
liberação prolongada, como alguns antibióticos, hormônios e antipsicóticos de
depósito. No entanto, a absorção pode variar conforme o fluxo sanguíneo local,
a técnica de aplicação e as características físico-químicas do medicamento.
Entre as desvantagens estão a dor no local da aplicação,
risco de lesão nervosa (especialmente no nervo ciático em aplicações glúteas
mal realizadas), sangramentos locais e a possibilidade de formação de abscessos
em caso de contaminação. A técnica deve ser precisa e realizada por
profissionais capacitados, respeitando as normas de biossegurança.
A via intravenosa é a rota parenteral que proporciona
absorção imediata, pois o medicamento é introduzido diretamente na corrente
sanguínea. Pode ser realizada por meio de injeção em bolus (rápida) ou por
infusão contínua, utilizando cateteres periféricos ou centrais. Essa via é
indicada em situações que exigem resposta terapêutica rápida, em emergências
médicas, em administração de grandes volumes ou para fármacos que irritariam os
tecidos se aplicados por outras vias.
A principal vantagem da administração intravenosa é a biodisponibilidade completa, uma vez
que o fármaco não passa por barreiras de absorção. Além disso, permite o
controle preciso da dose, do tempo de infusão e da concentração plasmática do
medicamento. É amplamente utilizada em unidades de terapia intensiva, centro
cirúrgico, pronto-socorro e internações hospitalares.
No entanto, essa via apresenta riscos relevantes, como
flebite (inflamação da veia), extravasamento da solução para os tecidos
adjacentes, infecção do local de punção e embolia. A manipulação do acesso
venoso exige técnica rigorosa, monitoramento constante e domínio dos protocolos
de segurança, especialmente em infusões de substâncias irritantes ou
vesicantes.
A via subcutânea consiste na injeção do medicamento no
tecido adiposo localizado sob a pele, geralmente nas regiões do braço, coxa,
abdômen ou dorso. É utilizada para administração de fármacos que requerem
absorção lenta e contínua, como a insulina, a heparina e algumas vacinas. A
vascularização nessa camada é menor do que no tecido muscular, o que resulta em
absorção mais lenta, porém adequada para tratamentos que necessitam de
liberação gradual do fármaco.
Essa via oferece vantagens como menor dor na aplicação em comparação à
intramuscular, facilidade de autoadministração pelo próprio paciente (como
ocorre no caso da insulina) e menor risco de lesões em estruturas nobres. É
ideal para terapias de manutenção, tratamentos crônicos e programas de atenção
domiciliar.
Entre as desvantagens, destacam-se a limitação do volume
administrável (geralmente até 1 ml), a variabilidade na absorção em pacientes
com alterações de perfusão periférica e a possibilidade de irritação local,
nódulos ou lipodistrofia em aplicações repetidas. A correta rotação dos locais
de aplicação e a instrução do paciente sobre a técnica são essenciais para a
eficácia e segurança do tratamento.
A escolha entre as vias parenterais de administração deve
considerar diversos fatores clínicos, como a urgência da resposta terapêutica,
o estado hemodinâmico do paciente, o tipo de fármaco, o volume a ser
administrado, a duração do tratamento e a experiência da equipe de saúde. Essas
vias são indispensáveis em contextos hospitalares e ambulatoriais, oferecendo
soluções terapêuticas eficazes quando as vias enterais não são viáveis ou
desejadas.
O conhecimento das características, indicações,
contraindicações e complicações de cada via parenteral é essencial para a
prática clínica segura. Além disso, a capacitação dos profissionais da saúde, o
uso de técnicas assépticas rigorosas e a educação do paciente são pilares
fundamentais para garantir a qualidade da administração medicamentosa por essas
rotas.
BRUNTON, L. L.; HILAL-DANDAN, R.; KNOLLAMANN, B. C. As bases farmacológicas da terapêutica de
Goodman & Gilman. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019.
KATZUNG, B. G. Farmacologia
básica e clínica. 14. ed. Porto Alegre: AMGH, 2018.
OLIVEIRA, R. A.; NEVES, R. S. Farmacologia básica para cursos da área da saúde. São Paulo:
Manole, 2018.
MARTINS, M. A.; CUNHA, B. A. C. (Org.). Tratado de Clínica Médica. 3. ed. São
Paulo: Roca, 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Segurança na administração de medicamentos injetáveis. Brasília:
MS, 2017.
Vias Tópicas e Outras Alternativas de
Administração: Transdérmica e Inalatória
A administração de medicamentos é um processo que envolve estratégias terapêuticas diversas, ajustadas conforme o tipo de substância, o quadro clínico do paciente e os objetivos do tratamento. Além das vias tradicionais — como a oral, intravenosa e intramuscular — existem rotas de administração alternativas que oferecem vantagens
específicas, como a
conveniência, a liberação controlada do fármaco ou a ação local com efeitos
mínimos sistêmicos. Entre essas vias, destacam-se a via tópica, a transdérmica
e a inalatória, frequentemente utilizadas em contextos ambulatoriais,
domiciliares e hospitalares.
