Aplicação
Prática e Sustentabilidade do Lean
Just in Time e Kanban
1.
Introdução
A
busca pela eficiência e pela redução de desperdícios sempre foi uma prioridade
nas organizações industriais. Dentro do Sistema Toyota de Produção (Toyota
Production System – TPS), duas das ferramentas mais importantes para
alcançar esses objetivos são o Just in Time (JIT) e o Kanban, que
juntos formam um sistema integrado de gestão da produção baseado no fluxo
contínuo e no atendimento à demanda real.
O
JIT e o Kanban são pilares do pensamento Lean Manufacturing, filosofia
que visa eliminar atividades que não agregam valor, aumentar a produtividade e
garantir a entrega de produtos e serviços com qualidade, no momento certo e na
quantidade exata. Esses conceitos, desenvolvidos no Japão a partir da década de
1950 por Taiichi Ohno e Eiji Toyoda, transformaram a maneira como
o mundo entende a gestão da produção.
A seguir, serão apresentados os conceitos e objetivos do Just in Time, as diferenças entre os sistemas puxado e empurrado de produção e as práticas essenciais para a implementação eficaz do Kanban.
2.
Conceito e objetivos do Just in Time
O
Just in Time é uma filosofia de gestão que tem como objetivo produzir e
entregar produtos no momento exato em que são necessários, na quantidade
certa e com a qualidade exigida. Em essência, o JIT busca eliminar
desperdícios relacionados a estoques, esperas, superprodução e movimentações
desnecessárias, promovendo um fluxo contínuo de valor.
Segundo
Ohno (1988), o JIT é “produzir o que é necessário, na quantidade necessária e
no momento necessário”. Ele nasceu da necessidade da Toyota de competir em um
mercado de recursos escassos após a Segunda Guerra Mundial, quando grandes
estoques e produções em massa, como no modelo fordista, eram inviáveis.
Os
principais objetivos do Just in Time são:
O JIT
está intrinsecamente ligado à ideia de produção enxuta, na qual cada
recurso — humano, material ou financeiro — é utilizado da maneira mais
eficiente possível. Entretanto, para que essa filosofia funcione, é necessária
muita coordenação entre fornecedores, colaboradores e processos internos.
Empresas que adotam o JIT precisam garantir que os materiais cheguem ao ponto de uso exatamente quando são necessários, o que requer logística eficiente, comunicação precisa e processos padronizados. Assim, o Just in Time não é apenas uma técnica de programação da produção, mas um sistema de gestão integrado que envolve toda a cadeia de valor.
3.
Sistema puxado x sistema empurrado
Para
compreender a essência do JIT, é fundamental distinguir entre o sistema
empurrado (push system) e o sistema puxado (pull system), dois
paradigmas de organização da produção.
O
sistema empurrado é característico da produção em massa tradicional.
Nele, as ordens de produção são emitidas com base em previsões de demanda. Os
produtos são “empurrados” ao longo das etapas do processo, independentemente do
consumo real. Isso frequentemente resulta em excesso de estoque, superprodução
e ineficiência, pois o processo se baseia em estimativas, não em
demandas reais.
Já o sistema puxado, adotado pelo Just in Time, funciona de maneira oposta. A produção é acionada apenas quando o processo seguinte consome um item — ou seja, o fluxo é “puxado” pela demanda real do cliente ou do estágio subsequente do processo. Essa abordagem reduz estoques, melhora a sincronização e permite maior controle sobre o fluxo de materiais.
No
sistema puxado, o Kanban desempenha um papel essencial como mecanismo de
comunicação visual entre as etapas do processo. Ele informa o que deve ser
produzido, em que quantidade e em qual momento, garantindo que o fluxo seja
coordenado de forma simples e eficiente.
Segundo
Shingo (1996), o sistema puxado é um dos elementos que mais contribuem para a
estabilidade da produção, pois permite o equilíbrio entre o ritmo da demanda e
o ritmo de fabricação, evitando tanto faltas quanto excessos de produtos.
Assim, enquanto o sistema empurrado depende de previsões e empurra produtos para o mercado, o sistema puxado é orientado pelo cliente, respondendo apenas ao que é efetivamente necessário. Essa diferença representa uma mudança cultural significativa, na qual o foco passa do volume produzido para o valor entregue.
