ATUAÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL NA MEDIAÇÃO DE PROCESSOS GRUPAIS
No campo da educação, gestão de grupos, mediação social e
desenvolvimento organizacional, os conceitos de "conduzir" e
"facilitar" representam abordagens distintas no que diz respeito ao
relacionamento entre o coordenador e os participantes. Embora os termos sejam
frequentemente utilizados como sinônimos no senso comum, eles carregam
diferenças fundamentais em seus pressupostos filosóficos, metodológicos e
práticos.
Compreender essas diferenças é essencial para quem trabalha
com grupos e pretende desenvolver ambientes mais participativos, emancipadores
e colaborativos. Este texto discute as características, os princípios, as
práticas e os impactos de cada uma dessas formas de atuação, destacando suas
implicações para a construção de processos grupais mais democráticos e
eficazes.
Conceituando
Conduzir e Facilitar
Conduzir
Conduzir implica guiar, dirigir ou liderar um processo em
direção a objetivos previamente estabelecidos, com controle mais direto do
percurso e dos resultados.
Segundo Freire (1996), a condução tradicional, especialmente
no campo educativo, tende a assumir que há alguém que sabe (o condutor) e
outros que precisam ser levados ao conhecimento ou à ação correta.
Características principais da condução:
• Centralização
das decisões.
• Controle
do ritmo e da direção do processo.
• Ênfase
na transmissão de conteúdos ou na execução de tarefas conforme planejado.
• Redução
relativa da autonomia dos participantes.
A condução é necessária em determinados contextos, sobretudo
quando:
• Há
urgência na obtenção de resultados específicos.
• Os
participantes necessitam de orientação técnica especializada.
• O
processo demanda alta padronização.
Facilitar
Facilitar, por outro lado, significa criar condições para que
o grupo atue de maneira autônoma, expressando seus conhecimentos, competências
e potencialidades.
O facilitador atua como mediador do processo, não como
controlador.
Para Brandão (2002), facilitar é apostar no diálogo, na
participação e na construção coletiva do conhecimento e da ação.
Características principais da facilitação:
• Descentralização
das decisões.
• Estímulo
à participação ativa dos envolvidos.
• Flexibilidade
para adaptar os caminhos de acordo com as necessidades emergentes.
• Fortalecimento da autonomia,
da autonomia, da criatividade e da responsabilidade coletiva.
A facilitação é especialmente adequada quando:
• O
objetivo é promover aprendizagem significativa e emancipadora.
• Busca-se
desenvolver competências de trabalho em equipe.
• O
contexto requer inovação e construção coletiva de soluções.
Fundamentos
Filosóficos e Epistemológicos
Conduzir:
Epistemologia Tradicional
A condução está associada a uma visão de conhecimento como
algo transmissível de forma linear, de quem sabe para quem não sabe.
Inspirada em uma lógica positivista, a condução privilegia:
• A
autoridade do especialista.
• A
eficiência e a eficácia na execução de tarefas.
• A
padronização de métodos e resultados.
Facilitar:
Epistemologia Crítica e Dialógica
A facilitação, ao contrário, está alinhada com a
epistemologia crítica e dialógica, que entende o conhecimento como uma
construção coletiva e situada.
Freire (1996) afirma que ninguém educa ninguém, ninguém educa
a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.
Assim, facilitar é:
• Reconhecer
que todos têm saberes e experiências válidas.
• Estimular
a problematização da realidade.
• Construir
o conhecimento de maneira dialógica.
Práticas
de Condução e de Facilitação
Postura
do Condutor
• Assume
o papel de líder-diretor.
• Define
os objetivos e o caminho a ser seguido.
• Mantém
maior controle sobre o tempo e os conteúdos.
• Corrige
desvios do percurso planejado.
• Avalia
o desempenho dos participantes.
Postura
do Facilitador
• Assume
o papel de mediador e estimulador.
• Co-constrói
os objetivos e o caminho junto com os participantes.
• Flexibiliza
o processo conforme as necessidades emergentes.
• Valoriza
a diversidade de ideias e propostas.
• Estimula
a autoavaliação e a corresponsabilidade.
Impactos
da Condução e da Facilitação nos Grupos
Impactos
da Condução
• Pode
gerar rapidez na execução de tarefas em contextos que exigem padronização.
• Risco
de passividade dos participantes, que tendem a seguir ordens sem desenvolver
autonomia.
• Possibilidade
de resistência e desmotivação, especialmente em grupos que buscam participação
ativa.
Impactos
da Facilitação
• Favorece
o desenvolvimento da autonomia, da criatividade e do pensamento crítico.
• Requer mais tempo para construção
de consensos e amadurecimento do grupo.
• Promove
maior adesão, engajamento e corresponsabilidade nos resultados.
Segundo Schön (1983), processos de facilitação estimulam a
aprendizagem reflexiva, essencial para lidar com problemas complexos e
incertos.
Contextos
de Aplicação: Quando Conduzir e Quando Facilitar?
A escolha entre conduzir e facilitar depende de fatores como:
• Objetivos: Se o objetivo é técnico e
normatizado, a condução pode ser mais adequada. Se é formativo e emancipador, a
facilitação é preferível.
• Perfil dos participantes: Grupos
iniciantes ou que demandam capacitação técnica podem necessitar de maior
condução no início. Grupos maduros e críticos respondem melhor à facilitação.
• Tempo disponível: Processos
participativos exigem mais tempo.
• Natureza do conteúdo: Conteúdos
fechados e normativos podem demandar condução; conteúdos abertos e
problematizadores favorecem a facilitação.
Em muitos casos, será necessário combinar momentos de
condução e facilitação de maneira equilibrada e adaptativa.
Competências
Requeridas para Conduzir e Facilitar
Competências
para Conduzir
• Planejamento
detalhado.
• Clareza
na transmissão de informações.
• Liderança
diretiva.
• Capacidade
de manter o foco e o ritmo das atividades.
Competências
para Facilitar
• Habilidade
de escuta ativa e empatia.
• Capacidade
de estimular o diálogo e a participação.
• Flexibilidade
e criatividade para lidar com imprevistos.
• Competência
para mediar conflitos e promover consensos.
Desafios
na Transição da Condução para a Facilitação
Muitos profissionais, especialmente em contextos educativos e
organizacionais tradicionais, foram formados para conduzir e encontram
dificuldades na prática da facilitação.
