CRIMINOLOGIA APLICADA À SEGURANÇA PÚBLICA
Fundamentos da Criminologia
Introdução
à Criminologia
Definição e Escopo da Criminologia
A criminologia é a ciência que estuda o crime, os criminosos, as vítimas
e as reações sociais ao crime. Seu escopo abrange uma ampla gama de aspectos,
desde a análise das causas e consequências do comportamento criminoso até a
avaliação de políticas e práticas de controle e prevenção do crime. A
criminologia busca compreender não apenas por que as pessoas cometem crimes,
mas também como a sociedade pode responder de maneira eficaz e justa a essas
ações.
História e Evolução da Criminologia como Ciência
A criminologia, como campo de estudo sistemático, começou a tomar forma
no século XVIII, embora as reflexões sobre o crime e o comportamento criminoso
sejam tão antigas quanto a própria civilização. A Escola Clássica, representada
por pensadores como Cesare Beccaria e Jeremy Bentham, foi uma das primeiras a
oferecer uma abordagem teórica ao crime, enfatizando o livre-arbítrio, a
racionalidade dos indivíduos e a necessidade de leis claras e justas.
No século XIX, a Escola Positivista trouxe uma mudança significativa ao
introduzir métodos científicos ao estudo do crime. Cesare Lombroso, um dos
principais representantes dessa escola, sugeriu que fatores biológicos e
psicológicos podiam predispor indivíduos ao comportamento criminoso. Essa
abordagem abriu caminho para uma compreensão mais empírica e multidisciplinar
do crime, incorporando insights da biologia, psicologia e sociologia.
Com o avanço do século XX, a criminologia expandiu-se ainda mais,
desenvolvendo teorias que incorporavam fatores sociais, econômicos e culturais.
As teorias da Anomia, formuladas por Émile Durkheim e posteriormente ampliadas
por Robert K. Merton, e a Teoria da Subcultura, desenvolvida por Albert Cohen,
exploraram como a estrutura social e as pressões culturais podem influenciar o
comportamento criminoso.
Principais Teorias Criminológicas
A criminologia moderna é sustentada por várias teorias fundamentais, cada
uma oferecendo uma perspectiva única sobre o crime e seu controle.
1.
Teoria do Livre Arbítrio (Clássica): Propõe que o crime é resultado de escolhas racionais
feitas por indivíduos que pesam os benefícios e os custos de suas ações. Esta
teoria defende que penas claras e proporcionais podem deter o comportamento
criminoso.
2. Teoria Positivista: Sugere que o comportamento criminoso é determinado por
fatores além do
controle do indivíduo, como predisposições biológicas, condições psicológicas e
influências sociais. Lombroso é um nome chave nesta teoria, destacando
características físicas associadas ao crime.
3.
Teoria da Anomia: Desenvolvida por Durkheim e Merton, esta teoria argumenta que o crime
resulta de uma disjunção entre metas culturais e os meios disponíveis para
alcançá-las. Quando os indivíduos não conseguem atingir essas metas por meios
legítimos, podem recorrer ao crime.
4.
Teoria da Subcultura: Propõe que certos grupos sociais desenvolvem valores e normas que
divergem das expectativas da sociedade dominante, o que pode levar ao
comportamento criminoso. Albert Cohen destacou como subculturas juvenis podem
adotar padrões de comportamento que incentivam o crime.
5.
Teoria do Controle: Esta teoria, associada a Travis Hirschi, foca nos fatores que impedem as
pessoas de cometer crimes. Argumenta que vínculos sociais fortes, como família,
escola e comunidade, podem deter o comportamento criminoso.
6.
Teoria do Rótulo: Sugere que o crime é um resultado da sociedade rotular indivíduos como
criminosos, o que pode levar à internalização dessa identidade e perpetuação do
comportamento criminoso. Howard Becker é um dos principais teóricos desta
abordagem.
Essas teorias, entre outras, constituem o corpo essencial da criminologia
e continuam a evoluir à medida que novos métodos de pesquisa e perspectivas
emergem. O estudo da criminologia é crucial para desenvolver estratégias
eficazes de prevenção e controle do crime, informando políticas públicas e
práticas de justiça criminal que promovam a segurança e a justiça na sociedade.
Teorias
Criminológicas Clássicas
Teoria do Livre Arbítrio e o Positivismo
A criminologia clássica e a positivista oferecem duas abordagens
distintas e fundamentais para o entendimento do comportamento criminoso, cada
uma com suas próprias premissas e implicações.
Teoria do Livre Arbítrio: A Teoria do Livre Arbítrio é a base da Escola Clássica da
criminologia, surgida no século XVIII com pensadores como Cesare Beccaria e
Jeremy Bentham. Essa teoria postula que os seres humanos são agentes racionais
que cometem crimes após deliberar sobre os prós e contras de suas ações.
Segundo essa visão, o crime é uma escolha consciente e calculada, e a punição
deve ser proporcional ao crime cometido para servir como um eficaz dissuasor.
As principais ideias incluem:
Positivismo: A
Escola Positivista, que ganhou destaque no século XIX com figuras como Cesare
Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele Garofalo, introduziu uma abordagem mais
científica e empírica ao estudo do crime. Ao contrário da Escola Clássica, os
positivistas acreditam que o comportamento criminoso é determinado por fatores
biológicos, psicológicos e sociais, muitas vezes fora do controle do indivíduo.