4.
Implementação do Kanban: cartões, limites e indicadores
O Kanban é
a principal ferramenta de controle visual do sistema puxado e
foi desenvolvido na Toyota como parte do Just in Time. O termo japonês Kanban
significa literalmente “cartão” ou “sinal”. Na prática, trata-se de um sistema
de comunicação que utiliza cartões físicos ou eletrônicos para autorizar a
produção, o transporte ou o reabastecimento de itens dentro do processo
produtivo.
Cada
cartão Kanban contém informações como o nome do item, quantidade a ser
produzida, local de armazenamento e destino. Quando um processo consome um
item, o cartão correspondente é enviado à etapa anterior, sinalizando a
necessidade de reposição. Assim, o cartão funciona como um gatilho de
produção, garantindo que nada seja produzido antes de ser realmente
necessário.
Cartões
e tipos de Kanban
Existem
diferentes tipos de Kanban, dependendo do objetivo:
Em
sistemas mais modernos, os cartões físicos têm sido substituídos por Kanbans
eletrônicos, integrados a sistemas ERP e plataformas digitais, mantendo o
princípio de comunicação visual e controle de fluxo.
Limites
e controle de fluxo
Um
dos princípios mais importantes da implementação do Kanban é a definição de limites
de trabalho em processo (WIP – Work in Process). Esses limites estabelecem
o número máximo de itens que podem estar em cada etapa do fluxo produtivo.
Quando o limite é atingido, nenhuma nova tarefa pode ser iniciada até que uma
anterior seja concluída.
Os
limites de WIP ajudam a evitar gargalos, reduzem o tempo de ciclo e aumentam a
previsibilidade do sistema. Além disso, tornam os problemas mais visíveis: se
uma etapa acumula cartões, isso indica um desequilíbrio no fluxo que deve ser
analisado e corrigido.
Indicadores
e acompanhamento
A eficácia do Kanban depende do monitoramento constante de indicadores de desempenho, como:
Esses indicadores permitem avaliar a eficiência do fluxo e identificar oportunidades de melhoria. Além disso, a gestão visual — por meio de painéis Kanban, cores e sinalizações — facilita a
comunicação entre as equipes e promove o envolvimento
dos colaboradores na busca por um fluxo cada vez mais ágil e estável.
O sucesso da implementação do Kanban depende também da disciplina e comprometimento das equipes. A filosofia Lean enfatiza que o Kanban não é apenas uma ferramenta técnica, mas um sistema de gestão que estimula o aprendizado, a cooperação e a melhoria contínua.
5.
Considerações finais
O Just in Time e o Kanban representam uma mudança de paradigma na gestão da produção. Ao substituir o modelo empurrado pelo sistema puxado, eles promovem eficiência, flexibilidade e foco no cliente. O JIT busca a produção na quantidade e no momento exatos, enquanto o Kanban garante que o fluxo ocorra de forma visual, controlada e sincronizada.
Essas
práticas, quando implementadas corretamente, reduzem desperdícios, aumentam a
produtividade e melhoram a qualidade dos processos. Contudo, sua adoção requer
disciplina, envolvimento de todos os níveis da organização e uma cultura de
melhoria contínua.
Mais do que ferramentas, o JIT e o Kanban são expressões da filosofia Lean, que valoriza o aprendizado constante, o respeito às pessoas e a busca incansável pela perfeição dos processos.
Referências
Bibliográficas
Jidoka e Qualidade na Fonte
1.
Introdução
O aumento da complexidade dos processos produtivos e a crescente exigência dos consumidores por qualidade e confiabilidade têm levado as organizações a adotarem filosofias de gestão baseadas na melhoria contínua e na eliminação de desperdícios. Dentro do Sistema Toyota de Produção (Toyota Production System – TPS), dois conceitos fundamentais para a construção de uma cultura de
excelência são o Jidoka e a Qualidade na Fonte (Quality at the
Source).
Esses
princípios complementam a filosofia do Lean Manufacturing,
proporcionando um equilíbrio entre eficiência produtiva e qualidade total. O
Jidoka, frequentemente traduzido como “automação com toque humano”, introduz a
ideia de que máquinas e pessoas devem parar imediatamente quando ocorre uma
anomalia, garantindo que problemas sejam identificados e corrigidos quando
surgem.