Entre os principais desafios estão:
• Renunciar
ao controle direto sobre o processo.
• Confiar
na capacidade do grupo de construir soluções.
• Aprender
a lidar com a imprevisibilidade.
• Desenvolver
tolerância à diversidade de ideias e ritmos.
Como propõe Covey (1997), o verdadeiro líder é aquele que capacita outros a liderar, e não aquele que os conduz passivamente.
Conclusão
Compreender a diferença entre conduzir e facilitar é
essencial para quem deseja atuar de forma ética, democrática e eficaz em
processos grupais.
Enquanto conduzir é guiar o grupo em direção a objetivos predefinidos,
mantendo o controle do processo, facilitar é criar condições para
que o grupo, de maneira autônoma e colaborativa, construa seus próprios
caminhos.
Mais do que optar por uma abordagem em detrimento da outra, o
desafio está em desenvolver a sensibilidade para perceber as demandas de cada
contexto e equilibrar, com sabedoria, momentos de direção e momentos de
facilitação.
No mundo contemporâneo, cada vez mais complexo e dinâmico, a
habilidade de facilitar processos participativos torna-se uma competência
estratégica para a promoção de uma sociedade mais justa, inclusiva e solidária.
Referências
Bibliográficas
• BRANDÃO,
Carlos Rodrigues. O que é método Paulo
Freire. São Paulo: Brasiliense, 2002.
• COVEY,
Stephen R. Os 7 hábitos das pessoas
altamente eficazes. Rio de Janeiro: Best Seller, 1997.
• FREIRE,
Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes
necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
• SCHÖN,
Donald A. Educating the Reflective
Practitioner. San Francisco: Jossey-Bass, 1983.
A convivência em grupo é uma dimensão fundamental da vida
social humana. Em contextos educativos, comunitários, organizacionais ou
terapêuticos, a qualidade da dinâmica grupal influencia diretamente a eficácia
dos processos coletivos e o bem-estar dos seus participantes. Nesse sentido, a
facilitação de grupos, mais do que a simples condução de atividades, consiste
em criar condições para o fortalecimento dos vínculos, da comunicação, da
confiança e da autonomia coletiva.
O fortalecimento grupal envolve o desenvolvimento de relações
solidárias, a construção de objetivos comuns, a promoção da corresponsabilidade
e a ampliação da capacidade de ação coletiva. Este texto apresenta estratégias
de facilitação que favorecem o fortalecimento grupal, fundamentadas na
literatura sobre dinâmica de grupos, educação popular e gestão participativa.
O
que é Facilitação de Grupos?
Conceito
de Facilitação
Facilitar é criar condições para que os próprios membros do
grupo desenvolvam suas potencialidades, estabeleçam relações colaborativas e
alcancem seus objetivos de forma autônoma (Hunter et al., 2007).
O facilitador atua como um mediador do processo, estimulando
a participação ativa, a escuta mútua, a resolução de conflitos e a construção
coletiva do conhecimento e das decisões.
Objetivos
da Facilitação
• Promover a participação igualitária dos
membros.
• Incentivar
a comunicação aberta e respeitosa.
• Fortalecer
os vínculos de confiança e solidariedade.
• Estimular
a autonomia e a corresponsabilidade.
• Desenvolver
habilidades coletivas de análise, planejamento e ação.
A facilitação, ao contrário da liderança diretiva
tradicional, busca descentralizar o poder e fomentar a construção compartilhada
dos processos grupais.
Fundamentos
do Fortalecimento Grupal
Teoria
dos Grupos
Segundo Lewin (1951), os grupos são totalidades dinâmicas em
que mudanças em qualquer elemento afetam todo o sistema.
Assim, o fortalecimento grupal exige a atenção às interações,
aos vínculos afetivos e às estruturas de comunicação.
Educação
Popular
Inspirado na perspectiva freireana, o fortalecimento grupal
implica o reconhecimento dos saberes dos participantes, o estímulo ao diálogo
crítico e a construção coletiva da ação transformadora (Freire, 1996).
Abordagem
Sistêmica
A abordagem sistêmica enfatiza que o grupo deve ser visto
como um sistema integrado, cujos problemas e potencialidades emergem das
relações entre seus membros e com o contexto.
Estratégias
de Facilitação para o Fortalecimento Grupal
Criação
de Espaços Seguros
Um espaço seguro é aquele onde os participantes sentem-se
respeitados, acolhidos e encorajados a se expressar sem medo de julgamento.
Técnicas
associadas:
• Estabelecimento
de regras de convivência co-construídas.
• Roda
de abertura com escuta das expectativas e sentimentos.
• Contrato
grupal de respeito mútuo.
Criar segurança psicológica é a base para o fortalecimento
dos vínculos e para a comunicação autêntica.
Estímulo
à Participação Igualitária
É fundamental garantir que todos os membros tenham voz e
oportunidade de participação, prevenindo a hegemonia de alguns e a
invisibilidade de outros.
Técnicas
associadas:
• Rodadas
de fala onde cada um tem um tempo igual para se expressar.
• Dinâmicas
de pequenos grupos para ampliar a participação de todos.
• Utilização
de metodologias ativas como o world café e a tempestade de ideias.
Promoção
da Escuta Ativa
A escuta ativa é a prática de ouvir com atenção plena,
acolhendo as falas sem interrupções, julgamentos ou respostas apressadas.
Técnicas
associadas:
• Reformulação
empática: o facilitador reformula o que ouviu para garantir a compreensão.
• Exercícios
de escuta em duplas ou trios.
•
Espaços
de feedback construtivo.
A escuta ativa fortalece a empatia, a confiança e a coesão
grupal.
Estímulo
à Construção Coletiva
A facilitação deve promover a coautoria dos processos,
incentivando a definição conjunta de objetivos, estratégias e avaliações.
Técnicas
associadas:
• Definição
coletiva da agenda de trabalho.
• Planejamento
participativo de projetos e ações.
• Avaliações
grupais contínuas com ajustes de percurso.
A construção coletiva aumenta o senso de pertencimento e a
corresponsabilidade.
Valorização
da Diversidade
Reconhecer e valorizar as diferenças de origem, experiência,
gênero, idade, cultura e opiniões dentro do grupo enriquece o processo grupal.
