PATOLOGIA
MACROSCÓPICA DE RUMINANTES E EQUINOS

Lesões
Macroscópicas em Sistemas Específicos
Sistema Respiratório e Cardiovascular
Lesões Macroscópicas no Sistema Respiratório de
Ruminantes
O sistema respiratório de
ruminantes é suscetível a uma variedade de doenças que causam lesões
macroscópicas nos pulmões, brônquios e cavidade pleural. As condições
respiratórias são frequentemente causadas por infecções bacterianas, virais ou
parasitárias, além de fatores ambientais como poeira e má ventilação em
confinamentos.
- Pneumonia: Uma das
lesões mais comuns nos pulmões de ruminantes é a pneumonia, que pode ser
de origem bacteriana ou viral. Lesões macroscópicas incluem áreas de
consolidação, onde o tecido pulmonar se torna firme devido à inflamação e
preenchimento dos alvéolos com exsudato. Em casos severos, o pulmão pode
exibir necrose, abcessos ou áreas hemorrágicas.
- Pleuropneumonia
Contagiosa: Causada por Mycoplasma mycoides, essa doença gera lesões
macroscópicas significativas na cavidade pleural e nos pulmões. Os pulmões
apresentam áreas de necrose e consolidação, enquanto a cavidade pleural
pode acumular grandes quantidades de fluido purulento.
- Tuberculose: Em
bovinos, a tuberculose pulmonar pode causar lesões granulomatosas, que são
massas firmes e esbranquiçadas nos pulmões e nos linfonodos. Estas lesões
resultam de uma resposta inflamatória crônica ao Mycobacterium bovis,
o agente causador da doença.
- Parasitose
Pulmonar: Parasitas como Dictyocaulus viviparus, responsáveis pela
verminose pulmonar (ou dictyocaulose), podem causar lesões visíveis nos
pulmões de ruminantes. As lesões incluem áreas de inflamação e fibrose nos
pulmões, além de fluidos nos brônquios e traqueia.
Essas lesões macroscópicas,
quando identificadas durante uma necropsia, fornecem pistas cruciais para o
diagnóstico de doenças respiratórias, permitindo a implementação de estratégias
adequadas de manejo e controle.
Patologias Cardiovasculares em Ruminantes e Equinos
O sistema cardiovascular dos
ruminantes e equinos pode ser afetado por uma série de condições patológicas,
que resultam em lesões macroscópicas no coração, vasos sanguíneos e
outros componentes do sistema circulatório.
- Endocardite: Essa
condição inflamatória afeta o revestimento interno do coração,
especialmente as válvulas cardíacas, e pode ser
- causada por infecções
bacterianas. Macroscopicamente, as válvulas podem apresentar espessamento,
ulcerações e a presença de vegetações verrucosas que interferem no
funcionamento adequado do coração. A endocardite é uma condição comum em
ruminantes, frequentemente associada a infecções bacterianas sistêmicas.
- Miocardite: Em
ruminantes e equinos, a inflamação do músculo cardíaco (miocardite) pode
ser causada por infecções virais, bacterianas ou parasitárias. Lesões
macroscópicas incluem áreas de necrose ou fibrose no miocárdio, além de
edema e acúmulo de fluidos no pericárdio (membrana que envolve o coração).
- Doença
do Coração Pulmonar (Cor Pulmonale): Em ruminantes, essa condição ocorre quando há
hipertensão pulmonar prolongada, o que causa lesões no lado direito do
coração. O ventrículo direito pode apresentar hipertrofia, enquanto o
tecido cardíaco pode apresentar áreas de necrose devido à sobrecarga
crônica.
- Aneurismas
e Rupturas Vasculares: Em equinos, lesões macroscópicas nos grandes vasos, como a aorta,
podem incluir aneurismas (dilatações anormais de um vaso sanguíneo) e, em
casos graves, rupturas vasculares. Essas lesões são frequentemente fatais,
resultando em hemorragia interna maciça.
- Dirofilariose: Causada
pelo parasita Dirofilaria immitis, essa doença é mais comumente
observada em equinos e pode resultar em lesões macroscópicas, como
espessamento das paredes arteriais e tromboses nos vasos sanguíneos. Os
parasitas podem ser visualizados diretamente no coração e nas artérias
pulmonares durante a necropsia.
As patologias
cardiovasculares têm grande impacto na saúde geral dos ruminantes e equinos, e
as lesões macroscópicas observadas ajudam a identificar a gravidade e o estágio
da doença, além de fornecer pistas valiosas para a correção dos problemas
subjacentes.