Assim, o Jidoka representa um modelo de gestão que combina tecnologia inteligente, responsabilidade humana e autonomia operacional, buscando assegurar que produtos defeituosos não avancem no fluxo produtivo e que as causas dos problemas sejam permanentemente eliminadas.
2.
Significado de Jidoka: automação com toque humano
O
termo Jidoka (自働化)
tem origem japonesa e é formado por dois ideogramas: ji (automático) e doka
(ação ou movimento). Entretanto, diferentemente do termo jidouka (自動化), que significa
simplesmente automação, o Jidoka inclui um elemento humano no processo, sendo
comumente traduzido como “automação com toque humano”.
O
conceito foi desenvolvido por Sakichi Toyoda, fundador da Toyoda
Automatic Loom Works (empresa que deu origem à Toyota Motor Corporation), no
início do século XX. Ele inventou um tear automático que parava
automaticamente sempre que o fio se rompia, evitando a produção de tecidos
defeituosos e permitindo que um único operador supervisionasse várias máquinas.
Essa inovação marcou o nascimento do princípio de que “a máquina deve parar
quando ocorre um problema” — o cerne do Jidoka.
Posteriormente,
Taiichi Ohno incorporou o Jidoka como um dos dois pilares
fundamentais do Sistema Toyota de Produção, junto com o Just in Time
(JIT). Enquanto o JIT busca o fluxo contínuo e a entrega no tempo certo, o
Jidoka garante que esse fluxo ocorra com qualidade garantida desde a origem.
Em
sua essência, o Jidoka assegura que o processo produtivo seja autônomo na
identificação e correção de defeitos, sem depender exclusivamente da
inspeção final. Ele também confere ao operador a responsabilidade e a
autoridade para interromper a produção sempre que detectar uma anomalia.
Conforme Liker (2005), o Jidoka é uma expressão prática do respeito pelas pessoas, pois confia no julgamento humano e valoriza a capacidade dos trabalhadores de tomar decisões que protegem a qualidade e a segurança do processo.
3.
Detecção e correção imediata de anomalias
A filosofia do Jidoka parte do princípio de que é
melhor parar a produção do
que permitir que um erro se propague. Essa abordagem contrasta com sistemas
tradicionais, em que defeitos são descobertos apenas ao final da linha de
produção, quando sua correção é mais cara e demorada.
No
Jidoka, o foco está na detecção e correção imediata das anomalias,
garantindo que a qualidade seja construída dentro do processo — e não apenas
verificada posteriormente. Esse conceito é conhecido como “qualidade na
fonte” (Quality at the Source).
Para
que isso seja possível, são empregadas práticas e dispositivos conhecidos como “poka-yoke”
(à prova de erro). Esses mecanismos impedem que o operador realize uma tarefa
incorreta, sinalizando ou interrompendo automaticamente o processo quando algo
fora do padrão ocorre. Exemplos incluem sensores, travas de segurança, alarmes
visuais e sistemas de desligamento automático.
De
acordo com Shingo (1996), a introdução dos poka-yokes e do Jidoka transformou
radicalmente o controle da qualidade: a inspeção passou de uma atividade
reativa para uma ação preventiva e integrada ao processo.
O
ciclo de detecção e correção de anomalias no Jidoka segue geralmente quatro
etapas:
1. Detecção
do problema: a anomalia é identificada automaticamente
pela máquina ou visualmente pelo operador.
2. Parada
imediata: o equipamento ou o operador interrompe a produção
para evitar a propagação do defeito.
3. Correção
provisória: o problema é corrigido no momento,
garantindo a retomada do fluxo produtivo.
4. Análise
da causa raiz: a equipe realiza um estudo mais profundo
(usando ferramentas como os “5 Porquês”) para eliminar definitivamente a origem
do problema.
Esse
processo reflete o princípio de que a qualidade não deve ser inspecionada,
mas sim construída. Quando as anomalias são tratadas no ponto de origem, os
custos de retrabalho e desperdício diminuem significativamente, e a
confiabilidade do sistema aumenta.
Além disso, a detecção imediata de falhas torna o ambiente de trabalho mais transparente e previsível, fortalecendo a cultura de aprendizado e de responsabilidade compartilhada.