Técnicas
associadas:
• Atividades
de mapeamento da diversidade (ex.: linha da vida, histórias de origem).
• Dinâmicas
de empatia e desconstrução de estereótipos.
• Criação
de espaços de fala para grupos historicamente marginalizados.
A diversidade, quando acolhida, é fonte de inovação e
fortalecimento grupal.
Fortalecimento
da Identidade Grupal
Trabalhar a identidade do grupo contribui para o senso de
pertença e para a consolidação do projeto coletivo.
Técnicas
associadas:
• Elaboração
coletiva de um nome, lema ou símbolo do grupo.
• Construção
de uma história grupal a partir das contribuições de todos.
• Celebração
de conquistas e momentos importantes.
A identidade grupal reforça a coesão e a motivação dos
membros.
Gestão
Colaborativa de Conflitos
Conflitos
são inevitáveis
em grupos
vivos e
diversificados.
A facilitação deve estimular a expressão respeitosa dos
conflitos e a busca de soluções dialogadas.
Técnicas
associadas:
• Círculos
de diálogo para expressão de tensões.
• Técnicas
de comunicação não violenta (Rosenberg, 2006).
• Mediação
de conflitos com foco nas necessidades e interesses de todos.
Transformar o conflito em oportunidade de fortalecimento é
uma das tarefas mais delicadas e importantes da facilitação.
O
Papel do Facilitador
O facilitador de grupos é um agente de criação de condições
favoráveis à autonomia, à solidariedade e à ação coletiva.
Características de um bom facilitador:
• Escuta
ativa e empatia.
• Clareza
de objetivos e flexibilidade nos métodos.
• Neutralidade
nas disputas internas.
• Capacidade
de lidar com emoções e tensões.
•
Compromisso
ético com o fortalecimento do grupo.
Hunter et al. (2007) ressaltam que o facilitador deve
"servir ao grupo", não dirigir ou manipular, mas estimular a
inteligência coletiva.
Desafios
na Facilitação para o Fortalecimento Grupal
Resistência
à Participação
Em alguns contextos, os participantes podem estar habituados
a modelos hierárquicos e apresentar resistência à participação ativa.
O desafio é criar,
gradativamente, espaços de expressão e
corresponsabilidade.
Diversidade
de Ritmos e Expectativas
Grupos são compostos por indivíduos com ritmos, motivações e
expectativas distintas.
A facilitação exige sensibilidade para equilibrar essas
diferenças sem homogeneizar o grupo.
Processos
de Conflito
Conflitos não resolvidos podem fragilizar o grupo. A mediação
construtiva exige do facilitador habilidades de negociação, escuta e contenção
emocional.
Manutenção
da Motivação
O fortalecimento grupal é um processo contínuo. É necessário
criar rituais de celebração, espaços de reconhecimento e estímulos à
continuidade da ação coletiva.
Conclusão
As estratégias de facilitação para o fortalecimento grupal
não se limitam a técnicas, mas expressam uma filosofia de trabalho baseada no
respeito, na solidariedade e na construção democrática.
Criar espaços seguros, estimular a participação igualitária,
promover a escuta ativa, valorizar a diversidade, fortalecer a identidade
coletiva e gerir os conflitos de forma construtiva são caminhos essenciais para
a consolidação de grupos mais autônomos, criativos e transformadores.
Em tempos de individualismo e fragmentação social, investir
no fortalecimento grupal através da facilitação é afirmar a potência do
coletivo como espaço de esperança, resistência e construção de um mundo mais
justo e solidário.
Referências
Bibliográficas
• FREIRE,
Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes
necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
• HUNTER,
Dale; BAILEY, Anne; TAYLOR, Bill. The
Art of Facilitation: The Essentials for Leading Great Meetings and Creating
Group Synergy. San Francisco: Jossey-Bass, 2007.
• LEWIN,
Kurt. Field Theory in Social Science:
Selected Theoretical Papers. New York: Harper & Row, 1951.
• ROSENBERG,
Marshall B. Comunicação Não-Violenta:
Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São
Paulo: Ágora, 2006.
Em processos educativos, comunitários, terapêuticos e
organizacionais, a participação ativa dos indivíduos é fundamental para o
fortalecimento da autonomia, do protagonismo e da corresponsabilidade. Contudo,
a voz ativa não se desenvolve automaticamente: ela precisa ser estimulada,
especialmente em contextos onde predomina uma cultura de silêncio, obediência
ou passividade.
O desafio de estimular a voz ativa dos participantes requer
estratégias que criem ambientes de acolhimento, segurança e respeito, além de
metodologias que incentivem a expressão de ideias, sentimentos e propostas.
Este texto apresenta fundamentos teóricos e práticas específicas para promover
o protagonismo dos participantes em processos grupais, visando sua formação
crítica e a construção coletiva de conhecimentos e ações.
A
Importância da Voz Ativa na Educação e na Organização dos Grupos Conceito de
Voz Ativa
A voz ativa refere-se à capacidade de cada participante de
expressar suas opiniões, sentimentos, necessidades e propostas de maneira
autônoma e confiante em um espaço coletivo (Freire, 1996).
Trata-se não apenas da emissão de palavras, mas da construção
de uma presença ativa e reconhecida no grupo.
Fundamentos
da Educação Dialógica
Inspirado por Paulo Freire (1996), o estímulo à voz ativa é
central para a prática da educação dialógica, em oposição à educação bancária.
Na perspectiva dialógica:
• Todos
os participantes são sujeitos do processo de conhecimento.
• O
diálogo é meio e fim da prática educativa.
• A
palavra é instrumento de transformação da realidade.
Estimular a voz ativa é, portanto, afirmar a dignidade e a
potência de cada sujeito como agente de sua história.
Impactos
da Voz Ativa
Promover a voz ativa gera:
• Maior
engajamento nos processos grupais.
• Fortalecimento
da identidade e da autoestima.
• Desenvolvimento
de habilidades comunicativas e argumentativas.
• Estímulo
ao pensamento crítico e à corresponsabilidade.
Barreiras
à Voz Ativa
Antes de apresentar técnicas de estímulo, é importante
reconhecer as barreiras que podem dificultar a expressão ativa dos
participantes:
Barreiras
Culturais
Muitas culturas educam para o silêncio, a obediência e a não
contestação da autoridade.
