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Estrutura Metálica na Construção Civil

 ESTRUTURA METÁLICA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

 

Projeto e Dimensionamento Básico

Princípios de Cálculo Estrutural em Aço

 

1. Introdução

O cálculo estrutural em aço é um campo da engenharia civil dedicado à análise e dimensionamento de elementos estruturais metálicos, garantindo que estes possam suportar com segurança as cargas a que estarão sujeitos ao longo da vida útil da edificação. Baseia-se na aplicação de princípios da mecânica dos sólidos, resistência dos materiais e normas técnicas, como a ABNT NBR 8800:2008, para assegurar que a estrutura atenda aos requisitos de segurança, funcionalidade e durabilidade.

Este texto aborda os conceitos fundamentais sobre os esforços solicitantes que atuam sobre os elementos estruturais e os critérios de verificação de segurança e estabilidade aplicáveis ao projeto de estruturas de aço.

2. Noções de Esforços Solicitantes

Os elementos de uma estrutura estão sujeitos a forças externas e internas que resultam em diferentes tipos de esforços. Os principais esforços solicitantes são: tração, compressão, flexão e cisalhamento. O dimensionamento correto de perfis metálicos deve considerar todos os esforços atuantes, individualmente ou em combinação.

2.1 Tração

A tração é o esforço que tende a alongar um elemento estrutural. Os elementos tracionados são submetidos a uma força axial que atua ao longo do seu eixo, promovendo o alongamento da peça. Um exemplo típico são os tirantes ou barras de treliças metálicas.

A tensão de tração é calculada por meio da fórmula:

σt = Nt / A​​

Onde:

  • σt​ = tensão de tração (MPa);
  • Nt​ = força de tração (N);
  • A = área da seção transversal (mm²).

Para garantir a segurança, essa tensão deve ser menor ou igual à resistência de cálculo do aço, considerando os coeficientes de segurança previstos em norma.

2.2 Compressão

A compressão é o esforço oposto à tração, atuando de forma a encurtar o elemento. Em estruturas metálicas, pilares e montantes são frequentemente submetidos à compressão. Nestes casos, além da resistência axial, deve-se considerar o risco de flambagem, que é a instabilidade lateral causada pela esbeltez do elemento.

A esbeltez é definida como:

λ = L / r ​

Onde:

  • L = comprimento de flambagem;
  • r = raio de giração da seção.

A flambagem é uma das principais limitações para elementos comprimidos, e seu cálculo exige atenção especial à forma de restrição das extremidades, ao comprimento livre e ao tipo de seção.

2.3 Flexão

A flexão ocorre

flexão ocorre quando uma força transversal é aplicada a um elemento estrutural, gerando momentos fletores que induzem tensões na seção. As vigas metálicas estão entre os elementos mais comuns sujeitos à flexão. A tensão máxima ocorre nas fibras mais afastadas do eixo neutro, sendo calculada por:

σf = My / I​

Onde:

  • M = momento fletor (N·mm);
  • y = distância do ponto de interesse ao eixo neutro;
  • I = momento de inércia da seção.

No caso de perfis delgados, também é necessário considerar os efeitos de instabilidade local, flambagem lateral com torção e escoamento do material.

2.4 Cisalhamento

O cisalhamento é um esforço que atua paralelamente à superfície da seção transversal, podendo causar o deslizamento entre diferentes partes do material. É comum em vigas metálicas na região próxima aos apoios.

A tensão de cisalhamento média é dada por:

τ = V / Ac

Onde:

  • τ = tensão de cisalhamento (MPa);
  • V = força cortante (N);
  • Ac​ = área resistente ao cisalhamento (mm²).

O dimensionamento deve verificar se a resistência ao cisalhamento é suficiente, especialmente em conexões parafusadas ou soldadas.

3. Verificação de Segurança

O dimensionamento das estruturas metálicas segue o método dos estados limites, conforme definido na NBR 8800. Este método distingue dois tipos principais de estados limites:

  • Estado limite último (ELU): relacionado ao colapso ou falha estrutural (ruptura, flambagem, instabilidade);
  • Estado limite de serviço (ELS): relacionado ao funcionamento adequado da estrutura (deformações excessivas, vibrações, fissuras).