4.
Empowerment dos operadores na tomada de decisão
Um dos aspectos mais revolucionários do Jidoka é o empoderamento (empowerment) dos operadores. Diferentemente dos modelos hierárquicos tradicionais, em que apenas supervisores ou engenheiros tinham autoridade para interromper a produção, o Sistema Toyota concede a cada colaborador o poder e a responsabilidade de parar a linha de montagem sempre
que apenas supervisores ou engenheiros tinham autoridade para interromper a
produção, o Sistema Toyota concede a cada colaborador o poder e a
responsabilidade de parar a linha de montagem sempre que uma anomalia for
identificada.
Esse
princípio é uma expressão direta do respeito às pessoas, um dos valores
centrais do pensamento Lean. O operador deixa de ser um executor passivo e
passa a atuar como guardião da qualidade e do processo.
Para
facilitar essa autonomia, as linhas de produção Toyota utilizam sistemas
visuais conhecidos como Andon. Quando um operador percebe um problema,
ele puxa uma corda ou aciona um botão, acendendo um sinal luminoso e emitindo
um alerta sonoro que informa toda a equipe sobre a ocorrência.
O
supervisor e outros colegas se dirigem imediatamente ao local para auxiliar na
solução. Se o problema não for resolvido dentro de um tempo pré-determinado, a
linha é parada.
Esse
mecanismo não é visto como uma falha, mas como uma oportunidade de aprendizado.
Segundo Liker e Meier (2007), a cultura Toyota considera cada parada de linha
como um investimento em melhoria, pois evita que defeitos cheguem ao
cliente e permite o desenvolvimento de competências técnicas e analíticas nos
operadores.
O
empowerment, nesse contexto, não significa apenas dar poder, mas desenvolver
a capacidade de julgamento, responsabilidade e trabalho em equipe. Para
isso, a empresa deve oferecer treinamento constante, comunicação aberta e um
ambiente em que o erro seja tratado como fonte de aprendizado, não como
punição.
Esse tipo de autonomia cria um ciclo virtuoso: quanto mais os operadores se sentem responsáveis pelo resultado, mais atentos e proativos se tornam na prevenção de falhas, elevando o nível geral de qualidade e produtividade.
5.
Considerações finais
O Jidoka e o conceito de Qualidade na Fonte representam uma profunda mudança de paradigma em relação aos métodos tradicionais de controle da qualidade. Em vez de depender de inspeções ao final do processo, o sistema busca prevenir erros e garantir a qualidade no ponto de origem, envolvendo diretamente as pessoas e a tecnologia.
Ao
unir automação inteligente e intervenção humana responsável, o
Jidoka permite que máquinas e operadores trabalhem de forma harmoniosa,
identificando e corrigindo problemas em tempo real. Isso resulta em processos
mais estáveis, produtos de melhor qualidade e uma cultura organizacional
centrada na melhoria contínua.
Além disso, o empowerment dos operadores promove o
engajamento e o senso de propósito, reforçando o princípio de que a qualidade é responsabilidade de todos. Dessa forma, o Jidoka não é apenas uma ferramenta técnica, mas um modelo de gestão humanizado, que valoriza a competência, o aprendizado e o comprometimento coletivo com a excelência.
Referências
Bibliográficas
Cultura Lean e Sustentabilidade
1.
Introdução
A
busca pela eficiência, qualidade e sustentabilidade tornou-se um imperativo
para organizações que desejam se manter competitivas no cenário global
contemporâneo. Nesse contexto, a filosofia Lean se consolidou como um
modelo de gestão capaz de promover resultados consistentes e duradouros, por
meio da eliminação de desperdícios, da melhoria contínua e do envolvimento de
todas as pessoas na busca pela excelência.
Contudo,
o verdadeiro diferencial do Lean não reside apenas em suas ferramentas — como o
5S, o Kanban ou o Kaizen —, mas na cultura organizacional que o
sustenta. Essa cultura, baseada no respeito às pessoas e na melhoria contínua,
é o que garante a longevidade e a sustentabilidade do sistema.
A Cultura Lean vai além da produção enxuta: ela representa uma forma de pensar e agir que coloca o cliente no centro das decisões, estimula o aprendizado organizacional e promove o desenvolvimento humano. Quando bem estabelecida, cria organizações sustentáveis, capazes de se adaptar, inovar e prosperar mesmo diante de mudanças e crises.