Barreiras
Emocionais
Medo de julgamento, vergonha, baixa autoestima e traumas
anteriores podem inibir a participação.
Barreiras Organizacionais Modelos
hierárquicos rígidos e ambientes pouco acolhedores
limitam as possibilidades de expressão.
Barreiras
Comunicacionais
Diferenças de linguagem, níveis de escolaridade e habilidades
de comunicação podem criar desigualdades na participação.
O facilitador precisa estar atento a essas barreiras para
superá-las com sensibilidade e estratégia.
Princípios
para Estimular a Voz Ativa
Criação
de Ambiente Seguro
Ambientes seguros emocionalmente, onde o erro é compreendido
como parte da aprendizagem, são pré-condição para a expressão livre.
Respeito
à Diversidade de Expressões
Valorizar diferentes formas de expressão — verbal, escrita,
artística, corporal — amplia as possibilidades de participação.
Escuta
Ativa e Validação
Demonstrar escuta atenta e validar as contribuições de cada
participante incentiva novas manifestações.
Horizontalidade
nas Relações
Minimizar relações de poder e estimular o diálogo entre
iguais favorece a participação ativa.
Técnicas
de Estímulo à Voz Ativa
Rodadas
de Fala Descrição:
Em rodas de conversa, todos os participantes têm espaço
garantido para falar, se desejarem, sem interrupções.
Objetivos:
• Democratizar
a fala.
• Garantir
que todas as vozes sejam ouvidas.
Cuidados:
• Respeitar
quem opta por não falar em determinado momento.
• Estimular,
mas não forçar a participação.
Grupos
Pequenos
Descrição:
Dividir o grupo em subgrupos menores para debates ou
reflexões.
Objetivos:
• Reduzir
a exposição e a ansiedade de falar em público.
• Estimular
a participação daqueles que se sentem mais à vontade em ambientes íntimos.
Cuidados:
• Garantir
a diversidade na composição dos subgrupos.
• Realizar
posteriormente a socialização das ideias no grande grupo.
Técnicas
de Perguntas Abertas Descrição:
Utilizar perguntas abertas que convidem à reflexão e não
exijam respostas "certas".
Exemplos:
• "O
que você sente em relação a isso?"
• "Como
cada um de vocês vê essa situação?" Objetivos:
• Estimular
a expressão de opiniões e sentimentos.
• Promover
a construção coletiva do conhecimento.
Cuidados:
• Evitar
perguntas direcionadoras ou com respostas implícitas.
Técnicas
de Teatro do Oprimido Descrição:
Inspiradas em Augusto Boal (1975), técnicas como "jogo de improviso", "teatro-fórum" e "imagem corporal" possibilitam a expressão de temas e sentimentos de
maneira lúdica e crítica.
Objetivos:
• Facilitar
a expressão simbólica de conflitos e desejos.
• Estimular
a criatividade e a autonomia.
Cuidados:
• Criar
um ambiente respeitoso e não julgador.
Técnica
do Papel Escrito Descrição:
Os participantes escrevem anonimamente suas opiniões,
perguntas ou sentimentos, que são lidos pelo facilitador.
Objetivos:
• Estimular
a expressão de quem tem dificuldade de falar em público.
• Coletar
percepções diversas de maneira democrática.
•
Cuidados:
• Assegurar o anonimato e tratar todas as manifestações com respeito.
Mapa
de Expectativas Descrição:
Construção coletiva de um mural ou quadro com as expectativas
de cada participante para o processo.
Objetivos:
• Dar
visibilidade às diferentes expectativas.
• Reconhecer
e acolher as diversas motivações presentes.
Cuidados:
• Retomar
o mapa ao longo do processo para avaliar se as expectativas estão sendo
contempladas.
Técnica
da Palavra-Chave Descrição:
Cada participante diz uma palavra que sintetiza seu
sentimento ou pensamento sobre determinado tema.
Objetivos:
• Permitir
a expressão concisa e simbólica.
• Estimular
a reflexão coletiva a partir das palavras escolhidas.
Cuidados:
• Respeitar
o silêncio de quem optar por não se manifestar.
O Papel do Facilitador no Estímulo à Voz Ativa
O facilitador desempenha papel fundamental na criação das
condições para a participação ativa:
• Ser exemplo de escuta e acolhimento.
• Valorizar todas as contribuições, evitando
correções ou julgamentos.
• Fomentar a corresponsabilidade pelo
processo.
• Adaptar as técnicas às características do
grupo.
• Celebrar as manifestações de voz ativa como
conquistas coletivas.
Como destaca Hunter et al. (2007), a facilitação eficaz é
aquela que "faz emergir a sabedoria coletiva" dos participantes.
Desafios
e Possibilidades
Desafios
• Superar
o medo da exposição e do erro.
• Equilibrar
a participação para evitar o predomínio de poucas vozes.
• Lidar
com resistências culturais à expressão autônoma.
Possibilidades
• Formar
sujeitos críticos e protagonistas de sua história.
• Construir
processos mais democráticos e inclusivos.
• Fortalecer
a confiança e a solidariedade nos grupos.
A promoção da voz ativa é, portanto, um caminho para
omoção da voz ativa é, portanto, um caminho para o
fortalecimento da cidadania e da democracia participativa.
Conclusão
Estímulo à voz ativa dos participantes é uma prática ética,
política e pedagógica de valorização dos sujeitos enquanto protagonistas de
seus processos individuais e coletivos.
Utilizar técnicas adequadas, criar ambientes seguros, escutar
genuinamente e promover a corresponsabilidade são estratégias essenciais para a
construção de grupos mais democráticos, críticos e solidários.
Num mundo marcado por desigualdades, estimular a voz ativa é,
como afirmava Paulo Freire, "um ato de amor e, portanto, um ato de
coragem" (Freire, 1996).
Referências
Bibliográficas
• BOAL,
Augusto. Teatro do Oprimido e outras
poéticas políticas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.
• FREIRE,
Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes
necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
• HUNTER,
Dale; BAILEY, Anne; TAYLOR, Bill. The
Art of Facilitation: The Essentials for Leading Great Meetings and Creating
Group Synergy. San Francisco: Jossey-Bass, 2007.
• SCHÖN,
Donald A. Educating the Reflective
Practitioner. San Francisco: Jossey-Bass, 1983.