Estudos de Casos Clínicos
Os estudos de casos
clínicos são uma ferramenta educacional importante para ilustrar como as
lesões macroscópicas identificadas no sistema respiratório e cardiovascular
podem ser usadas para o diagnóstico preciso de doenças. Nesta aula, serão
apresentados vários estudos de casos em ruminantes e equinos, com exemplos de
lesões típicas observadas durante a necropsia e sua correlação com o histórico
clínico dos animais.
- Caso
1: Pneumonia em Bovinos: Neste caso, um bovino de 2 anos apresentou
sintomas de tosse crônica e perda de peso.
- Durante a necropsia, foram
observadas áreas consolidadas nos lobos cranial e médio dos pulmões, além
de um acúmulo de exsudato purulento nos brônquios. O diagnóstico de
pneumonia bacteriana foi confirmado após exames complementares.
- Caso
2: Endocardite em Equinos: Um equino de 10 anos com histórico de
letargia e insuficiência cardíaca foi submetido a uma necropsia após a
morte súbita. A inspeção do coração revelou a presença de vegetações
verrucosas nas válvulas mitral e aórtica, confirmando o diagnóstico de endocardite
bacteriana.
- Caso
3: Cor Pulmonale em Bovinos: Em um rebanho de bovinos mantidos em
altitudes elevadas, foram observados vários casos de morte súbita. Durante
as necropsias, foi detectada hipertrofia significativa do ventrículo
direito em vários animais, sugerindo cor pulmonale como resultado de hipertensão
pulmonar crônica.
A discussão desses casos
clínicos realça a importância da observação cuidadosa de lesões macroscópicas
durante necropsias, destacando como essas observações são integradas com o
histórico clínico e outras informações para se chegar a um diagnóstico definitivo.
Além disso, eles demonstram a relevância do manejo adequado para prevenir
doenças respiratórias e cardiovasculares em ruminantes e equinos.
Sistema Digestivo e Urinário
Lesões Macroscópicas no Trato Digestivo de Ruminantes
O trato digestivo dos
ruminantes está sujeito a uma série de lesões macroscópicas decorrentes
de problemas alimentares, infecções e parasitas. Essas lesões podem comprometer
seriamente a saúde e o desempenho produtivo dos animais.
- Acidose
Ruminal: Ocorre quando há um desequilíbrio na ingestão de carboidratos,
levando à fermentação excessiva no rúmen e à produção de grandes
quantidades de ácido lático. Macroscopicamente, o rúmen pode apresentar
uma aparência inflamada, com erosões na mucosa e acúmulo de líquido ácido.
Nos casos mais graves, o tecido ruminal pode exibir necrose e ulceração.
- Reticuloperitonite
Traumática: Conhecida como “doença do arame”, essa condição resulta da
ingestão de objetos metálicos que perfuram a parede do retículo e podem
causar inflamação da cavidade abdominal. Macroscopicamente, podem ser
observadas aderências e abscessos na região do retículo, além de
peritonite generalizada em casos mais avançados.
- Fasciolose
Hepática: Causada pelo parasita Fasciola hepatica, essa infecção
resulta
- essa infecção
resulta em lesões macroscópicas no fígado. O órgão pode exibir áreas de
necrose, fibrose e inflamação ao redor dos ductos biliares, além de áreas
calcificadas visíveis devido à presença de parasitas.
- Enterotoxemia:
Resultante da ação de toxinas bacterianas no intestino, a enterotoxemia
pode causar lesões hemorrágicas severas no trato gastrointestinal,
especialmente no intestino delgado. O intestino pode apresentar-se
distendido, com áreas de necrose e exsudato fibrinoso na superfície
mucosa.
Essas lesões no trato
digestivo de ruminantes são frequentemente observadas durante necropsias e
fornecem informações valiosas para o diagnóstico de doenças associadas a
nutrição, parasitas ou infecções.
Doenças Digestivas Comuns em Equinos
Nos equinos, o sistema
digestivo é especialmente vulnerável a doenças devido à sua anatomia e
fisiologia únicas, que tornam o processo de digestão mais sensível a
desequilíbrios alimentares, estresse e infecções. As lesões macroscópicas
no trato digestivo de equinos são comumente associadas a condições como:
- Cólica: A cólica
é uma das principais causas de morte em equinos e pode resultar de várias
condições, como obstruções intestinais, deslocamento do cólon ou
impactações. Macroscopicamente, o intestino pode estar dilatado com
acúmulo de gás, líquido ou alimento. Em casos graves, pode ocorrer torção
do intestino, resultando em necrose das áreas afetadas e peritonite.
- Úlceras
Gástricas: Úlceras no estômago de equinos são comuns, especialmente em
animais submetidos a estresse, dietas inadequadas ou uso prolongado de
anti-inflamatórios. Essas lesões macroscópicas aparecem como áreas de
erosão e inflamação na mucosa gástrica, principalmente na região
glandular.