3.1 Fatores de Segurança

No método dos estados limites, as cargas são majoradas por coeficientes de ponderação para representar situações extremas, enquanto as resistências dos materiais são reduzidas por coeficientes de segurança.

A equação geral de verificação é:

∑γf F ≤ R / γr ​

Onde:

  • F = carga solicitante;
  • γf​ = fator de majoração da carga;
  • R = resistência característica do material;
  • γr​ = fator de redução da resistência.

Esses fatores são definidos pelas normas técnicas conforme o tipo de solicitação, importância da estrutura e variabilidade dos materiais.

4. Verificação de Estabilidade

A estabilidade global da estrutura é um dos pontos mais críticos do projeto estrutural em aço. Deve-se garantir que a estrutura não sofra deslocamentos ou rotações excessivas que comprometam sua integridade.

4.1 Flambagem Global

A flambagem

global ocorre quando um elemento comprimido sofre deslocamento lateral devido à sua esbeltez. Para evitá-la, utiliza-se o fator de flambagem (χ), calculado a partir da esbeltez reduzida (λˉ\bar{\lambda}λˉ) e das curvas de flambagem disponíveis na NBR 8800.

O esforço resistente de cálculo à compressão é dado por:

Nrd = χ A fy / γ

Onde:

  • χ = fator de redução por flambagem;
  • A = área da seção;
  • fy​ = limite de escoamento do aço;
  • γ = fator de segurança.

4.2 Estabilidade Lateral de Vigas

Vigas metálicas longas podem sofrer flambagem lateral com torção, especialmente quando não estão adequadamente travadas lateralmente. O dimensionamento deve prever travamentos a intervalos regulares ou o uso de seções mais estáveis, como perfis caixão ou vigas com enrijecedores.

5. Considerações Finais

O cálculo estrutural em aço exige um conhecimento técnico rigoroso sobre os tipos de esforços atuantes e as propriedades do material. A correta análise das solicitações de tração, compressão, flexão e cisalhamento, aliada à verificação dos estados limites e das condições de estabilidade, é essencial para garantir a segurança e funcionalidade da estrutura.

Além das fórmulas fundamentais, o engenheiro deve sempre seguir as diretrizes das normas técnicas, utilizar softwares de cálculo reconhecidos e aplicar critérios de projeto compatíveis com a realidade da obra. O domínio dos princípios de cálculo estrutural é uma etapa indispensável na formação do profissional de estruturas metálicas.

Referências Bibliográficas

  • ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 8800: Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro: ABNT, 2008.
  • MACHADO, R. A. Estruturas de Aço – Fundamentos e Aplicações. São Paulo: Blucher, 2016.
  • PINTO, S. J. M. Construções Metálicas: Projeto e Detalhamento. Rio de Janeiro: LTC, 2010.
  • SALVADORI, M. Estruturas: Ou Por que as Construções Não Caem?. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
  • HIBBELER, R. C. Resistência dos Materiais. São Paulo: Pearson, 2010.


Cargas Atuantes em Estruturas Metálicas: Permanentes, Variáveis e Acidentais

1. Introdução

O dimensionamento de qualquer estrutura depende fundamentalmente da correta definição e consideração das cargas atuantes que incidirão sobre ela ao longo de sua vida útil. Essas cargas são forças externas que produzem efeitos como deslocamentos, tensões e deformações nos elementos

que incidirão sobre ela ao longo de sua vida útil. Essas cargas são forças externas que produzem efeitos como deslocamentos, tensões e deformações nos elementos estruturais, sendo essenciais para as análises de resistência, estabilidade e desempenho.

Na engenharia estrutural, as cargas são tradicionalmente classificadas em três categorias principais: cargas permanentes, cargas variáveis e cargas acidentais. Essa classificação é utilizada no contexto do método dos estados limites, adotado pela norma brasileira ABNT NBR 8681:2003 – Ações e Combinações de Ações para Estruturas de Edificações, que determina como essas cargas devem ser combinadas para verificação da segurança das estruturas.