No contexto dos processos educativos, comunitários,
organizacionais e sociais, o fortalecimento da autonomia e do protagonismo dos
sujeitos é um dos princípios fundamentais para a construção de sociedades mais
democráticas, justas e solidárias.
Autonomia e protagonismo representam não apenas metas
pedagógicas ou sociais, mas dimensões essenciais da dignidade humana e da
cidadania ativa.
Fortalecer a autonomia é permitir que cada sujeito se
reconheça como agente de sua própria história. Promover o protagonismo é
estimular a capacidade de atuar coletivamente na transformação das realidades
sociais. Este texto discute os fundamentos teóricos desses conceitos, sua
importância nos processos de desenvolvimento humano e apresenta estratégias
práticas para o fortalecimento da autonomia e do protagonismo em diferentes
contextos.
Compreendendo
os Conceitos
Autonomia
Autonomia, do grego "auto" (próprio) e
"nomos" (lei), refere-se à capacidade de agir de acordo com regras ou
princípios próprios, assumindo a responsabilidade por suas escolhas e ações.
Segundo Freire (1996), a autonomia não é algo que se dá ou se impõe ao outro: é construída no exercício da liberdade responsável, da reflexão crítica e da
prática da escolha consciente.
A autonomia implica:
• Capacidade
de análise crítica da realidade.
• Competência
para tomar decisões fundamentadas.
• Responsabilidade pelas próprias ações.
Protagonismo
O protagonismo refere-se à capacidade de ser sujeito ativo
nos processos sociais, assumindo o papel de agente de transformação.
No campo educativo, o protagonismo é a expressão da autonomia
coletiva: indivíduos que, articulados em grupo, atuam sobre sua realidade para
transformá-la.
Características do protagonismo:
• Atitude
proativa.
• Compromisso
com a coletividade.
• Capacidade
de influenciar e construir processos sociais.
Assim, autonomia e protagonismo são conceitos
interdependentes: a autonomia sustenta o protagonismo, e o protagonismo reforça
a autonomia.
Fundamentos
Teóricos do Fortalecimento da Autonomia e do
Protagonismo
Educação
Libertadora de Paulo Freire
Freire (1996) propôs uma educação voltada para a formação de
sujeitos autônomos e protagonistas.
Para ele, a educação não deve ser um ato de depósito de
conteúdos ("educação bancária"), mas um processo dialógico de
construção de conhecimento e de conscientização.
A prática educativa libertadora:
• Estimula
a reflexão crítica.
• Valoriza
o saber dos educandos.
• Promove
a ação transformadora sobre a realidade.
A autonomia, segundo Freire, é um direito humano fundamental
e um objetivo pedagógico essencial.
Desenvolvimento
Moral e Autonomia em Piaget
Jean Piaget (1977) destacou que o desenvolvimento da
autonomia moral resulta de processos de cooperação e reflexão, e não da
imposição de normas externas.
Na visão piagetiana:
• A
autonomia emerge na interação social e no exercício da responsabilidade.
• A
educação deve favorecer ambientes cooperativos e respeitosos.
Protagonismo
Juvenil e Participação Social
Autores como Melucci (1996) e Gohn (2006) discutem o
protagonismo juvenil como expressão da participação ativa dos jovens nos
movimentos sociais e nas políticas públicas.
O protagonismo implica:
• Reconhecimento
da capacidade dos sujeitos de diagnosticar problemas.
• Formulação
de propostas e implementação de ações coletivas.
Importância
do Fortalecimento da Autonomia e do Protagonismo
Desenvolvimento
Integral
O fortalecimento da autonomia e do protagonismo favorece o
desenvolvimento cognitivo, emocional, social e ético dos indivíduos.
Construção
da Cidadania
A cidadania plena exige sujeitos capazes de agir de forma
autônoma e de participar ativamente da vida política e social.
Transformação
Social
Sujeitos autônomos e protagonistas são capazes de identificar
injustiças, formular alternativas e lutar por mudanças estruturais.
Fortalecimento
da Democracia
A democracia só se realiza plenamente com a participação
ativa e consciente de cidadãos que exercem sua autonomia e protagonismo.
Estratégias
para Fortalecer a Autonomia e o Protagonismo
Metodologias
Participativas
Utilizar metodologias que valorizem a participação ativa dos
sujeitos no processo de aprendizagem ou desenvolvimento social.
Exemplos:
• Educação
por projetos.
• Pesquisa-ação.
• Rodas
de diálogo e problematização.
Espaços
de Tomada de Decisão
Criar espaços reais onde os participantes possam tomar
decisões sobre aspectos importantes dos processos, respeitando sua capacidade
de escolha e responsabilidade.
Estímulo
à Reflexão Crítica
Promover atividades que desafiem os participantes a
refletirem sobre suas realidades, seus valores, suas práticas e suas
possibilidades de ação.
Exemplos:
• Estudos
de caso.
• Análise
de conjuntura.
• Debates
orientados.
Valorização
dos Saberes e Experiências
Reconhecer e integrar os saberes e experiências dos
participantes aos processos educativos ou comunitários, fortalecendo sua
autoestima e seu sentimento de competência.
Apoio
à Organização Coletiva
Estimular a formação de coletivos, grupos de trabalho,
associações ou redes de solidariedade, nos quais os sujeitos possam exercitar
seu protagonismo de forma organizada.
Criação
de Ambientes de Confiança
Ambientes acolhedores, respeitosos e livres de opressões são
essenciais para que as pessoas se sintam seguras para exercer sua autonomia e
protagonismo.
Educação
para a Responsabilidade
Autonomia não significa individualismo ou irresponsabilidade.
É necessário educar para a compreensão de que ser autônomo implica responder
por suas ações e seus impactos sobre os outros e sobre o mundo.
Desafios
no Fortalecimento da Autonomia e do Protagonismo
Cultura
da Heteronomia
Muitos sujeitos foram historicamente educados para a
obediência, a dependência e o medo da liberdade.
Superar essa cultura requer processos longos e pacientes de
conscientização.
Resistência
à Participação
O protagonismo exige disposição para agir,
planejar, avaliar
e assumir riscos, o que nem sempre é confortável para todos.