As principais ideias incluem:
Escola Clássica e Escola Positivista
Escola Clássica: A Escola Clássica surgiu como uma reação contra os sistemas judiciais
arbitrários e brutais do século XVIII. Beccaria, em sua obra "Dos Delitos
e das Penas", argumentou que as leis e as punições deveriam ser justas,
claras e proporcionais ao crime. Bentham, por sua vez, introduziu a ideia de
utilitarismo, sugerindo que as ações deveriam ser julgadas pela sua
contribuição ao bem-estar geral da sociedade. Os princípios da Escola Clássica
incluem:
Escola Positivista: A Escola Positivista trouxe uma perspectiva inovadora ao estudar o crime
através de métodos científicos. Lombroso, considerado o pai da criminologia
positivista, propôs que os criminosos eram "atavismos", indivíduos
com características primitivas que os predispunham ao crime. Ferri e Garofalo
ampliaram essas ideias, considerando fatores sociais e ambientais. Os
princípios da Escola Positivista incluem:
Críticas e Contribuições dessas Teorias para a
Criminologia Moderna
Críticas:
Contribuições:
Ambas as escolas, com suas diferentes abordagens e perspectivas,
contribuíram significativamente para a criminologia moderna, oferecendo um
entendimento mais complexo e abrangente do comportamento criminoso e das
maneiras de preveni-lo e tratá-lo.
Teorias
Criminológicas Modernas
As teorias criminológicas modernas aprofundam a compreensão do
comportamento criminoso, destacando fatores sociais, culturais e contextuais.
Elas oferecem diversas perspectivas sobre por que as pessoas cometem crimes e
como a sociedade deve responder a essas ações. Entre as mais influentes estão a
Teoria da Anomia e do Conflito, a Teoria da Subcultura e da Aprendizagem, e a
Teoria do Controle e do Rótulo.
Teoria da Anomia e do Conflito
Teoria da Anomia: Desenvolvida por Émile Durkheim e posteriormente ampliada por Robert K. Merton, a Teoria da Anomia explica o crime como resultado de uma disjunção entre metas culturais e os meios institucionalizados para alcançá-las. Durkheim introduziu o conceito de anomia para descrever uma condição social onde as normas estão
quebradas ou ausentes, levando a um estado de desordem. Merton
adaptou essa ideia para explicar como a pressão para alcançar o sucesso
material pode levar ao comportamento desviante quando os meios legítimos são
inacessíveis. Ele identificou cinco modos de adaptação às tensões sociais:
conformidade, inovação, ritualismo, retraimento e rebelião.
Teoria do Conflito: A Teoria do Conflito, associada a Karl Marx, considera o crime como resultado das desigualdades inerentes às estruturas de poder na sociedade. Essa teoria argumenta que a sociedade é composta de grupos com interesses divergentes, e que as leis e a aplicação da lei são usadas pelas classes dominantes para manter sua posição de poder. O crime, portanto, é visto como uma forma de resistência ou reação às condições opressivas e desiguais impostas pela elite dominante.
Teoria da Subcultura e da Aprendizagem
Teoria da Subcultura: A Teoria da Subcultura, desenvolvida por Albert Cohen, sugere que o
comportamento criminoso é aprendido e praticado dentro de subculturas
específicas que têm valores e normas distintos da sociedade dominante. Cohen
argumenta que, quando os jovens, especialmente os de classes sociais mais
baixas, não conseguem alcançar o sucesso por meio das normas culturais
dominantes, eles se voltam para subculturas alternativas que valorizam e
recompensam o comportamento desviante.
Teoria da Aprendizagem: A Teoria da Aprendizagem, destacada por Edwin H. Sutherland
com seu conceito de "associação diferencial", propõe que o
comportamento criminoso é aprendido através da interação social. Segundo
Sutherland, as pessoas se tornam criminosas porque são expostas a valores,
atitudes, técnicas e motivos favoráveis ao crime. Essa teoria enfatiza que o
crime é um comportamento aprendido, não inato, e que a frequência, duração,
intensidade e prioridade das interações influenciam a probabilidade de uma
pessoa adotar comportamentos criminosos.
Teoria do Controle e do Rótulo
Teoria do Controle: Desenvolvida por Travis Hirschi, a Teoria do Controle argumenta que
todos têm o potencial para cometer crimes, mas as pessoas são dissuadidas por
seus vínculos sociais. Esses vínculos incluem apego (a laços emocionais com
família e amigos), compromisso (a investimentos em atividades convencionais),
envolvimento (em atividades que deixam pouco tempo para o crime) e crença (em
valores morais e legais). A força desses vínculos determina a probabilidade de
uma pessoa se envolver em atividades criminosas.
Teoria
do Rótulo: A Teoria do Rótulo, associada a Howard Becker, sugere que o crime é uma
construção social e que a rotulação de indivíduos como criminosos pode levar a
uma identidade criminosa. Becker argumenta que, uma vez que uma pessoa é
rotulada como desviante, ela pode internalizar essa identidade e agir de acordo
com as expectativas associadas a essa rotulação. A reação social ao
comportamento desviante é crucial, pois pode reforçar a identidade criminosa e
perpetuar o ciclo de crime.
Conclusão
As teorias criminológicas modernas fornecem uma compreensão abrangente e multifacetada do comportamento criminoso, considerando uma ampla gama de fatores sociais, culturais e individuais. Elas destacam a complexidade do crime e a importância de abordagens contextuais e preventivas na formulação de políticas de segurança pública e estratégias de intervenção. Essas teorias continuam a evoluir, oferecendo insights valiosos para o desenvolvimento de práticas de justiça criminal mais eficazes e justas.
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