2. Cargas Permanentes

As cargas permanentes (também chamadas de ações permanentes) são aquelas que atuam continuamente ao longo de toda a vida útil da estrutura e não sofrem variações significativas com o tempo. Elas estão associadas ao peso próprio da estrutura e de todos os elementos fixos nela incorporados.

Exemplos típicos de cargas permanentes incluem:

  • Peso dos elementos estruturais (vigas, pilares, lajes, treliças);
  • Revestimentos de pisos, tetos e paredes;
  • Equipamentos fixos (caixas d’água, instalações técnicas embutidas, forros suspensos);
  • Painéis de vedação e alvenarias que não serão removidas.

As cargas permanentes devem ser determinadas com base nas dimensões geométricas do projeto e na densidade dos materiais, conforme indicado em tabelas específicas ou catálogos técnicos. Por serem constantes, sua consideração é relativamente simples, mas exige precisão na definição dos materiais e dos acabamentos previstos.

3. Cargas Variáveis

As cargas variáveis (ou ações variáveis) são aquelas que não atuam de forma contínua e podem variar em intensidade, posição e frequência ao longo do tempo. Elas dependem da utilização da edificação e dos usos a que o espaço será submetido, sendo, portanto, mais incertas do que as cargas permanentes.

Exemplos de cargas variáveis:

  • Carga de uso e ocupação (pessoas, móveis, equipamentos móveis);
  • Sobrecargas temporárias (estoques, montagens de eventos);
  • Ações do vento;
  • Ações térmicas (dilatações e contrações devidas a variações de temperatura);
  • Cargas de neve (em regiões específicas).

As cargas de uso e ocupação são especificadas pela ABNT NBR 6120:2019 – Cargas para o Cálculo de Estruturas de Edificações, que estabelece valores mínimos para diferentes tipos de ambiente:

salas de aula, escritórios, áreas de circulação, depósitos, entre outros.

O projeto deve prever o pior cenário possível de carregamento, adotando valores característicos majorados segundo os coeficientes estabelecidos nas normas técnicas.

As ações do vento, por sua vez, são tratadas na ABNT NBR 6123:1988, e envolvem a consideração de pressões positivas e negativas nas superfícies da edificação, de acordo com sua altura, topografia, forma geométrica e localização geográfica.

4. Cargas Acidentais

As cargas acidentais (ou ações excepcionais) são aquelas que não se esperam com regularidade, mas que podem ocorrer de forma eventual e causar efeitos significativos sobre a estrutura. Embora tenham baixa probabilidade de ocorrência, são incluídas no projeto por representarem riscos relevantes à integridade da edificação e à segurança dos usuários.

Exemplos de cargas acidentais:

  • Explosões;
  • Impactos veiculares ou de equipamentos;
  • Incêndios;
  • Sismos (terremotos);
  • Cargas de manutenção e montagem pesada;
  • Falhas localizadas de sistemas estruturais ou fundações.

A ABNT NBR 15421:2006 – Projeto de Estruturas Resistentes a Sismos trata das ações sísmicas em estruturas, embora sua aplicação seja mais frequente em determinadas regiões do Brasil com maior atividade sísmica. Já a ABNT NBR 14432:2001 trata da determinação da carga de incêndio para edificações e é fundamental para projetos que envolvem segurança contra fogo.

As ações acidentais geralmente são consideradas em combinações específicas de projeto chamadas de combinações excepcionais, que incluem fatores de redução aplicáveis à probabilidade de ocorrência simultânea com outras cargas.

5. Combinações de Cargas

As combinações de ações são formas sistemáticas de considerar, em conjunto, as diferentes categorias de cargas atuantes sobre a estrutura. O objetivo é garantir que o projeto resista às condições mais desfavoráveis de carregamento possível.

A ABNT NBR 8681 define dois tipos principais de combinações:

  • Combinação de ações para o estado limite último (ELU): voltada para garantir que a estrutura não entre em colapso;
  • Combinação de ações para o estado limite de serviço (ELS): voltada para garantir que a estrutura mantenha funcionalidade e conforto, sem deformações excessivas, fissuras ou vibrações.

As cargas permanentes recebem fatores de ponderação próximos de 1,4, enquanto as cargas variáveis e acidentais recebem fatores entre 1,2 e 1,5, conforme a

situação de cálculo. Nas combinações para o ELS, os fatores são iguais ou inferiores a 1,0.