Desigualdades
Sociais
A autonomia e o protagonismo são dificultados em contextos de profunda desigualdade social, onde faltam recursos materiais, educacionais e simbólicos.
Distorções
do Conceito
Há riscos de reducionismo do protagonismo a práticas de
responsabilização individualista ou a slogans vazios de empoderamento, sem
mudanças estruturais reais.
Possibilidades
de Transformação
Apesar dos desafios, a aposta na autonomia e no protagonismo
dos sujeitos é fundamental para a construção de processos mais justos e
emancipatórios.
Fortalecer a autonomia e o protagonismo implica:
• Acreditar
na capacidade de todos os sujeitos de se desenvolverem.
• Construir
processos educativos e sociais participativos e críticos.
• Valorizar
a coletividade como espaço de formação de sujeitos históricos.
Como ensina Freire (1996), a luta pela autonomia dos
oprimidos é também a luta pela humanização de todos.
Conclusão
O fortalecimento da autonomia e do protagonismo é um eixo
fundamental para a transformação das práticas educativas, comunitárias e
sociais em direção à emancipação dos sujeitos.
Construir autonomia é formar sujeitos livres e responsáveis.
Estimular o protagonismo é cultivar cidadãos ativos e comprometidos com a
construção de um mundo mais justo.
Em tempos de crise de participação democrática, de
individualismo exacerbado e de negação da alteridade, apostar na autonomia e no
protagonismo é afirmar a esperança na potência humana de criar novos caminhos e
realidades.
Referências
Bibliográficas
• FREIRE,
Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes
necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
• MELUCCI,
Alberto. A invenção do presente:
movimentos sociais nas sociedades complexas. Petrópolis: Vozes, 1996.
• PIAGET,
Jean. O juízo moral na criança. São
Paulo: Summus, 1977.
• GOHN,
Maria da Glória. Juventude e
participação política. São Paulo: Cortez, 2006.
A construção de ambientes seguros e respeitosos é fundamental
para o desenvolvimento saudável de processos educativos, comunitários,
organizacionais e terapêuticos.
Ambientes assim são essenciais para que indivíduos e grupos
possam expressar suas ideias, sentimentos e identidades sem medo de
julgamentos, discriminação ou retaliações.
A segurança e o respeito não são condições que
surgem
espontaneamente: são resultados de práticas intencionais, políticas
institucionais claras e de uma cultura organizacional baseada na dignidade
humana.
Este texto apresenta os conceitos, a importância, os
princípios orientadores e estratégias práticas para a criação e a manutenção de
ambientes seguros e respeitosos em diferentes contextos sociais.
Conceitos
Fundamentais
Ambiente
Seguro
Um ambiente seguro é aquele em que os indivíduos sentem-se
física, emocional e psicologicamente protegidos.
Segundo Schein (2010), a segurança psicológica refere-se à
percepção de que se pode expressar ideias, dúvidas, erros e críticas sem medo
de punições ou ridicularizações.
Aspectos da segurança em ambientes coletivos:
• Segurança física: proteção contra
riscos e violências.
• Segurança emocional: liberdade para
expressar sentimentos sem constrangimento.
• Segurança psicológica: espaço para
opiniões divergentes serem acolhidas com respeito.
Ambiente
Respeitoso
O respeito é a base para relações humanas dignas. Um ambiente
respeitoso reconhece e valoriza a diversidade de perspectivas, culturas,
experiências e identidades, garantindo o tratamento ético de todos os
participantes.
Segundo Freire (1996), o respeito é condição para o diálogo
verdadeiro: "Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os homens
se educam entre si, mediatizados pelo mundo".
Respeitar é reconhecer o outro como legítimo em sua
diferença, dignidade e direitos.
Importância
de Ambientes Seguros e Respeitosos
Desenvolvimento
Humano
Ambientes seguros e respeitosos favorecem:
• A
autoestima e a autoconfiança.
• A
expressão criativa e crítica.
• A
construção da autonomia e da responsabilidade.
Quando as pessoas se sentem seguras, sua capacidade de
aprender, interagir e se desenvolver integralmente é potencializada.
Coesão
Grupal e Cooperação A confiança mútua é essencial para a formação de
vínculos grupais sólidos. Ambientes respeitosos estimulam a empatia, a
solidariedade e a colaboração entre os membros.
Inovação
e Solução de Problemas
Schein (2010) destaca que ambientes de segurança psicológica são mais propensos à inovação, pois encorajam o compartilhamento de ideias ousadas e a aprendizagem a partir dos erros.
Prevenção
de Conflitos Destrutivos
O respeito mútuo reduz a ocorrência de conflitos baseados em preconceito, discriminação ou intolerância, e favorece a resolução pacífica de
divergências.
Princípios
para Construção de Ambientes Seguros e Respeitosos
Reconhecimento
da Diversidade
Reconhecer que cada pessoa traz sua história, identidade,
cultura e visão de mundo, e que essa diversidade é fonte de riqueza, não de
ameaça.
Igualdade
de Dignidade
Tratar todos os participantes com a mesma dignidade,
independentemente de diferenças de origem, posição social, gênero, raça,
religião ou opinião.
Escuta
Ativa
Praticar uma escuta atenta, sem julgamentos precipitados,
valorizando as narrativas e percepções dos outros.
Empatia
Esforçar-se para compreender a perspectiva do outro,
reconhecendo suas emoções e necessidades.
Justiça
e Inclusão
Garantir que todos tenham oportunidades equitativas de
participação e acesso aos recursos, reconhecendo e corrigindo desigualdades
históricas e estruturais.
Transparência
e Coerência
Manter uma comunicação clara, honesta e coerente entre
discurso e prática, cultivando relações de confiança.
Estratégias
Práticas para Criação de Ambientes Seguros e Respeitosos
Estabelecimento
de Regras de Convivência
No início de processos grupais, é importante construir
coletivamente um conjunto de regras que garantam o respeito mútuo, a liberdade
de expressão e a responsabilidade coletiva.
Essas regras devem ser:
• Elaboradas
com a participação de todos.
• Claras
e compreensíveis.
• Periodicamente
revisadas.
Promoção
da Comunicação Não Violenta
A Comunicação Não Violenta (CNV), proposta por Rosenberg
(2006), é uma abordagem que busca expressar necessidades e sentimentos de forma
empática e respeitosa, favorecendo o diálogo e a resolução de conflitos.