2.
Engajamento e liderança Lean
A
criação e manutenção de uma cultura Lean dependem fortemente da liderança e
do engajamento das pessoas. O líder Lean não é apenas um gestor de
resultados, mas um facilitador, mentor e exemplo de comportamento baseado em
valores como respeito, humildade e disciplina.
Segundo Liker (2005),
a liderança Lean se fundamenta em dois princípios: respeito
pelas pessoas e melhoria contínua (Kaizen). Isso significa que o
papel do líder é desenvolver as pessoas para resolver problemas e aprimorar
processos continuamente. Essa abordagem difere dos modelos tradicionais de
comando e controle, privilegiando a autonomia, o aprendizado e o trabalho em
equipe.
O
engajamento surge quando os colaboradores compreendem o propósito da
organização e percebem que suas contribuições são valorizadas. Para isso, a
liderança deve criar um ambiente de confiança, em que o erro seja visto como
oportunidade de aprendizado, e não como falha a ser punida.
A
filosofia Lean também enfatiza o conceito de Gemba Leadership, ou
liderança no “local real” (gemba, em japonês). Significa que o líder
deve estar presente no chão de fábrica ou no ponto onde o trabalho acontece,
observando, questionando e apoiando a equipe na identificação e resolução de
problemas.
Liker e Meier (2007) destacam que a liderança Lean é essencial para sustentar a melhoria contínua, pois é ela quem modela o comportamento desejado e mantém a disciplina dos padrões. O engajamento não é obtido por imposição, mas pela construção de propósito e pela participação ativa de todos no desenvolvimento da empresa.
3.
Indicadores de desempenho (KPIs Lean)
Os
indicadores de desempenho, conhecidos como KPIs (Key Performance
Indicators), são ferramentas fundamentais para medir o progresso e garantir
que os objetivos Lean estejam sendo alcançados. Em um ambiente Lean, os KPIs
não servem apenas para controle, mas também para aprendizado e tomada de
decisão baseada em fatos.
De
acordo com Womack e Jones (2004), a medição do desempenho deve refletir os
princípios da filosofia Lean: eliminar desperdícios, maximizar valor e
promover fluxo contínuo. Assim, os indicadores devem estar alinhados com os
objetivos estratégicos e operacionais da organização.
Os
principais KPIs Lean podem ser classificados em quatro categorias:
1. Indicadores
de fluxo: medem o desempenho dos processos produtivos, como Lead
Time (tempo total de processamento), Cycle Time (tempo de execução
de uma tarefa) e Takt Time (ritmo de produção necessário para atender à
demanda do cliente).
2. Indicadores
de qualidade: avaliam a eficácia dos processos em
atender aos padrões e expectativas do cliente, incluindo o percentual de
defeitos, retrabalho e reclamações.
3. Indicadores de produtividade: medem a eficiência operacional, como a OEE (Overall
Equipment Effectiveness), taxa de utilização de recursos e
produtividade por colaborador.
4. Indicadores
de engajamento e cultura: mensuram aspectos humanos e
culturais, como número de sugestões Kaizen implementadas, participação em
eventos de melhoria e índices de satisfação interna.
A gestão Lean valoriza a transparência e a gestão visual dos indicadores, de modo que todos na organização possam compreender o desempenho e identificar desvios rapidamente. Essa visibilidade permite que as equipes atuem proativamente na resolução de problemas e fortalece o senso de responsabilidade coletiva.
Rother e Shook (2003) reforçam que a medição no Lean não deve ser usada para punir, mas para estimular o aprendizado. Quando os indicadores são corretamente escolhidos e comunicados, tornam-se um instrumento de alinhamento e motivação para toda a empresa.
4.
Manutenção e expansão da cultura Lean na empresa
A
sustentabilidade de uma cultura Lean exige mais do que a implementação inicial
de ferramentas e práticas. Ela depende da manutenção disciplinada dos
padrões e da expansão gradual dos princípios Lean para toda a
organização.
Manter
a cultura Lean implica garantir que os princípios fundamentais — como a
eliminação de desperdícios, o foco no cliente e o respeito pelas pessoas —
estejam incorporados ao dia a dia de todos os colaboradores. Para isso, a educação
contínua e o treinamento prático são indispensáveis.