O uso dessas combinações permite que o projeto seja mais racional e econômico, evitando superdimensionamentos e promovendo maior eficiência estrutural.

6. Considerações Finais

A correta definição das cargas atuantes é um dos fundamentos do cálculo estrutural e essencial para o desempenho adequado das edificações. Cargas permanentes representam a base fixa do carregamento, cargas variáveis refletem o uso cotidiano da edificação e cargas acidentais lidam com eventos raros, mas potencialmente catastróficos.

O engenheiro projetista deve não apenas dominar os princípios mecânicos envolvidos, mas também conhecer profundamente as normas técnicas aplicáveis, que fornecem os parâmetros numéricos e os métodos de combinação adequados. O equilíbrio entre segurança, funcionalidade e economia depende diretamente da precisão na definição e análise dessas ações.

Referências Bibliográficas

  • ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 8681: Ações e combinações de ações para estruturas de edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.
  • ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6120: Cargas para o cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 2019.
  • ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6123: Forças devido ao vento em edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 1988.
  • ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15421: Projeto de estruturas resistentes a sismos. Rio de Janeiro: ABNT, 2006.
  • MACHADO, R. A. Estruturas de Aço – Fundamentos e Aplicações. São Paulo: Blucher, 2016.
  • PINTO, S. J. M. Construções Metálicas: Projeto e Detalhamento. Rio de Janeiro: LTC, 2010.
  • HIBBELER, R. C. Engenharia Estrutural – Mecânica dos Materiais. São Paulo: Pearson, 2010.


Conexões Metálicas em Estruturas de Aço

1. Introdução

As conexões metálicas são componentes fundamentais em estruturas de aço, pois garantem a continuidade entre os elementos estruturais e permitem que os esforços solicitantes sejam transferidos adequadamente. Seu desempenho afeta diretamente a resistência, a estabilidade e a durabilidade da estrutura.

As conexões podem ser projetadas para transmitir diferentes tipos de esforços — como tração, compressão, cisalhamento e momento fletor — e devem ser dimensionadas com base nas normas técnicas, como a ABNT NBR 8800:2008, que trata do projeto de estruturas

metálicas e mistas de aço e concreto. Este texto aborda os principais tipos de conexões metálicas, seus componentes e os cuidados necessários no detalhamento para garantir a integridade da estrutura.

2. Tipos de Conexões

As conexões metálicas podem ser classificadas, quanto à forma de execução, em parafusadas, soldadas e rebitadas. Cada tipo possui características específicas quanto à resistência, montagem e aplicabilidade.

2.1 Conexões Parafusadas

As conexões parafusadas são amplamente utilizadas por sua praticidade e facilidade de montagem em campo. Consistem no uso de parafusos de alta resistência que atravessam as chapas metálicas a serem unidas. Os parafusos podem trabalhar por cisalhamento, tração ou ambos, dependendo da posição e da carga.

Existem dois tipos principais:

  • Conexão por atrito (deslizamento impedido): exige controle rigoroso do torque de aperto para garantir o atrito necessário entre as superfícies;
  • Conexão por apoio (deslizamento permitido): onde o contato direto entre os parafusos e os furos transmite os esforços.

As conexões parafusadas permitem desmontagens e ajustes, o que as torna ideais para estruturas modulares e pré-fabricadas. Porém, exigem furação precisa e controle de torque adequado para assegurar o desempenho estrutural.

2.2 Conexões Soldadas

As conexões soldadas são obtidas pela fusão localizada do metal das peças a serem unidas, com ou sem adição de material. Proporcionam continuidade estrutural, alta resistência e excelente desempenho frente a esforços combinados.

Os tipos mais comuns são:

  • Solda de filete: aplicada na união entre superfícies perpendiculares;
  • Solda de topo: usada para unir superfícies planas dispostas no mesmo plano;
  • Soldas intermitentes: alternam trechos soldados e não soldados, usadas para reduzir calor e custo.