Princípios da CNV:
• Observar
sem julgar.
• Expressar
sentimentos autênticos.
• Identificar
necessidades.
• Formular
pedidos claros e viáveis.
Inclusão
de Todos os Participantes
Criar estratégias para incluir efetivamente todos os membros
do grupo, respeitando diferentes ritmos, estilos de comunicação e necessidades
especiais.
Exemplos:
• Adaptar
materiais e métodos para acessibilidade.
• Valorizar
a participação de minorias étnicas, de gênero e culturais.
• Combater
práticas discriminatórias e excludentes.
Cuidado
com o Ambiente Físico
O espaço físico deve ser acolhedor, acessível, seguro e
adaptado às necessidades dos participantes.
Aspectos como iluminação, ventilação, mobilidade e ergonomia influenciam o bem-estar
como iluminação, ventilação, mobilidade e ergonomia
influenciam o bem-estar e a sensação de segurança.
Mediação
de Conflitos
Estabelecer procedimentos para a mediação de conflitos que
possam surgir, priorizando o diálogo, o reconhecimento mútuo e a busca de
soluções compartilhadas.
A mediação deve ser conduzida por facilitadores preparados
para acolher emoções, reformular falas e favorecer o entendimento.
Avaliação
Contínua do Clima Grupal
Realizar avaliações periódicas do ambiente relacional,
ouvindo as percepções dos participantes e ajustando as práticas conforme
necessário.
Instrumentos possíveis:
• Rodas
de feedback.
• Pesquisas
de clima organizacional.
• Espaços
anônimos de manifestação.
Valorização
dos Pequenos Gestos
Atitudes cotidianas como cumprimentar, agradecer, reconhecer
o esforço do outro e praticar a gentileza contribuem para a criação de um
ambiente respeitoso e acolhedor.
Desafios
na Construção de Ambientes Seguros e Respeitosos
Cultura
de Competição e Individualismo
Em contextos onde prevalece a lógica da competição e do
individualismo, pode haver resistência à construção de relações baseadas na
solidariedade e no cuidado.
Preconceitos
e Estigmas Internalizados
Os participantes e facilitadores podem reproduzir, consciente
ou inconscientemente, preconceitos e estigmas que afetam a segurança e o
respeito no ambiente.
Conflitos
Mal Resolvidos
Conflitos não mediados adequadamente podem gerar
ressentimentos e rupturas que comprometem o ambiente seguro e respeitoso.
Desigualdades
de Poder
Desigualdades hierárquicas, de gênero, raça ou classe podem
minar a sensação de equidade e respeito, exigindo ações afirmativas e práticas
de inclusão efetivas.
Possibilidades
e Potencialidades
Apesar dos desafios, a construção de ambientes seguros e
respeitosos é possível e transforma profundamente as relações humanas.
Esses ambientes favorecem:
• O
desenvolvimento integral dos indivíduos.
• A
inovação e a criatividade coletiva.
• A
cooperação e a solidariedade.
• A
construção de espaços mais democráticos e humanizadores.
Como destaca Freire (1996), "ninguém é sujeito da
autonomia de outrem, ninguém se torna autônomo por decreto, mas pela prática da
liberdade", o que implica ambientes que fomentem o respeito e a segurança
para essa prática.
Conclusão
Criar e manter ambientes seguros e respeitosos é um desafio ético, político e
pedagógico central para a construção de relações humanas mais
dignas e emancipadoras.
Esses ambientes não são resultados do acaso, mas da ação
intencional de sujeitos comprometidos com a justiça, a inclusão e o diálogo.
Em um mundo marcado por múltiplas formas de exclusão,
violência simbólica e desigualdade, investir na construção de ambientes de
respeito e segurança é um ato de esperança e de afirmação radical da dignidade
humana.
Referências
Bibliográficas
• FREIRE,
Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes
necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
• ROSENBERG,
Marshall B. Comunicação Não-Violenta:
Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São
Paulo: Ágora, 2006.
• SCHEIN,
Edgar H. Organizational Culture and
Leadership. San Francisco: Jossey-Bass, 2010.
Grupos humanos, independentemente de seu objetivo, estrutura
ou duração, são sistemas dinâmicos sujeitos a conflitos, tensões, resistências
e rupturas. Essas dinâmicas, embora naturais, podem comprometer o
desenvolvimento saudável do grupo se não forem adequadamente compreendidas e
trabalhadas.
As intervenções preventivas em dinâmicas grupais visam
justamente antecipar possíveis dificuldades, fortalecendo as bases de
confiança, comunicação e colaboração entre os membros.
Mais do que reagir a crises, trata-se de construir ambientes
grupais resilientes, capazes de lidar de maneira construtiva com as tensões
inevitáveis do convívio humano.
Este texto discute os fundamentos teóricos das intervenções
preventivas, apresenta seus objetivos, princípios e estratégias práticas, e
destaca sua importância na promoção de grupos mais saudáveis, eficazes e
emancipadores.
Compreendendo
a Dinâmica Grupal
O
Grupo como Sistema
Segundo Lewin (1951), o grupo é um sistema dinâmico no qual
as ações de cada membro afetam e são afetadas pelos outros.
As interações grupais produzem campos de força, nos quais
coexistem tensões de aproximação e afastamento, cooperação e conflito.
O grupo, portanto:
• É
mais do que a soma de seus membros.
• Possui
processos inconscientes que influenciam o comportamento dos indivíduos.
• Evolui
ao longo do tempo, passando por diferentes fases de desenvolvimento (formação,
conflito, normatização, desempenho e dissolução).
Fatores
que Influenciam as Dinâmicas Grupais
• Comunicação: qualidade e abertura da comunicação
entre os membros.
• Liderança: estilos de liderança que
facilitam ou inibem a participação e o crescimento.
• Normas e regras: explícitas ou
implícitas, que orientam o comportamento grupal.
• Gestão de conflitos: modos como o grupo
lida com divergências e tensões.
• Clima emocional: sentimento coletivo de
confiança, segurança e pertença.
Fundamentos
das Intervenções Preventivas
Conceito
Intervenções preventivas são ações intencionais realizadas
antes do surgimento de crises, destinadas a fortalecer o grupo e a minimizar a
ocorrência de problemas que possam comprometer seu funcionamento saudável
(Hunter et al., 2007).