- Enterite: A
inflamação do intestino delgado pode ser causada por infecções bacterianas
ou parasitárias. Macroscopicamente, o intestino pode estar edemaciado, com
áreas de hemorragia e ulceração. A enterite pode ser associada a diarreias
severas e perda de peso nos animais.
- Colite: A colite,
ou inflamação do cólon, também é uma condição frequente em equinos,
especialmente como resultado de infecções bacterianas ou uso excessivo de
antibióticos. Macroscopicamente, o cólon pode apresentar-se inflamado, com
áreas de necrose e ulceração, além de edema na mucosa.
Essas doenças digestivas são
um desafio constante na medicina
equina e exigem monitoramento cuidadoso das
dietas e das condições de manejo para evitar complicações severas.
Lesões Renais e Urinárias em Ruminantes e Equinos
O sistema urinário de
ruminantes e equinos também é suscetível a várias condições que causam lesões
macroscópicas nos rins, ureteres, bexiga e uretra. Essas lesões podem
resultar de infecções, cálculos renais ou distúrbios metabólicos.
- Nefrose: Essa
condição degenerativa dos rins pode ocorrer em ruminantes e equinos devido
a intoxicações ou infecções. Macroscopicamente, os rins podem
apresentar-se aumentados de tamanho, pálidos e com áreas de necrose no
córtex. A necrose tubular aguda é uma característica comum e pode ser
observada como pontos hemorrágicos.
- Pielonefrite: A
pielonefrite é uma infecção bacteriana que afeta os rins e os ureteres,
causando inflamação e formação de abscessos. Macroscopicamente, os rins
podem exibir áreas de necrose, cavidades preenchidas com pus e dilatação
dos ureteres. Nos ruminantes, essa condição pode estar associada a
infecções ascendentes provenientes do trato urinário inferior.
- Cálculos
Urinários (Urolitíase): A formação de cálculos nos rins ou bexiga é uma causa comum de
obstrução urinária em ruminantes e equinos. Macroscopicamente, os cálculos
podem ser visualizados na bexiga ou nos rins, muitas vezes acompanhados de
inflamação nas áreas adjacentes. A bexiga pode estar distendida, e em
casos graves, a obstrução total pode levar à ruptura da bexiga.
- Cistite: A
inflamação da bexiga urinária (cistite) é outra lesão macroscópica
observada em ruminantes e equinos, frequentemente causada por infecções
bacterianas. A bexiga pode apresentar-se edemaciada, com áreas
hemorrágicas e ulceração na mucosa interna. Em casos crônicos, podem
formar-se espessamentos nas paredes da bexiga.
Essas lesões no sistema
urinário de ruminantes e equinos indicam condições sérias que podem comprometer
a função renal e urinária, sendo essenciais para o diagnóstico de doenças
metabólicas, infecciosas ou obstrutivas.
O diagnóstico precoce e
preciso dessas lesões macroscópicas, tanto no trato digestivo quanto no sistema
urinário, é fundamental para o manejo eficaz e para a saúde dos ruminantes e
equinos.
Sistema Musculoesquelético e Nervoso
Lesões Musculoesqueléticas em Ruminantes
As lesões
musculoesqueléticas em ruminantes são frequentemente causadas por traumas
físicos,
infecções ou condições metabólicas. Essas lesões podem afetar a
capacidade de locomoção e o desempenho produtivo dos animais, além de impactar
seu bem-estar geral.
- Miosite: A
inflamação dos músculos, conhecida como miosite, é uma lesão comum em
ruminantes, podendo ser causada por infecções bacterianas, parasitas ou
traumas. Macroscopicamente, as áreas afetadas do músculo podem apresentar
inchaço, alteração de coloração (vermelho escuro a esbranquiçado) e, em
casos graves, necrose muscular. Um exemplo de miosite bacteriana é a carbúnculo
sintomático, causado por Clostridium chauvoei, que resulta em
áreas de necrose gasosa no tecido muscular.
- Fraturas
e Luxações: Lesões ósseas e articulares são comuns, principalmente em bovinos
confinados ou que sofrem quedas ou traumas. Fraturas ósseas podem ser
visíveis como áreas de descontinuidade no osso, com presença de hemorragia
e inflamação ao redor da lesão. As luxações (deslocamentos articulares)
resultam em deformidade visível na articulação, além de inflamação nos
tecidos circundantes.
- Osteodistrofia
Fibrosa: Esta condição metabólica ocorre devido a desequilíbrios no
metabolismo do cálcio e fósforo, muitas vezes associados à deficiência de
vitamina D. Nos ruminantes, isso pode resultar em lesões ósseas
caracterizadas por desmineralização e fragilidade dos ossos.
Macroscopicamente, os ossos podem parecer mais finos e frágeis, com áreas
de remodelação óssea visíveis.