A execução de soldas exige controle rigoroso de qualidade, incluindo qualificação de procedimentos, ensaios destrutivos e não destrutivos (como ultrassom e líquidos penetrantes). Também é necessário considerar os efeitos térmicos, que podem gerar tensões residuais e distorções.

2.3 Conexões Rebitadas

As conexões rebitadas foram muito utilizadas no passado, antes da popularização da solda e do parafuso de alta resistência. Consistem na deformação plástica de um pino metálico (o rebite), que é introduzido a quente no furo e martelado para formar cabeças em ambas as extremidades.

Embora ainda sejam encontradas em estruturas antigas, os

rebites praticamente deixaram de ser utilizados em projetos modernos, devido à dificuldade de execução, menor controle de qualidade e custo elevado. Seu uso é atualmente limitado a aplicações especiais ou obras de restauração.

3. Componentes das Ligações

A eficiência de uma conexão metálica depende do correto dimensionamento e especificação de seus componentes. Entre os principais elementos, destacam-se:

3.1 Chapa de Ligação

A chapa de ligação é o elemento intermediário que conecta dois ou mais perfis estruturais. Pode ser plana, angular ou perfilada, conforme a geometria da ligação. Deve possuir espessura e dimensões adequadas para resistir às tensões geradas pelas cargas aplicadas.

Chapas muito delgadas podem deformar-se localmente (esmagamento ou flambagem), comprometendo a transferência de esforços. Já chapas excessivamente espessas dificultam a soldagem e aumentam o custo e o peso da estrutura.

3.2 Parafusos

Os parafusos estruturais são fabricados com aço de alta resistência e devem atender a normas técnicas específicas, como a ABNT NBR 5580 ou a ASTM A325/A490. São classificados de acordo com sua classe de resistência (ex: 8.8, 10.9) e seu modo de funcionamento (tração, cisalhamento, atrito).

Parafusos com arruelas são recomendados para distribuir melhor a carga e proteger a superfície da chapa. O número, diâmetro, espaçamento e distância mínima entre parafusos devem seguir as normas para evitar falhas como arrancamento, esmagamento ou flambagem local.

3.3 Cordões de Solda

Os cordões de solda são as regiões fundidas que unem os elementos metálicos. Sua geometria, comprimento e tipo (filete ou de penetração) devem ser definidos conforme o tipo de ligação e os esforços envolvidos.

É fundamental que o dimensionamento leve em conta a resistência do metal de base, do eletrodo e da zona afetada pelo calor. A execução deve seguir procedimentos qualificados, garantindo a continuidade e integridade da ligação. Cordões mal executados podem apresentar trincas, porosidades e falta de penetração.

4. Cuidados com o Detalhamento

O detalhamento das conexões é uma etapa essencial no projeto de estruturas metálicas. Um bom detalhamento assegura não apenas o desempenho estrutural adequado, mas também a facilidade de fabricação, transporte e montagem. Os principais cuidados incluem:

4.1 Compatibilidade com os Esforços

As ligações devem ser compatíveis com os esforços solicitantes calculados. Por exemplo, conexões em regiões sujeitas a momentos fletores

elevados exigem ligações rígidas com continuidade de alma e mesa. Já em trechos apenas tracionados, conexões simples com chapas planas e parafusos podem ser suficientes.

4.2 Evitar Concentrações de Tensão

A geometria das conexões deve ser tal que evite descontinuidades bruscas ou cantos vivos, que concentram tensões e podem gerar falhas por fadiga. O uso de enrijecedores, chapas de transição e chanfros é recomendável para melhorar a distribuição das tensões.

4.3 Acessibilidade e Montagem

As conexões devem ser pensadas considerando o acesso para ferramentas de montagem (parafusadeiras, soldadores, etc.). Espaços mínimos entre parafusos e entre elementos são fundamentais para permitir a instalação correta sem interferências.

4.4 Controle de Qualidade

Conexões devem ser inspecionadas visualmente e, quando necessário, com ensaios específicos. O controle de qualidade deve incluir:

  • Verificação de torque dos parafusos;
  • Inspeção visual e por ultrassom das soldas;
  • Conferência de alinhamentos e tolerâncias geométricas.

Um erro comum em obras é subestimar a complexidade das ligações, o que pode comprometer a segurança e funcionalidade da estrutura como um todo.