Objetivos
das Intervenções Preventivas
• Promover
a coesão grupal.
• Fortalecer
a comunicação aberta e respeitosa.
• Estimular
a participação equitativa dos membros.
• Antecipar
e minimizar conflitos destrutivos.
• Criar
espaços seguros para a expressão de sentimentos e opiniões.
Princípios
Orientadores
• Respeito à diversidade: reconhecer e
valorizar as diferenças como fontes de riqueza grupal.
• Participação ativa: todos os membros
devem ser encorajados a participar dos processos decisórios.
• Autonomia e corresponsabilidade:
promover a auto-organização e o senso de responsabilidade compartilhada.
• Transparência: garantir que as regras,
objetivos e procedimentos sejam claros para todos.
Estratégias
de Intervenção Preventiva
Estabelecimento
de Regras de Convivência
Logo no
início do trabalho grupal, é essencial construir coletivamente um conjunto de
regras que orientem o convívio, a comunicação e a gestão de conflitos.
Benefícios:
• Clareza
de expectativas.
• Prevenção
de comportamentos prejudiciais.
• Reforço
do compromisso coletivo.
As regras devem ser flexíveis e passíveis de revisão conforme
a evolução do grupo.
Diagnóstico
Preliminar do Grupo
Antes de iniciar atividades mais complexas, é importante
realizar um diagnóstico das características do grupo:
• Histórico
de relações anteriores.
• Expectativas
em relação ao processo grupal.
• Experiências
prévias de participação em grupos.
Esse levantamento pode ser feito por meio de entrevistas,
questionários ou dinâmicas de apresentação e escuta.
Construção
de Espaço Seguro
Como discutido por Schein (2010), a segurança psicológica é a base para o desenvolvimento de ambientes grupais
saudáveis.
Estratégias:
• Acolher
todas as manifestações de forma respeitosa.
• Evitar
julgamentos e rótulos.
• Valorizar
a contribuição de cada participante.
Ambientes seguros favorecem a expressão autêntica e o
fortalecimento dos vínculos.
Dinâmicas
de Integração e Conhecimento Mútuo
Atividades que promovam o conhecimento recíproco, a
construção de empatia e o fortalecimento dos laços afetivos são fundamentais
para prevenir desconfianças e rivalidades.
Exemplos:
• Dinâmicas
de apresentação criativa.
• Rodas
de compartilhamento de histórias de vida.
• Exercícios
de identificação de afinidades e valores comuns.
Desenvolvimento
da Escuta Ativa
Promover práticas de escuta ativa desde o início do processo:
• Parafrasear
o que o outro disse para confirmar a compreensão.
• Validar
os sentimentos expressos.
• Evitar
interrupções e julgamentos precipitados.
Segundo Rogers (1977), a escuta empática é uma das bases da comunicação genuína e da construção de relações de confiança.
Acordos
sobre a Gestão de Conflitos
Prevenir conflitos não significa evitá-los, mas construir
estratégias para lidar com eles de forma construtiva.
É importante:
• Discutir
previamente como o grupo irá enfrentar tensões.
• Definir
práticas de mediação interna.
• Incentivar
a resolução direta de conflitos entre as partes envolvidas, com apoio do grupo
ou de um mediador, se necessário.
Fortalecimento
da Identidade Grupal
A criação de uma identidade coletiva reforça o sentimento de
pertença e compromisso dos membros com o grupo.
Estratégias:
• Elaboração
de um nome, lema ou símbolo do grupo.
• Registro
das conquistas e avanços coletivos.
• Celebração
de marcos importantes.
O
Papel do Facilitador nas Intervenções Preventivas
O facilitador é peça-chave no processo de prevenção de crises
e fortalecimento grupal.
Suas funções incluem:
• Criar
condições para o diálogo e a participação.
• Observar
sinais de tensões emergentes.
• Atuar
de maneira discreta e estratégica para manter o ambiente seguro e acolhedor.
• Estimular
a autorregulação do grupo, evitando assumir o papel de controlador.
Segundo Hunter et al. (2007), o bom facilitador é aquele que
"faz com que o grupo funcione tão bem que sua própria presença quase não é
percebida".
Desafios
das Intervenções Preventivas
Resistência à
Participação
Alguns membros podem resistir a práticas de construção
coletiva, especialmente em culturas mais hierárquicas ou individualistas.
Subestimação
dos Riscos
Grupos que aparentemente funcionam bem podem negligenciar a
importância de ações preventivas, ficando mais vulneráveis a crises
inesperadas.
Gestão
da Diversidade
Diferenças de origem, cultura, gênero ou valores podem gerar
tensões latentes que precisam ser cuidadosamente acolhidas e trabalhadas.
Benefícios
das Intervenções Preventivas
Quando bem aplicadas, as intervenções preventivas geram:
• Maior
coesão e solidariedade grupal.
• Redução
de conflitos destrutivos.
• Melhoria
na comunicação e no clima emocional.
• Fortalecimento
da autonomia e da responsabilidade coletiva.
• Maior
eficácia na realização dos objetivos do grupo.
Conclusão
As intervenções preventivas em dinâmicas grupais representam
uma prática ética, pedagógica e política de cuidado com os processos coletivos.
Prevenir não é controlar: é criar condições para que os grupos desenvolvam sua
capacidade de lidar autonomamente com os desafios da convivência humana.
Investir na prevenção é afirmar a confiança na potência dos
grupos como espaços de aprendizagem, transformação e emancipação.
Em tempos de fragmentação e polarização social, apostar em
grupos fortalecidos, solidários e autônomos é contribuir para a construção de
um mundo mais justo e humano.
Referências
Bibliográficas
• FREIRE,
Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes
necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
• HUNTER,
Dale; BAILEY, Anne; TAYLOR, Bill. The
Art of Facilitation: The Essentials for Leading Great Meetings and Creating
Group Synergy. San Francisco: Jossey-Bass, 2007.
• LEWIN,
Kurt. Field Theory in Social Science:
Selected Theoretical Papers. New York: Harper & Row, 1951.
• ROGERS,
Carl. Tornar-se Pessoa. São Paulo:
Martins Fontes, 1977.
• SCHEIN, Edgar H. Organizational Culture and Leadership. San Francisco: Jossey-Bass, 2010.
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