De
acordo com Liker (2005), uma cultura Lean madura se sustenta por meio de três
pilares:
1. Padronização:
estabelece a base para a melhoria contínua, pois somente o que é padronizado
pode ser aprimorado.
2. Disciplina:
garante a execução consistente dos processos e o cumprimento dos compromissos
assumidos.
3. Kaizen: promove o aprimoramento constante, por meio da participação ativa dos colaboradores na identificação e solução de problemas.
Além
disso, a manutenção da cultura Lean depende de liderança coerente. Os
gestores devem reforçar continuamente os comportamentos desejados e reconhecer
as boas práticas. O uso de comunicação transparente, reconhecimento
público e participação das equipes nas decisões são fatores críticos
para consolidar a filosofia.
A expansão da cultura Lean, por sua vez, ocorre quando os princípios são aplicados não apenas na manufatura, mas também em áreas como administração, serviços, logística, saúde e educação. Essa transversalidade demonstra que o Lean é um modelo de gestão universal, capaz de gerar valor
emonstra que
o Lean é um modelo de gestão universal, capaz de gerar valor em qualquer tipo
de processo.
Ohno (1988) já afirmava que o verdadeiro sucesso do Sistema Toyota não está em suas técnicas isoladas, mas na capacidade da empresa de desenvolver pessoas que pensam e agem de forma enxuta. Portanto, a sustentabilidade do Lean está intrinsecamente ligada à transformação cultural e não apenas à adoção de ferramentas.
5.
Casos de sucesso de empresas Lean
Diversas organizações ao redor do mundo têm alcançado resultados expressivos por meio da adoção da filosofia Lean. Um dos casos mais emblemáticos é o da Toyota Motor Corporation, berço do Sistema Toyota de Produção (TPS). A empresa construiu uma cultura sólida baseada na eliminação de desperdícios, melhoria contínua e respeito pelas pessoas, o que lhe permitiu alcançar níveis extraordinários de produtividade e qualidade.
Outro
exemplo notável é o da Boeing, que aplicou os princípios Lean para
reduzir o tempo de montagem de aeronaves, melhorando a eficiência e a
confiabilidade do processo. A companhia implementou o Value Stream Mapping
e sistemas Kanban para equilibrar o fluxo produtivo e eliminar gargalos.
A
General Electric (GE), sob a liderança de Jack Welch, incorporou o Lean
Six Sigma como parte de sua estratégia de excelência operacional, integrando
princípios enxutos à cultura corporativa e promovendo inovação contínua.
No
setor de serviços, empresas como Starbucks e Amazon também
adotaram o pensamento Lean. A Starbucks aplicou o conceito de fluxo contínuo em
suas lojas para reduzir o tempo de atendimento, enquanto a Amazon utiliza
métodos Lean para otimizar sua cadeia de suprimentos e logística.
No
Brasil, a Embraer é um caso de referência. A empresa implementou
práticas Lean para reduzir desperdícios e aumentar a eficiência na montagem de
aeronaves, alcançando reconhecimento mundial por sua produtividade e qualidade.
Esses exemplos demonstram que o sucesso do Lean não está restrito a um setor específico, mas sim à capacidade da organização de internalizar seus valores e sustentar a melhoria contínua por meio da liderança e do engajamento das pessoas.
6.
Considerações finais
A
Cultura Lean é, antes de tudo, uma filosofia de gestão baseada no
respeito, na disciplina e na busca incansável pela melhoria contínua. Ela
transcende ferramentas e métodos, representando uma forma de pensar e agir que
coloca o ser humano no centro do processo produtivo.
A sustentabilidade do Lean depende da
coerência entre liderança, processos
e valores organizacionais. O engajamento das pessoas, a clareza dos indicadores
de desempenho e o compromisso com o aprendizado contínuo são fatores
determinantes para o sucesso.
Empresas que consolidam essa cultura alcançam não apenas ganhos operacionais, mas também se tornam organizações resilientes, inovadoras e sustentáveis, capazes de se adaptar às mudanças do mercado sem perder sua essência. Assim, a cultura Lean não é um destino, mas um caminho contínuo de evolução e excelência.
Referências
Bibliográficas
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