5. Considerações Finais

As conexões metálicas são tão importantes quanto os elementos estruturais principais, pois representam os pontos de transmissão de esforços entre diferentes partes da estrutura. A escolha entre conexões parafusadas, soldadas ou rebitadas deve considerar critérios técnicos, econômicos e operacionais.

O bom desempenho das ligações depende de um projeto cuidadoso, detalhamento claro e execução rigorosa, conforme as exigências normativas. A negligência em qualquer uma dessas etapas pode comprometer seriamente a integridade da estrutura.

O domínio dos conceitos sobre conexões metálicas é, portanto, essencial para engenheiros, técnicos e projetistas que atuam com estruturas de aço.

Referências Bibliográficas

  • ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 8800: Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro: ABNT, 2008.
  • ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5580: Parafusos para estruturas metálicas. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.
  • MACHADO, R. A. Estruturas de Aço – Fundamentos e Aplicações. São Paulo: Blucher, 2016.
  • PINTO, S. J. M. Construções Metálicas: Projeto e Detalhamento. Rio de Janeiro: LTC, 2010.
  • SALVADORI, M. Estruturas – Ou Por
  • – Ou Por que as Construções Não Caem?. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
  • AISC – American Institute of Steel Construction. Steel Construction Manual, 15th edition. Chicago: AISC, 2017.


Análise e Interpretação de Projetos de Estrutura Metálica

1. Introdução

A correta leitura e interpretação de projetos de estruturas metálicas é essencial para garantir que a obra atenda aos requisitos de segurança, funcionalidade, estética e economia. Esses projetos envolvem uma série de documentos técnicos — como plantas baixas, cortes, elevações, tabelas de perfis e memoriais de cálculo — que precisam ser compreendidos com precisão por engenheiros, arquitetos, projetistas, técnicos e profissionais da execução.

A análise do projeto estrutural permite prever o comportamento da edificação frente às cargas atuantes, selecionar os elementos adequados e planejar a montagem em campo. Além disso, com o auxílio de softwares específicos, é possível realizar modelagens e simulações estruturais que tornam o processo de projeto mais confiável e produtivo.

2. Leitura de Plantas e Cortes

As plantas e cortes de estruturas metálicas compõem a representação gráfica do projeto, transmitindo informações sobre a geometria, os elementos estruturais e as ligações. A leitura correta desses documentos exige conhecimento de simbologia, escalas, projeções ortogonais e convenções técnicas.

2.1 Plantas Baixas

As plantas baixas representam a estrutura vista de cima, com cortes horizontais a uma altura convencional, normalmente de 1,20 m. Nelas são indicadas:

  • Localização de pilares e vigas;
  • Direção de lançamento de vigas e treliças;
  • Distâncias entre eixos estruturais;
  • Cotas e níveis altimétricos;
  • Detalhes de conexões, quando necessário.

Cada elemento estrutural é identificado por códigos (ex: V01 para viga, P02 para pilar), que correspondem a legendas ou tabelas com informações dimensionais.

2.2 Cortes e Elevações

Os cortes são vistas seccionadas da estrutura, que mostram a altura dos elementos e o modo como se relacionam verticalmente. São essenciais para visualizar:

  • Altura entre pisos;
  • Nível de apoio de vigas e lajes;
  • Altura de pilares;
  • Sobreposições e interferências entre elementos.

As elevações apresentam as faces externas da estrutura, permitindo a verificação da modulação e da simetria do projeto. A correta interpretação desses desenhos é fundamental para o alinhamento da estrutura, principalmente em obras

com múltiplos pavimentos ou geometrias complexas.

3. Interpretação de Tabelas de Perfis e Memoriais de Cálculo

Os projetos de estruturas metálicas são acompanhados de tabelas e memoriais que complementam os desenhos, fornecendo dados fundamentais para o dimensionamento e execução da obra.

3.1 Tabelas de Perfis

As tabelas de perfis metálicos apresentam os elementos utilizados na estrutura, normalmente organizados por tipo (vigas, pilares, contraventamentos), identificador, dimensões, peso por metro e material. Os perfis podem ser:

  • Laminados (ex: W, H, I);
  • Formados a frio (ex: U, Z, L);
  • Tubulares (circulares, quadrados ou retangulares);
  • Compostos ou soldados.