A via tópica refere-se à aplicação de medicamentos
diretamente sobre a pele ou mucosas, com o objetivo de exercer efeito local. É
amplamente empregada no tratamento de condições dermatológicas, lesões
superficiais, infecções localizadas e processos inflamatórios, utilizando
formulações como cremes, pomadas, géis, loções, colírios e soluções otológicas.
A principal vantagem dessa via é a ação localizada, com
risco reduzido de efeitos sistêmicos, o que a torna segura para uso prolongado
em muitas condições clínicas. O fármaco atua diretamente na área afetada, o que
permite maior concentração terapêutica no local da lesão sem sobrecarregar o
organismo. É uma opção preferencial em doenças como dermatites, micoses
cutâneas, queimaduras e infecções oculares e auriculares.
Contudo, essa via apresenta limitações. A absorção do
fármaco pode ser reduzida ou irregular, dependendo da espessura e integridade
da pele ou da mucosa, da presença de secreções ou resíduos, da formulação
utilizada e da frequência de aplicação. Além disso, alguns medicamentos tópicos
podem causar reações locais como irritação, ardor, prurido ou alergias, sendo
necessária atenção ao histórico clínico do paciente.
A via transdérmica consiste na aplicação de medicamentos
sobre a pele com o objetivo de alcançar a circulação sistêmica por meio da
absorção progressiva através das camadas cutâneas. Ao contrário da via tópica,
que busca efeito local, a transdérmica tem como finalidade obter efeitos
sistêmicos controlados e prolongados, utilizando sistemas terapêuticos como os
adesivos (patches).
Essa rota apresenta vantagens consideráveis, como a
liberação contínua do fármaco, reduzindo picos de concentração plasmática e
minimizando flutuações terapêuticas. É também uma via prática, com boa adesão
do paciente, especialmente em tratamentos crônicos. Medicamentos transdérmicos
são utilizados em várias condições, incluindo controle da dor (fentanila),
tratamento da hipertensão (clonidina), reposição hormonal (estradiol) e
cessação do tabagismo (nicotina).
Entretanto, a eficácia da via transdérmica depende de fatores como a permeabilidade da pele, o local de aplicação, a
lipossolubilidade da substância e a presença de sistemas de liberação
específicos. Algumas barreiras podem limitar a absorção, especialmente em
pacientes com pele ressecada, lesões ou uso inadequado do adesivo. Reações
cutâneas como vermelhidão, coceira e dermatites de contato são efeitos adversos
possíveis, embora geralmente reversíveis.
A via inalatória permite a administração de medicamentos
diretamente nas vias respiratórias, alcançando os pulmões por meio de inalação
de partículas líquidas, gasosas ou em pó. É uma via preferencial para o
tratamento de doenças respiratórias como asma, doença pulmonar obstrutiva
crônica (DPOC), bronquite, rinite e infecções respiratórias.
A maior vantagem da via inalatória é a ação rápida e
direcionada nos pulmões, com menor necessidade de doses elevadas, o que reduz a
incidência de efeitos colaterais sistêmicos. O medicamento atinge diretamente
os brônquios, promovendo broncodilatação, efeito anti-inflamatório ou ação
antimicrobiana, conforme o agente utilizado. São comuns os inaladores
dosimetrados, nebulizadores e inaladores de pó seco como dispositivos
utilizados nessa rota.
Apesar dos benefícios, a via inalatória requer técnica
adequada de uso, sendo frequentemente mal empregada por pacientes que não
dominam os dispositivos. A eficácia do tratamento pode ser comprometida pela
falta de coordenação entre a liberação do fármaco e a inspiração, pela má
higienização dos aparelhos ou pelo uso em pacientes com obstrução severa das
vias aéreas. Também pode ocorrer irritação da mucosa respiratória, tosse,
rouquidão e infecções por fungos em usuários de corticosteroides inalados.
As vias tópica, transdérmica e inalatória representam
alternativas terapêuticas eficientes e seguras quando bem indicadas. Permitem
tanto o tratamento local quanto sistêmico com menor carga metabólica hepática,
evitando o efeito de primeira passagem e reduzindo a necessidade de doses
elevadas. Essas vias são especialmente valiosas em populações vulneráveis, como
crianças, idosos ou pacientes com dificuldade de deglutição, e em tratamentos
prolongados.
A escolha entre essas rotas deve levar em consideração fatores como o tipo de fármaco, o objetivo terapêutico (local ou sistêmico), a condição clínica do paciente e a facilidade de uso do método. A educação em saúde desempenha papel essencial para garantir a correta utilização dos dispositivos, a aplicação
adequada dos produtos e o seguimento das orientações
médicas ou farmacêuticas.
A incorporação dessas vias alternativas no cuidado clínico
reflete a evolução da farmacotécnica e o esforço contínuo por terapias mais
eficazes, menos invasivas e com maior adesão dos pacientes.
BRUNTON, L. L.; HILAL-DANDAN, R.; KNOLLAMANN, B. C. As bases farmacológicas da terapêutica de
Goodman & Gilman. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019.
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ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Uso de medicamentos por via inalatória e transdérmica: orientações técnicas. Brasília: Anvisa, 2021.
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