- Artrite
Infecciosa: A inflamação das articulações, especialmente em ruminantes jovens,
pode ser causada por infecções bacterianas como a artrite por Mycoplasma.
Macroscopicamente, as articulações podem estar inchadas, com presença de
líquido purulento ou fibrinoso no interior da cápsula articular. A
cartilagem articular pode estar erodida e inflamada.
Essas lesões
musculoesqueléticas afetam a saúde e a capacidade produtiva dos ruminantes,
sendo importantes de serem identificadas para o manejo adequado e tratamento
eficaz.
Patologias do Sistema Nervoso em Equinos
O sistema nervoso dos
equinos é suscetível a uma série de patologias que podem resultar em sinais
clínicos neurológicos graves. As lesões macroscópicas no sistema nervoso
central e periférico podem fornecer pistas importantes para o diagnóstico de
doenças neurológicas.
- Encefalomielite
Equina: As encefalomielites, causadas por vírus como o do Nilo Ocidental
-
ou a encefalomielite equina leste (EEE), resultam em inflamação do cérebro
e medula espinhal. Macroscopicamente, essas lesões podem não ser
facilmente visíveis, mas em casos severos pode-se observar áreas de
necrose e edema cerebral. Os animais afetados apresentam sintomas como
ataxia, tremores e fraqueza muscular.
- Raiva: A raiva é
uma doença viral que afeta o sistema nervoso central e é fatal tanto para
equinos quanto para outros mamíferos. Macroscopicamente, o cérebro pode
não apresentar lesões visíveis, mas exames histológicos podem revelar
inflamação severa. Os sinais clínicos incluem mudanças comportamentais,
hipersalivação, paralisia e morte.
- Leucoencefalomalacia: Essa
condição é causada pela ingestão de milho contaminado com micotoxinas
produzidas pelo fungo Fusarium, levando à degeneração da substância
branca do cérebro. Macroscopicamente, observam-se áreas de necrose na
substância branca do cérebro, que podem ser de cor amarelada ou
esbranquiçada. Os equinos afetados mostram sintomas como perda de
coordenação, cegueira e comportamento anormal.
- Mieloencefalopatia
Associada ao Herpesvírus Equino (EHV-1): O herpesvírus equino tipo 1 pode causar
lesões graves na medula espinhal, levando a ataxia e paralisia.
Macroscopicamente, lesões hemorrágicas podem ser observadas na medula
espinhal e no cérebro, resultando de vasculite e infarto do tecido
nervoso.
Essas patologias do sistema
nervoso nos equinos podem ser fatais e frequentemente apresentam sintomas
neurológicos distintos, sendo essencial a identificação precoce e o diagnóstico
preciso.
Diagnóstico Diferencial de Lesões Nervosas
O diagnóstico diferencial
de lesões nervosas envolve a identificação precisa das causas subjacentes
aos sinais clínicos neurológicos, diferenciando entre diferentes doenças que
podem afetar o sistema nervoso de ruminantes e equinos.
- Lesões
Traumáticas vs. Infecciosas: As lesões traumáticas, como fraturas de
vértebras ou contusões cerebrais, podem ser distinguidas de lesões
infecciosas, como encefalites, pela presença de sinais externos de trauma,
como hematomas e fraturas ósseas. Em contraste, as encefalites apresentam
inflamação difusa e, em muitos casos, a presença de exsudato purulento ou
fibrinoso.
- Distúrbios
Metabólicos vs. Tóxicos: Distúrbios metabólicos, como a hipocalcemia
em vacas leiteiras, podem resultar em
- sinais neurológicos como tremores e
convulsões, mas sem lesões macroscópicas no sistema nervoso central. Por
outro lado, doenças tóxicas, como a leucoencefalomalacia, resultam em
lesões visíveis no cérebro, como necrose focal ou difusa.
- Doenças
Degenerativas vs. Infecciosas: Em casos de doenças degenerativas, como a
doença de Marek em aves ou a esclerose lateral amiotrófica (muito
rara em animais), as lesões podem envolver a perda progressiva de
neurônios e fibras nervosas, sem a presença de inflamação evidente. Em
contraste, lesões infecciosas, como as causadas pelo herpesvírus equino,
apresentam inflamação e necrose aguda.
O diagnóstico diferencial é
realizado com base nos achados clínicos, no histórico do animal e nos exames
complementares, incluindo necropsia e análise histológica. O reconhecimento
precoce de lesões nervosas específicas permite a implementação de tratamentos
adequados e, em muitos casos, pode salvar a vida do animal.
Essa abordagem integrada é
essencial para identificar corretamente as doenças que afetam o sistema
musculoesquelético e nervoso de ruminantes e equinos, garantindo que os manejos
e tratamentos mais eficazes sejam implementados.
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