Essas tabelas também indicam o comprimento de cada elemento, sua seção transversal e sua aplicação específica no projeto. A leitura correta permite verificar se o perfil escolhido atende aos critérios de resistência e rigidez estabelecidos nas normas técnicas.

3.2 Memoriais de Cálculo

O memorial de cálculo é um documento técnico que descreve os critérios adotados no dimensionamento da estrutura. Inclui:

  • Hipóteses de carregamento (permanente, variável e acidental);
  • Cargas aplicadas e combinações conforme a ABNT NBR 8681;
  • Verificações dos elementos estruturais em tração, compressão, flexão, cisalhamento e flambagem;
  • Dimensionamento das conexões (soldas e parafusos);
  • Limites de deslocamento e deformações admissíveis.

A interpretação correta do memorial permite verificar a conformidade do projeto com as normas, validar os resultados do dimensionamento e tomar decisões de reforço ou substituição, se necessário.

4. Softwares de Apoio

O uso de softwares é indispensável no projeto moderno de estruturas metálicas, pois permite a simulação precisa do comportamento estrutural, otimiza o tempo de projeto e reduz erros de cálculo. Entre os programas mais utilizados, destacam-se:

4.1 Ftool

Desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Ftool é um software gratuito para análise de estruturas planas. Permite modelar vigas, treliças e pórticos em duas dimensões, aplicando cargas e apoios para obtenção de diagramas de esforços (momentos fletores, esforços normais, cortantes).

É ideal para análises preliminares, estudos acadêmicos e verificação de trechos simples de estruturas.

4.2 TQS

O TQS é um sistema comercial amplamente usado no Brasil para cálculo e detalhamento de estruturas de concreto armado, mas também oferece suporte à

integração com estruturas metálicas. Ele permite a criação de modelos tridimensionais e análise estrutural segundo os estados limites.

Além de fornecer os dimensionamentos, o TQS gera desenhos detalhados, listas de materiais e memoriais de cálculo, sendo indicado para escritórios de engenharia e construtoras.

4.3 CypeCAD

O CypeCAD é um software espanhol de engenharia estrutural com versão brasileira adaptada às normas da ABNT. Permite o cálculo de estruturas mistas, metálicas, de concreto armado e pré-moldado.

Oferece recursos como modelagem tridimensional, análise estática e dinâmica, geração automática de ligações metálicas e compatibilização com projetos em BIM. É bastante utilizado em projetos complexos e obras de médio e grande porte.

5. Considerações Finais

A interpretação adequada de projetos de estruturas metálicas exige mais do que leitura gráfica: requer compreensão dos critérios de dimensionamento, dos tipos de perfis utilizados, das condições de carregamento e das ferramentas computacionais aplicadas.

Profissionais envolvidos com projetos e execução devem desenvolver habilidades específicas para analisar plantas, cortes, tabelas de perfis e memoriais técnicos com segurança e critério. O domínio de softwares como Ftool, TQS e CypeCAD complementa essa formação, permitindo avaliações precisas e tomadas de decisão mais embasadas ao longo do processo construtivo.

A integração entre projeto estrutural, arquitetura e execução é essencial para garantir qualidade, segurança e desempenho das estruturas metálicas, e a análise criteriosa da documentação técnica é o ponto de partida para esse sucesso.

Referências Bibliográficas

  • ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 8800: Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro: ABNT, 2008.
  • MACHADO, R. A. Estruturas de Aço – Fundamentos e Aplicações. São Paulo: Blucher, 2016.
  • PINTO, S. J. M. Construções Metálicas: Projeto e Detalhamento. Rio de Janeiro: LTC, 2010.
  • CYPE Ingenieros. Manual do Usuário – CypeCAD Brasil. Disponível em: https://www.cype.com.br
  • Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ftool – Software de Análise Estrutural. Disponível em: https://www.ftool.com.br
  • TQS Informática. TQS – Soluções para Engenharia Estrutural. Disponível em: https://www.tqs.com.br

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